Categoria: Grandes Vultos do Espiritismo

Léon Denis

Léon Denis

Léon Denis nasceu numa aldeia chamada Foug, situada nos arredores de Tours, em França, a 1º de Janeiro de 1846, numa família humilde. Cedo conheceu, por necessidade, os trabalhos manuais e os pesados encargos da família. Desde os seus primeiros passos neste mundo, sentiu que os amigos invisíveis o auxiliavam. Ao invés de participar em brincadeiras próprias da juventude, procurava instruir-se o mais possível. Lia obras sérias, conseguindo assim, com esforço próprio desenvolvera sua inteligência. Tomou-se um autodidata sério e competente.
Aos 18 anos tomou-se representante comercial da empresa onde trabalhava, fato que o obrigava a viagens constantes, situação que se manteve até à sua reforma e manteve ainda depois por mais algum tempo. Adorava a música e sempre que podia assistia a uma ópera ou concerto. Gostava de dedilhar, ao piano, árias conhecidas e de tirar acordes para seu próprio devaneio. Não fumava, era quase exclusivamente vegetariano e não fazia uso de bebidas fermentadas. Encontrava na água a sua bebida ideal.
Era seu hábito olhar com interesse, para os livros expostos nas livrarias. Um dia, ainda com 18anos, o chamado acaso fez com que a sua atenção fosse despertada para uma obra de título inusitado. Esse livro era “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec. Dispondo do dinheiro necessário, comprou-o e, recolhendo-se imediatamente ao lar entregou-se com avidez à leitura. O próprio Denis disse:
“Nele encontrei a solução clara, completa e lógica, acerca do problema universal. A minha convicção tornou-se firme. A teoria espírita dissipou a minha indiferença e as minhas dúvidas”.
O ano de 1882 marca, em realidade, o início dose u apostola do, durante o qual teve que enfrentar sucessivos obstáculos: o materialismo e o positivismo que olham para o Espiritismo com ironia e risadas e os crentes das demais correntes religiosas, que não hesitam em aliar-se aos ateus, para o ridicularizar e enfraquecer Léon Denis porém, como bom paladino, enfrenta a tempestade. Os companheiros invisíveis colocam-se ao seu lado para o encorajar e exortá-lo à luta. “Coragem, amigo” – diz-lhe o espírito de Jeanne – “estaremos sempre contigo para te sustentar e inspirar. Jamais estarás só. Meios ser-te-ão dados, em tempo, para bem cumprires a tua obra”. A 2 de Novembro de 1882, dia de Finados, um evento de capital importância produziu-se na sua vida: a manifestação, pela primeira vez, daquele Espírito que, durante meio século, havia de ser o seu guia, o seu melhor amigo, o seu pai espiritual – Jerônimo de Praga – que lhe disse: “Vai meu filho. Pela estrada aberta diante de ti. Caminharei atrás de ti para te sustentar”.
A partir de 1910, a visão de Léon Denis foi, dia a dia, enfraquecendo. A operação a que se submetera, dois anos antes, não lhe proporcionara nenhuma melhora, mas suportava, com calma e resignação, a marcha implacável desse mal que o castigava desde a juventude. Aceitava tudo com estoicismo e resignação. Jamais o viram queixar-se. Todavia, bem podemos avaliar quão grande devia ser o seu sofrimento. Apesar deste, mantinha volumosa correspondência. Jamais se aborrecia; amava a juventude e possuía a alegria da alma. Era inimigo da tristeza. O mal físico, para ele, devia ser bem menor do que a angústia que experimentava pelo fato de não mais poder manejar a pena. Secretárias ocasionais substituíam-no nesse ofício. No entanto, a grande dificuldade para Denis, consistia em rever e corrigir as novas edições dos seus livros e dos seus escritos. Graças, porém, ao seu espírito de ordem e à sua incomparável memória, superava todos esses contratempos, sem molestar ou importunar os amigos.
Após a 1a. Grande Guerra, aprendeu braille, o que lhe permitiu fixar no papel os elementos de capítulos ou artigos que lhe vinham ao espírito, pois, nesta época da sua vida, estava, por assim dizer, quase cego.
Em Março de 1927, com 81 anos de idade, terminara o manuscrito que intitulou de “O Gênio Céltico e o Mundo Invisível”. Neste mesmo mês a “Revue Spirite” publicava o seu derradeiro artigo.
Terça-feira, 12 de Março de 1927 pelas 13horas, respirava Denis com grande dificuldade. A pneumonia atacava-o novamente. A vida parecia abandoná-lo, mas o seu estado de lucidez era perfeito. As suas últimas palavras, pronunciadas com extraordinária calma, apesar da muita dificuldade, foram dirigidas à sua empregada Georgette: “É preciso terminar, resumir e… concluir”. Fazia alusão ao prefácio da nova edição biográfica de Kardec. Neste preciso momento, faltaram-lhe completamente as forças, para que pudesse articular outras palavras. Às 21:00 horas o seu espírito alou-se. O seu semblante parecia ainda em êxtase.
As cerimônias fúnebres realizaram-se a 16 de Abril. A seu pedido, o enterro foi modesto e sem o ofício de qualquer Igreja confessional. Está sepultado no cemitério de La Salle, em Tours.
Dentre os grandes apóstolos do Espiritismo, afigura exponencial de Léon Denis merece referência toda especial, principalmente em vista de ter sido o continuador lógico da obra de Allan Kardec. Podemos afiançar mesmo que constitui tarefa sumamente difícil tentar biografar essa grande vida, dada a magnitude de sua missão terrena, na qual não sabemos o que mais salientar: a sua personalidade contagiante, o bom senso de que era dotado, a operosidade no trabalho, a dedicação ímpar aos seus semelhantes e o acendrado amor que devotava aos ideais que esposava.
