Categoria: Grandes Vultos do Espiritismo

Eurípedes Barsanulfo

Eurípedes Barsanulfo

Nasceu Eurípedes Barsanulfo na cidade de Sacramento, Minas Gerais, a 1º de Maio de 1880. Foram seus pais Hermógenes Ernesto de Araújo e D. Jerônima Pereira de Almeida, ambos, a princípio, pobres de haveres materiais, mas ricos de virtudes cristãs, as quais enchiam o lar honrado de alegria e paz.
Logo que pôde manifestar os nobres sentimentos de que era dotado, revelou-se um menino admirável pela sua inteligência precoce, pela sua dedicação ao trabalho e ao estudo.
Muito jovem ainda, teve de enfrentar as vicissitudes do lar, promovendo os meios de auxiliá-lo.
Cresceu e viveu sempre ao lado de seus progenitores, para os quais foi um verdadeiro arrimo. Trabalhador e dócil, cursou as aulas do Colégio Miranda, estabelecimento de ensino dirigido pelo hábil educador João Derwil de Miranda. Mostrava grande propensão para seguir a carreira das letras. Quando estudante auxiliava os professores, lecionando a seus condiscípulos, e tal era a sua queda para o magistério que se tornou o professor de seus próprios irmãos. Cumpria religiosamente os seus deveres colegiais e gozava de geral estima de todos os colegas.
Querendo tudo saber, Barsanulfo conseguiu em poucos anos uma sólida e primorosa cultura.
Do Colégio passou ao escritório comercial do seu pai, onde trabalhou como guarda-livros.
Em Janeiro de 1902, com seus antigos professores, fundou o Liceu Sacramento, instituto de ensino primário e secundário, onde exerceu a cátedra, por cinco anos seguidos, com raro brilhantismo, lecionando, quando se fazia necessário, todas as matérias do curso. Com a fundação do referido Liceu, surgiu a público a “Gazeta de Sacramento”, que saía aos domingos e que foi por ele redigida durante dois anos. Nessa folha, Barsanulfo fez a sua estréia como jornalista, escrevendo artigos sobre economia política, direito público, métodos educacionais, literatura, filosofia, etc. colaborou, igualmente, de modo fecundo e brilhante, em diversos outros jornais.
Graças a sua inteligência privilegiada e ao seu próprio esforço, chegou a possuir tal cultura, que os seus biógrafos a consideram verdadeiramente assombrosa. Tinha profundos e largos conhecimentos de Medicina e Direito. Dissertava sobre astronomia, filosofia, matemática, ciências físicas e naturais, literatura, com a mais extraordinária segurança, sem possuir nenhum diploma de escola superior.
As suas árduas tarefas no magistério, na imprensa e na tribuna, a bondade de seu coração, sempre pronto a socorrer os necessitados, a sua palavra amiga e conselheira, a probidade de seu caráter, tudo isso o fez ídolo de seus conterrâneos.
Pelo espaço de seis anos exerceu o mandato de Vereador, dotando a municipalidade de Sacramento com luz, bondes elétricos, água encanada, cemitério público tanto para esta como para a povoação de Conquista. Mas a política não era o clima a que ele aspirava. Depois de prestar-lhe serviços, dela se afastou espontaneamente, recebendo da opinião pública provas inequívocas de carinho e estima.
Era fervoroso católico, presidente da Conferência de S. Vicente de Paulo.
Espírito livre, talhado para os grandes surtos da espiritualidade, era fatal o abandono futuro da religião que recebera no berço.
É assim que certo dia, tendo conhecimento de espantosas curas realizadas no campo do Espiritismo, resolveu saber o que de verdade havia nesses relatos. Como seus parentes de Sta. Maria pregavam e praticavam o Espiritismo, no Centro Espírita Fé e Amor, bastante conhecido naquele povoado e um dos mais antigos naquela região, Barsanulfo para ali rumou, no propósito de pessoalmente investigar os fatos.
Observando, em várias sessões, fenômenos de tiptologia, comunicações de alta expressão filosófica, curas maravilhosas, estudou-os cuidadosamente e de volta à sua terra natal, trouxe consigo as obras kardequianas, que o levaram, afinal, em 1905, a converte-se ao Espiritismo. Deste se tornou, desde então, o maior propagandista naquela região mineira, especialmente pelo exemplo. A obra que Eurípedes erigiu, com sacrifício e abnegação, em honra do Espiritismo, em Sacramento, é um desses monumentos grandiosos e imperecíveis que atestam a sua fortaleza moral e a pujança de sua fé luminosa.
Durante 12 anos e sete meses foi presidente do Grupo Espírita Esperança e Caridade, por ele fundado. Como dependência desse Grupo, surgiu em 02 de Abril de 1907 o magnífico e grande Colégio Allan Kardec, cuja matrícula chegou a cerca de duzentos alunos. Milhares de pobre e órfãos de ambos os sexos, ali receberam gratuitamente a instrução intelectual e moral, obra esta continuada por seus irmãos. Todas as quartas-feiras pregava o Evangelho de Jesus aos alunos do Colégio, incentivando-os, em termos simples, ao amor e à caridade.
Discorrendo com muita facilidade sobre diferentes assuntos filosóficos e religiosos, nunca deixou de responder do alto da tribuna às diatribes proferidas contra o Espiritismo.
Eurípedes Barsanulfo era dotado de diversas faculdades mediúnicas desenvolvidas, sendo médium curador, receitista, auditivo, vidente, intuitivo, falante e psicógrafo. Era com muita facilidade que ele se desdobrava de um lugar para outro, e dava a topografia exata das localidades por onde o seu espírito passava.
Foi o refúgio para todos os aflitos e abandonados da sorte. Centenas de desenganados pela ciência da Terra encontraram em Sacramento o lenitivo para os seus males. Com o auxílio dos Espíritos Superiores, entre eles Bezerra de Menezes, Barsanulfo curava quase todas as enfermidades. Inúmeros obsedados, que eram trazidos de diversas localidades dos estados vizinhos, dali saíam inteiramente sãos. A cidade de Sacramento pequena e despovoada, desenvolveu-se com essa romaria e chegou a possuir muitos hotéis e mais de vinte pensões.
Homem que não temia difundir as verdades que professava, foi a encarnação do verdadeiro espírita. Fiel discípulo de Jesus, era o consolo e o amparo de todos aqueles que o procuravam, e a todos dispensava indistintamente o mesmo acolhimento, o mesmo amor. Nas suas horas de folga, poucas é verdade, saía ele para os arrabaldes da cidade, a curar doentes de maleita, opilação, caquexias e outros males, ao mesmo tempo que ia pregando a boa doutrina do amor ao próximo.
Em razão de tudo isso, ele gozava de grande popularidade em sua terra natal e até mesmo em todo o Estado de Minas.
Manteve durante quinze anos uma farmácia para aliviar as dores e minorar o sofrimento de seus semelhantes, e convém salientar que os pobres ali não pagavam o aviamento das receitas.
Trabalhador esforçado, foi um dos maiores espíritas do Estado de Minas, cognominado o “Apóstolo do Triângulo Mineiro”. No dia 1º de novembro de 1918, falecia em sua cidade natal, com apenas 38 anos, vítima da pandemia de gripe. O povo, em peso, chorando, acompanhou os despojos mortais ao cemitério.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Ernesto Bozzano

Ernesto Bozzano

Nasceu em 9/01/1862, em Gênova, Itália e desencarnou em 24/06/1943, na mesma localidade. Professor da Universidade de Turim, foi, antes de se converter ao Espiritismo, materialista, céptico, positivista.
Pesquisador profundo e meticuloso, escreveu mais de trinta e cinco obras, todas de caráter científico. Organizador de estudo experimental, com o valioso concurso de 76 médiuns. Elaborou nove monografias inconclusas. Essa a folha de serviço de um dos mais eruditos pensadores e cientistas italianos. Seu nome: Ernesto Bozzano.
Numa época em que o Positivismo empolgava muitas consciências, Bozzano demonstrava-lhe nítida inclinação. Dos postulados positivistas gravitou para uma forma intransigente de materialismo, o que o levou a proclamar mais tarde: Fui um positivista-materialista a tal ponto convencido, que me parecia impossível pudessem existir pessoas cultas, dotadas normalmente de sentido comum, que pudessem crer na existência e sobrevivência da alma.
O fato de representantes da Ciência oficial levarem a sério a possibilidade da transmissão de pensamento entre pessoas que vivem em continentes diferentes, a aparição de fantasmas e a existência das chamadas casas mal-assombradas escandalizava Bozzano.
Somente após ler diversas outras obras é que Ernesto Bozzano resolveu dedicar-se com afinco e verdadeiro fervor ao estudo aprofundado dos fenômenos espíritas, fazendo-o através das obras de Allan Kardec, Léon Denis, Gabriel Delanne, Paul Gibier, William Crookes, Alexander Aksakof e outros.
Como medida inicial para um estudo profundo, Bozzano organizou um grupo experimental, do qual participaram muitos professores da Universidade de Gênova.
No decurso de cinco anos consecutivos, graças ao intenso trabalho desenvolvido, esse pequeno grupo propiciou vasto material à imprensa italiana e, ultrapassando as fronteiras, chegou a vários países. Havia-se obtido a realização de quase todos os fenômenos, culminando com a materialização de seis Espíritos, de forma bastante visível, e com a mais rígida comprovação.
Científicas”, “Animismo ou Espiritismo”, “Comunicações Mediúnicas entre Vivos”, “Pensamento e Vontade”, “Fenômeno de Transfiguração”, “Metapsíquica Humana”, “Os Enigmas da Psicometria”, “Fenômenos de Talestesia”, etc.
O seu devotamento ao trabalho fez com que se tornasse, de direito e de fato, um dos mais salientes pesquisadores dos fenômenos espíritas, impondo-se pela projeção do seu nome e pelo acendrado amor que dedicou à causa que havia esposado e que havia defendido com todas as forças de sua convicção inabalável.
Um fato novo veio contribuir para robustecer a sua crença no Espiritismo. A desencarnação de sua mãe, em julho de 1912, serviu de ponte para demonstração da sobrevivência da alma. Bozzano realizava nessa época sessões semanais com um reduzido grupo e com a participação de famosa médium. Realizando uma sessão na data em que se dava o transcurso do primeiro ano da desencarnação de sua genitora, a médium escreveu umas palavras num pedaço de papel, as quais, depois de lidas por Bozzano o deixara assombrado. Ali estavam escritos os dois últimos versos do epitáfio que naquele mesmo dia ele havia deixado no túmulo de sua mãe.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Dias da Cruz

