Categoria: Personagens da Codificação

François-René de Chateaubriand

François-René de Chateaubriand

“Eu pressentira, mau grado a prejuízos de infância e de educação, mau grado ao culto da lembrança, a época atual. Sou feliz por isso (…)” , é como se expressa Chateaubriand na mensagem, inserida em O Livro dos médiuns, (2). parte, cap. XXXI, item II.
Com certeza, estaria a pensar nas próprias reformas que ele presenciara e vivera no seu período de vida física, findo em 4 de julho de 1848, na capital francesa.
Ele conheceu o exílio e a glória, provações e homenagens, o desprezo e o poder. Político e escritor, participou de grandes momentos da História, que registrou em sua obra Recordações de além-túmulo, publicada em forma seriada, em Paris, de 21 de outubro de 1848 a 3 de julho de 1850, portanto depois de sua morte.
Escrita após a revolução de 1830, num período de completo isolamento, a obra apresenta uma galeria brilhante de personalidades da época, de dimensões históricas, políticas, sociais e literárias, cimentando o prestígio permanente de Chateaubriand na literatura francesa.
“Da primeira à última página das Mémoires sente-se a presença do autor, com as suas fraquezas, a sua coragem, o seu orgulho, a sua grande força de escritor” (1) , tanto quanto o difícil caminho de um aristocrata e intelectual após a Revolução.
Esse mágico do verbo e infatigável viajor dos séculos, nasceu François René, visconde de Chateaubriand, no dia 4 de setembro de 1768, em Saint-Malo, último filho de uma família católica. Freqüentou o Colégio, engajou-se no Exército, freqüentou a corte e a sociedade de Paris. Espírito irrequieto e aventureiro, embarcou para a América do Norte aos 23 anos, tendo percorrido vastas regiões de florestas virgens e estabelecido contatos com tribos indígenas.
Seu retorno à Europa se deu imediatamente após saber da fuga e prisão do rei Luís XVI, em Varennes. Diante da queda da monarquia, alistou-se no exército dos príncipes emigrados, que combatiam as forças revolucionárias. Ferido no cerco de Thioville, refugiou-se na Inglaterra em 1793, onde se sustentou dando lições de francês e fazendo traduções.
Trabalhou ali numa epopéia indígena publicada em 1826, Os Natchez. Sua primeira obra, contudo, Ensaio histórico, político e moral sobre as revoluções antigas e modernas, consideradas em suas relações com a Revolução Francesa, viria a lume em 1797.
Também é na capital londrina que ele reconquista sua fé perdida, inicia sua obra de apologia da religião cristã e resolve dedicar seu gênio literário à defesa e reestauração das crenças religiosas, que a Revolução havia abalado.
Retornou à França em 1800 e em 1801 publicou um episódio retirado de Os Natchez, Atala, ou Os amores de dois selvagens no deserto. Ali, a jovem Atala salva o herói e prefere a morte ao casamento com Chactas, a fim de não ferir um voto que fizera à Virgem Maria.
Quatro anos depois, outro episódio seria publicado: René, onde se evidencia sua qualidade de discípulo de Rousseau, pintando através do seu personagem, o retorno do homem civilizado à Natureza. É um combate à lassidão, à impotência dos ‘tempos modernos’, com significação moral.
Uma apologia da fé cristã, publicada em 1802 é sua obra mais famosa: O espírito do cristianismo, com a qual ele conquista Napoleão, que desejava oficializar a religião católica como religião do Estado. Nela se encontra emoção religiosa e poesia, consagrando o escritor como uma espécie de guia espiritual de sua época.
Em tributo de gratidão, Napoleão o nomeia secretário da Embaixada em Roma e depois ministro no cantão suíço de Valais, em 1804. Nesse ano, a 21 de março, a execução do duque de Enghien desperta os sentimentos monárquicos adormecidos em Chateaubriand. Ele se demite da carreira diplomática e se encerra numa oposição prudente, mas tenaz, ao imperador, apesar de todas as tentativas daquele para o reconquistar.
Eleito para a Academia Francesa de Letras, é impedido de pronunciar seu discurso de posse, considerado abertamente provocador.Mais tarde, em 1811 publicou um panfleto contra Napoleão e em 1816 define seu ideal político, defendendo a tese de que o rei deve reinar, mas não governar.
Após a ruptura com Napoleão, já célebre em toda a Europa, Chateaubriand medita em coroar exitosamente a sua obra de apologista da religião cristã, através de uma epopéia de seus mártires. Viaja a Jerusalém e no retorno, publica Os mártires ou O triunfo da religião cristã, e depois Itinerário de Paris a Jerusalém…, Vida de Rancé (relato da vida do Reformador da Ordem dos Trapistas no século XVII).
Chateaubriand firmou-se como um dos grandes precursores do Romantismo, pelo conteúdo das emoções variadas de sua obra, pela intensidade e poder dos muitos momentos exemplares do seu estilo.