Léon Denis foi o consolidador do Espiritismo. Não foi apenas o substituto e continuador de Allan Kardec, como geralmente se pensa. Denis tinha unia missão quase tão grandiosa quanto à do Codificador Cabia-lhe desenvolver os estudos doutrinários, continuar as pesquisas mediúnicas, impulsionar o movimento espírita na França e no Mundo, aprofundar o aspecto moral da Doutrina e sobretudo consolidá-la nas primeiras décadas do Século. Nessa nova Bíblia ( o Espiritismo) o papel de Kardec é o sábio e o papel de Denis é o de filósofo. Léon Denis foi cognominado o APÓSTOLO DO ESPIRITISMO e pela magnífica atuação desenvolvida, pela palavra escrita e falada, em favor da nova Doutrina foi, também, o seu Consolidador O “filósofo do Espiritismo”, de acentuadas qualidades morais, dedicou toda unia longa vida à defesa dos postulados que Kardec transmitira nos livros do pentateuco espírita, O aspecto moral (religioso) da Doutrina, os princípios superiores da Vida, a instrução, a família, mereceram dele cuidados extremos e, por isso mesmo, sua vida de provações, exemplo de trabalho, perseverança e fé, é um roteiro de luz para os espíritas, diremos mais, para os homens de bem de todos os tempos. Em palavras de confiança e fé, ele mesmo resumiu assim a missão que viera desempenharem favor de uma nobre causa: “Consagrei esta existência ao serviço de uma grande causa, o Espiritismo ou Espiritualismo moderno, que será certamente a crença universal, a religião do futuro”.
A sua bibliografia é bastante vasta e composta de obras monumentais que enriquecem as bibliotecas espíritas. Deve-se a ele a oportunidade ímpar que os espíritas tiveram de ver ampliados novos ângulos do aspecto filosófico da Doutrina Espírita, pois, as suas obras de um modo geral focalizam numerosos problemas que assolam os homens, e também a sempre momentosa questão da sobrevivência da alma humana em seu laborioso processo evolutivo. Léon Denis imortalizou-se na gigantesca tarefa de dissecar problemas atinentes às aflições que acometem os seres encarnados, fornecendo valiosos subsídios no sentido de lançar novas luzes sobre a problemática das tribulações terrenas, deixou de lado os conceitos até então prevalecentes para apresentá-la aureolada de ensinamentos altamente consoladores, hauridos nas fontes inesgotáveis da Doutrina dos Espíritos.
Dedicando-se ao estudo aprofundado do Espiritismo, em seu tríplice aspecto de ciência, filosofia e religião, demorou-se com maior persistência na abordagem do seu aspecto filosófico. Concomitantemente com os seus profundos estudos nesse campo, também deu a sua contribuição, valiosa na abordagem e estudo de assuntos históricos, fornecendo importantes subsídios no sentido de esclareceras origens celtas da França e no tocante ao dramático episódio do martírio de Joana D’Arc, a grande médium francesa. Seus estudos não pararam aí; ele preocupou-se sobremaneira com as origens do Cristianismo e o seu processo evolutivo através dos tempos.
Dentre as suas múltiplas ocupações, foi presidente de honra da União Espírita Francesa, membro honorário da Federação Espírita Internacional, presidente do Congresso Espírita Internacional, realizado em Paris, no ano de 1925. Teve também a oportunidade de dirigir durante longos anos, um grupo experimental de Espiritismo, na cidade francesa de Tours.
A sua atuação no seio do Espiritismo foi bastante diversa daquela desenvolvida por Allan Kardec. Enquanto o Codificador exerceu suas nobilitantes atividades na própria capital francesa, Léon Denis desempenhou a sua dignificante tarefa na província. A sua inusitada capacidade intelectual e o descortino que tinha das coisas transcendentais, fizeram com que o movimento espírita francês, e mesmo mundial, gravitasse em torno da cidade de Tours. Após a desencarnação de Allan Kardec, essa cidade tornou-se o ponto de convergência de todos os que desejavam tomar contato com o Espiritismo, recebendo as luzes do conhecimento, pois, inegavelmente, a plêiade de Espíritos que tinha por incumbência o êxito de processo de revelação do Espiritismo, levou ao grande apóstolo toda a sustentação necessária a fim de que a nova doutrina se firmasse de forma ampla e irrestrita.
Enquanto Kardec se destacou como uma personalidade de formação universitária, que firmou seu nome nas letras e nas ciências, antes de se dedicar às pesquisas espíritas e codificar o Espiritismo, Léon Denis foi um autodidata que se preparou em silêncio, na obscuridade e na pobreza material, para surgir subitamente no cenário intelectual e impor-se com conferencista o escritor de renome, tornando-se figura exponencial no campo da divulgação doutrinária do Espiritismo. Denis possuía uma inteligência robusta, era um Espírito preclaro, grande orador e escritor, desfrutando de apreciável grau de intuição. Referindo-se a ele, escreveu o seu contemporâneo Gabriel Gobron: “Ele conheceu verdadeiros triunfos e aqueles que tiveram a rara felicidade de ouvi-lo falar a uma assistência de duas ou três mil pessoas, sabem perfeitamente quão encantadora e convincente era a sua oratória.
Denis jamais cursou uma academia oficial, entretanto, formou-se na escola prática da vida, na qual a dor própria e alheia, o trabalho mal retribuído, as privações heróicas ensinam a verdadeira sabedoria, por isso dizia sempre: “Os que não conhecem dessas lições, ignoram sempre um dos mais comovedores lados da vida.” Com o concurso de sua inteligência invulgar furtar-se-ia à pobreza, mas ele preferiu viver nela, pois em sua opinião era difícil acumular egoisticamente para si, aquilo que ele recebia para repartir com os seus semelhantes.
Com idade bastante avançada, cego e com uma constituição física relativamente fraca, vivia ainda cheio de tribulações. Nada disso, entretanto, mudava o seu modo de proceder Apesar de todas essas condições adversas, a todos ele recebia obsequioso. Desde as primeiras horas da manhã ditava volumosa correspondência, respondendo aos apelos das inúmeras sociedades que fundara ou de que era presidente honorário. Onde quer que comparecesse, ali davam-lhe sempre o lugar de maior destaque, lugar conquistado ao preço de profunda dedicação, perseverança e incansável operosidade no bem.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