Dias da Cruz

Francisco de Menezes Dias da Cruz, natural da cidade do Rio de Janeiro, filho de antecedente de igual nome (chefe do Partido Liberal no Rio e professor da Faculdade de Medicina) e de D. Rosa de Lima Dias da Cruz, nasceu a 28 de Fevereiro de 1853.
Foi professor de matemática no Colégio Pinheiro, no qual concluíra o curso de humanidades. Era, nessa época, aluno da Escola de Medicina, durante a qual contraiu núpcias com a D. Adelaide Pinheiro Dias da Cruz.
Ao formar-se em Medicina, perdeu o pai, que havia sido ferido à baioneta na Igreja do Sacramento, foi bibliotecário durante dez anos da Câmara Municipal, sendo demitido ao ser proclamada a República, sob a falsa imputação de monarquista. Presidiu o Curso Hahnemaniano e o Instituto Hahnemaniano do Brasil.
Possuidor de enorme clínica, o Dr. Dias da Cruz não fugia aos deveres da caridade, dando, assim, expansão aos seus sentimentos humanitários. Homem de grande e invulgar cultura, deixou riquíssima biblioteca. Estudioso desde a infância, preocupou-se com a ciência homeopática e, mais tarde, diante de provas irrefutáveis tornou-se espírita dos mais caridosos e evangélicos.
Tendo chegado ao seu conhecimento que o espírito de seu pai desenvolvia largo programa de caridade, através de médiuns receitistas, decidiu ele, homem austero e cultor da verdade, ir à Federação Espírita Brasileira para observar e apurar quanto de real pudesse haver em torno da informação recebida.
Iniciada a reunião com a prece habitual, passou-se ao estudo doutrinário. Até então nada ocorrera suscetível de lhe permitir aceitar a versão das manifestações atribuídas ao espírito de seu pai. Já estava propenso a acreditar em mistificação, quando, à mesa que dirigia os trabalhos, um médium demonstrou haver caído em transe. Era, afinal a tão desejada manifestação que inesperadamente se realizava. Através do médium, o espírito do primeiro Dr. Dias da Cruz pediu que chamassem seu filho, que ali se encontrava no meio dos assistentes. Surpreso, este se aproximou, incrédulo. A um dado momento, porém, seu genitor disse-lhe: “Você se lembra daquele fato que ocorreu conosco, na praça tal?”
E a seguir, revelou uma ocorrência só de ambos conhecida. Diante disto, o doutor Dias da Cruz (filho) sentiu chegada a hora de se render à inelutável evidência.
Percebeu, então, que ao seu caráter íntegro e probo só havia um caminho: aceitar a veracidade da manifestação espírita de seu genitor. E fê-lo sem constrangimento, com a simplicidade natural das almas puras. Pôs-se a estudar o Espiritismo, enfronhou-se na interpretação dos textos doutrinários e passou a ser, daí por diante, um novo e valoroso servidor do Cristo nas fileiras dos seguidores de Kardec.
Em 1885, pronuncia na Federação Espírita Brasileira a sua primeira conferência, e desde então participou de várias Comissões importantes, de defesa do Espiritismo.
Em 1890, em substituição ao Dr. Bezerra de Menezes, foi, então, o Dr. Francisco de Menezes Dias da Cruz, que anteriormente ocupara a vice-presidência, eleito presidente da Federação Espírita Brasileira, cargo que exerceu com devotamento até os primeiros dias de 1895, quando foi substituído, temporariamente, por Júlio César Leal e, definitivamente, pelo Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, seu colega de profissão e amigo.
Sob a sua presidência foram iniciados os trabalhos de socorro material e espiritual de Assistência aos Necessitados, que até hoje constituem o cerne dos serviços prestados pela Federação Espírita Brasileira.
Em 1896, por proposta de Bezerra de Menezes, e em atenção aos abnegados serviços prestados à Federação Espírita Brasileira, foi Dias da Cruz aclamado presidente honorário da mesma.
Dirigiu o Reformador durante o período da sua presidência e escreveu inúmeros artigos doutrinários e de polêmica com a assinatura modesta de “Um espírita”.
Foi quem primeiro tentou, em 1891, adquirir um prédio próprio para FEB e montar oficina tipográfica para a impressão do Reformador e de obras espíritas em geral.
Este segundo Dias da Cruz foi, portanto, vice-presidente e presidente da Federação por muitos anos, desencarnando na cidade do Rio de Janeiro, em 30 de Setembro de 1937, na avançada idade de 84 anos, após proveitoso dispêndio de energias em favor do próximo.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Deolindo Amorim

Deolindo Amorim

Nasceu a 23 de janeiro de 1906, na velha Bahia Desencarnou a 24 de abril de 1984, no Rio de Janeiro Seu corpo foi sepultado no Cemitério de São João Batista. Cerca de 750 pessoas compareceram aos funerais. O Dr. Américo de Oliveira Borges, presidenta da ABRAJEE, exaltou e ressaltou saltou a figura ímpar do homem, do espírita e do Amigo que regressava c Espiritualidade.
Deolindo Amorim fez do Rio de Janeiro o grande ce leiro da cultura do país centro de irradiação da Doutrina Espírita. Deixou a todos nós uma lacuna dificilmente preenchível e uma saudade imorredoura.
Suas obras espíritas merecem ser lidas e relidas. Citaremos algumas: “Espiritismo e Criminologia”; “O Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas”; “O Espiritismo e os Problemas Humanos”; “O Espiritismo à Luz da Crítica”; “Africanismo e Espiritismo”.
Colaborou no “Jornal do Comércio” e praticamente em toda a imprensa espírita do país.
Era jornalista, escritor, erudito conferencista, sócio remido da ABI, Presidente do Instituto de Cultura Espírita do Brasil e presidente de honra da Associação Brasileira de Jornalistas e Escritores Espíritas.
Deolindo Amorim privou da amizade de grandes vultos do Espiritismo no Brasil e no exterior, como, por exemplo, Carlos Imbassahy, Leopoldo Machado, Herculano Pires, Leôncio Correia e Humberto Mariotti.
Foi um dos mais ardorosos defensores das obras codificadas por Allan Kardec e profundo admirador de Léon Denis.
Levou o Espiritismo ao meio universitário, proferindo bela conferência no Instituto Pinel da Universidade do Brasil, focalizando o tema: “O Suicídio á luz do Espiritismo”.
Conseguiu que se instalasse o Primeiro Congresso de Jornalistas e Escritores Espíritas.
Agia sempre e invariavelmente de forma conciliadora, ponderada, não atacando ninguém, expondo o Espiritismo sem deformações, extasiando a todos com sua didática exemplar.
Embora enfermo, bastante debilitado ante a enfermidade que o acometia, não interrompeu totalmente, nos últimos meses, suas atividades de jornalista e grande conferencista.
Deixou viúva sua amorável companheira Delta dos Santos Amorim e três filhos
Rogamos ao Senhor Jesus Cristo que o abençoe na sua gloriosa jornada no Plano incorpóreo, o n d e passa a pontificar como dos mais capazes e operosos servidores do Mestre Jesus no caminho para a Eternidade!

O Espírita Fluminense

Camilo Chaves

Camilo Chaves

Camilo Rodrigues Chaves destacou-se como figura marcante no Espiritismo e na vida política de Minas Gerais.
Detentor de vasta cultura humanística, falava corretamente as línguas italiana, francesa e espanhola, conhecendo também o latim clássico e o grego antigo. Sua sensibilidade artística permitia-lhe executar ao piano, com admirável perfeição, obras de consagrados mestres da música universal. Foi ainda orador, poeta, escritor, jornalista, comerciante, fazendeiro e advogado.
Filho de João Evangelista Rodrigues Chaves e Maria Matilde do Amaral Chaves, era natural do povoado de Campo Belo do Prata, hoje cidade de Campina Verde, Minas Gerais, onde nasceu no dia 28 de julho de 1884. De seu casamento com Damartina Teixeira Chaves nasceram-lhe os filhos Hélio Chaves, Camilo Chaves Júnior e Fábio Teixeira Rodrigues Chaves, dos quais apenas este último permanece reencarnado.
Aos nove anos de idade, seus pais consentiram que o Bispo de Goiás, Dom Eduardo Duarte Silva, o levasse para Roma, onde seguiria a carreira eclesiástica, ingressando no Colégio Pio Latino-Americano.
Formou-se na Universidade Gregoriana do Vaticano, diplomando-se Doutor em Teologia, Filosofia, Ciências Naturais e Matemática. Antes de receber a Ordem Eclesiástica, resolveu retornar ao Brasil por sentir que não tinha vocação para o sacerdócio.
A desencarnação do querido e bondoso Dr. Camilo Rodrigues Chaves, às 23:30 horas do dia 03 de Fevereiro de 1955, com a avançada idade de 70 anos, causou profunda e indescritível saudade à família espírita de Minas Gerais e do Brasil.
Sua ilustre, trabalhosa, honesta e proveitosa vida pública, nos elevados postos de senador, deputado, parlamentar, político e diretor da Loteria de Minas, era quase inteiramente desconhecida pelo maioria da família espírita. Também, poucos confrades têm conhecimento de suas atividades iniciais de vaqueiro, boiadeiro, comerciante e fazendeiro. Por seus gestos, atos e palavras, suas excelentes virtudes morais, espirituais e intelectuais o faziam realmente amado e respeitado por quem dele se acercasse.
No meio espírita, a existência do Presidente da União Espírita Brasileira foi a de um verdadeiro apóstolo do bem e da verdade. Ele sentia no âmago do coração e exemplificava, a todo instante, as belas e eternas lições evangélicas. Seu coração, sempre florido dos mais puros sentimentos, não conhecia o espinho da calúnia e nem o veneno do ódio. Não guardava mágoas e ressentimentos. Não só esquecia, como pedia que esquecessem as restrições que, por vezes, sofreu de confrades imprevidentes. Graças à fortaleza moral que se refletia em sua personalidade inconfundível, esses próprios confrades respeitavam a sua mansa e austera ação direcional.
Do inesquecível líder espírita se pode, certamente, afirmar que tinha o coração acima do cérebro e o cérebro dentro do coração. Sabia negar sem ferir, agir sem causar atritos, aconselhar sem ostentação, servir com humildade e perdoar sem ofender.
Vivendo ardorosamente as lições da Boa Nova, o querido diretor de O Espírita Mineiro dava o máximo de si mesmo, diariamente pregando e exemplificando, no exercício da caridade cristã junto aos encarnados e desencarnados. E ninguém jamais o viu em queixas, lástimas ou azedume, graças à elevação de seu espírito e à nobreza de seu caráter.
O maior Presidente que já teve a União Espírita Mineira. Eleito pela primeira vez, presidente, em 1946, vinha sendo reeleito pelo Conselho Deliberativo, quer em virtude dos reconhecidos méritos que lhe exortavam a figura de varão eminente, quer em face de sua profunda sabedoria.
Nos últimos anos, vinha ele dedicando sua existência à Doutrina e aos estudos. Locomovendo-se com dificuldade, em conseqüência de consolidação defeituosa de fratura na bacia ilíaca esquerda, ele se amparava numa bengala e, manquejante, diariamente comparecia à sede da União, com chuva ou sem chuva, noite boa ou fria.
Durante sua direção, a Casa Máter de Minas mereceu integral reforma interna e foram inauguradas a Assistência Dentária e a Farmácia Homeopática, serviços inteiramente gratuitos para milhares de necessitados.
Uma das preocupações predominantes do saudoso confrade dizia respeito à educação intelectual e espiritual da juventude.
Além dos cargos mencionados, era o Dr. Camilo Chaves, presidente de honra do Centro Espírita Amor e Caridade, um dos fundadores da Sopa dos Pobres, conselheiro, sócio e irmão benemérito de várias Sociedades Espíritas e leigas.
Era sobrinho trineto do alferes José Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes, pró-mártir da independência.
Eis o homem bom, cuja elevada personalidade deixou marcos imperecíveis em quase todos os setores da laboriosa oficina humana: no campo, no comércio, na cátedra, no jornalismo, na política, nas letras, na ciência e na religião.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Caírbar Schutel