Fonte: 1. Enciclopédia Mirador Internacional, vol. 5.
2. http://www.france-ouest.com/chateaubriand
3. http://www.newadvent.org/cathen/03640a.htm

Francisco Xavier

Francisco Xavier

O dia 7 de abril de 1506 assinala a data do nascimento de Francisco de Jassu y Javier, no Castelo dos Javier, perto de Pamplona, na Espanha.
Aos 19 anos foi a Paris para estudar, ali permanecendo até seus 28 anos. Com Inácio de Loyola e mais cinco seguidores, fez o voto de caridade e pobreza, no dia 15 de agosto de 1534, do qual se originou a fundação da Companhia de Jesus.
Sendo ordenado padre 3 anos mais tarde, ao contrário de Inácio de Loyola, que permaneceu na Europa, foi enviado ao Extremo Oriente.
A serviço da monarquia portuguesa fez de Goa, na Índia, o centro de difusão do seu apostolado. Sua obra rendeu frutos no Ceilão, nas ilhas do sudeste da Ásia e no Japão.
Quando viajava para iniciar uma nova etapa missionária na China, morreu nas costas do país, aos 46 anos de idade, a 3 de dezembro de 1552, sem poder desembarcar no continente.
Ficou conhecido como o Apóstolo da Índia. O valor desse jesuíta está em sua atitude pioneira de apostolado junto aos povos asiáticos. Os jesuítas detêm o mérito de terem sido nas colônias de Espanha e Portugal o único centro de cultura e um exemplo missionário nos séculos XVI e XVII.
É no capítulo “Amai os vossos inimigos” em O Evangelho segundo o espiritismo que Francisco Xavier disserta a respeito do duelo, afirmando que “Quando a caridade regular a conduta dos homens, eles conformarão seus atos e palavras a esta máxima: `Não façais aos outros o que não quiserdes que vos façam.’ “
Da sua desencarnação à mensagem, ditada em Bordéus, em 1861, estabelece-se um período de 309 anos.

Fonte: Enciclopédia Mirador Internacional – vol. 15.
Grandes personagens da História Universal – vol. 5.

Fénelon

Fénelon

Este é o nome literário de François de Salignac de la Mothe, prelado e escritor francês que nasceu no castelo de Fénelon, em Périgord, a 6 de agosto de 1651.
Ordenou-se sacerdote em 1675 e passou a dirigir uma instituição que tinha por objetivo reeducar as jovens protestantes convertidas ao catolicismo.
Foi enviado pelo rei, na qualidade de missionário às regiões de Aunis e Saintonge.
Seu Tratado da educação das jovens, que veio à luz em 1687, obra dedicada às filhas do duque de Beauvillier, lhe valeu a nomeação de receptor do duque de Bourgogne.
Aos 42 anos é eleito acadêmico e aos 44 já é arcebispo de Cambrai.
A partir da publicação de sua obra Explicação das máximas dos santos, em 1697, passam a declinar as graças oficiais. Dois anos mais tarde, a Santa Sé condena a obra e ele é privado de seus títulos e pensões.
Também cai em desgraça perante Luís XIV que descobre críticas a seu governo no romance pedagógico de Fénelon “As aventuras de Telêmaco”, no mesmo ano de 1699.Mesmo no exílio de sua diocese, ele não pára de publicar. E no período de 1700 a 1712 publica Fábulas e Diálogos dos mortos, este último escrito para o duque de Bourgogne.
Deixa transparecer suas esperanças de uma reforma política em O exame de consciência de um rei, enquanto seu apego à Antigüidade clássica transparece em Cartas sobre as ocupações da Academia francesa.
7 de janeiro de 1715 assinala a data da sua morte, ocorrida em Cambrai.
Fénelon figura na Codificação, em vários momentos, podendo ser citados: O livro dos espíritos, onde assina Prolegômenos, junto a uma plêiade de luminares espirituais. Igualmente a resposta à questão de nº 917 é de sua especial responsabilidade.
Em O evangelho segundo o espiritismo apresenta-se em vários momentos, discursando acerca da terceira revelação e da revolução moral do homem (cap. I, 10); o homem de bem e os tormentos voluntários (cap. V, 22,23; a lei de amor (cap. XI, 9); o ódio (cap. XII, 10) e emprego da riqueza (cap. XVI, 13).
Em O livro dos médiuns figura no capítulo das Dissertações Espíritas (cap. XXXI, 2ª parte, itens XXI e XXII) desenvolvendo aspectos acerca de reuniões espíritas e a multiplicidade dos grupos espíritas.
Importante assinalar que os destaques assinalados são os que o espírito assina seu nome, devendo se considerar que deve, como os demais responsáveis espirituais pela Codificação ter estado presente em muitos outros momentos, dando seu especial contributo, eis que foi convidado pelo Espírito de Verdade a compor sua equipe, em tão grandioso empreendimento.

Fonte: Enciclopédia Mirador Internacional – vol. 10.