José Petitinga

José Petitinga

José Florentino de Sena, nasceu na Fazendo Sítio da Pedra, margem direita do rio Paraguaçu, termo de Monte Cruzeiro, comarca de Amargosa, no Estado da Bahia, em 2 de Dezembro de 1866. Filho de Manoel Antônio de Sena e D. Maria Florentina de Sena.
Muito moço ainda, aos 11 anos, em 21 de Agosto de 1877, mal terminara seus primeiros estudos, abraçava a carreira comercial, em um estabelecimento de drogas e ferragens, onde, pela revelação de seu grande talento e esforço, foi logo escolhido para o serviço de escrita.
Em 29 de Novembro de 1895, contraía o seu primeiro matrimônio com D. Francisca Laura de Jesus Petitinga, falecida em 28 de Agosto de 1903, tendo deste enlace sete filhos.
Em 11 de Fevereiro de 1906, contraiu segundas núpcias, com D. Maria Luísa Petitinga, de cujo consórcio não teve filhos.
No ano de 1877, quando iniciava a sua carreira comercial, deu também expansão à veia poética, escrevendo os seus primeiros versos, que pouco a pouco se foram aperfeiçoando na forma e no fundo, até que aos vinte anos de idade dava público o seu primeiro livro de poesias.
O nome Petitinga foi usado como pseudônimo, nos primeiros artigos que escreveu, para fugir à censura paterna e de seus patrões. A sua estréia na imprensa foi no jornal “7 de Janeiro”, que se editava na heróica e legendária cidade de Itaparica. Em face da popularidade do pseudônimo, pelo qual passou a ser conhecido por todo o mundo, resolveu adota-lo como sobrenome, em substituição ao Florentino de Senha, fazendo, para tanto, declaração pública e em cartório.
Em 1887 abraçara as idéias de Allan Kardec, semeando-as e defendendo-as abnegadamente. Mais tarde, fundou a União Espírita Bahiana, da qual foi sempre presidente, por aclamação nos últimos anos de vida, tendo conquistado a simpatia e a admiração de quantos se lhe agregaram na tarefa indefessa da restauração do Cristianismo em Cristo.
José Petitinga, exemplo de verdadeiro espírita, tudo deu de si, material e espiritualmente, para o engrandecimento da referida Sociedade, desempenhando honrosamente a sua missão.
No dia 25 de Março de 1939, desencarnava José Petitinga, jornalista, historiador, humorista e polemista, orador fluente, poeta de estilo, filólogo, matemático, mestre em contabilidade e, sobretudo, um dos principais esteios da Doutrina Espírita no Estado da Bahia.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Irma de Castro (Meimei)

Irma de Castro (Meimei)

Espírito altamente amoroso e culto, que se tem dedicado mais particularmente à assistência à infância, manifesta-se, quase sempre, inundando o ambiente em suave e delicioso aroma de flores, mais particularmente rosas.
Seu nome, quando encarnada na terra, era Irma de Castro. Viveu de 22 de Outubro de 1922 a 01 de Outubro de 1946. Nasceu na cidade mineira de Mateus Leme e desencarnou em Belo Horizonte.
Manifestou precocemente acentuada inteligência, meiguice, modéstia e amor às letras. Era de beleza invulgar.
Tinha quatro irmãos: Ruth, Alaíde, Danilo e Carmem e ficou órfã de pai (Adolfo Castro) com apenas 5 anos. Sua mãe era D. Mariana de Castro.
Apesar de seu enorme amor aos estudos, por motivos de saúde, teve de abandonar o Curso Normal no segundo ano (Escola Normal de Itaúna).
Mais tarde, com sua irmã Alaíde, transferiu-se para Belo Horizonte para trabalhar e lá conheceu Arnaldo Rocha, com quem se casou aos 22 anos de idade. Apesar de muito querer um filhinho que lhe viesse abençoar o lar, isto não foi possível.
Tendo lido um romance, onde o personagem chinês tratava sua companheira pelo nome de Meimei (quer dizer “amor puro”), passou a tratar assim o marido e este também assim a tratava na intimidade.
O problema que muitas vezes antes se manifestara nos rins (nefrite) irrompeu com muita força, a ponto de lhe cegar uma das vistas e ela desencarnou, dois anos após o enlace.
O esposo, bastante abatido, procurou a Francisco Cândido Xavier, e este, que morava na cidade de Pedro Leopoldo, recebeu uma mensagem dela em que assinava Meimei, fato que todos ignoravam, já que este nome carinhoso só era do conhecimento do casal. Arnaldo tornou-se então um colaborador do Chico e fundou o Centro Espírita Meimei.
Muitos são os fatos narrados envolvendo a interferência amorosa de Meimei, que muitas vezes é vista pelos médiuns vestida de noiva, com a invulgar beleza, que lhe é peculiar.
Em 03/08/1977 Meimei psicografou pelo Chico 7 páginas apoiando a obra (ainda por editar) do espírito de Monteiro Lobato, recebida pela médium Marilusa, da qual carinhosamente se serviu para ditar o livro Retalho do Morro.
Dado seu carinho com a China, ainda dedicou a forma de ilustrar a obra – Retalho do Morro – com uso de sombras (arte milenar chinesa), e orientou quanto à utilização das figuras para avaliação do aprendizado das crianças.
Existem muitos livros ditados por Meimei através de Chico Xavier. Entre outros: Pai Nosso, Amizade, Palavras do Coração, Cartilha do Bem, Evangelho em Casa, Deus Aguarda e Mãe.
Que Jesus possa abençoá-la sempre para que ela continue seu maravilhoso trabalho e que todos nós possamos continuar sendo merecedores de sua companhia e seus ensinamentos.