Caírbar Schutel

Caírbar de Souza Schutel foi um dos maiores vultos do Espiritismo brasileiro. Encarnado em 22 de Setembro de 1868 na cidade do Rio de Janeiro, filho do negociante Anthero de Souza Schutel e de D, Rita Tavares Schutel, e desencarnado na cidade de Matão, estado de São Paulo, no dia 30 de Janeiro de 1938, tornou-se incansável propagador da Doutrina Espírita, conseguindo realizar uma obra das mais admiráveis, revelando uma operosidade sem par e uma fé inquebrantável nos ideais reencarnacionistas.
Aos nove anos estava órfão de pai e seis meses depois, de mãe. Seu avô, Dr. Henrique Schutel, tomou o neto aos seus cuidados, matriculando o menino no Imperial Colégio de Pedro II, onde Caírbar estudou até o segundo ano.
Não desejando continuar os estudos, abandonou a casa do avô e se tornou independente, trabalhando como prático de farmácia, de manhã até tarde da noite.
Aos 17 anos de idade Caírbar já era um bom prático de farmácia e como não gostasse da vida na antiga Capital da República, ou se sentisse atraído para o interior, abandonou o Rio de Janeiro e com o espírito povoado de idealismo e sonhos de realização, rumou para o estado de São Paulo. Localizou-se primeiramente na cidade de Piracicaba e posteriormente em Araraquara e Matão.
Naquela época a cidade de Matão era um lugarejo de roça, lutando para que a cidade se emancipasse do município de Araraquara, Caírbar Schutel contribuiu de modo decisivo para que Matão subisse à categoria de Município, tendo sido o primeiro Presidente de sua Câmara Municipal; em 1889, cargo equivalente, em nosso tempo, a Prefeito.
Na política, Caírbar não enfrentava oposição, pois pela sua humildade conseguia conquistar os corações de todos, tendo mesmo adquirido, com seus próprios recursos, o prédio para a instalação da Câmara Municipal.
Havia em Matão um seu amigo de nome Manuel Pereira do Prado, mais conhecido por Manuel Calixto, cujo pai era o espírita da localidade. Procurado por Caírbar, o pai de Manuel Calixto lhe asseverou que havia dois anos não fazia mais sessões espíritas, pois ali só se comunicavam espíritos atrasados.
Caírbar não se preocupou com a opinião do velho Calixto e fez questão de assistir a um trabalho mediúnico.
Tempos depois surgiram nele diversas mediunidades, sobressaindo a da psicografia, por meio da qual o pai se manifestou, provando a sua sobrevivência.
Foi então que Caírbar resolveu aprofundar-se no conhecimento doutrinário, estudando as obras básicas de Allan Kardec e todas as outras publicadas em português.
Convertido ao Espiritismo, Caírbar Schutel fundou, no dia 15 de Julho de 1905, o Centro Espírita Amantes da Pobreza, o primeiro em toda aquela zona paulista e que ainda hoje funciona na cidade de Matão.
Sabia ser amigo dos párias da vida. Sempre feliz no seu receituário, transformou-se em autêntico médico dos pobres e pai da pobreza de Matão, pois receitava e dava gratuitamente os remédios. Sua residência tornou-se uma espécie de casa dos pobres, saindo dali diariamente muita gente sobraçando embrulhos de víveres, roupas e até lenha. O sentimento de amor ao próximo teve nele um modelo digno de ser imitado. Atos de desprendimento e de renúncia eram coisas comuns para ele. Amou, igualmente, seus irmãos inferiores, os animais ditos irracionais.
Casou-se em Itápolis, com D. Maria Elvira da Silva. Dessa união não houve filhos, tendo a consorte precedido o velho Schutel na vida de além-túmulo.
A sua atividade irradiava-se por todo o Estado, onde pregava pela pena, pela palavra e, sobretudo, pelo exemplo. Nunca poupou esforços em benefício da causa que esposara, antes, tudo por ela sacrificou, o tempo, a fortuna e a saúde.
Como jornalista escreveu muito.
Caírbar Schutel apreciava o valor da mediunidade fotográfica para provar a continuação da vida após a morte. Para ele, essa mediunidade constituía excelente meio de confirmação, desde que os interessados se rodeassem de precauções para eliminar possibilidades de fraude.
Além de ser homem de fé, um orador convincente, um trabalhador infatigável, um seareiro dos mais destacados, era dinâmico e realizador. Sua casa foi transformada em manicômio de emergência, recolhendo ali pessoas obsedadas que eram devidamente tratadas ou encaminhadas para nosocômios adequados. Como o número de enfermos aumentasse, alugou em 1912 uma casa ampla, para poder tratar, mais à vontade e com maiores recursos, os doentes que o procuravam ou que fossem a ele encaminhados.
Todos se sentiam bem em sua companhia. Os enfermos reanimavam-se, os pobres sentiam-se menos pobres, os desamparados podiam contar com um amigo, os vacilantes firmavam suas convicções.
Lidando com drogas, fazia às vezes de médico e lá ia, já velho e cansado, pelos sertões a fora, levar gratuitamente remédios e alívio aos padecentes.
Caírbar Schutel é conhecido nos meios espíritas como o “Apóstolo de Matão” e o espiritismo teve nele zeloso e esforçado propagador e um dos mais ardentes idealistas.
Cercado de consideração de seus familiares e de numerosos espíritas, desencarnou no dia 30 de Janeiro de 1938. O povo de Matão havia perdido materialmente o pai da pobreza.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Bittencourt Sampaio

Bittencourt Sampaio

Francisco Leite de Bittencourt Sampaio, filho de um negociante português do mesmo nome de D. Maria de Santana Leite Sampaio, nasceu em Laranjeiras, localidade da então Província de Sergipe, no dia 1º de Fevereiro de 1834, e desencarnou no Rio de Janeiro a 10 de Outubro de 1895. Era alto, louro, pálido, olhos azuis, encovados e muito expressivos, cabelos crescidos e atirados para trás, descobrindo-lhe a fronte iluminada pelo talento e pela inspiração. Fisionomia romântica e extremamente simpática.
Foi jurisconsulto, magistrado, político, alto funcionário público, jornalista, literato, renomado poeta lírico e excelente médium espírita.
Tendo principiado seus estudos de direito na Faculdade do Recife, continuou-os na Academia de São Paulo (atual Faculdade de Direito). Interrompeu, em 1856, o seu curso acadêmico para acudir os conterrâneos enfermos, por ocasião da epidemia de cólera-morbo. Por esses serviços, a que se entregou desinteressadamente, foi condecorado pelo Governo Imperial com a Ordem da Rosa, que não aceitou por ser incompatível com suas idéias políticas.
Bacharelando-se em 1859, Bittencourt Sampaio exerceu a promotoria pública em Itabaiana e Laranjeiras, em 1860-1861, trabalhando ainda como inspetor do distrito literário na primeira dessas comarcas. Em Março de 1861, retirou-se da Província de Sergipe, vindo para a antiga Corte do Rio de Janeiro, onde abriu banca de advogado, que freqüentou por muitos anos.
Militando na política, filiou-se ao partido liberal. Eleito, pela sua província, deputado à Assembléia Geral Legislativa, nas legislaturas de 1864-1866 e 1867-1870, foi nesse último período, Presidente do Espírito Santo, nomeado por carta imperial de 29 de setembro de 1867, cargo que exerceu até 26 de abril de 1868, para voltar ao desempenho do mandato legislativo na Corte.
Em 1870, abraçando as idéias republicanas, desligou-se do partido a que pertencia e fez-se ardoroso propagandista da República. Nessa qualidade, assinou o célebre Manifesto de 03 de Dezembro de 1870, que tão larga repercussão teve, tornando-se importantíssimo documento histórico. Como político, colaborou ativamente em “A Reforma”, órgão do Partido Liberal da Corte e em algumas folhas mais, entre elas “A República”, da qual era um dos redatores.
Foi um dos fundadores do Partido Republicano Federal em 13 de Janeiro de 1873.
Não se sabe quando ele entrou para o Espiritismo, mas em 02 de Agosto de 1873 já fazia parte da Diretoria do “Grupo Confúcio”, primeira sociedade espírita surgida em terras cariocas. Lá desenvolveu sua mediunidade receitista, curando muitos doentes com remédios homeopatas. Bittencourt Sampaio foi atraído ao Espiritismo pelos fenômenos, assunto este que estudou profundamente, mas foi a parte moral que mais impressionou o poeta-filósofo.
Funda, em 1876, a Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade, presidindo-lhe os trabalhos, nos quais era parte importante o estudo dos Evangelhos à luz do Espiritismo.
Fundado em 1880, o Grupo Espírita Fraternidade, a ele Bittencourt Sampaio também empresta sua valiosa colaboração.
Declara o “Reformador” de 15 de Outubro de 1895 que Bittencourt Sampaio se preparava para escrever a “Divina Tragédia do Gólgota”, quando, fruto maduro, foi colhido pela mão do celeste jardineiro.
Depois de sua desencarnação, o espírito de Bittencourt Sampaio escreveu, pelo médium Frederico Júnior, as seguintes obras: “Jesus perante a Cristandade”, “De Jesus para as crianças” e “Do Calvário ao Apocalipse”.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Bezerra de Menezes

