Bezerra de Menezes

Cearense, de Riacho do Sangue, nasceu em 29 de Agosto de 1831, sendo batizado com o nome de Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti.
Seus pais, Antônio Bezerra de Menezes e D. Fabiana de Jesus Maria Bezerra.
Em 1838 entrou para a escola pública da vila do Frade, onde em dez meses se aprontou na leitura, em escrita e em contas.
Em 1842, com a mudança de sua família da província do Ceará para a do Rio Grande do Norte, matriculou-se na aula pública de latinidade, que havia na serra do Martins, na vila da Maioridade, hoje a cidade Martins. Em dois anos preparou-se naquela língua de modo a substituir o professor.
No ano de 1846, voltando a família para o Ceará, em cuja capital fixou residência, entrou para o Liceu, ali existente, e completou, sob as vistas e direção de seu irmão mais velho, o ilustrado Dr. Manoel Soares da Silva Bezerra, seus estudos preparatórios, sendo sempre considerado o primeiro aluno do Liceu.
Veio para o Rio de Janeiro em 1851, ingressando, em 1852, como praticante interno no Hospital da Santa Casa da Misericórdia, onde seria estimado auxiliar do grande cirurgião Dr. Manoel Feliciano Pereira de Carvalho. Para poder estudar, dava aulas de Filosofia e Matemática. Doutorou-se em 1856 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendendo a tese: “Diagnóstico do cancro”. Sempre obteve, em seus exames anuais a primeira nota da Faculdade.
Em 19 de Março de 1857 solicitou sua admissão no Corpo de Saúde do Exército, sentando praça em 20 de fevereiro de 1858. A 28 de abril de 1857 candidatou-se ao quadro dos membros titulares da Academia Imperial de Medicina.
Em 1858 concorreu a uma vaga de lente substituto da Seção de Cirurgia na Faculdade de Medicina. Nesse mesmo ano, Manoel Feliciano Pereira de Carvalho, então cirurgião-mor do Corpo de Saúde do Exército, fê-lo nomear seu assistente, com o posto de 2 º cirurgião-tenente.
No período 1859-61, Bezerra redatoriou os Anais Brasilienses de Medicina, da Academia Imperial de Medicina.
Em 06 de Novembro de 1858, casou-se com D. Maria Cândida de Lacerda, que faleceu a 24 de Março de 1863, deixando-lhe dois filhos.
Em 1860, concordou em candidatar-se à ilustríssima Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Eleito vereador municipal pelo partido Liberal, em 1861, teve sua eleição impugnada, sob a alegação de ser médico militar. Isso levou-o a demitir-se, em 26 de Março de 1861, do Corpo de Saúde do Exército.
Na Câmara Municipal da Corte desenvolveu grande trabalho em favor do Município Neutro e na defesa dos humildes e necessitados. Reeleito, com simpatia geral para o período 1864-1868.
Retornando à política, foi vereador de 1873 a 7 de Janeiro de 1881. Durante esse período, e até mesmo em 1867 e 1868, ele ocupou por inúmeras vezes as funções de presidente interino da Câmara Municipal da Corte.
Bezerra de Menezes jamais obteve favores do governo para as suas candidaturas. O povo do Município Neutro é quem o honrava sempre como seu representante na Câmara. Num discurso pronunciado na sessão de 15 de Maio de 1880, na Câmara dos Deputados, Bezerra disse que, à exceção de dois amigos, não tivera a gratidão dos homens eminentes do seu Partido, mas, para alegria sua, recebera sempre, nos seus vinte anos de político, a manifestação de apreço do povo donde veio e de onde espera acabar sua carreira.
Em 1867 foi eleito deputado geral pelo Rio de Janeiro. Com a subida dos conservadores ao poder, Bezerra retirou-se e dirigiu suas atividades construtivas em outras realizações que beneficiassem a cidade.
Voltando os liberais a dominar, Bezerra de Menezes de novo candidatou-se à Câmara dos Deputados, como representante do Rio de Janeiro, exercendo o seu mandato de 1878 a 1885, sempre se impondo à consideração e ao respeito de seus pares e de todo o País, sem jamais terem provado um ato sequer que lhe desabonasse a vida pública ou privada.
O Dr. Bezerra criou a Companhia de Estrada de Ferro Macaé a Campos, e construiu aquela ferrovia, vencendo dificuldades inúmeras e realizando um trabalho digno dos maiores aplausos.