Marilusa Moreira Vasconcellos
Retalho do Morro

Humberto de Campos

Humberto de Campos

Humberto de Campos Veras, nasceu em Miritiba, hoje Humberto de Campos, Maranhão, em 25 de Outubro de 1886. Foram seus pais Joaquim Gomes de Faria Veras, pequeno comerciante, e Ana de Campos Veras.
Perdendo o pai aos seis anos, Humberto de Campos deixou a cidade natal e foi levado para São Luís, dali, aos 17 anos, passou a residir no Pará, onde conseguiu um lugar de colaborador e redator na Folha do Norte e, pouco depois, na Província do Pará. Em 1910 publicou seu primeiro livro, a coletânea de versos intitulada Poeira.
Em 1912 transferiu-se para o Rio de Janeiro. Entrou para o Imparcial, na fase em que ali trabalhava um grupo de escritores ilustres, como redatores ou colaboradores. Ali também José Eduardo de Macedo Soares renovava a agitação da segunda campanha civilista. Humberto de Campos ingressou no movimento. Logo depois o jornalista militante deu lugar ao intelectual. Fez essa transição com o pseudônimo de Conselheiro XX com que assinava contos e crônicas, hoje reunidos em vários volumes.
Humberto de Campos, jornalista, político, crítico, cronista contista, poeta, biógrafo e memorialista, foi eleito em 30 de Outubro de 1919 para a Cadeira n º 20 da Academia Brasileira de Letras.
Em 1920, já acadêmico, foi eleito deputado federal pelo Maranhão. A revolução de 1930 dissolveu o Congresso e ele perdeu seu mandato. O Presidente Getúlio Vargas, que era grande admirador de Humberto de Campos, procurou minorar as dificuldades do autor de Poeira, dando-lhe os lugares de Inspetor de ensino e de Diretor da Casa de Rui Barbosa.
Em 1931, viajou ao Prata em missão cultural.
Em 1933 publicou o livro que se tornou o mais célebre de sua obra, Memórias, crônica do começo de sua vida. O seu diário secreto, de publicação póstuma, provocou grande escândalo pela irreverência e malícia em relação a contemporâneos.
Autodidata, grande ledor, acumulou vasta erudição, que usava nas crônicas. Poeta neoparnasiano, fez parte do grupo da fase de transição anterior a 1922. Poeira é um dos últimos livros da escola parnasiana no Brasil.
Fez também crítica literária de natureza impressionista.
Na crônica, seu recurso mais corrente era tornar conhecidas narrativas e dar-lhes uma forma nova, fazendo comentários e digressões sobre o assunto, citando anedotas e tecendo comparações com outras obras.
Humberto de Campos era um dos maiores escritores brasileiros. Nos últimos dias de sua vida, dominado por terrível enfermidade, escrevia com profunda piedade. Suas palavras e suas páginas já falavam de alguém que não era mais deste mundo. O público assistindo impotente à sua quase agonia devorava-lhe as crônicas e os livros como quem se despede de um grande amigo.
Doente, deformado, sob o peso da morte, Humberto recebia cartas de consolo e conforto, e, diz ele, dos espíritas que tentavam dar-lhe novas esperanças.
Humberto de Campos desencarnou no Rio de Janeiro, em 5 de Dezembro de 1934.
Tempos depois, Chico Xavier, começou a receber o grande escritor.
O estilo era o mesmo, as imagens e as expressões eram do melhor Humberto. Agripino Grieco veio de público atestar a autenticidade do estilo e da linguagem, cheia de referências à Grécia e aos homens.
As crônicas escritas pelo Chico saltaram para as páginas dos jornais e passaram a ser estudadas e criticadas, os livros foram vendidos às enxurradas. A venda dos livros despertou o interesse da família que ingressou em Juízo para cobrar indenização e impedir talvez a publicação das obras. O caso tornou-se rumoroso e foi fartamente divulgado pela Imprensa Brasileira, como é do conhecimento de todos. A Justiça lavou as mãos como Pilatos e declarou que ela nada tinha a ver com o caso que fugia ao seu domínio, pois, não poderia legislar no Reino do Espírito.
Dona Ana de Campos Veras, uma velhinha bondosa, que acalentara nos braços, um dia, o seu filho amado, escreveu a Chico Xavier e lhe enviou o retrato do escritor com carinho.
Humberto de Campos continuou a escrever por Chico Xavier adotando o pseudônimo de Irmão X.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Heitor Luz

Heitor Luz

Heitor Pinto da Luz nasceu no dia 1º de Dezembro de 1879, na cidade de Florianópolis, estado de Santa Catarina, filho do Sr. Elizeu Guilherme da Silva e de D. Raquel da Luz Silva.
Fez seus estudos primários e secundários na sua cidade natal, onde conquistou o grau de Bacharel em Ciências e Letras; os estudos superiores foram feitos no então Curso de Farmácia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, pela qual se diplomou em Farmácia e Química, no ano de 1900.
Foi professor da Escola Normal de Florianópolis até 1925, professor no Instituto Politécnico de Florianópolis, até 1928, Diretor do Liceu de Artes e Ofícios de Florianópolis, até 1928 professor da Escola de Farmácia e Odontologia de São Paulo; diretor do Boletim da Academia Nacional de Farmácia, no Rio de Janeiro. Foi membro da Academia Nacional de Medicina e da Academia Nacional de Farmácia; sócio da Associação Brasileira de Farmacêuticos, da Associação Brasileira de Imprensa e da Associação dos Jornalistas Profissionais.
Heitor Luz foi, talvez, o farmacêutico que mais escreveu no Brasil sobre assuntos da Farmácia. Sua bagagem científica é bastante volumosa.
Ao magistério farmacêutico prestou também assinalados serviços, ensinando com dedicação e entusiasmo as matérias que lecionava.
Em matéria religiosa Heitor Luz se decidira pelo Espiritismo fundamentado na doutrina do Cristo. Era um fervoroso e convicto espírita. Essa crença sincera o animava e confortava nas horas adversas da vida, dando-lhe conformação, tolerância e resignação, o que é incontestavelmente uma forma de felicidade.
Heitor Luz, espiritista estudioso e convicto, foi, durante muitos anos, até à sua desencarnação, colaborador de Reformador, órgão da Federação Espírita Brasileira. Já em 1919, era diretor da revista A Luz, órgão da Federação Espírita Catarinense, onde foi secretário e vice-presidente.
Heitor Luz possuía um conjunto de nobres qualidades que argamassavam o seu caráter altivo e inquebrantável: homem extremamente simples em tudo, modesto, bondoso, generoso, prestativo, sincero nas amizades, dedicado chefe de família e patriota.
Seu falecimento ocorreu no Rio de Janeiro, no dia 06 de fevereiro de 1949.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Guillon Ribeiro

