Eurípedes Barsanulfo

Nasceu Eurípedes Barsanulfo na cidade de Sacramento, Minas Gerais, a 1º de Maio de 1880. Foram seus pais Hermógenes Ernesto de Araújo e D. Jerônima Pereira de Almeida, ambos, a princípio, pobres de haveres materiais, mas ricos de virtudes cristãs, as quais enchiam o lar honrado de alegria e paz.
Logo que pôde manifestar os nobres sentimentos de que era dotado, revelou-se um menino admirável pela sua inteligência precoce, pela sua dedicação ao trabalho e ao estudo.
Muito jovem ainda, teve de enfrentar as vicissitudes do lar, promovendo os meios de auxiliá-lo.
Cresceu e viveu sempre ao lado de seus progenitores, para os quais foi um verdadeiro arrimo. Trabalhador e dócil, cursou as aulas do Colégio Miranda, estabelecimento de ensino dirigido pelo hábil educador João Derwil de Miranda. Mostrava grande propensão para seguir a carreira das letras. Quando estudante auxiliava os professores, lecionando a seus condiscípulos, e tal era a sua queda para o magistério que se tornou o professor de seus próprios irmãos. Cumpria religiosamente os seus deveres colegiais e gozava de geral estima de todos os colegas.
Querendo tudo saber, Barsanulfo conseguiu em poucos anos uma sólida e primorosa cultura.
Do Colégio passou ao escritório comercial do seu pai, onde trabalhou como guarda-livros.
Em Janeiro de 1902, com seus antigos professores, fundou o Liceu Sacramento, instituto de ensino primário e secundário, onde exerceu a cátedra, por cinco anos seguidos, com raro brilhantismo, lecionando, quando se fazia necessário, todas as matérias do curso. Com a fundação do referido Liceu, surgiu a público a “Gazeta de Sacramento”, que saía aos domingos e que foi por ele redigida durante dois anos. Nessa folha, Barsanulfo fez a sua estréia como jornalista, escrevendo artigos sobre economia política, direito público, métodos educacionais, literatura, filosofia, etc. colaborou, igualmente, de modo fecundo e brilhante, em diversos outros jornais.
Graças a sua inteligência privilegiada e ao seu próprio esforço, chegou a possuir tal cultura, que os seus biógrafos a consideram verdadeiramente assombrosa. Tinha profundos e largos conhecimentos de Medicina e Direito. Dissertava sobre astronomia, filosofia, matemática, ciências físicas e naturais, literatura, com a mais extraordinária segurança, sem possuir nenhum diploma de escola superior.
As suas árduas tarefas no magistério, na imprensa e na tribuna, a bondade de seu coração, sempre pronto a socorrer os necessitados, a sua palavra amiga e conselheira, a probidade de seu caráter, tudo isso o fez ídolo de seus conterrâneos.
Pelo espaço de seis anos exerceu o mandato de Vereador, dotando a municipalidade de Sacramento com luz, bondes elétricos, água encanada, cemitério público tanto para esta como para a povoação de Conquista. Mas a política não era o clima a que ele aspirava. Depois de prestar-lhe serviços, dela se afastou espontaneamente, recebendo da opinião pública provas inequívocas de carinho e estima.
Era fervoroso católico, presidente da Conferência de S. Vicente de Paulo.
Espírito livre, talhado para os grandes surtos da espiritualidade, era fatal o abandono futuro da religião que recebera no berço.
É assim que certo dia, tendo conhecimento de espantosas curas realizadas no campo do Espiritismo, resolveu saber o que de verdade havia nesses relatos. Como seus parentes de Sta. Maria pregavam e praticavam o Espiritismo, no Centro Espírita Fé e Amor, bastante conhecido naquele povoado e um dos mais antigos naquela região, Barsanulfo para ali rumou, no propósito de pessoalmente investigar os fatos.
Observando, em várias sessões, fenômenos de tiptologia, comunicações de alta expressão filosófica, curas maravilhosas, estudou-os cuidadosamente e de volta à sua terra natal, trouxe consigo as obras kardequianas, que o levaram, afinal, em 1905, a converte-se ao Espiritismo. Deste se tornou, desde então, o maior propagandista naquela região mineira, especialmente pelo exemplo. A obra que Eurípedes erigiu, com sacrifício e abnegação, em honra do Espiritismo, em Sacramento, é um desses monumentos grandiosos e imperecíveis que atestam a sua fortaleza moral e a pujança de sua fé luminosa.
Durante 12 anos e sete meses foi presidente do Grupo Espírita Esperança e Caridade, por ele fundado. Como dependência desse Grupo, surgiu em 02 de Abril de 1907 o magnífico e grande Colégio Allan Kardec, cuja matrícula chegou a cerca de duzentos alunos. Milhares de pobre e órfãos de ambos os sexos, ali receberam gratuitamente a instrução intelectual e moral, obra esta continuada por seus irmãos. Todas as quartas-feiras pregava o Evangelho de Jesus aos alunos do Colégio, incentivando-os, em termos simples, ao amor e à caridade.
Discorrendo com muita facilidade sobre diferentes assuntos filosóficos e religiosos, nunca deixou de responder do alto da tribuna às diatribes proferidas contra o Espiritismo.
Eurípedes Barsanulfo era dotado de diversas faculdades mediúnicas desenvolvidas, sendo médium curador, receitista, auditivo, vidente, intuitivo, falante e psicógrafo. Era com muita facilidade que ele se desdobrava de um lugar para outro, e dava a topografia exata das localidades por onde o seu espírito passava.
Foi o refúgio para todos os aflitos e abandonados da sorte. Centenas de desenganados pela ciência da Terra encontraram em Sacramento o lenitivo para os seus males. Com o auxílio dos Espíritos Superiores, entre eles Bezerra de Menezes, Barsanulfo curava quase todas as enfermidades. Inúmeros obsedados, que eram trazidos de diversas localidades dos estados vizinhos, dali saíam inteiramente sãos. A cidade de Sacramento pequena e despovoada, desenvolveu-se com essa romaria e chegou a possuir muitos hotéis e mais de vinte pensões.
Homem que não temia difundir as verdades que professava, foi a encarnação do verdadeiro espírita. Fiel discípulo de Jesus, era o consolo e o amparo de todos aqueles que o procuravam, e a todos dispensava indistintamente o mesmo acolhimento, o mesmo amor. Nas suas horas de folga, poucas é verdade, saía ele para os arrabaldes da cidade, a curar doentes de maleita, opilação, caquexias e outros males, ao mesmo tempo que ia pregando a boa doutrina do amor ao próximo.
Em razão de tudo isso, ele gozava de grande popularidade em sua terra natal e até mesmo em todo o Estado de Minas.
Manteve durante quinze anos uma farmácia para aliviar as dores e minorar o sofrimento de seus semelhantes, e convém salientar que os pobres ali não pagavam o aviamento das receitas.
Trabalhador esforçado, foi um dos maiores espíritas do Estado de Minas, cognominado o “Apóstolo do Triângulo Mineiro”. No dia 1º de novembro de 1918, falecia em sua cidade natal, com apenas 38 anos, vítima da pandemia de gripe. O povo, em peso, chorando, acompanhou os despojos mortais ao cemitério.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

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