Bezerra de Menezes

Cearense, de Riacho do Sangue, nasceu em 29 de Agosto de 1831, sendo batizado com o nome de Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti.
Seus pais, Antônio Bezerra de Menezes e D. Fabiana de Jesus Maria Bezerra.
Em 1838 entrou para a escola pública da vila do Frade, onde em dez meses se aprontou na leitura, em escrita e em contas.
Em 1842, com a mudança de sua família da província do Ceará para a do Rio Grande do Norte, matriculou-se na aula pública de latinidade, que havia na serra do Martins, na vila da Maioridade, hoje a cidade Martins. Em dois anos preparou-se naquela língua de modo a substituir o professor.
No ano de 1846, voltando a família para o Ceará, em cuja capital fixou residência, entrou para o Liceu, ali existente, e completou, sob as vistas e direção de seu irmão mais velho, o ilustrado Dr. Manoel Soares da Silva Bezerra, seus estudos preparatórios, sendo sempre considerado o primeiro aluno do Liceu.
Veio para o Rio de Janeiro em 1851, ingressando, em 1852, como praticante interno no Hospital da Santa Casa da Misericórdia, onde seria estimado auxiliar do grande cirurgião Dr. Manoel Feliciano Pereira de Carvalho. Para poder estudar, dava aulas de Filosofia e Matemática. Doutorou-se em 1856 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendendo a tese: “Diagnóstico do cancro”. Sempre obteve, em seus exames anuais a primeira nota da Faculdade.
Em 19 de Março de 1857 solicitou sua admissão no Corpo de Saúde do Exército, sentando praça em 20 de fevereiro de 1858. A 28 de abril de 1857 candidatou-se ao quadro dos membros titulares da Academia Imperial de Medicina.
Em 1858 concorreu a uma vaga de lente substituto da Seção de Cirurgia na Faculdade de Medicina. Nesse mesmo ano, Manoel Feliciano Pereira de Carvalho, então cirurgião-mor do Corpo de Saúde do Exército, fê-lo nomear seu assistente, com o posto de 2 º cirurgião-tenente.
No período 1859-61, Bezerra redatoriou os Anais Brasilienses de Medicina, da Academia Imperial de Medicina.
Em 06 de Novembro de 1858, casou-se com D. Maria Cândida de Lacerda, que faleceu a 24 de Março de 1863, deixando-lhe dois filhos.
Em 1860, concordou em candidatar-se à ilustríssima Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Eleito vereador municipal pelo partido Liberal, em 1861, teve sua eleição impugnada, sob a alegação de ser médico militar. Isso levou-o a demitir-se, em 26 de Março de 1861, do Corpo de Saúde do Exército.
Na Câmara Municipal da Corte desenvolveu grande trabalho em favor do Município Neutro e na defesa dos humildes e necessitados. Reeleito, com simpatia geral para o período 1864-1868.
Retornando à política, foi vereador de 1873 a 7 de Janeiro de 1881. Durante esse período, e até mesmo em 1867 e 1868, ele ocupou por inúmeras vezes as funções de presidente interino da Câmara Municipal da Corte.
Bezerra de Menezes jamais obteve favores do governo para as suas candidaturas. O povo do Município Neutro é quem o honrava sempre como seu representante na Câmara. Num discurso pronunciado na sessão de 15 de Maio de 1880, na Câmara dos Deputados, Bezerra disse que, à exceção de dois amigos, não tivera a gratidão dos homens eminentes do seu Partido, mas, para alegria sua, recebera sempre, nos seus vinte anos de político, a manifestação de apreço do povo donde veio e de onde espera acabar sua carreira.
Em 1867 foi eleito deputado geral pelo Rio de Janeiro. Com a subida dos conservadores ao poder, Bezerra retirou-se e dirigiu suas atividades construtivas em outras realizações que beneficiassem a cidade.
Voltando os liberais a dominar, Bezerra de Menezes de novo candidatou-se à Câmara dos Deputados, como representante do Rio de Janeiro, exercendo o seu mandato de 1878 a 1885, sempre se impondo à consideração e ao respeito de seus pares e de todo o País, sem jamais terem provado um ato sequer que lhe desabonasse a vida pública ou privada.
O Dr. Bezerra criou a Companhia de Estrada de Ferro Macaé a Campos, e construiu aquela ferrovia, vencendo dificuldades inúmeras e realizando um trabalho digno dos maiores aplausos.
Membro honorário da Seção Cirúrgica da Academia Nacional de Medicina, honorário do Instituto Farmacêutico, da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, membro do Conselho do Liceu de Artes e Ofícios, membro da Sociedade Geográfica da Lisboa, sócio da Sociedade Físico-Química, em cuja revista colaborou, presidente da Sociedade Beneficência Cearense, etc.
Em 21 de Janeiro de 1865 casou-se, em segundas núpcias, com D. Cândida Augusta de Lacerda Machado, de quem teve sete filhos.
Em 1885, Bezerra atingiu o fim de suas atividades na política, tudo fazendo por engrandecer o Brasil.
Outra mais alta missão, aquela de que o incumbiu Ismael, o aguardava, não para coroar de louros, que perecem, mas para trazer a sua memória à imortalidade, em que vive, conservando-o como médico das almas ao serviço de uma clientela que cresce todos os dias.
Logo que apareceu a primeira tradução brasileira de O Livro dos Espíritos, em 1875, foi oferecido ao Dr. Bezerra de Menezes um exemplar da obra pelo tradutor, Dr. Joaquim Carlos Travassos. É ele mesmo, perplexo, quem relata o seguinte, ao proceder à leitura: “mas não encontrava nada que fosse novo para meu espírito, entretanto tudo aquilo era novo para mim!…”.
Fundada a Federação Espírita em 02 de Janeiro de 1884, Bezerra de Menezes não quis inscrever-se entre os fundadores. Entretanto, foi em 16 de Agosto que se registrou um acontecimento de repercussão estrondosa nos meios político, religioso e médico: Bezerra de Menezes, ante um auditório de pessoas da melhor sociedade, proclamava solenemente a sua adesão ao Espiritismo.
A marcha da Doutrina, no Brasil, prosseguiu mais celeremente e não lhe preocupava a parte experimental para firmar-se na sua crença. Bastava-lhe o conteúdo sublime e racional das lições que a Nova Revelação encerrava.
Em 1889, como presidente da Casa de Ismael, iniciou o estudo metódico de O Livro dos Espíritos, em sessões semanais no salão da FEB, o que até hoje vem sendo seguido. Quando vice-presidente da FEB, em 1890 e 1891, traduziu o livro Obras Póstumas, de Allan Kardec, cuja publicação se deu em 1892.
A presença sábia e bondosa de Bezerra vinculou fortemente o Grupo Ismael, a Federação e a Assistência aos Necessitados, em torno da mesma divisa que ainda hoje permanece à frente da Casa de Ismael: “Deus, Cristo e Caridade”.
Eleito presidente em 03 de Agosto de 1895, cogitou logo de imprimir uma orientação basicamente evangélica aos trabalhos de Federação Espírita Brasileira.
Bezerra recomeçou, ele próprio, o estudo sistemático de O Livro dos Espíritos em sessões públicas e o salão da FEB se encheu de irmãos pressurosos em ouvir a palavra inspirada do venerando pregador. Em 1899 cogitava o abnegado presidente em instituir mais uma sessão semanal, para estudo dos Evangelhos à luz do Espiritismo, quando em dezembro foi acometido de uma congestão cerebral. Todavia, esse seu último propósito foi concretizado, e tão solidamente que perdura até aos dias atuais, todas as terças-feiras.
Aos 11 de Abril de 1900, à onze e meia, desencarnava no Rio de Janeiro o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, o inolvidável Apóstolo do Espiritismo no Brasil, o abolicionista inflamado, o antigo líder do Partido Liberal e adversário temível do Ministério Zacarias, o deputado em várias legislaturas e o presidente da Câmara Municipal da Corte.
Desencarnava pobre, mas com um brilhante passado de glórias cívicas e espirituais.
Na noite do dia 12 de Abril, após as exéquias do querido morto, reuniu-se normalmente o Grupo Ismael, quando, inesperadamente, o próprio Bezerra, desencarnado havia 31 horas, transmite pelo médium Frederico Júnior bela mensagem em que, jubiloso, fala agradecido da misericórdia divina que lhe concedera uma recepção imerecida, e termina animando e consolando os companheiros que o ouviam.
Mas o pranteado Médico dos Pobres, assim cognominado em virtude do humanitarismo que sempre demonstrara, como verdadeiro sacerdote e apóstolo que foi da medicina, embora autorizado a sublime ascensão aos planos superiores, renunciou a semelhante glória, a fim de se consagrar, mais de perto e por tempo mais dilatado, à transformação gradual de longas fileiras de infelizes, pobres almas necessitadas de abnegados médicos espirituais.
Espírito de escol, deixou luminoso rastro em sua existência terrena.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Batuíra