Guillon Ribeiro

Luís Olímpio Guillon Ribeiro nasceu de pais pobres, no estado do Maranhão, a 17 de Janeiro de 1875. Desde os verdes anos começou a conhecer as asperezas da existência, e tanto, que foi internado gratuitamente no Seminário de S. Luís do Maranhão, onde cursou as primeiras letras.
Aos 7 anos ficou órfão de pai. Aumentaram as dificuldades na família, com a perda irreparável do chefe, e a sua querida genitora transferiu-se para o Rio de Janeiro. Porque minguassem os meios de subsistência, teve ela ainda que procurar colocar o filho, gratuitamente, numa escola, e assim conseguiu que ele ingressasse como aluno gratuito da antiga Escola Militar, na Praia Vermelha.
Ótimo estudante, bom discípulo, acatado pelos mestres, querido dos camaradas, parece que o seu gênio, entretanto, não era de feitio militar e desse modo, não levou mais de três anos na carreira das armas.
Pediu e obteve baixa. Aproveitou, então, os conhecimentos do curso que houvera seguido, e já com sólida base matriculou-se diretamente no 2º ano da Escola Politécnica do Rio de Janeiro.
Para poder custear os seus estudos e prover a manutenção da sua extremosa mãe, desde cedo já se entregava a árduos labores, entre outros, trabalhava à noite como redator do Jornal do Comércio, escrevia para os mais importantes jornais da época e estudava até alta madrugada. Quase que esgotava no estudo e no trabalho as 24 horas do dia.
Formou-se em engenharia civil. Mas a necessidade premente de angariar o sustento levou-o a aceitar o cargo de 2º oficial da Secretaria do Senado Federal, para daí transferir-se a outro mais condizente com a sua profissão. Ali, porém logo se tornou admirado e querido por quantos lidavam com ele, de sorte que o retiveram até que se aposentou no mais alto cargo da carreira.
A sua ascensão no Senado foi rápida. Talvez não fosse esse o seu maior desejo, mas o seu acendrado amor ao trabalho em qualquer dos ramos de sua profícua atividade, o seu trato amável e bom, a retidão do seu proceder, a integridade do seu caráter, a sua grande competência, a habilidade e inteligência com que se desincumbia de qualquer mister, por árduo e difícil que fosse, o escrúpulo com que estudava todas as questões, o alto critério que sempre mostrava, levaram-no a galgar rapidamente todos os postos, até que foi nomeado Diretor Geral da Secretaria do Senado, cargo em que se aposentou em 1921, deixando em todos a quem prestou os mais relevantes serviços, sentimentos de gratidão e de saudade.
Desde cedo, dizia ele, sentira inclinação pelo Espiritismo; é que, no seu subconsciente, já estava traçado o plano da missão de que fora incumbido. Só mais tarde, porém, se aproximou de amigos espíritas, começou a ler e a meditar sobre assuntos espíritas, abraçando definitivamente a doutrina em 1911.
Durante muito tempo, levou palavras de consolo e de fé aos detentos, na Casa de Correção, e muitos dos presidiários que de lá saíram, cumprida a pena, tornaram-se seus verdadeiros amigos.
O Dr. Guillon Ribeiro casou-se em 11 de abril de 1910 com D. Raimunda Portela e deste consórcio teve 5 filhos.
Durante vinte e seis anos consecutivos foi Diretor da Federação Espírita Brasileira, tendo exercido quase todos os cargos.
Em 1937, o então presidente da FEB, Dr. Guillon Ribeiro, demonstrou a necessidade inadiável da instalação de oficinas tipográficas próprias. A idéia, a princípio combatida, foi evoluindo com o tempo e firmou-se em fins de 1938. Finalmente, a 4 de Novembro de 1939, a pequena oficina gráfica da FEB entrava a funcionar, justamente na sala hoje ocupada pela Biblioteca.
Guillon Ribeiro foi tradutor impecável de várias obras estrangeiras, das línguas francesa, inglesa e italiana. Conhecedor profundo de vários idiomas e cultor, entre os melhores, do português escorreito e castiço, deixou inúmeros livros e artigos traduzidos.
Homem de acrisoladas virtudes, de grande saber em quaisquer ramos da cultura, profundamente evangélico, vibrante tribuno de voz firme e serena, tornou-se respeitado e querido em todo o Brasil espírita.
Foi o mais sincero dos crentes, o mais convicto dos missionários. No seu sublime apostolado, não conhecia o desânimo, a fraqueza, o desalento. As tempestades passavam pela sua fronte trazendo-lhe grandes mágoas, porém não o abatiam nunca.
Não sabia dizer não e, por isso mesmo, teve grandes sangrias nos seus recursos materiais e esgotou-se espiritualmente, porque era um trabalhador incansável do espírito, que a tudo provia, tudo previa, e tombou por assim dizer, nos trabalhos da seara.
Alma sensível a todas as dores alheias, coração que se compadecia de todos os sofredores, ele deixou um sulco profundo de saudade em toda a família espírita e de quantos dele se acercaram.
Aos 26 de outubro de 1943, fechava os olhos ao mundo a figura veneranda do Dr. Luís Olímpio Guillon Ribeiro.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Gabriel Dellane