Félicité Robert de Lamennais

Félicité Robert de Lamennais

Nascido em uma família burguesa, em 19 de junho de 1782, em Saint-Malo, na França, foi brilhante escritor, tornando-se uma figura influente e controversa na história da Igreja francesa.
Com seu irmão Jean, concebeu a idéia de reviver o Catolicismo Romano como uma chave para a regeneração social. Chegaram a esboçar um programa de reforma em sua obra : Reflexões do estado da Igreja…, no ano de 1808.
Cinco anos mais tarde, no auge do conflito entre Napoleão e o Papado, os irmãos produziram uma defesa do Ultramontanismo (Doutrina e política dos católicos franceses que buscavam inspiração na Cúria Romana, defendendo a autoridade absoluta do Papa em matéria de fé e disciplina). Este livro valeu a Lamennais um conflito com o Imperador, ocasionando sua fuga para a Inglaterra, rapidamente, no ano de 1815.
Um ano depois, com seus 34 anos de idade, Lamennais retorna a Paris e é ordenado padre. Escritor fluente, político e filósofo, ele se esforçava para combinar a política liberal com o Catolicismo Romano, depois da Revolução Francesa. Por isso, já em 1817 publicou “Ensaios sobre a indiferença em matéria de religião considerada em suas relações com a ordem política e civil”, além de uma tradução da “Imitação de Jesus Cristo”. O Ensaio lhe valeu fama imediata.
Nele, Lamennais argumentava a respeito da necessidade da religião, baseando seus apelos na autoridade da tradição e a razão geral da Humanidade, em vez do individualismo do julgamento privado. Embora advogasse o Ultramontanismo na esfera religiosa, em suas crenças políticas era um liberal que advogava a separação do Estado da Igreja, a liberdade de consciência, educação e imprensa.
Depois da revolução de julho, em 1830, Lamennais, junto com Henri Lacordaire (Os expoentes da Codificação XVIII) e Charles de Montalembert, além de um grupo entusiástico de escritores do Catolicismo Romano Liberal, fundou o jornal “L’Avenir”. Neste jornal diário, defendia Lamennais os princípios democráticos, a separação da Igreja do Estado, criando embaraços para si tanto com a hierarquia eclesiástica francesa quanto com o governo do rei Luís Felipe.
O Papa Gregório XVI desautorizou as opiniões de Lamennais na Encíclica Mirari vos, em agosto de 1831. A partir de então, Lamennais passa a atacar o Papado e as monarquias européias, escrevendo o famoso poema “Palavras de um crente”, condenado na Encíclica papal Singulari vos, em julho de 1834. O resultado foi a exclusão de Lamennais da Igreja.
Incansável, ele se devotou à causa do povo, colocando sua caneta a serviço do republicanismo e do socialismo. Escreveu trabalhos como “O Livro do Povo “(1838), “Os afazeres de Roma” e “Esboço de uma Filosofia”. Chegou a ser condenado à prisão mas, já em 1848 foi eleito para a Assembléia Nacional, aposentando-se em 1851. Por ocasião de sua morte, em Paris, em 27 de fevereiro de 1854, não desejando se reconciliar com a Igreja, foi sepultado em uma cova de indigente.
No Mundo Espiritual, não permaneceu ocioso, eis que em O Livro dos Espíritos, na pergunta de número 1009, se encontra uma mensagem de sua lavra, ilustrando a resposta. Nela, revela os traços da sua fé, concitando as criaturas a aproximar-se do bom pastor e do Pai Criador, combatendo com vigor a crença das penas eternas. Na mensagem que assina em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XI, item 15, ele se revela o ser compassivo, que conclama as criaturas a obedecer a voz do coração, oferecendo, se for necessário, a própria pela vida de um malfeitor.

Erasto

Erasto

Com o respeitável nome de Erasto, cujas comunicações traziam sempre o “cunho incontestável de profundeza e lógica”, como disse o próprio Codificador, encontramos duas personalidades, em momentos diferentes da História da Humanidade.
A primeira, afirmativa do próprio Codificador, é de que ele seria discípulo de Paulo de Tarso (O livro dos médiuns, cap. V, item 98). A afirmativa tem procedência. Na segunda epístola a Timóteo, escrita quando prisioneiro em Roma, relata o Apóstolo dos Gentios: “Erasto ficou em Corinto.” ( IV,20)
Segundo consta na epístola aos Romanos, na saudação final, este mesmo Erasto tinha cargo na cidade, pois se encontra no cap. 16, vers. 23: “Saúda-vos Erasto, tesoureiro da cidade”.
Em Atos dos Apóstolos (XIX,22) lemos que Paulo enviou à Macedônia “…dois dos que lhe assistiam, Timóteo e Erasto…” , enquanto ele próprio, Paulo, permaneceu na Ásia. Interessante observar a proximidade dos dois discípulos de Paulo, pois em O Livro dos Médiuns, cap. XIX, encontramos longa mensagem assinada por ambos, a respeito do papel do médium nas comunicações (item 225). Juntos no século I da era cristã, juntos na tarefa da Codificação.
Ainda em O livro dos médiuns são de sua lavra os itens 98, cap. V, algumas respostas a perguntas constantes no item 99, itens 196 e 197 do cap. XVI, itens 230 do cap. XX, onde se encontra a célebre frase: “Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.” Finalmente, na comunicação de nº XXVII.
Em O Evangelho segundo o espiritismo, lê-se várias mensagens assinadas por Erasto. A primeira se encontra no cap. I, item 11, a segunda no cap. XX, item 4 e se intitula: Missão dos espíritas, trazendo a assinatura de Erasto, anjo da guarda do médium, aditando oportunamente o Codificador de que o médium seria o sr. d’Ambel.
As demais compõem os itens 9 (Caracteres do verdadeiro profeta) e 10 (Os falsos profetas da erraticidade), ambas datadas de 1862, sendo que na última é o próprio espírito que se identifica como “discípulo de São Paulo”, o que igualmente faz no cap. I, item 11 de O evangelho segundo o espiritismo e cap. XXXI, nº XXVII de O livro dos médiuns.
A outra referência a esse espírito se encontra na Revista Espírita, ano de 1869, da Edicel, no índice Biobibliográfico, onde é apresentado como tendo sido Thomaz Liber, dito Erasto, médico, filósofo e teólogo alemão, nascido em 1524 e morrido em 1583. Foi professor de Medicina em Heidelberg e de Moral, em Basiléia.
No campo da Teologia, combateu o poder temporal da Igreja e se opôs à disciplina calvinista e à ordem presbiteriana. Sua posição lhe valeu uma excomunhão, sob suspeita de heresia, sendo reabilitado algum tempo depois.
Suas teorias tiveram muitos partidários, sobretudo na Inglaterra. Legou somas consideráveis aos estudantes pobres, sendo especialmente respeitado por seus gestos de benemerência.
De qualquer forma, o que resta incontestável, segundo Kardec, é que “…era um Espírito superior, que se revelou mediante comunicações de ordem elevadíssima…”(O livro dos médiuns, cap. XIX, item 225)
O que importa realmente é a tarefa desenvolvida à época de Paulo de Tarso e ao tempo de Kardec, por um espírito.
Encarnado, o seu grande trabalho pela divulgação das idéias nascentes do Cristianismo, em um ambiente quase sempre hostil. Desencarnado, ombreando com tantas outras entidades espirituais, apresentando elucidações precisas em favor da Codificação da Doutrina Espírita, respondendo a questões de vital importância para uma também doutrina nascente, a Terceira Revelação, o Consolador prometido por Jesus.

