Categoria: Personagens da Codificação

Luís IX

Luís IX

“O bem reinará na Terra quando, entre os Espíritos que a vêm habitar, os bons predominarem, porque, então, farão que aí reinem o amor e a justiça, fonte do em e da felicidade.(…)”
Assim inicia a resposta à última questão de O Livro dos Espíritos e que, à semelhança de várias outras, são atribuídas ao espírito São Luís. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, ele responde a questões que se encontram no cap. IV, itens 24 e 25; cap. V, itens 28 a 31; cap. X, itens 19 a 21; cap. XIII, item 20; cap. XVI, item 15, bem assim derrama a sua sabedoria em vários itens de O Livro dos Médiuns, lecionando conceitos acerca do “: Laboratório do Mundo Invisível” e “Das manifestações físicas espontâneas”.
São Luís foi canonizado pela Igreja Católica, no ano de 1297, pelo papa Bonifácio VIII. Adquiriu renome como soberano imparcial. Filho de Branca de Castela, foi coroado rei de França, em Reims, em novembro de 1226, com apenas 12 anos de idade. Durante 10 anos, até seu casamento com Margarida de Provença, foi sua mãe que exerceu a Regência, embora somente em 1242 ele tenha assumido pessoalmente o poder, tomando o nome de Luís IX.
Sob a orientação de sua mãe, tornou-se um soberano piedoso e altruísta. Seus súditos o admiravam pela sua imparcialidade e algumas gravuras o mostram ministrando justiça sob um carvalho, numa floresta perto de Paris, recordando exatamente a qualidade que o caracterizava.
Aumentou, durante o seu reinado, o poder real à custa dos nobres , que, mesmo assim o respeitavam pela sua justiça. Ele organizou um sistema de controle para evitar abusos administrativos e, desta forma, fortalecer o poder central.
Instituiu assembléias judiciárias que, posteriormente viriam dar origem aos parlamentos.
Católico fervoroso, ele fez construir, em 1245/1248, a Sainte Chapelle, em Paris e organizou a sétima Cruzada contra o Egito, sendo capturado pelos muçulmanos em 1250.
Resgatado, após o pagamento de elevado resgate, ele passou os 4 anos seguintes na Síria, fortificando as posições ditas cristãs.
De volta a França, estabeleceu algumas medidas como a proibição do duelo judiciário, proibição do jogo e a instituição de penalidades para a blasfêmia.
É de sua iniciativa a construção da Sorbonne, que tantas personalidades ilustres formaria para a Humanidade, bem assim construiu o Hospício dos Quinze-Vingts.
Em 1270, empreendeu nova Cruzada. Ao desembarcar em Cartago, seu exército e ele próprio são vitimados pela peste.
Chamado de o “bom rei Luís” , referência que lhe faz , inclusive o Espírito perturbador da rua des Noyers (O Livro dos Médiuns, item 95), foi considerado um soberano ideal, admirado mesmo por seus inimigos pela sua integridade.
Nada menos que cinco mensagens se permitiu inserir o Codificador no cap. XXXI de O Livro dos Médiuns, da autoria de Luís IX, que assina São Luís e exorta os espíritas nos seguintes termos: “(…) Quanto mais modestos fordes, tanto mais conseguireis tornar-vos apreciados. Nenhum móvel pessoal vos faça agir e encontrareis nas vossas consciências uma força de atração que só o bem proporciona.
Por ordem de Deus, os Espíritos trabalham pelo progresso de todos, sem exceção. Fazei o mesmo, vós outros, espíritas.” (item VI)

Fonte: Enciclopédia Mirador Internacional, vol. 13, verbete: Luís IX.
Enciclopédia Delta Universal, vol. 9, verbete: Luís IX.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos, Rio de Janeiro, 1974.
KARDEC, Allan. O livro dos médiuns, Rio de Janeiro, 1986.
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo, Rio de Janeiro, 1987.
Fontes: Grandes vidas, grandes obras (Seleções do Reader’s Digest) , 1968.
KARDEC, Allan. A gênese. Rio de Janeiro, 1986.