Gabriel Dellane

Nasceu no dia 23 de março de 1857, exatamente no ano em que Kardec publicava a 1.ª edição de “O Livro dos Espíritos”.
Seu pai, Alexandre Delanne, era espírita e amicíssimo de Kardec, motivo porque foi ele grandemente influenciado pela idéia. Sua mãe trabalhou como médium, cooperando com o mestre de Lyon na Codificação.
Delanne foi um dos maiores propagadores da sobrevivência e comunicabilidade dos Espíritos.
Afirma ele:
“A inteligência que se manifesta não emana dos operadores; ela declara ser aquele cujo nome declina. Não vemos porque se obstinaria em negar sua existência. Vamos, agora, acumular as provas da existência dos Espíritos, e elas irão se revestindo de um caráter cada vez mais forte, por forma que nenhuma denegação será capaz de combater a evidência da intervenção dos Espíritos nessas novas manifestações.”
Publicou “O Espiritismo Perante a Ciência”, “O Fenômeno Espírita”, “A Evolução Anímica”, “Pesquisas sobre a Mediunidade”, “As Aparições Materializadas de Vivos e Mortos”, além de outras obras de cunho científico.

Fonte: ABC do Espiritismo de Victor Ribas Carneiro

Frederico Júnior

Frederico Júnior

Frederico Pereira da Silva Júnior era um homem bom, querido de todos, sendo muitos os que lhe deviam gratidão por um ou outro serviço, e, como funcionário público, estimadíssimo pelos seus colegas.
O primeiro contato dele com o Espiritismo foi em 1878, na Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade, aí levado pelo seu padrinho. Desejava Frederico obter notícias de uma pessoa querida desencarnada havia algum tempo. Para surpresa geral, ele próprio cai em transe sonambúlico, influenciado por um Espírito. Data daí a sua iniciação como médium na mencionada Sociedade.
Durante 34 anos Frederico Júnior exerceu assiduamente suas funções mediúnicas no Grupo Ismael, tendo recebido, em 11 de Junho de 1914, a sua última comunicação do Além.
Por seu intermédio, contam-se centenas de curas de obsessões, limitando-se, mais tarde, os trabalhos no referido Grupo quase que somente à doutrinação de poderosos e diabólicos Espíritos, altamente intelectualizados, chefes de grandes falanges do mal.
Médium passivo por excelência, conseguiam os Espíritos identificar-se facilmente por ele, e, muitas vezes, antes de terminar a mensagem, todos os presentes já sabiam qual o autor dela.
Nos últimos dez anos de existência terrena, mais intensa e persistente foi a perseguição que lhe moveram do Espaço, por vezes ficando ele totalmente subjugado. Certa vez, os Espíritos das Trevas tentaram até incendiar-lhe a casa. E graças aos seus Guias protetores e ao Espírito de sua primeira esposa, Frederico não sucumbiu ao suicídio.
A tuberculose pulmonar acompanhou-o nos derradeiros anos de vida, sem uma queixa e achando justo o seu sofrimento, o prodigioso médium purgava as faltas de encarnações passadas, remindo assim o seu espírito.
Pressentindo, afinal, o seu desenlace, reuniu a família e, após pronunciar sentida prece, fechou os olhos ao mundo em sua residência, aos 56 anos de idade. Aos 30 de Agosto de 1914, desencarnava com a resignação e a confiança do verdadeiro espírita, o célebre médium brasileiro.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Frederico Fígner (Irmão Jacob)

Frederico Fígner (Irmão Jacob)

