Teles de Menezes

Luís Olímpio Teles de Menezes, filho do Oficial do Exército Fernando Luís Teles de Menezes e de D. Francisca Umbelina de Figueiredo Menezes, nasceu na cidade de Salvador, Bahia, aos 26 de Julho de 1825.
Bem cedo ainda, resolveu seguir a carreira militar, inscrevendo-se no curso de Artilharia. Pouco tempo depois, entretanto, deu novo rumo ao seu espírito empreendedor, dedicando-se ao magistério particular e às letras. Por vários anos foi professor de instrução primária e de latim. Interessando-se pela estenografia, estudou-a sem mestre, e desde logo se revelou hábil nessa arte, sendo então convidado para exercer a profissão, muito rara naqueles tempos, na Assembléia Legislativa da Bahia, a cujo serviço permaneceu cerca de trinta anos. Autodidata por excelência, acumulou muitos e variados conhecimentos, que lhe granjearam o respeito e a consideração de inúmeras pessoas altamente colocadas na sociedade de Salvador.
Em Setembro de 1849, distinto grupo de associados, entre os quais se destacava Teles de Menezes, fundou “A Época Literária”, jornal de caráter científico, literário e histórico, com dissertações sobre belas-artes. Apesar dos esforços e do ardor juvenil de Teles de Menezes, a empresa, tão bem principiada, malogrou ante a incompreensão quase que geral do público e dos críticos invejosos.
Em 3 de Maio de 1856 é solenemente instalado em Salvador o Instituto Histórico da Bahia. Teles de Menezes é proposto, em 1857, para sócio efetivo, o mesmo acontecendo com outros homens de alto nível cultural. De Julho de 1861 a Maio de 1865, Teles ocupou o cargo de tesoureiro no referido Instituto. A seguir, e durante dois anos, foi eleito para a Comissão de Fundos e Orçamento.
Objetivando espalhar pelo Brasil afora as sementes da Terceira Revelação, o Alto, que a tudo preside, escolhera como ponto de irradiação a dadivosa Bahia, onde foram lançados os alicerces da Nação cristã que hoje somos e da Pátria do Evangelho que haveremos de ser. E é, então, na cidade de Salvador que Luís Olímpio Teles de Menezes organiza uma sociedade nos moldes desejáveis, regida por estatutos que facultavam o ingresso de quaisquer estudiosos e instituíam o trabalho assistencial nos meios espíritas.
Fundou-se assim, a 17 de Setembro de 1865, o Grupo Familiar do Espiritismo, o primeiro e legítimo agrupamento de espíritas no Brasil, destinado igualmente a orientar a propaganda e a incentivar a criação de outras semelhantes pelo resto do País. Às 23:30 horas desse mesmo dia, os membros do Grupo recém fundado recebiam, assinada por “Anjo de Deus”, a primeira página psicografada de que se tem notícia na Bahia.
Em razão de todo esse conjunto de sucessos pioneiros, é que a Bahia é tida como o berço do Espiritismo em terras brasileiras.
Na presidência do Grupo Familiar do Espiritismo, Teles de Menezes distinguiu-se pelo seu ânimo forte, pela sua cultura e elevação de sentimentos, suportando com destemor e firmeza o espírito zombeteiro dos incrédulos e materialistas, bem como o ambiente hostil da religião dominante. É exemplo expressivo das chacotas, lançadas contra ele e o Espiritismo, os versos e as curtas e burlescas composições teatrais que a “Bahia Ilustrada” publicava desde o ano de sua fundação, em 1867.
Se Teles de Menezes conservou seu espírito acima dos sarcasmos, motejos e diatribes vindos de fora, o mesmo não aconteceu quando o demônio da vaidade, da inveja e da intriga se insinuou entre alguns confrades, amargurando-lhe profundamente a alma sensível. Varão cheio de fé e inquebrantável dedicação aos labores construtivos na Seara Espírita, Teles não largava as mãos do arado. Vez por outra, como que a prevenir os seus sucessores do caminho áspero a ser trilhado, dizia dos sacrifícios sem conta que ele e os irmãos de ideal vinham arrostando no desempenho da árdua missão que o Alto lhes cometera, “árdua e até espinhosa, sim, mas irradiante de bem fundadas esperanças”, assegurava ele entre resignado e confiante.
Foi o Grupo Familiar do Espiritismo, composto de poucos, muito poucos homens, mas de firme convicção, de inabalável crença e animados da melhor vontade, o primeiro núcleo espírita regularmente constituído com a decidida e heróica tarefa de abrir caminho, entre a gente brasileira, às novas verdades trazidas ao mundo pelos emissários do Senhor.
Por quase um decênio o Grupo desempenhou, com louros e louvores, sua missão na Bahia, até que lhe viesse continuar a obra a Associação Espirítica Brasileira.
Com largos e benéficos reflexos em várias outras Províncias do Império, o Grupo de Teles de Menezes representará sempre o marco inicial do movimento espírita em nossas terras.
Teles de Menezes foi o primeiro presidente da Associação Espirítica Brasileira e, pouco depois, ganhou o título de presidente honorário
Diligente paladino dos ideais espiritistas, Teles de Menezes jamais, porém, se excedeu, conservando sempre uma linguagem nobre e serena nos seus arrazoados doutrinários. Era sócio de muitas associações espíritas da Europa e mantinha permanentes contatos epistolares com distintos confrades daqui e do exterior.
Cumprida sua missão dentro do Espiritismo em Salvador, Teles rumou para o Rio de Janeiro, onde fixou residência, passando, pouco depois, por volta de 1879, a fazer parte da distinta e culta corporação taquigráfica do Senado do Império.
Além dos vários trabalhos que publicou, deixou inéditos, ao desencarnar, grande número de outros. A sua contribuição, em toda parte, foi natural e despretensiosa, despida de razões que incluíssem vaidade ou inveja, movendo-o unicamente o desejo sincero de trabalhar pelo bem e pela felicidade do próximo e de nossa Pátria.
Teles de Menezes só pôde trabalhar no Senado até mais ou menos 1892. a idade e uma nefrite crônica afastaram-no do serviço que lhe dava o pão material. O dirigente da seção taquigráfica daquela Casa legislativa, em reconhecimento à dedicação do ex-taquígrafo, garantiu-lhe espontaneamente, num gesto de altruísmo, uma pensão que ajudava em algo o velho casal Menezes, constituído por ele e pela segunda esposa, a Sra. Elisa Pereira de Figueiredo Menezes.
Pouco tempo de vida terrena restava a Teles e este pouco ele o passou sob longos e dolorosos padecimentos causados pela nefrite, e que somente tiveram fim às 22 horas e 40 minutos do dia 16 de Março de 1893. Neste dia e nesta hora desatava ele o Espírito às claridades do Além mundo, onde afinal iria receber o prêmio aos seus laboriosos esforços.
Desencarnou em pobreza extrema, sendo o seu enterro feito a expensas de dois colegas taquígrafos, que lhe prestaram os melhores serviços de amizade.
O nome e os feitos dessa figura apostolar de pioneiro, exemplo de tenacidade e fortaleza, conservar-se-ão indeléveis nos Anais da História do Espiritismo no Brasil.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Theme: Overlay by Kaira Extra Text
Cape Town, South Africa