Lázaro

Lázaro

Lázaro é a forma grega da abreviação hebraica lãzãr _ Eleazar – “Deus ajuda”.
É apresentado como irmão de Marta e Maria, residentes todos em Betânia, distante cerca de uma hora de Jerusalém. Era uma aldeia singela, cercada “por imensos campos de cevada, pequenos bosques de olivedos e figueiras”(1), no caminho de Jerusalém para Jericó.
A aldeia era um contraste à aspereza da Judéia, pelo verdor de que se revestia. Os declives eram cheios de folhagens, as casas brancas mostravam seus alpendres floridos e flores miúdas enfeitavam o tapete de relva verdejante.
Lázaro, como suas irmãs, amava Jesus e o dizia abertamente. Jesus era como um membro da família e recebido sempre com alegria. Quando o Mestre se encontra nas proximidades, é ali, na casinha risonha e franca que é recebido à porta pelo amigo, com efusivo abraço e o ósculo no rosto.
Em Betânia teve Jesus uma segunda família, no ninho de afeições que lhe oferecem os amigos. O amigo dedicado, Lázaro, lá estava. Era o único lugar onde o Galileu podia gozar algumas horas de sossego, de intimidade familiar _ era como se estivesse em casa. Lázaro é o grande e devotado amigo de Jesus.
É em Betânia, quando o Rabi narra ao amigo os últimos acontecimentos e explana sobre o futuro, enquanto a noite avança, que se deu o célebre episódio em que Jesus enfatiza a escolha da melhor parte, conforme narra Lucas no seu Evangelho, cap. 10:38-42.
Quando Lázaro adoeceu, no mês de shebat (fevereiro), Jesus se encontrava pregando na Peréia e as irmãs lhe remeteram um mensageiro. Foram dois dias de marcha e o recado foi breve: “Senhor, eis que está enfermo aquele que amas.”
O profeta de Nazaré o sossega, despedindo-o com a certeza de que aquela enfermidade não levaria à morte, antes era para a glória de Deus. Passados dois dias, Jesus empreende a jornada de retorno à Betânia, portanto, ao chegar ao seu destino Lázaro estava com 4 dias de sepultura, pois morrera na mesma data em que o mensageiro de Marta e Maria transmitira a Jesus o recado.
Por ser uma família distinta e estimada, havia muitas visitas na chácara de Betânia, quando a notícia da presença de Jesus O precede. Marta vai ao Seu encontro e na encruzilhada, à beira da povoação, avistando-O, fala-lhe: “Senhor, se estiveras aqui não teria morrido meu irmão.” Parece uma queixa e um velado pedido, que se reveste de leve esperança.
Não longe dali ficava o sepulcro de Lázaro, num rochedo da encosta. O acesso se dava por estreita escada rústica e uma escura galeria subterrânea, com um bloco de pedra, em forma de mó, tapando a boca do sepulcro.
Jesus pede a Marta que chame sua irmã e, acompanhado ainda por todos os judeus que estavam na casa àquela hora e seguiram Maria, o Mestre se dirige ao local onde o corpo do amigo estava encerrado.
Narra o evangelista que Jesus chorou. Embora os judeus tenham comentado que aquela era a demonstração do quanto o Rabi amava Lázaro, as Suas lágrimas sentidas e sinceras se deviam à constatação da ignorância de que os homens ainda eram portadores e conseqüentemente, muitas seriam as dores que os avassalariam por largo tempo empós.
Ao comando de Jesus, Marta manda abrir o túmulo. Um hálito pestífero se espalha pela vizinhança. Envolto em largas faixas embalsamadas de essências raras, o rosto coberto com um sudário, lá está o cadáver.
Ora o Mestre ao Pai e depois brada com voz vibrante: “Lázaro, vem para fora.”
Alguma coisa branca se move no fundo escuro da catacumba. Aproxima-se. Os contornos parecem mais nítidos. Caminha lentamente e, enrolado da cabeça aos pés nas faixas do embalsamamento, Lázaro responde a Jesus: “Eis-me aqui, Senhor!”