Frederico Fígner nasceu na madrugada de 2 de Dezembro de 1866, na casa humilde de n º 37 da rua Teynska, em Milevsko, perto de Tabor, Tcheco-Eslováquia, então Boêmia e parte do Império Austro-Húngaro.
Israelita de nascimento, bebeu no lar paterno os preconceitos de sua raça contra o Carpinteiro de Nazaré.
Filho de pais pobres, Fígner tinha que emigrar para o Novo Mundo, como faziam os jovens da Europa Central, naquele tempo. Aos treze anos sai do lar paterno e vai para a cidade de Bechim aprender um ofício. Aos dezesseis anos, deixa definitivamente a terra natal.
No Brasil, estabeleceu-se, prosperou, conheceu uma jovem de peregrinas virtudes e alma de artista, D. Esther de Freitas Reys, filha de família ilustre.
Em 1897, Frederico Fígner e D. Esther fundavam, pelo matrimônio, seu lar feliz. Desse feliz enlace nasceram seis filhos.
Frederico Fígner não teve escola superior. Foi autodidata sem tempo nem calma para estudar, pois que em lutas econômicas desde a infância; no entanto, sua missão reclamava grandes conhecimentos e ele os revelou. Possuía e manejava com segurança línguas de três famílias: eslavas, germânicas e latinas. Adquiriu conhecimentos jornalísticos suficientes para colaborar num dos maiores diários do País.
Demonstrou raras capacidades técnicas em sua indústria e no comércio, gravando ele em pessoa, discos fonográficos de músicas populares brasileiras e divulgando-as por todo o território nacional. Mais tarde, quando a indústria de gravação fonográfica progrediu, ele soube orientar o progresso. Já não executava o trabalho como simples técnico, mas montava oficinas modernas de gravação, as quais, em maior escala, operavam nessa obra de distribuir por todo o Brasil o patrimônio artístico, genuinamente brasileiro. Meio século de trabalho desse pioneiro fonográfico representa uma obra imensa de unificação nacional.
A ação industrial de Frederico Fígner, no tempo em que não existia o rádio tem o valor de nobre apostolado patriótico.
Como divulgador industrial das máquinas de escrever, do mesmo modo, contribuiu grandemente para o progresso material do Brasil.
Essa posse de conhecimentos universitários, inexplicavelmente adquiridos, revela a elevação de seu espírito, demonstra que ele não era um simples habitante da Terra, mas, sim, um missionário descido ao Planeta para colaborar em sua transformação predita e anunciada para o nosso tempo.
Foi no Brasil e quando já negociante próspero, com seu estabelecimento comercial e industrial e uma sucursal em São Paulo, que Fígner foi chamado a conhecer a Verdade.
Fígner travou relações de amizade com Pedro Sayão, filho do saudoso doutrinador Antônio Luiz Sayão. Pedro Sayão, durante cerca de dois anos lhe freqüentava a loja e palestrava sobre Espiritismo e Cristianismo, sem que Fígner se impressionasse muito pelo assunto; porém, numa de suas visitas ao seu estabelecimento de São Paulo, Fígner ouviu a dolorosa história de um seus empregados, cuja esposa se achava gravemente enferma e necessitada de melindrosa intervenção cirúrgica. Ao regressar ao Rio de Janeiro, Fígner pediu a Pedro Sayão que lhe obtivesse receita para a cura da enferma de São Paulo. Veio a receita e a cura da doente, sem intervenção alguma dos médicos. Foi esse fato que impressionou Fígner a favor do Espiritismo.
Já impressionado com a cura da doente mediante uma receita mediúnica, Fígner foi procurado em sua loja por um pobre pai de família desempregado, em penosa situação econômica. Ouviu-lhe o relato de suas aflições, deu-lhe um pouco de dinheiro e disse-lhe que voltasse oito dias mais tarde. Ao sair o necessitado, pela primeira vez na vida, Fígner fez um pedido ao Carpinteiro de Nazaré: “Se é como dizem os cristãos que tu tens muito poder, ajuda a esse pobre pai de família; arranja-lhe trabalho e meios de vida!”
Oito dias mais tarde, voltava o homem com o sorriso dos felizes e lhe narrava: “Já estou trabalhando e brevemente virei restituir seu dinheiro, Sr. Fígner. Fui procurado por uma pessoa que me convidou para um emprego totalmente inesperado.”
Fígner se entusiasmou e repetiu semelhantes pedidos, com resultados sempre positivos. Em vez de pedir a Jesus, passou a pedir à Maria e igualmente os resultados não se fizeram esperar. Encheu-se da fé que transporta montanhas e estudou com entusiasmo o Espiritismo e o Cristianismo. Passou a consagrar sua vida ao serviço dos outros.
Não se sabe ao certo quando se deu essa conversão, mas em 1903 já se encontram vestígios das atividades espíritas de Fígner na Federação Espírita Brasileira.
Por ocasião da gripe espanhola, em 1918, com 14 doentes em seu próprio lar e ele mesmo adoentado e febril, passava os dias inteiros na Federação, atendendo a doentes e necessitados que lá iam, em avalanches , buscar recursos para situações aflitivas.
Sua vida normal durante longos anos consistia em ir de manhã e à tarde à Federação tomar ditados de receitas de diversos médiuns, chegando a tomar de 150 a 200 receitas por dia e a dar passes em numerosos doentes. Levantava-se às cinco horas da manhã e, antes de ir à loja, ia à Federação, de onde só saía quando terminava esse serviço de tomar ditado de receitas. Às quatro horas da tarde lá estava de novo para orar e dar passes em doentes. E curava mesmo os enfermos, pois que seus “fregueses”, como ele lhes chamava na intimidade, cresciam sempre de número.
Franco, leal, por vezes rude, repreendia frente a frente a qualquer companheiro que ele supunha ou fora informado haver cometido erro grave em detrimento da Doutrina. Mas se o caso se esclarecia e verificava ser injusta a recriminação, penitenciava-se com a mais comovedora humildade cristã.
Contrariamente à primeira impressão que causava, era extremamente humilde e cordato.
Presidia diversos grupos na sede da Federação e em seu lar.
Foi Vice Presidente da Federação e depois membro do Conselho Fiscal, função que exerceu até à desencarnação. Era Tesoureiro da Comissão Pró Livro Espírita
Consumia vultosas rendas em obras de beneficência. Possuía sólidos conhecimentos da Doutrina e defendia com ardor as obras de Allan Kardec.
O serviço de Fígner nas obras de assistência e no trabalho profissional afastava-o muito do lar, mas isso não prejudicava o cultivo de um afeto extremado entre pai e filhas.
Um exame atento na obra, nos conhecimentos, na ética, no caráter de Frederico Fígner nos leva à convicção de que ele foi missionário e cumpriu sua missão com perfeita segurança.
Ainda nos últimos dias de sua vida, distribuía ele donativos por instituições e pessoas pobres de sua amizade, guiando-se pelo coração e nem sempre pelo cérebro, e só respeitando a fortuna das filhas.
Trabalhou e serviu abnegadamente até que a enfermidade o prendeu ao leito, poucos dias antes da partida. Completou oitenta anos em 2 de Dezembro de 1946, e em 19 de janeiro de 1947, às 20 horas, partiu para o mundo espiritual, deixando abertos caminhos de luz sobre a Terra que pisara por tanto tempo.
Fígner possuía todas as grandes virtudes cristãs que mais enobrecem as almas privilegiadas por alto grau de progresso e tinha o espírito prático do homem moderno que sabe reunir meios materiais para ajudar em grande escala a divulgação das idéias e os necessitados. Esse conjunto raro de capacidades espirituais, intelectuais, sociais e materiais fez dele realmente um espírita modelar, dentro da vida social, em pleno século vinte.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Francisco Peixoto Lins (Peixotinho)

Francisco Peixoto Lins (Peixotinho)