Fontes de consulta:
1. Revista Reformador (FEB) de outubro 1993 – Um espírito chamado Erasto
2. Atos dos Apóstolos, XIX, 22.
3. Romanos, XVI,23.
4. II Timóteo, IV, 20.
5. Revista Espírita (Edicel) ano 1869 – Índice Biobibliográfico

Emmanuel

Emmanuel

Emmanuel, exatamente assim, com dois “m” se encontra grafado o nome do espírito, no original francês “L’évangile selon le spiritisme”, em mensagem datada de Paris, em 1861 e inserida no cap. XI, item 11 da citada obra, intitulada “O egoísmo”.
O nome ficou mais conhecido, entre os espíritas brasileiros, pela psicografia do médium mineiro Francisco Cândido Xavier. Segundo ele, foi no ano de 1931 que, pela primeira vez, numa das reuniões habituais do Centro Espírita, se fez presente o bondoso espírito Emmanuel.
Descreve Chico: “Via-lhe os traços fisionômicos de homem idoso, sentindo minha alma envolvida na suavidade de sua presença, mas o que mais me impressionava era que a generosa entidade se fazia visível para mim, dentro de reflexos luminosos que tinham a forma de uma cruz.”
Convidado a se identificar, apresentou alguns traços de suas vidas anteriores, dizendo-se ter sido senador romano, descendente da orgulhosa “gens Cornelia” e, também sacerdote, tendo vivido inclusive no Brasil.
De 24 de outubro de 1938 a 9 de fevereiro de 1939, Emmanuel transmitiu ao médium mineiro as suas impressões, dando-nos a conhecer o orgulhoso patrício romano Públio Lentulus Cornelius, em vida pregressa Públio Lentulus Sura, e que culminou no romance extraordinário : Há dois mil anos.
Públio é o homem orgulhoso, mas também nobre. Roma é o seu mundo e por ele batalha. Não admite a corrupção, mostrando, desde então, o seu caráter íntegro. Intransigente, sofre durante anos, a suspeita de ter sido traído pela esposa a quem ama. Para ela, nos anos da mocidade, compusera os mais belos versos: “Alma gêmea da minhalma/ Flor de luz da minha vida/ Sublime estrela caída/ Das belezas da amplidão…” e, mais adiante: “És meu tesouro infinito/ Juro-te eterna aliança/ Porque eu sou tua esperança/ Como és todo o meu amor!”
Tem a oportunidade de se encontrar pessoalmente com Jesus, mas entre a opção de ser servo de Jesus ou servo do mundo, escolhe a segunda.
Não é por outro motivo que escreve, ao início da citada obra mediúnica: “Para mim essas recordações têm sido muito suaves, mas também muito amargas. Suaves pela rememoração das lembranças amigas, mas profundamente dolorosas, considerando o meu coração empedernido, que não soube aproveitar o minuto radioso que soara no relógio da minha vida de Espírita, há dois mil anos.”
Desencarnou em Pompéia, no ano de 79, vítima das lavas do vulcão Vesúvio, cego e já voltado aos princípios de Jesus.
Cincoenta anos depois, no ano de 131, ei-lo já de retorno ao palco do mundo. Nascido em Éfeso, de origem judia, foi escravizado por ilustres romanos que o conduziram ao antigo país de seus ascendentes. Nos seus 45 anos presumíveis, Nestório mostra no porte israelita, um orgulho silencioso e inconformado. Apartado do filho, que também fora escravizado, tornaria a encontrá-lo durante uma pregação nas catacumbas onde ele, Nestório, tinha a responsabilidade da palavra. Cristão desde os dias da infância, é preso e, após um período no cárcere, por manter-se fiel a Jesus, é condenado à morte.
Junto com o filho, Ciro, e mais uma vintena de cristãos, num fim de tarde, foi conduzido ao centro da arena do famoso circo romano, situado entre as colinas do Célio e do Aventino, na capital do Império. Atado a um poste por grossas cordas presas por elos de bronze, esquelético, munido somente de uma tanga que lhe cobria a cintura, até os rins, teve o corpo varado por flechas envenenadas. Com os demais, ante o martírio, canta, dirigindo os olhos para o Céu e, no mundo espiritual, é recebido pelo seu amor, Lívia.
Pelo ano 217, peregrina na Terra outra vez. Moço, podemos encontrá-lo nas vestes de Quinto Varro, patrício romano, apaixonado cultor dos ideais de liberdade.
Afervorado a Jesus, sente confranger-lhe a alma a ignorância e a miséria com que as classes privilegiadas de Roma mantinham a multidão.
O pensamento do Cristo, ele sente, paira acima da Terra e, por mais lute a aristocracia romana, Varro não ignora que um mundo novo se formava sobre as ruínas do velho.
Vítima de uma conspiração para matá-lo, durante uma viagem marítima, toma a identidade de um velho pregador de Lyon, de nome Corvino. Transforma-se em Irmão Corvino, o moço e se torna jardineiro. Condenado à decapitação, tem sua execução sustada após o terceiro golpe, sendo-lhe concedida a morte lenta, no cárcere.
Onze anos após, renasce e toma o nome de Quinto Celso. Desde a meninice, iniciado na arte da leitura, revela-se um prodígio de memória e discernimento.
Francamente cristão, sofreu o martírio no circo, amarrado a um poste untado com substância resinosa ao qual é ateado fogo. Era um adolescente de mais ou menos 14 anos.
Sua derradeira reencarnação se deu a 18 de outubro de 1517 em Sanfins, Entre-Douro-e-Minho, em Portugal, com o nome de Manoel da Nóbrega, ao tempo do reinado de D. Manoel I, o Venturoso.
Inteligência privilegiada, ingressou na Universidade de Salamanca, Espanha, aos 17 anos. Aos 21, está na faculdade de Cânones da Universidade, onde freqüenta as aulas de direito canônico e de filosofia, recebendo a láurea doutoral em 14 de junho de 1541.
Vindo ao Brasil, foi ele quem estudou e escolheu o local para a fundação da cidade de São Paulo, a 25 de janeiro de 1554. A data escolhida, tida como o dia da Conversão do apóstolo Paulo, pretende-se seja uma homenagem do universitário Manoel da Nóbrega ao universitário Paulo de Tarso .
O historiador paulista Tito Lívio Ferreira, encerra sua obra “Nóbrega e Anchieta em São Paulo de Piratininga” descrevendo: “Padre Manoel da Nóbrega fundara o Colégio do Rio de Janeiro. Dirige-o com o entusiasmo de sempre. Aos 16 de outubro de 1570, visita amigos e principais moradores. Despede-se de todos, porque está, informa, de partida para a sua Pátria. Os amigos estranham-lhe os gestos. Perguntam-lhe para onde vai. Ele aponta para o Céu.
No dia seguinte, já não se levanta. Recebe a Extrema Unção. Na manhã de 18 de outubro de 1570, no próprio dia de seu aniversário, quando completava 53 anos, com 21 anos ininterruptos de serviços ao Brasil, cujos alicerces construiu, morre o fundador de São Paulo.
E as últimas palavras de Manoel da Nóbrega são: ` Eu vos dou graças, meu Deus, Fortaleza minha, Refúgio meu, que marcastes de antemão este dia para a minha morte, e me destes a perseverança na minha religião até esta hora.’
E morreu sem saber que havia sido nomeado, pela segunda vez, Provincial da Companhia de Jesus no Brasil: a terra de sua vida, paixão e morte.”
A título de curiosidade, encontramos registros que o deputado Freitas Nobre, já desencarnado na atualidade, declarou, em programa televisivo da TV Tupi de São Paulo), na noite de 27 para 28 de julho de 1971, que ao escrever um livro sobre Anchieta, teve a oportunidade de encontrar e fotografar uma assinatura de Manuel da Nóbrega, como E. Manuel.
Assim, o E inicial do nome do mentor de Francisco Cândido Xavier se deveria à abreviatura de Ermano, o que, segundo ele, autorizaria a que o nome fosse grafado Emanuel, um “m” somente e pronunciado com acentuação oxítona.