Batuíra

Antônio Gonçalves da Silva Batuíra, nasceu 19 de Março de 1839, em Portugal, na freguesia de Águas Santas, hoje integrada no conselho da Maia. Filho de humildes camponeses, tendo apenas completado a instrução primária, veio, com cerca de 11 anos de idade, para o Brasil, aportando na Guanabara a 03 de Janeiro de 1850.
Durante três anos trabalhou no comércio da Corte. Daí passou para Campinas, onde ficou por algum tempo até que se transferiu definitivamente para a capital paulista. Aí, nos primeiros anos, foi distribuidor do “Correio Paulistano”.
Diligente, honesto e espírito dócil, Batuíra, como entregador de jornais, ia formando amigos e admiradores em toda parte. Neste período é que aprendeu a arte tipográfica, certamente nas próprias oficinas do Correio Paulistano.
Dentro de pouco tempo, com as economias que reuniu, e com auxílio de pessoas amigas, montou um teatrinho nos fundos de uma taverna. Naquela modesta casa de espetáculos, muitos amadores fizeram sua estréia, inclusive Batuíra.
Perseverando na sua faina, dedicou-se depois à fabricação de charutos. Assim, com bastante trabalho e economia, Batuíra fazia crescer suas modestas finanças, o que lhe permitiu esposar a Srta. Brandina Maria de Jesus, de quem teve um filho, Joaquim Gonçalves Batuíra, que veio a falecer depois de homem feito e casado.
Audaz, como todos os grandes empreendedores, aplicou seu dinheiro na compra de uma área de terreno no Lavapés, zona então desvalorizada da cidade, e ali construiu sua residência. Sempre muito ativo, ia aos poucos aumentando sua propriedade. Adquiriu, a seguir, o morro do Lavapés, demolindo-o em grande parte. Tornou-se , assim, o pobre portuguesinho de Santas Águas um abastado proprietário, cujos haveres traduziam o fruto de muitos anos de trabalho árduo e honrado, unido a uma perseverança inquebrantável. A felicidade que morava no seu lar não demora, no entanto a ser empanada.
Na ocasião em que tudo parecia correr bem falece, quase repentinamente, o filho único de sua Segunda esposa, D. Maria das Dores Coutinho e Silva. Era uma criança de doze anos, por quem o casal se extremava em dedicação e carinho.
Este golpe feriu profundamente aquele lar, que só pôde encontrar lenitivo à dor na consoladora Doutrina dos Espíritos.
Tão grande foi a paz que o Espiritismo lhes infundiu, que Batuíra imediatamente pôs mãos à obra, no desejo ardente de que outros companheiros de labutas terrenas tivessem conhecimento daquela abençoada fonte de esperanças novas. E dentro daquele corpo baixo e de compleição robusta um coração de ouro iria dar mais larga expansão aos seus nobres sentimentos de amor ao próximo.
Inúmeras vezes escondera escravos fugidos dos maus tratos dos seus senhores e sempre que ele eram descobertos, envidava todos os esforços para comprar-lhes a liberdade.
Nas epidemias variólicas que grassaram na capital paulista, em 1873 e 1875, Batuíra acolheu numerosos enfermos em sua casa, entre aqueles mais desprovidos de recursos, e além de tratá-los e curá-los, dava-lhes, ainda, alimento e agasalho. Aquela casa não só se tornara um verdadeiro hospital, mas principalmente um lar para os variolados.
O respeito que o povo humilde lhe tinha transformou-se em veneração.
Iniciou-se Batuíra com tamanha atividade dentro dos arraias espiritistas, que em pouquíssimo tempo ele se postava à frente de quaisquer realizações de vulto. Freqüentou o Grupo Familiar do Dr. Ramos Nogueira, localizado na própria residência deste.
No ano de 1889, Batuíra passou a ser, na cidade de São Paulo, o agente exclusivo do “Reformador”.
Na rua do Lavapés, ele construiu confortável chalé, com vasto salão, adequadamente mobiliado e ali restabeleceu o Grupo Espírita Verdade e Luz. Precisamente no Domingo de 06 de Abril de 1890, diante de grande assistência, Batuíra dava início, nesse grupo, a uma série de explicações do Evangelho Segundo o Espiritismo.
Foi então que Batuíra, sentindo a premente necessidade de um órgão para a propaganda, difusão e defesa da Doutrina em São Paulo, adquiriu uma pequena tipografia, a que denominou Tipografia Espírita, e imprimiu com a data de 20 de Maio de 1890, o primeiro número de um periódico de quatro páginas, cujo diretor foi ele próprio até o seu decesso. Em meados de 1904, onze mil exemplares do jornal de Batuíra se espalhavam pelo Brasil.
Espírito cheio de bondade, coração aberto a todas as desventuras, repartia também com os necessitados o fruto de suas economias. Na sua casa, a caridade manifestava-se em tudo, jamais o socorro ali foi negado, jamais o pão ou a esmola foram recusados.
Enfronhara-se nos livros de Homeopatia, a fim de gratuitamente medicar os doentes paupérrimos que lhe batiam à porta. Cheios de fé, em número sempre crescente, acorriam à casa do caridoso prático, que chegou, a clinicar com boas vitórias, fato perfeitamente compreensível, pois que Batuíra era também médium curador, sendo centenas as curas de caráter físico e espiritual que obtinha ministrando água fluidificada ou aplicando passes magnéticos. Não foram poucos os católicos que se maravilharam diante dos milagres conseguidos por Batuíra. Em lhe ouvindo a palavra doutrinadora, banhada daquela fé que transporta montanhas, muitos obsedados, tidos como loucos incuráveis pela Medicina terrena, voltaram à vida consciente e normal.
Em 1906 vivia na residência de Batuíra, em tratamento, meia dúzia de obsedados
Em virtude de todos esses fatos, o povo, o mais beneficiado por Batuíra, passou a denominá-lo “Médico dos Pobres”, cognome que igualmente aureolou o nome de Adolfo Bezerra de Menezes.
A ação benemérita de Batuíra não se circunscrevia, entretanto, a estas manifestações da caridade cristã. Foi muito mais além. Criou ele grupos e centros espíritas em São Paulo, Minas Gerais, Estado do Rio, os quais animava e assistia; realizou conferências sobre diversos temas doutrinários, em inúmeras cidades de vários Estados, ocasião em que também visitava e curava irmãos sofredores; espalhou gratuitamente prospectos e folhetos de propaganda do Espiritismo, por ele próprio impressos e distribuiu milhares de livros pelo interior do País.
Em Dezembro de 1904 lança as bases da Instituição Cristã Beneficente Verdade e Luz, em cujo patrimônio passaram a figurar a tipografia com todos os seus acessórios, bem como dois sítios localizados no Município de Santo Amaro, nos quais ficariam estabelecidas agremiações para o socorro aos órfãos e às viúvas pobres, realizando-se ali também o tratamento de enfermos e obsedados. Às crianças seria ministrado educação e instrução.
Tudo isso foi concretizado, apesar da deficiência dos recursos monetários de Batuíra, que nesta ocasião chegou mesmo a apelar para quantos pudesses trazer a sua contribuição à obra.
Sobrepondo-se a todas as fadigas, numa constância e dedicação sem limites, Batuíra, amparado pelo Alto, foi vencendo todos os óbices que se lhe antepunham.
Inteiramente convencido de que só o amor constrói para a eternidade, o velho Batuíra não esmorecia um só instante no apostolado da Caridade, não medindo sacrifícios em tão belo quão árduo labutar.
Carregando sobre os ombros muitas responsabilidades, não sentiu, tão preso se achava ao cumprimento dos seus deveres, que suas forças vitais se esgotavam rapidamente. Súbita enfermidade assalta-lhe o corpo e zombando de todos os recursos médicos, em poucos dias obriga-o a transpor as aduanas do Além. Às dezesseis horas de 22 de Janeiro de 1909, seus despojos baixavam à terra, no cemitério da Consolação.
Em todo o Brasil foi bastante lastimada a partida do denodado e operoso obreiro.
Aos esforços e à dedicação de Antônio Gonçalves da Silva Batuíra muito deve o progresso do Espiritismo no Brasil, especialmente no Estado de São Paulo.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Francisco Cândido Xavier

Francisco Cândido Xavier

TRAÇOS BIOGRÁFICOS – NASCIMENTO – SUA INICIAÇÃO ESPÍRITA:

O maior e mais prolífico médium psicógrafo do mundo em todas as épocas nasceu em Pedro Leopoldo, modesta cidade de Minas Gerais, Brasil, em 2 de abril de 1910. Vive, desde 1959, em Uberaba, no mesmo Estado. Completou o curso primário, apenas. Pais: João Cândido Xavier e Maria João de Deus, desencarnados em 1960 e 1915, respectivamente. Infância difícil; foi caixeiro de armazém e modesto funcionário público, aposentado desde 1958. Em 7 de maio de 1927 participa de sua primeira reunião espírita. Até 1931 recebe muitas poesias e mensagens, várias das quais saíram a público, estampadas à revelia do médium em jornais e revistas, como de autoria de F. Xavier. Nesse mesmo ano, vê, pela primeira vez, o Espírito Emmanuel, seu inseparável mentor espiritual até hoje.

O MENINO CHICO:

Desde os 4 anos de idade o menino Chico teve a sua vida assinalada por singulares manifestações. Seu pai chegou, inclusive, a crer que o seu verdadeiro filho havia sido trocado por outro… Aquele seu filho era estranho!… De formação católica, o garoto orava com extrema devoção, conforme lhe ensinara D. Maria João de Deus, a querida mãezinha, que o deixaria órfão aos 5 anos. Dentro de grandes conflitos e extremas dificuldades, o menino ia crescendo, sempre puro e sempre bom, incapaz de uma palavra obscena, de um gesto de desobediência. As “sombras” amigas, porém, não o deixavam… Conversava com a mãezinha desencarnada, ouvia vozes confortadoras. Na escola, sentia a presença delas, auxiliando-o nas tarefas habituais. O certo é que os seus primeiros anos o marcaram profundamente; ele nunca os esqueceu… A necessidade de trabalhar desde cedo para auxiliar nas despesas domésticas foi em sua vida, conforme ele mesmo o diz, uma bênção indefinível.
Sim, a doença também viera precocemente fazer-lhe companhia. Primeiro os pulmões, quando trabalhava na tecelagem; depois os olhos; agora é a angina.

COMEÇO DO SEU MEDIUNATO:

Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier) iniciou, publicamente, seu mandato mediúnico em 8 de julho de 1927, em Pedro Leopoldo. Contando 17 anos de idade, recebeu as primeiras páginas mediúnicas. Em noite memorável, os Espíritos deram início a um dos trabalhos mais belos de toda a história da humanidade. Dezessete folhas de papel foram preenchidas, celeremente, versando sobre os deveres do espírita-cristão.
Depoimento de Chico Xavier: (…) “Era uma noite quase gelada e os companheiros que se acomodavam junto à mesa me seguiram os movimentos do braço, curiosos e comovidos. A sala não era grande, mas, no começo da primeira transmissão de um comunicado do mais Além, por meu intermédio, senti-me fora de meu próprio corpo físico, embora junto dele. No entanto, ao passo que o mensageiro escrevia as dezessete páginas que nos dedicou, minha visão habitual experimentou significativa alteração. As paredes que nos limitavam o espaço desapareceram. O telhado como que se desfez e, fixando o olhar no alto, podia ver estrelas que tremeluziam no escuro da noite. Entretanto, relanceando o olhar no ambiente, notei que toda uma assembléia de entidades amigas me fitavam com simpatia e bondade, em cuja expressão adivinhava, por telepatia espontânea, que me encorajavam em silêncio para o trabalho a ser realizado, sobretudo, animando-me para que nada receasse quanto ao caminho a percorrer.”

EMMANUEL E DUAS ORIENTAÇÕES PARA O RESTO DA VIDA:

Emmanuel, nos primórdios da mediunidade de Chico Xavier, deu-lhe duas orientações básicas para o trabalho que deveria desempenhar. Fora de qualquer uma delas, tudo seria malogrado. Eis a primeira.

– “Está você realmente disposto a trabalhar na mediunidade com Jesus?”
– Sim, se os bons espíritos não me abandonarem… -respondeu o médium.
– Não será você desamparado – disse-lhe Emmanuel – mas para isso é preciso que você trabalhe, estude e se esforce no bem.
– E o senhor acha que eu estou em condições de aceitar o compromisso? – tornou o Chico.
– Perfeitamente, desde que você procure respeitar os três pontos básicos para o Serviço… Porque o protetor se calasse o rapaz perguntou:
– Qual é o primeiro? A resposta veio firme:
– Disciplina.
– E o segundo?
– Disciplina.
– E o terceiro?
– Disciplina.