Membro honorário da Seção Cirúrgica da Academia Nacional de Medicina, honorário do Instituto Farmacêutico, da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, membro do Conselho do Liceu de Artes e Ofícios, membro da Sociedade Geográfica da Lisboa, sócio da Sociedade Físico-Química, em cuja revista colaborou, presidente da Sociedade Beneficência Cearense, etc.
Em 21 de Janeiro de 1865 casou-se, em segundas núpcias, com D. Cândida Augusta de Lacerda Machado, de quem teve sete filhos.
Em 1885, Bezerra atingiu o fim de suas atividades na política, tudo fazendo por engrandecer o Brasil.
Outra mais alta missão, aquela de que o incumbiu Ismael, o aguardava, não para coroar de louros, que perecem, mas para trazer a sua memória à imortalidade, em que vive, conservando-o como médico das almas ao serviço de uma clientela que cresce todos os dias.
Logo que apareceu a primeira tradução brasileira de O Livro dos Espíritos, em 1875, foi oferecido ao Dr. Bezerra de Menezes um exemplar da obra pelo tradutor, Dr. Joaquim Carlos Travassos. É ele mesmo, perplexo, quem relata o seguinte, ao proceder à leitura: “mas não encontrava nada que fosse novo para meu espírito, entretanto tudo aquilo era novo para mim!…”.
Fundada a Federação Espírita em 02 de Janeiro de 1884, Bezerra de Menezes não quis inscrever-se entre os fundadores. Entretanto, foi em 16 de Agosto que se registrou um acontecimento de repercussão estrondosa nos meios político, religioso e médico: Bezerra de Menezes, ante um auditório de pessoas da melhor sociedade, proclamava solenemente a sua adesão ao Espiritismo.
A marcha da Doutrina, no Brasil, prosseguiu mais celeremente e não lhe preocupava a parte experimental para firmar-se na sua crença. Bastava-lhe o conteúdo sublime e racional das lições que a Nova Revelação encerrava.
Em 1889, como presidente da Casa de Ismael, iniciou o estudo metódico de O Livro dos Espíritos, em sessões semanais no salão da FEB, o que até hoje vem sendo seguido. Quando vice-presidente da FEB, em 1890 e 1891, traduziu o livro Obras Póstumas, de Allan Kardec, cuja publicação se deu em 1892.
A presença sábia e bondosa de Bezerra vinculou fortemente o Grupo Ismael, a Federação e a Assistência aos Necessitados, em torno da mesma divisa que ainda hoje permanece à frente da Casa de Ismael: “Deus, Cristo e Caridade”.
Eleito presidente em 03 de Agosto de 1895, cogitou logo de imprimir uma orientação basicamente evangélica aos trabalhos de Federação Espírita Brasileira.
Bezerra recomeçou, ele próprio, o estudo sistemático de O Livro dos Espíritos em sessões públicas e o salão da FEB se encheu de irmãos pressurosos em ouvir a palavra inspirada do venerando pregador. Em 1899 cogitava o abnegado presidente em instituir mais uma sessão semanal, para estudo dos Evangelhos à luz do Espiritismo, quando em dezembro foi acometido de uma congestão cerebral. Todavia, esse seu último propósito foi concretizado, e tão solidamente que perdura até aos dias atuais, todas as terças-feiras.
Aos 11 de Abril de 1900, à onze e meia, desencarnava no Rio de Janeiro o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, o inolvidável Apóstolo do Espiritismo no Brasil, o abolicionista inflamado, o antigo líder do Partido Liberal e adversário temível do Ministério Zacarias, o deputado em várias legislaturas e o presidente da Câmara Municipal da Corte.
Desencarnava pobre, mas com um brilhante passado de glórias cívicas e espirituais.
Na noite do dia 12 de Abril, após as exéquias do querido morto, reuniu-se normalmente o Grupo Ismael, quando, inesperadamente, o próprio Bezerra, desencarnado havia 31 horas, transmite pelo médium Frederico Júnior bela mensagem em que, jubiloso, fala agradecido da misericórdia divina que lhe concedera uma recepção imerecida, e termina animando e consolando os companheiros que o ouviam.
Mas o pranteado Médico dos Pobres, assim cognominado em virtude do humanitarismo que sempre demonstrara, como verdadeiro sacerdote e apóstolo que foi da medicina, embora autorizado a sublime ascensão aos planos superiores, renunciou a semelhante glória, a fim de se consagrar, mais de perto e por tempo mais dilatado, à transformação gradual de longas fileiras de infelizes, pobres almas necessitadas de abnegados médicos espirituais.
Espírito de escol, deixou luminoso rastro em sua existência terrena.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

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