Fontes de consulta:
Ave Cristo – Francisco Cândido Xavier/Emmanuel
50 anos depois – Francisco Cândido Xavier/Emmanuel
Entrevistas – Francisco Cândido Xavier/Emmanuel
Há dois mil anos – Francisco Cândido Xavier/Emmanuel
L’evangile selon le Spiritisme – Allan Kardec
Revista Presença Espírita – jan/fev 1991- Curiosidades

Emanuel Von Swedenborg

Emanuel Von Swedenborg

Arthur Conan Doyle a ele se referiu como a maior e mais alta inteligência humana. Em verdade, Emanuel von Swedenborg, nascido em Estocolmo a 29 de janeiro de 1688, filho de um bispo da Igreja luterana sueca, viveu na austera atmosfera evangélica alguns anos de sua vida. Foi profundo estudioso da Bíblia.
Estudou em Upsala e visitou a Alemanha, a França, a Holanda e a Inglaterra, a fim de ampliar seus extensos conhecimentos de matemática, mecânica, astronomia, geologia, mineralogia.
Aos 22 anos publicou um volume de versos latinos e aos 28 foi nomeado assessor de minas do governo sueco. Versátil, tanto quanto Leonardo da Vinci, criou engenhos mecânicos para transportar barcos por terra, analisou a economia da moeda corrente, a produção e o custo do álcool , a aplicação do sistema decimal, a relação entre importações e exportações e a economia nacional.
Próximo aos 30 anos, voltou-se para a paleontologia, a geologia, o estudo dos fósseis e chegou a desenvolver uma avançada teoria sobre a expansão nebular, para explicar a origem do sistema solar. Dedicou-se também aos estudos da Medicina e da Fisiologia. Era hábil em latim, grego, inglês, além de sua língua pátria e chegou a estudar hebraico, a fim de empreender uma reinterpretação do Velho e do Novo Testamento.
A primeira parte de sua vida foi notadamente voltada para o intelecto. Contudo, embora ainda menino tivesse visões, foi em abril de 1744 que se iniciou uma nova etapa, a da investigação em busca de conhecimentos sobre a alma humana relacionada com Deus e o universo numa estrutura da idéia cristã.
Conforme suas palavras, “…o mundo dos Espíritos, do céu e do inferno, abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de todas as condições. Desde então diariamente o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e Espíritos”.
Considerado como um dos precursores das idéias espíritas, em suas obras “Céu e Inferno”, “A nova Jerusalém” e “Arcana Caelestia” descreveu o processo da morte e o mundo do além, detalhando sua estrutura. Falou de casas onde viviam famílias, templos onde praticavam o culto, auditórios onde se reuniam para fins sociais. Descreveu várias esferas, representando os graus de luminosidade e de felicidade dos espíritos. Afirmou não existirem anjos e demônios, mas simplesmente seres humanos, saídos da carne e em estado retardatário, ou altamente desenvolvidos. Descartou a possibilidade da existência de penas eternas.
A afirmação de contatos com os espíritos e suas experiências psíquicas, inclusive de dupla vista, atraíram amigos e lhe conquistaram adversários. Suas visões à distância foram detalhadamente investigadas, como a ocorrida no dia 19 de julho de 1759, na cidade de Göteborg, a 480 km. da capital sueca. Naquela tarde, Swedenborg jantou com a família de William Castell, juntamente com mais umas 15 pessoas e descreveu, pálido e alarmado, o incêndio que irrompera às 3 horas daquela tarde e foi dominado às 8 horas da noite, a uma distância de três portas de sua própria casa. Este dia era um sábado e somente na terça-feira, uma mensagem real confirmou os fatos, inclusive o detalhe de ter sido dominado às 8 horas da noite.
Esse homem notável, enérgico quando rapaz e amável na velhice, era bondoso e sereno. Prático, trabalhador, era de estatura alta, delgado, de olhos azuis, apresentando-se sempre impecável com sua peruca até os ombros, roupas escuras, calções curtos, fivelas nos sapatos e bengala.
Desencarnando em 29 de março de 1772, em Londres, cidade onde viveu muitos anos e onde se deu a eclosão da sua mediunidade, apresentar-se-ia 72 anos mais tarde, numa tarde de março de 1844, a um jovem de nome Andrew Jackson Davis, como um de seus mentores, junto ao espírito Galeno, passando a assessorá-lo em sua jornada mediúnica.
Na Codificação, seu nome figura em Prolegômenos, atestando a sua participação efetiva, como membro da equipe do Espírito de Verdade, contribuindo para a instalação da Terceira Revelação junto aos homens. Relação de suas obras:

1734 – Opera Philosophica et Mineralia
1740/41 – Oeconomia Regni Animalis
1744 – Regnum Animale
1749-58 – Arcana Coelestia
1758 – De Equo Albo in Apocalypsi
1758 – De Nova Hierosolyma
1758 – De Coelo et Inferno
1769 – Apocalypsis Revelata
1769 – Summaria Expositio Doctrinae Novae Ecclesia
1771 – Vera Christiana Religio

Fontes de consulta:
1. História do espiritismo/Arthur Conan Doyle- cap. I e III
2. Eles conheceram o desconhecido/Martin Ebon – cap. I
3. Enciclopédia Mirador Internacional – vol. 19

Dominique François Jean Arago

Dominique François Jean Arago

Sua mensagem se encontra inserida no item 8, do capítulo XVIII, da quinta obra da Codificação, sob o item Sinais dos tempos.
Nele se reconhece o físico e astrônomo que foi Dominique François Jean Arago, também matemático. De família de profundas convicções republicanas, seu nascimento data de 26 de fevereiro de 1786, em Estagel, França, perto de Perpignan, tendo ali dado início aos seus estudos. Tal mente brilhante logo se transferiria para a Escola Politécnica de Paris.
Aos 19 anos, foi nomeado Secretário do Observatório de Paris (construído em 1667, pelo arquiteto Claude Perrault, e que é considerado o mais antigo Observatório em atividade, no mundo) e mais tarde seu Diretor. Aos 23 anos, era Professor de Geometria Analítica na Escola Politécnica de Paris e até a idade de 44 anos dedicou-se exclusivamente à Ciência.
Com Biot (Jean-Baptiste, físico e astrônomo francês, nascido em Paris), completou a medida de um arco do meridiano terrestre. Confirmou, de forma experimental, a teoria ondulatória da luz. Descobriu (1820) os fenômenos relativos ao magnetismo rotatório, demonstrando a relação entre as auroras boreais e as variações magnéticas.
Descobriu, junto com Fresnel (Augustin-Jean, físico e engenheiro francês, nascido em Broglie), a polarização cromática da luz, a polarização rotatória e as leis sobre a interferência da luz polarizada.
Suas obras completas, em 13 volumes, foram publicadas após a sua morte, no período de 1854 a 1862. É considerado um grande encorajador dos jovens para a Ciência, tendo sido defensor da reforma do ensino, da liberdade de imprensa e das ciências aplicadas.
Consta que, no ano de 1825, ele foi ganhador da Medalha de Copley (Monsieur Geoffrey Copley) da Sociedade Real de Londres, considerada a recompensa maior ofertada por aquela Sociedade à descoberta ou trabalho científico de grande importância ou contribuição para a Ciência.
Casou-se aos 25 anos e foi pai por três vezes.
Politicamente, foi ativo pela causa republicana, desempenhando cargos políticos no governo. Já em 1830, foi eleito deputado pelo Departamento dos Pirineus Orientais e mais tarde por Paris.
Foi Ministro da Marinha e depois Ministro da Guerra, no Governo temporário que tomou o poder após a Revolução de 1848, tendo apresentado inúmeras reformas. Na qualidade de Ministro, promulgou o decreto de abolição da escravatura nas colônias francesas.
A França lhe dedicou um selo, nominando-o como físico e político. Desencarnado em 2 de outubro de 1853, em Paris, tem seu corpo depositado no Cemitério de Père Lachaise, na capital francesa.
Quem batalhou pela Ciência e pela melhor ordem social, bem se revela nas letras que o Codificador inseriu em A Gênese: “A efervescência que por vezes se manifesta em toda uma população, entre os homens de uma mesma raça, não é coisa fortuita, nem resultado de um capricho; tem sua causa nas leis da Natureza. Essa efervescência, inconsciente a princípio, não passando de vago desejo, de aspiração indefinida por alguma coisa melhor, de certa necessidade de mudança, traduz-se por uma surda agitação, depois por atos que levam às revoluções sociais, que, acreditai-o, também têm sua periodicidade, como as revoluções físicas, pois que tudo se encadeia.”
Na Espiritualidade, com a visão mais abrangente, ainda conclui: “Quando se vos diz que a Humanidade chegou a um período de transformação e que a Terra tem que se elevar na hierarquia dos mundos, nada de místico vejais nessas palavras; vede, ao contrário, a execução de uma das grandes leis fatais do Universo, contra as quais se quebra toda a má-vontade humana.”