“A segunda mais importante orientação de Emmanuel para o médium é assim relembrada: – “Lembro-me de que num dos primeiros contatos comigo, ele me preveniu que pretendia trabalhar ao meu lado, por tempo longo, mas que eu deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Allan Kardec e, disse mais, que, se um dia, ele, Emmanuel, algo me aconselhasse que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e de Kardec, que eu devia permanecer com Jesus e Kardec, procurando esquecê-lo.
Em 1932 publica a FEB seu primeiro livro, o famoso “Parnaso de Além-Túmulo”; hoje as obras que psicografou vão a mais de 400. Várias delas estão traduzidas e publicadas em castelhano, esperanto, francês, inglês, japonês, grego, etc.
De moral ilibada, realmente humilde e simples, Chico Xavier jamais auferiu vantagens, de qualquer espécie, da mediunidade. Sua vida privada e pública tem sido objeto de toda especulação possível, na informação falada, escrita e televisionada. Ápodos e críticas ferinas, têm-no colhido de miúdo, sabendo suportá-los com verdadeiro espírito cristão.
Viajou com o médium Waldo Vieira aos Estados Unidos e à Europa, onde visitaram a Inglaterra, a França, a Itália, a Espanha e Portugal, sempre a serviço da Doutrina Espírita.
Chico Xavier é hoje uma figura de projeção nacional e internacional, suas entrevistas despertam a atenção de milhares de pessoas, mesmo alheias ao Espiritismo; tem aparecido em programas de TV, respondendo a perguntas as mais diversas, orientando as respostas pelos postulados espíritas.
Já recebeu o título de Cidadão Honorário de várias cidades: Rio Preto, São Bernardo do Campo, Franca, Campinas, Santos, Catanduva, em São Paulo; Uberlândia, Araguari e Belo Horizonte, em Minas Gerais; Campos, no Estado do Rio de Janeiro, etc., etc.
Dos livros que psicografou já se venderam mais de 12 milhões de exemplares, só dos editados pela FEB, em número de 88. “Parnaso de Além-Túmulo”, a primeira obra publicada em 1932, provocou (e comprovou) a questão da identificação das produções mediúnicas, pelo pronunciamento espontâneo dos críticos, tais como Humberto de Campos, ainda vivo na época, Agripino Grieco, severo crítico literário, de renome nacional, Zeferino Brasil, poeta gaúcho, Edmundo Lys, cronista, Garcia Júnior, etc. Prefaciando “Parnaso de Além-Túmulo”, escreveu Manuel Quintão: “Romantismo, Condoreirismo, Parnasianismo, Simbolismo, aí se ostentam em louçanias de sons e de cores, para afirmar não mais subjetiva, mas objetivamente, a sobrevivência de seus intérpretes.
É ler Casimiro e reviver ‘Primaveras’; é recitar Castro Alves e sentir ‘Espumas Flutuantes’; é declamar Junqueiro e lembrar a ‘Morte de D. João’; é frasear Augusto dos Anjos e evocar ‘Eu’.” Romances históricos formam a série Romana, de Emmanuel, composta de: “Há 2000 Anos…”, “50 Anos Depois”, “Ave, Cristo!”, “Paulo e Estevão”, provocando a elaboração do “Vocabulário Histórico-Geográfico dos Romances de Emmanuel”, de Roberto Macedo, estudo elucidativo dos eventos históricos citados nas obras. “Há 2000 Anos…” é o relato da encarnação de Emmanuel à época de Jesus. De Humberto de Campos (Espírito), aparece, em 1938, o profético e discutido “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, uma história de nossa pátria e dos fatos e ela ligados, em dimensão espiritual. A série André Luiz é reveladora, doutrinária e científica; com obras notáveis e a maioria completa, no tocante à vida depois da desencarnação, obras anteriores, de Swedenborg, A. Jackson Davis, Cahagnet, G. Vale Owen e outros.
Pertencem a essa série: “Nosso Lar”, “Os Mensageiros”, “Missionários da Luz”, “Obreiros da Vida Eterna”, “No Mundo Maior”, “Agenda Cristã”, “Libertação”, “Entre a Terra e o Céu”, “Nos Domínios da Mediunidade”, “Ação e Reação”, “Evolução em dois Mundos”, “Mecanismos da Mediunidade”, “Conduta Espírita”, “Sexo e Destino”, “Desobsessão”, “E a Vida Continua…”. De parceria com o médium Waldo Vieira, Chico Xavier psicografou 17 obras.
A extraordinária capacidade mediúnica de Chico Xavier está comprovada pela grande quantidade de autores espirituais, da mais elevada categoria, que por seu intermédio se manifestam. Vários de seus livros foram adaptados para encenação no palco e sob a forma de radionovelas e telenovelas. O dom mediúnico mais conhecido de Francisco Xavier é o psicográfico. Não é, todavia, o único. Tem ele, e as exercita constantemente, outras mediunidades, tais como: psicofonia, vidência, audiência, receitista, e outras.
Sua vida, verdadeiramente apostolar, dedicou-a, o médium, aos sofredores e necessitados, provindos de longínquos lugares, e também aos afazeres medianeiros, pelos quais não aceita, em absoluto, qualquer espécie de paga. Os direitos autorais ele os tem cedido graciosamente a várias Editoras e Casas Espíritas, desde o primeiro livro. Sua vida e sua obra têm sido objeto de numerosas entrevistas radiofônicas e televisadas, e de comentários em jornais e revistas, espíritas ou não, e em livros dos quais podemos citar: o opúsculo intitulado “Pinga-Fogo, Entrevistas”, obra publicada pelo Instituto de Difusão Espírita, de Araras; “Trinta Anos com Chico Xavier”, de Clóvis Tavares; “No Mundo de Chico Xavier”, de Elias Barbosa; “Lindos Casos de Chico Xavier”, de Ramiro Gama; “40 Anos no Mundo da Mediunidade”, de Roque Jacinto; “A Psicografia ante os Tribunais”, de Miguel Timponi; “Amor e Sabedoria de Emmanuel”, de Clóvis Tavares; “Presença de Chico Xavier”, de Elias Barbosa; “Chico Xavier Pede Licença”, de Irmão Saulo, pseudônimo de Herculano Pires; “Nosso Amigo Xavier”, de Luciano Napoleão; “Chico Xavier, o Santo dos Nossos Dias” e “O Prisioneiro de Cristo”, de R. A. Ranieri; “Chico Xavier – Mandato de Amor”, da U.E.M.; “As Vidas de Chico Xavier”, de Marcel Souto Maior, etc.

O CASO HUMBERTO DE CAMPOS:

Desencarnado em 1934 o festejado escritor brasileiro Humberto de Campos, o Espírito deste iniciou, em 1937, pela mediunidade de Chico Xavier, a transmissão de várias obras de crônicas e reportagens, todas editadas pela Federação Espírita Brasileira, entre as quais sobressai “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”. Eis senão quando, em 1944, a viúva de Humberto de Campos ingressa em juízo, movendo um processo, que se torna célebre, contra a Federação Espírita Brasileira e Francisco Cândido Xavier, no sentido de obter uma declaração, por sentença, de que essa obra mediúnica “é ou não do ‘Espírito’ de Humberto de Campos”, e que em caso afirmativo, se apliquem as sanções previstas em Lei. O assunto causou muita polêmica e, durante um bom tempo, ocupou espaço nos principais periódicos do País. Para que tenhamos uma idéia do que representou o referido processo na divulgação dos postulados espíritas, resumimos aqui alguns dos principais depoimentos da época extraídos da obra do Dr. Miguel Timponi, o principal advogado que trabalhou na defesa do médium e da FEB. Antes, porém, sintamos a beleza das palavras a seguir, enfeixadas no livro A Psicografia ante os Tribunais: “Entretanto, lá do Nordeste, desse Nordeste de encantamentos e de mistérios, a voz cheia de ternura e de emoção, de uma velhinha santificada pela dor e pelo sofrimento, D. Ana de Campos Veras, extremosa mãe do querido e popular escritor, rompeu o silêncio para ofertar ao médium de Pedro Leopoldo a fotografia do seu próprio filho, com esta expressiva dedicatória: ‘Ao Prezado Sr. Francisco Xavier, dedicado intérprete espiritual do meu saudoso Humberto, ofereço com muito afeto esta fotografia, como prova de amizade e gratidão. Da crª. atª. Ana de Campos Veras Parnaíba, 21-5-38.’ Conforme se vê da edição de ‘O Globo’ de 19 de julho de 1944, essa exma. senhora confirma que o estilo é do seu filho e assegura ao redator de ‘O Povo’ e ‘Press Parga’: “- Realmente – disse dona Ana Campos – li emocionada as Crônicas de Além-Túmulo, e verifiquei que o estilo é o mesmo de meu filho. Não tenho dúvidas em afirmar isso e não conheço nenhuma explicação científica para esclarecer esse mistério, principalmente se considerarmos que Francisco Xavier é um cidadão de conhecimentos medíocres. Onde a fraude? Na hipótese de o Tribunal reconhecer aquela obra como realmente da autoria de Humberto, é claro que, por justiça, os direitos autorais venham a pertencer à família. No caso, porém, de os juízes decidirem em contrário, acho que os intelectuais patriotas fariam ato de justiça aceitando Francisco Cândido Xavier na Academia Brasileira de Letras… Só um homem muito inteligente, muito culto, e de fino talento literário, poderia ter escrito essa produção, tão identificada com a de meu filho.” Na noite de 15 de julho de 1944, quando o processo atingia o clímax, o Espírito Humberto de Campos retorna pelo lápis do médium Chico Xavier, tecendo, no seu estilo inconfundível, uma belíssima e emocionante página sobre o triste problema levantado pela incompreensão humana, página que pode ser devidamente apreciada no livro “A Psicografia ante os Tribunais”. Daí por diante, ele passou a assinar-se, simplesmente, Irmão X, versão evangelizada do Conselheiro XX, como era conhecido nos meios literários quando encarnado. A Autora, D. Catarina Vergolino de Campos, foi julgada carecedora da ação proposta, por sentença de 23 de agosto de 1944, do Dr. João Frederico Mourão Russell, juiz de Direito em exercício na 8ª Vara Cível do antigo Distrito Federal. Tendo ela recorrido dessa sentença, o Tribunal de Apelação do antigo DF manteve-a por seus jurídicos fundamentos, tendo sido relator o saudoso ministro Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa.