Nasceu na cidade de Pacatuba, Estado do Ceará, no dia 1º de fevereiro de 1905, desencarnando na cidade de Campos, Estado do Rio de Janeiro, 16 de junho de 1966.
Seus pais foram Miguel Peixoto Lins e Joana Alves Peixoto. Bem cedo ficou órfão de pai e mãe e passou a conviver com seus tios maternos, em Fortaleza, Estado do Ceará, onde fez o curso primário. Em seguida matriculou-se no Seminário Católico, de acordo com o desejo de seus tios, que desejavam vê-lo seguir a carreira eclesiástica. No Seminário sofreu várias penas disciplinares por manifestar a seus educadores dúvidas sobre os dogmas da Igreja. Observando as desigualdades humanas, tanto no campo físico como no social, ficou em dúvida no tocante à paternidade e bondade de Deus. Se todos eram seus filhos, por que tantas diversidades? Indagava. Por que razões insondáveis uns nascem fisicamente perfeitos e outros deformados? Uns portadores de virtudes angelicais e outros acometidos de mau caráter? Dizia então: “Se Deus existe, não é esse ser unilateral de que fala a religião católica.” Desejava saber e inquiria os seus confessores, os quais, diante das indagações arrojadas do menino, usavam o castigo e a penitência como corretivo.
Aos 14 anos de idade desistiu do Seminário e, com a permissão dos tios, transferiu-se para o Estado do Amazonas, em busca de melhores dias, enfrentando os trabalhos árduos dos seringais. Ali trabalhou cerca de dois anos, resolvendo voltar para Fortaleza. Nessa fase de sua vida, nele se manifestaram os primeiros indícios de sua extraordinária mediunidade, sob a forma de terrível obsessão. Envolvido por espíritos menos esclarecidos, era tomado de estranha força física, tornando-se capaz de lutar e vencer vários homens, apesar de Ter menos de 18 anos e ser fisicamente franzino. Esse estado anômalo acontecia a toda hora e Peixotinho, temendo conseqüências mais graves, deliberou não mais sair de casa. Ali ficou acometido de nova influenciação dos espíritos trevosos, ficando desprendido do corpo cerca de 20 horas, num estado cataléptico, quase chegando a ser sepultado vivo, pois seus familiares o tinham dado como desencarnado.
Depois desse episódio, sofreu uma paralisia que o prostrou num leito de dor durante seis meses. Nessa fase, um dos seus vizinhos, membro de uma sociedade espírita de Fortaleza, movido de íntima compaixão pelos seus sofrimentos, solicitou permissão à sua família, para prestar-lhe socorro espiritual, com passes e preces. Ninguém em sua casa tinha conhecimento do Espiritismo e seus familiares também não atinavam com o verdadeiro estado do paciente, uma vez que o tratamento médico a que se submetia não lhe dava qualquer esperança de restabelecimento. O seu vizinho iniciou o tratamento com o Evangelho no Lar, aplicando-lhe passes e dando-lhe a beber água fluida. A fim distrair-se, Peixotinho começou a ler alguns romances espíritas e posteriormente as obras da Codificação Kardequiana. Em menos de um mês apresentava sensível melhora em seu estado físico e progressivamente foi libertando-se da falsa enfermidade.
Logo que conseguiu andar, passou a freqüentar o Centro Espírita onde militava o grande tribuno Vianna de Carvalho, que na época estava prestando serviço ao Exército Nacional em Fortaleza. A terrível obsessão foi a sua Estrada de Damasco. O conhecimento da lei da reencarnação veio equacionar os velhos problemas que atormentavam a sua mente, dirimindo todas as dúvidas que o Seminário não conseguira desfazer. Passou assim a compreender a incomensurável bondade de Deus, dando a mesma oportunidade a todos os seus filhos na caminhada rumo à redenção espiritual.
Orientado pelo major Vianna de Carvalho, Peixotinho iniciou o seu desenvolvimento mediúnico. Tornou-se um dos mais famosos médiuns de materializações e efeitos físicos. Por seu intermédio produziram-se as famosas materializações luminosas e uma série dos mais peculiares fenômenos, tudo dentro da maior seriedade e nos moldes preceituados pela Doutrina Espírita.
Em 1926, foi convocado para o serviço militar e transferido para o Rio de Janeiro, sendo incluído em um batalhão do exército, na cidade fluminense de Macaé. Ali se dedicou com amor à prática do Espiritismo e, com um grupo de abnegados companheiros, fundou o Centro Espírita Pedro, instituição que por muito tempo se tornou a sua oficina de trabalho.
Em 1933, consorciou-se com Benedita Vieira Fernandes, de cujo matrimônio tiveram vários filhos. Por força da sua carreira militar, foi transferido várias vezes, servindo em Imbituba, Santa Catarina; Santos, São Paulo; no antigo Distrito Federal e em Campos, Rio de Janeiro. Onde chegava, procurava logo servir à causa espírita.
No ano de 1945, na cidade do Rio de Janeiro, encontrou-se com vários confrades, dentre eles Antônio Alves Ferreira, velho companheiro no Grupo Espírita Pedro, de Macaé. Nessa época passou a freqüentar o Culto Cristão no Lar, realizado sistematicamente na residência daquele confrade. Posteriormente, unindo-se a Jacques Aboab e Amadeu Santos, resolveram fundar o Grupo Espírita André Luiz, que inicialmente funcionou na Rua Moncorvo Filho, 27, onde se produziram, pela sua mediunidade, as mais belas sessões de materializações luminosas, as quais ensejaram ao Dr. Rafael Ranieri a oportunidade de lançar um livro com esse mesmo título. Peixotinho prestava também o seu valioso concurso como médium receitista e curador.
No ano de 1948, encontrando-se pela primeira vez com o médium Francisco Cândido Xavier, na cidade de Pedro Leopoldo, teve a oportunidade de propiciar aos confrades daquela cidade, belíssimas sessões de materializações e assistência aos enfermos.
Em 1949 foi transferido definitivamente para a cidade de Campos, onde participou dos trabalhos do Grupo Joana D’Arc. Fundou também o Grupo Espírita Araci, em homenagem ao seu guia espiritual.
Peixotinho sofria de broncopneumonia, enfermidade que lhe causava muitos dissabores, porém ele suportava tudo com estoicismo, o mesmo podendo-se dizer das calúnias de que foi vítima, como são vítimas todos os médiuns sérios que se colocam a serviço do Evangelho de Jesus, dando de graça o que de graça recebem.

LUCENA, Antônio de Souza e GODOY, Paulo Alves. Personagens do Espiritismo.
Edições FEESP, 1982. 1ª edição, SP.

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