Fontes de consulta:
1. Enciclopédia Mirador Internacional. vol. 3.
2. http://www.astrogea.org/asteroides/varis/arago/index_c.html
3. http://es.geocities.com/fisicas/cientificos/fisicos/arago.htm
4. http://www-history.mcs.st-andrews.ac.uk/history/Mathematicians/Arago.html

Delphine de Girardin

Delphine de Girardin

Nasceu Delphine Gay em Aix-La-Chapelle em 26 de janeiro de 1804, o mesmo ano do Codificador e desencarnou na capital francesa em 29 de junho de 1855.
Foi poetisa que freqüentou os salões de Mme Récamier. Casou-se com Émile de Girardin, jornalista e político francês, passando então a ser conhecida como sra. Émile de Girardin.
Ela mesma se tornou jornalista, após o casamento em 1831, escrevendo no jornal La Presse no período de 1836 a 1848, sob o pseudônimo de visconde de Launay, interessantes crônicas da sociedade do tempo de Luís Filipe. Essas crônicas ficaram conhecidas como cartas parisienses.
Publicou também romances, tragédias e comédias. Era, positivamente, grande médium inspirada.
Personalidade muito conhecida no meio poético, freqüentando os salões literários onde se reuniam as celebridades do momento, muito natural que ela tomasse contato com as mesas girantes.
Desde o primeiro contato com as mesas ela se convenceu da veracidade das manifestações. Teve oportunidade de se encontrar com o professor Rivail pessoalmente. Possivelmente, em alguma das reuniões que ele freqüentava, nas suas pesquisas em torno dos fenômenos que assombravam Paris.
Amiga pessoal de Victor Hugo, os acontecimentos políticos do ano de 1851 e o exílio de seus amigos a marcaram de forma cruel.
Fiel à amizade ela decidiu levar conforto moral aos pobres proscritos. Lançou-se ao mar e em 6 de setembro de 1853 desembarcou em Jersey, uma pequena ilha de 116 quilômetros quadrados.
O cansaço a tomava por inteiro. A viagem foi excessivamente fatigante. Diga-se de passagem: ela já se encontrava doente. O câncer a devorava.
Dinâmica, contudo, ela não se deixava abater em demasia. Um pouco triste e melancólica, mas igualmente feliz por rever seus amigos, ela reencontrou Victor Hugo e a família.
À hora do jantar, narrou as notícias de Paris, no intuito de trazer um pouco da pátria para os exilados. Com entusiasmo se referiu às mesas girantes. Na pequena ilha de Jersey algumas tentativas tinham sido feitas, sem sucesso.
Delphine, sem aguardar a sobremesa, saiu em busca de uma mesa pequena, redonda. As sessões foram longas cansativas. Parecem não ter tido sucesso nos primeiros cinco dias.
Victor Hugo, cético, aderiu às reuniões somente para não desgostar a amiga. Finalmente, no domingo, 11 de setembro, a concentração, o silêncio foram recompensados. Uma comunicação aconteceu. Uma comunicação que mudaria os rumos da vida do grande poeta francês. Quem se comunicou, através da mesa foi nada mais, nada menos que sua filha Leopoldine. Sua amada filha, morta durante a lua-de-mel, afogada em um lago, num passeio de barco com o marido.

Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” o espírito de Delphine de Girardin
assina a mensagem “A desgraça real” no capítulo V (Bem-aventurados os Aflitos), item 24