O AMOR DE CHICO XAVIER POR JESUS:

Depoimento de Chico Xavier: “(…) Deus nos permita a satisfação de continuar sempre trabalhando na Grande Causa d’Ele, Nosso Senhor e Mestre. Desde criança, a figura do Cristo me impressiona. Ao perder minha mãe, aos cinco janeiros de idade, conforme os próprios ensinamentos dela, acreditei n’Ele, na certeza de que Ele me sustentaria. Conduzido a uma casa estranha, na qual conheceria muitas dificuldades para continuar vivendo, lembrava-me d’Ele, na convicção de que Ele era um amigo poderoso e compassivo que me enviaria recursos de resistência e ao ver minha mãe desencarnada pela primeira vez, com o cérebro infantil sem qualquer conhecimento dos conflitos religiosos que dividem a Humanidade, pedi a ela me abençoasse segundo o nosso hábito em família e lembro-me perfeitamente de que perguntei a ela: – Mamãe, foi Jesus que mandou a senhora nos buscar? Ela sorriu e respondeu: – Foi sim, mas Jesus deseja que vocês, os meus filhos espalhados, ainda fiquem me esperando… Aceitei o que ela dizia, embora chorasse, porque a referência a Jesus me tranqüilizava. Quando meu pai se casou pela segunda vez e a minha segunda mãe mandou me buscar para junto dela, notando-lhe a bondade natural, indaguei: – Foi Jesus quem enviou a senhora para nos reunir? Ela me disse: – Chico, isso não sei… Mas minha fé era tamanha que respondi: – Foi Ele sim… Minha mãe, quando me aparece, sempre me fala que Ele mandaria alguém nos buscar para a nossa casa. E Jesus sempre esteve e está em minhas lembranças como um Protetor Poderoso e Bom, não desaparecido, não longe mas sempre perto, não indiferente aos nossos obstáculos humanos, e sim cada vez mais atuante e mais vivo.” Não se pode negar o sentimento de veneração que envolve a nobre figura de Ismael, guia espiritual do Brasil. A responsabilidade que detém, na condição de mentor da Federação Espírita Brasileira suscita, da parte da comunidade espírita nacional, um profundo respeito, aliado a um imenso carinho e uma suave ternura. Certa vez, indagaram a Chico Xavier: – Como se processam os encontros, nas esferas resplandecentes da Espiritualidade, de Emmanuel com Ismael? Qual a postura do admirável Espírito do ex-senador romano, diante da também luminosa entidade a quem confiou Jesus os destinos do Brasil? Resposta do médium, curta, serena e firme: – De joelhos!

BREVES DEPOIMENTOS SOBRE O MÉDIUM CHICO XAVIER:

A bibliografia mediúnica, que foi acrescida à literatura espírita, nestes últimos cinqüenta anos, nascida do lápis de Chico Xavier – e o espaço não nos permite, sequer, considerações ligeiras sobre suas páginas -, é vultosa, considerável. É qualitativamente admirável. Poderíamos, sem dificuldade, num exame sereno e com absoluta isenção, dividir a obra mediúnica, orientada por Emmanuel, igualmente em fases perfeitamente delineadas, dentro de duas grandes divisões: a primeira, provando a sobrevivência e a imortalidade do espírito – ‘Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho’ – seguida de uma panorâmica da História universal – ‘A Caminho da Luz’ e de alguns manuais do maior valor: ‘Emmanuel, Dissertações Mediúnicas’, ‘O Consolador’, ‘Roteiro’, etc. Enfim, muitos estudos interessantes e instrutivos virão, a seu tempo. E a obra de Francisco Cândido Xavier, criteriosamente traduzida, estará, tempestivamente, à disposição dos leitores do mundo inteiro, juntamente com a de Allan Kardec e da dos autores que cuidaram dos escritos subsidiários e complementares da Codificação. Mas, enquanto isso, e para que tudo ocorra com a tranqüilidade que se almeja na difusão conscienciosa e responsável da Doutrina dos Espíritos, seria de bom alvitre não perder de vista o fato de que Chico Xavier jamais teria obtido êxito, como instrumento do Alto, se não tivesse seguido a rígida disciplina que lhe foi sugerida por Emmanuel, testemunhando e permanecendo na exemplificação do amor ao próximo e do amor a Deus, vivendo o Evangelho.

Francisco Thiesen Presidente da Federação Espírita Brasileira”
(Fonte: “Revista Internacional de Espiritismo”, número 6, Ano LII, julho de 1977.) “

“..Não me considero à altura para escrever algo sobre o Chico. Dele, dão testemunho (e que testemunho!) as belas obras que semeou e semeia por esse Brasil afora, com reflexos benéficos em diversas nações do mundo. E quando digo ‘obras’, refiro-me não só à palavra escrita e falada, como também aos seus exemplos de caridade, de perdão, de fé, de humildade, aos seus diálogos fraternos e frutíferos, enfim, à sua multiforme vivência evangélica junto a pobres e ricos, num trabalho diário de edificação e levantamento de espíritos.” “Conheço o Chico há bastante tempo. Nos seus livros mediúnicos encontrei forças, luz e paz, e através de suas cartas pude senti-lo e amá-lo bem no fundo do seu ser. Por várias vezes chorei com suas preocupações e sua dor, vivendo-lhe as graves responsabilidades e lamentando a incompreensão dos homens. Mas sempre orei pedindo ao Senhor que não lhe tirasse o pesado fardo dos ombros e, sim, que o ajudasse a carregá-lo. Graças a Deus, o nosso caro Chico tem vencido todas as dificuldades e todos os óbices do caminho, numa maratona hercúlea que realmente o dignifica aos olhos dos homens e aos olhos do Pai.”

(Trechos da carta do Sr. Zêus Wantuil, 3° secretário da Federação Espírita
Brasileira, à presidente da União Espírita Mineira)
(Fonte: “O Espírita Mineiro”, número 172, maio/julho de 1977.)

A PALAVRA DE CHICO XAVIER AO COMPLETAR QUARENTA ANOS DE MEDIUNIDADE:

“Estes quarenta anos de mediunidade passaram para o meu coração como se fossem um sonho bom. Foram quarenta anos de muita alegria, em cujos caminhos, feitos de minutos e de horas, de dias, só encontrei benefícios, felicidades, esperanças, otimismo, encorajamento da parte de todos aqueles que o Senhor me concedeu, dos familiares, irmãos, amigos e companheiros. Quarenta anos de felicidade que agradeço a Deus em vossos corações, porque sinto que Deus me concedeu nos vossos corações, que representam outros muitos corações que estão ausentes de nós. Agora, sinto que Deus me concedeu por vosso intermédio uma vida tocada de alegrias e bênçãos, como eu não poderia receber em nenhum outro setor de trabalho na Humanidade. Beijo-vos, assim, as mãos, os corações. Quanto ao livro, devo dizer que, certa feita, há muitos anos, procurando o contato com o Espírito de nosso benfeitor Emmanuel, ao pé de uma velha represa, na terra que me deu berço na presente encarnação, muitas vezes chegava ao sítio, pela manhã, antes do amanhecer. E quando o dia vinha de novo, fosse com sol, fosse com chuva, lá estava, não muito longe de mim, um pequeno charco. Esse charco, pouco a pouco se encheu de flores, pela misericórdia de Deus, naturalmente. E muitas almas boas, corações queridos, que passavam pelo mesmo caminho em que nós orávamos, colhiam essas flores, e as levavam consigo com transporte de alegria e encantamento. Enquanto que o charco era sempre o mesmo charco. Naturalmente, esperando também pela misericórdia de Deus, para se transformar em terra proveitosa e mais útil. Creio que nesses momentos, em que ouço as palavras desses corações maravilhosos, que usaram o verbo para comentar o aparecimento desses cem livros, agora cento e dois livros, lembro este quadro que nunca me saiu da memória, para declarar-vos que me sinto na condição do charco que, pela misericórdia de Deus, um dia recebeu essas flores que são os livros, e que pertencem muito mais a vós outros do que a mim. Rogo, assim, a todos os companheiros, que me ajudem através da oração, para que a luta natural da vida possa drenar a terra pantanosa que ainda sou, na intimidade do meu coração, para que eu possa um dia servir a Deus, de conformidade com os deveres que a Sua infinita misericórdia me traçou. E peço, então, permissão, em sinal de agradecimento, já que não tenho palavras para exprimir a minha gratidão. Peço-vos, a todos, licença para encerrar a minha palavra despretensiosa, com a oração que Nosso Senhor Jesus Cristo nos legou.

(Fonte: “O Espírita Mineiro”, número 137, abril/maio/junho de 1970.)

NA TAREFA MEDIÚNICA:

“Pergunta – Em seu primeiro encontro com Emmanuel, ele enfatizou muito a disciplina. Teria falado algo mais?
Resposta – Depois de haver salientado a disciplina como elemento indispensável a uma boa tarefa mediúnica, ele me disse: ‘Temos algo a realizar.’ Repliquei de minha parte qual seria esse algo e o benfeitor esclareceu: ‘Trinta livros pra começar!’ Considerei, então: como avaliar esta informação se somos uma família sem maiores recursos, além do nosso próprio trabalho diário, e a publicação de um livro demanda tanto dinheiro!… Já que meu pai lidava com bilhetes de loteria, eu acrescentei: será que meu pai vai tirar a sorte grande? Emmanuel respondeu: ‘Nada, nada disso. A maior sorte grande é a do trabalho com a fé viva na Providência de Deus. Os livros chegarão através de caminhos inesperados!’ Algum tempo depois, enviando as poesias de ‘Parnaso de Além- Túmulo’ para um dos diretores da Federação Espírita Brasileira, tive a grata surpresa de ver o livro aceito e publicado, em 1932. A este livro seguiram-se outros e, em 1947, atingimos a marca dos 30 livros. Ficamos muito contentes e perguntei ao amigo espiritual se a tarefa estava terminada. Ele, então, considerou, sorrindo: ‘Agora, começaremos uma nova série de trinta volumes!’ Em 1958, indaguei-lhe novamente se o trabalho finalizara. Os 60 livros estavam publicados e eu me encontrava quase de mudança para a cidade de Uberaba, onde cheguei a 5 de janeiro de 1959. O grande benfeitor explicou-me, com paciência: ‘Você perguntou, em Pedro Leopoldo, se a nossa tarefa estava completa e quero informar a você que os mentores da Vida Maior, perante os quais devo também estar disciplinado, me advertiram que nos cabe chegar ao limite de cem livros.’ Fiquei muito admirado e as tarefas prosseguiram. Quando alcançamos o número de 100 volumes publicados, voltei a consultá-lo sobre o termo de nossos compromissos. Ele esclareceu, com bondade: ‘Você não deve pensar em agir e trabalhar com tanta pressa. Agora, estou na obrigação de dizer a você que os mentores da Vida Superior, que nos orientam, expediram certa instrução que determina seja a sua atual reencarnação desapropriada, em benefício da divulgação dos princípios espíritas-cristãos, permanecendo a sua existência, do ponto de vista físico, à disposição das entidades espirituais que possam colaborar na execução das mensagens e livros, enquanto o seu corpo se mostre apto para as nossas atividades.’ Muito desapontado, perguntei: então devo trabalhar na recepção de mensagens e livros do mundo espiritual até o fim da minha vida atual? Emmanuel acentuou: ‘Sim, não temos outra alternativa!’ Naturalmente, impressionado com o que ele dizia, voltei a interrogar: e se eu não quiser, já que a Doutrina Espírita ensina que somos portadores do livre arbítrio para decidir sobre os nossos próprios caminhos? Emmanuel, então, deu um sorriso de benevolência paternal e me cientificou: ‘A instrução a que me refiro é semelhante a um decreto de desapropriação, quando lançado por autoridade na Terra. Se você recusar o serviço a que me reporto, segundo creio, os orientadores dessa obra de nos dedicarmos ao Cristianismo Redivivo, de certo que eles terão autoridade bastante para retirar você de seu atual corpo físico!’ Quando eu ouvi sua declaração, silenciei para pensar na gravidade do assunto, e continuo trabalhando, sem a menor expectativa de interromper ou dificultar o que passei a chamar de ‘Desígnios de Cima.”