Blaise Pascal

Blaise Pascal

Certo dia, um menino de 10 anos bateu com uma colher num prato e escutou atentamente o som, que continuou a vibrar por algum tempo, parando, no entanto, quando o pequeno pôs a mão sobre o prato.
Com certeza, em muitos lugares do mundo, outros tantos garotos terão feito o mesmo e observado o fenômeno. Mas, só um gênio como Blaise Pascal resolveu investigar o mistério e escreveu um tratado sobre o som: “Traité des sons”.
Nascido aos 19 de junho de 1623, em Clermont Ferrand (Auvergne), cedo demonstrou a sua genialidade. Certo dia, o pai o encontrou a riscar, com um pedaço de giz, “rodas e barras” no soalho do seu quarto. Rodas e barras eram na verdade os círculos e as linhas retas da Geometria, traduzidos na linguagem infantil.
Logo mais provaria que a soma dos ângulos de um triângulo perfaz dois retos, resolvendo num passatempo, o 32º teorema de Euclides, cujo nome ignorava.
Na adolescência, aos 16 anos, escreveu um Tratado sobre as secções dos cones “Traité des sections coniques”, um problema de alta Geometria, que assombrou o mundo profissional da época. O próprio Descartes, ao lê-lo, se recusou a acreditar tivesse sido escrito por um jovem dessa idade.
Dois anos mais tarde, construiu o jovem matemático uma máquina de contar, com o principal objetivo de aliviar seu pai dos complicados cálculos que necessitava fazer na sua lida com as finanças do Município.
Numa época em que não estavam aperfeiçoadas as tábuas logarítmicas, este engenho prestou grandes serviços aos que se ocupavam com a aritmética e mereceu numerosas reproduções.
Oportunamente, Pascal presenteou com uma dessas máquinas ao célebre Condé e a Rainha Cristina da Suécia, quando ela esteve na França. Mais tarde, entre seus 23 e 25 anos, interessou-se pelos estudos da Física, escrevendo sobre o “espaço vazio”: “Nouvelles experiences touchant le vide”.
Foi também nesta época que o pai de Blaise sofreu um acidente e, por permanecer longo período na cama, teve a lhe servir de enfermeiros dois fervorosos discípulos de Cornélio Jansênio que, ao se despedirem, deixando Etienne Pascal curado, deixaram toda a família Pascal profundamente impressionada com o ideal religioso.
Em outubro de 1654, estando Blaise Pascal a passear de carruagem por uma ponte, assustaram-se os cavalos, tendo dois deles se precipitado da ponte, após rompidos os arreios. Os outros, com a carruagem ficaram suspensos sobre o abismo, salvando a vida do cientista. Dizem alguns de seus biógrafos que este fato lhe teria produzido um violento abalo, fazendo-o se dedicar às questões religiosas.
Contudo, depois de sua morte foi encontrado, cosido no forro de sua vestimenta, um bilhete datado de 23 a 24 de novembro de 1654, em que ele relata uma espécie de êxtase que teria experimentado, e demonstra um desejo ardente de se consagrar às coisas espirituais.
Escrevendo suas “Cartas Provinciais”, Pascal apresenta a verdadeira Igreja do Cristo não circunscrita a uma determinada organização eclesiástica, menos ainda a determinados homens de um certo período, representando casualmente a Igreja, mesmo porque, falíveis os homens, insegura seria a fé. Em 1657, suas “Cartas”, dezoito ao todo, foram relacionadas no Index, da Igreja. São consideradas um dos maiores monumentos da literatura francesa e o atestado de uma grande sinceridade cristã.
A respeito, pronunciou-se Pascal: “Roma condenou as minhas Cartas; mas o que nelas condenei está condenado no céu _ apelo para o teu tribunal, Senhor Jesus!”
Relata que pediu a Deus 10 anos de saúde para poder escrever sua apologia do Cristianismo, que o mundo viria a conhecer com o nome de “Pensées”, contudo, confessa, Deus lhe deu quatro anos de enfermidade.
Nessa Apologia, ele apresenta Cristo não como o “Senhor morto” de tantos cristãos, mas o Cristo vivo, sempre-vivo, aquele Cristo que segue com os homens, todos os dias.
Amar era para ele a melhor forma de crer, a “razão do coração que a razão ignora”. Deus é, antes de tudo o Sumo Bem, o alvo do amor, e ele afirmava não poder crer senão num Deus que pudesse amar sinceramente. A mensagem para a humanidade de sua época, para os melhores homens do século, foi uma mensagem de vasta, profunda e panorâmica espiritualidade cristã. Uma espiritualidade que brilha em todas as páginas do Evangelho, a espiritualidade do Cristo.
Tal espiritualidade transcende das suas mensagens, inseridas pelo Codificador em O Evangelho Segundo o Espiritismo: a primeira, datada de 1860, recebida em Genebra, que alude à verdadeira propriedade e a segunda, do ano 1862, de Sens, da qual destacamos especialmente: “(…) Se os homens se amassem com mútuo amor, mais bem praticada seria a caridade;(…) ” e , logo adiante, “(…) esforçai-vos por não atentar nos que vos olham com desdém e deixai a Deus o encargo de fazer toda a justiça, a Deus que todos os dias separa, no seu reino, o joio do trigo.”
Não menos oportunas as observações em sua mensagem “Sobre os médiuns” (O livro dos médiuns, cap. XXXI, item XIII) de excelente atualidade para os dias que estamos vivendo, onde a mediunidde tem sido levada, muita vez, à conta de exclusiva projeção pessoal e destaque social: “Que, dentre vós, o médium que não se sinta com forças para perseverar no ensino espírita, se abstenha; porquanto, não fazendo proveitosa a luz que ilumina, será menos escusável do que outro qualquer e terá que expiar a sua cegueira.”
Sua morte se deu a 19 de agosto de 1662, aos 39 anos, em Paris, sendo que os dois últimos anos de sua vida foram de intenso sofrimento. A enfermidade que o tomou lhe furtou qualquer possibilidade de esforços físicos e intelectuais.

Fonte: ROHDEN, Humberto. Pascal, São Paulo, 1956.
Enciclopédia Mirador Internacional, vol 16, verbete: Pascal.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro, 1987

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