(Fonte: “O Espírita Mineiro”, número 205, abril/junho de 1988.)

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Em 1997, Chico Xavier completou 70 anos de incessante atividade mediúnica, da maior significação espiritual, em prol da Humanidade, abrangendo seus mais diversos segmentos. Até a presente data, outubro de 1997, Francisco Cândido Xavier psicografou mais de 400 (quatrocentas) obras mediúnicas, de centenas de autores espirituais, abarcando os mais diversos e diferentes assuntos, entre poesias, romances, contos, crônicas, história geral e do Brasil, ciência, religião, filosofia, literatura infantil, etc.
Dias e noites têm sido por ele ofertados aos seus semelhantes, com sacrifício da própria saúde. Problemas orgânicos acompanharam-lhe a mocidade e a madureza. Hoje, nos abençoados 87 anos de sua vida corporal, as dificuldades físicas continuam trazendo-lhe problemas. Releva observar que as doenças oculares a as intervenções cirúrgicas jamais o impediram de cumprir, fiel e dignamente, sua missão de amparo aos necessitados. Sua postura é uma só, obedece a uma só diretriz: amor ao próximo, desinteresse ante os bens materiais, preocupação exclusiva e constante com a felicidade do próximo. Ricos e pobres, velhos e crianças, homens e mulheres de todos os níveis sociais têm encontrado, no homem e no médium Chico Xavier, tudo quanto necessitam para o reajuste interior, para o crescimento, em função do conhecimento e da bondade. Francisco Cândido Xavier é um presente do Alto ao século XX, enriquecendo-lhe os valores com a sua vida de exemplar cidadão, com milhares de mensagens psicografias que, em catadupas de paz e luz, amor e esclarecimento, vêm fertilizando o solo planetário, sob a luminar supervisão do Espírito Emmanuel.

NOTA DA FEB – No presente trabalho, foram consultadas e utilizadas as seguintes obras:

A Psicografia ante os Tribunais. / Miguel Timponi. / FEB – 5ª ed.,
Brasil, Mais Além! / Duílio Lena Bérni. / FEB – 5ª ed., 1994.
Chico Xavier – Mandato de Amor. / União Espírita Mineira, 1992.
Chico Xavier – Mediunidade e Coração. / Carlos A. Bacelli.
Instituto Divulgação Ed. André Luiz, 1985
Espiritismo Básico. / Pedro Franco Barbosa. / FEB – 4ª ed., 1995

A Desencarnação de Chico Xavier

A 30 de junho de 2002, por volta das 19h30, desencarnava em Uberaba o médium mineiro Francisco Cândido Xavier, em meio às vibrações de alegria do povo brasileiro pela conquista de mais um troféu mundial de futebol, como se o Plano Espiritual Superior quisera, propositadamente, diluir as repercussões que a partida do médium, por certo, viria causar em todos os segmentos da nossa sociedade. À medida que a notícia da desencarnação se espalhava pela cidade, centenas de pessoas se dirigiam para a casa do médium, de onde saiu o corpo, por volta das 23h, para ser velado no Grupo Espírita da Prece, ali permanecendo por cerca de 48 horas para receber as homenagens derradeiras do povo que ele tanto amou.
Durante todo o tempo em que ficou exposto em câmara ardente, filas quilométricas se faziam nas vizinhanças do Grupo Espírita da Prece, compostas por pessoas de todas as idades, sem distinção de raça e de condição social, professando os mais diferentes credos religiosos, numa espantosa demonstração de solidariedade e indisfarçadp reconhecimento pelo grande obreiro que partia para o Além. O Governador Itamar Franco decretou luto oficial de três dias no Estado de Minas Gerais e fez-se representar no velório pelo Secretário de Indústria e Comércio, Marcelo Prado.
Uma hora antes de o corpo do médium deixar o Grupo Espírita da Prece, o Presidente da Federação Espírita Brasileira, Nestor João Masotti, a convite, proferiu uma prece, depois de falar brevemente acerca da vida e da obra de Francisco Cândido Xavier, seguida posteriormente por outras manifestações de apreço do Prefeito Municipal de Uberaba, Marcos Montes, e de autoridades presentes, além dos líderes da comunidade espírita local e de outras cidades e Estados, amigos e companheiros do médium.
Às 17h do dia 2 de julho, conduzidos pela viatura do Corpo de Bombeiros, os restos mortais do médium deixaram o Grupo Espírita da Prece, acompanhados por uma multidão incalculável, que seguia a pé e em silêncio, em direção ao Cemitério de São João Batista, em Uberaba, sem falar no sem-número de criaturas que, espremidas, se dispunham de ambos os lados das ruas por onde passava o cortejo. Em várias ocasiões, pétalas de rosas em grande profusão derramavam-se sobre o cortejo, lançadas por um helicóptero da Polícia Militar de Minas Gerais.
Cálculos das autoridades militares dão conta de que mais de cem mil pessoas compareceram ao sepultamento. No cemitério foram prestadas as honras militares de estilo, inclusive uma salva de 21 tiros de fuzil, a cargo do 4º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais, cuja banda tocou as músicas Amigos para sempre e Nossa Senhora. Por volta das 19 horas, o corpo do médium baixou à tumba, após o que a multidão se dispersou, lenta e silenciosamente.

Fonte: Reformador julho/2002 – Edição especial

O Retorno do Apóstolo Chico Xavier

Quando mergulhou no corpo físico, para o ministério que deveria desenvolver, tudo eram expectativas e promessas.
Aquinhoado com incomum patrimônio de bênçãos, especialmente na área da mediunidade, Mensageiros da Luz prometeram inspirá-lo e ampará-lo durante todo o tempo em que se encontrasse na trajetória física, advertindo-o dos perigos da travessia no mar encapelado das paixões bem como das lutas que deveria travar para alcançar o porto de segurança.
Orfandade, perseguições rudes na infância, solidão e amargura estabeleceram o cerco que lhe poderia ter dificultado o avanço, porém, as providências superiores auxiliaram-no a vencer esses desafios mais rudes e a crescer interiormente no rumo do objetivo de iluminação.
Adversários do ontem que se haviam reencarnado também, crivaram-no de aflições e de crueldade durante toda a existência orgânica, mas ele conseguiu amá-los, jamais devolvendo as mesmas farpas, os espículos e o mal que lhe dirigiam.
Experimentou abandono e descrédito, necessidades de toda ordem, tentações incontáveis que lhe rondaram os passos ameaçando-lhe a integridade moral, mas não cedeu ao dinheiro, ao sexo, às projeções enganosas da sociedade, nem aos sentimentos vis.
Sempre se manteve em clima de harmonia, sintonizado com as Fontes Geradoras da Vida, de onde hauria coragem e forças para não desfalecer.
Trabalhando infatigavelmente, alargou o campo da solidariedade, e acendendo o archote da fé racional que distendia através dos incomuns testemunhos mediúnicos, iluminou vidas que se tornaram faróis e amparo para outras tantas existências.
Nunca se exaltou e jamais se entregou ao desânimo, nem mesmo quando sob o metralhar de perversas acusações, permanecendo fiel ao dever, sem apresentar defesas pessoais, ou justificativas para os seus atos.
Lentamente, pelo exemplo, pela probidade e pelo esforço de herói cristão, sensibilizou o povo e os seus líderes, que passaram a amá-lo, tornou-se parâmetro do comportamento, transformando-se em pessoa de referências para as informações seguras sobre o Mundo Espiritual e os fenômenos da mediunidade.
Sua palavra doce e ungida de bondade sempre soava ensinando, direcionando e encaminhando as pessoas que o buscavam para a senda do Bem.
Em contínuo contato com o seu Anjo tutelar, nunca o decepcionou, extraviando-se na estrada do dever, mantendo disciplina e fidelidade ao compromisso assumido.
Abandonado por uns e por outros, afetos e amigos, conhecidos ou não, jamais deixou de realizar o seu compromisso para com a Vida, nunca desertando das suas tarefas.
As enfermidades minaram-lhe as energias, mas ele as renovava através da oração e do exercício intérmino da caridade.
A claridade dos olhos diminuiu até quase apagar-se, no entanto a visão interior tornou-se mais poderosa para penetrar nos arcanos da Espiritualidade.
Nunca se escusou a ajudar, mas nunca deu trabalho a ninguém.
Seus silêncios homéricos falaram mais alto do que as discussões perturbadoras e os debates insensatos que acontecia à sua volta e longe dele, sobre a Doutrina que esposava e os seus sublimes ensinamentos.
Tornou-se a maior antena parapsíquica do seu tempo, conseguindo viajar fora do corpo, quando parcialmetne desdobrado pelo sono natural, assim como penetrar em mentes e corações para melhor ajudá-los, tanto quanto tornando-se maleável aos Espíritos que o utilizaram por quase setenta e cinco anos de devotamento e de renúncia na mediunidade luminosa.
Por isso mesmo, o seu foi mediumato incomparável.

…E ao desencarnar, suave e docemente, permitindo que o corpo se aquietasse, ascendeu nos rumos do Infinito, sendo recebido por Jesus, que o acolheu com a Sua Bondade, asseverando-lhe:
– Descansa, por um pouco, meu filho, a fim de esqueceres as tristezas da Terra e desfrutares das inefáveis alegrias do reino dos Céus.

Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco,
no dia 2 de julho de 2002, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.

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