E quando a noite se fez, Lázaro é novamente o bom hospedeiro, andando, sorrindo, comendo do pão que todos comiam. Era o motivo de todas as alegrias. Ao mesmo tempo um motivo de terror.
Para aquela gente, ele se tornou um enigma. Quais seriam suas recordações daqueles 4 dias em que estivera no Vale da Morte? Mas ninguém ousava lhe perguntar as aventuras da misteriosa viagem.
Pelo desconhecimento da letargia, nas semanas que se seguiram, quase que não se falava de outra coisa em Jerusalém e arredores. Jesus nem tocara no cadáver. Apenas ordenara e Lázaro agora estava no meio deles, em perfeita saúde. Muitos o procuravam e ele se tornou alvo de curiosidade geral. Depois de verem a Lázaro, os curiosos iam ter com Jesus, contemplando com um misto de admiração e medo aquele homem de Nazaré, que dava ordens à própria morte, e a morte lhe obedecia.
Quando, uma semana antes de Sua morte na cruz, Jesus retorna a Betânia, narram João, Marcos e Mateus que a localidade fervilhava de peregrinos, por causa das celebrações da Páscoa judaica que se avizinhava.
Jesus foi convidado a jantar em casa de um tal Simão, chamado leproso. Talvez um daqueles que Ele curara em algum momento da Sua jornada de luz pela Terra.
Lázaro foi convidado, naturalmente, para tomar lugar à mesa do festim. Personagem tão distinto não poderia faltar. Entretanto, desde que o Amigo Celeste o trouxera de retorno à vida física, despertando-o do sono letárgico, Lázaro não é mais o mesmo. Tudo ao seu redor, a paisagem risonha, a casa confortável, a delícia da vida, tudo se tornou uma coisa sem importância.
Lázaro entendera a mensagem de Jesus. Os homens o temem porque percebem que o sangue palpita nas suas veias, seu corpo é quente, seus olhos brilham, seus lábios sorriem. Ele retornou “do outro lado”, mas dentro dele a vida canta “como esplende na paisagem colorida e na asa dos pássaros.” (3)
Em Lázaro há uma intensa alegria pois reconhece a verdade nas palavras de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim viverá, ainda que tenha morrido; e quem em vida crê em mim não morrerá eternamente.”
E o amigo de Betânia se dispõe a trabalhar com Jesus, no cortejo de espíritos da equipe do Espírito de Verdade. As suas páginas, A afabilidade e a doçura, Obediência e resignação, A lei de amor, O dever se encontram em O evangelho segundo o espiritismo, no capítulo IX, itens 6 e 8, capítulo XI, item 8 e no de número XVII, item 7, ditadas todas no período de 1861 a 1863 em Paris.
Bem se revela Lázaro como aquele que muito amou a Jesus, elegendo-O à condição de amigo e seguindo-O, na qualidade de Guia e Modelo, quando afirma: “O amor resume a doutrina de Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento por excelência…”
“…A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres; extingue as misérias sociais…Quando Jesus pronunciou a divina palavra _ amor, os povos sobressaltaram-se e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.” (O evangelho segundo o espiritismo, cap. XI, item 8)

Fonte: 1.Franco, Divaldo P. As primícias do reino, Sabedoria, 1967. cap. 16.
2.Teixeira, J. Raul. Quem é o Cristo, Fráter, 1997. cap. 11.
3.Salgado, Plínio. Vida de Jesus, Voz do Oeste, 1978. cap. LVII e LVIII.
4.Van Den Born, A.Dicionário enciclopédico da bíblia, Vozes, 1985.

Lacordaire

Lacordaire

Em junho de 1853, quando as mesas girantes e falantes agitavam os salões da Europa, depois de terem assombrado a América, em missiva a Mme. Swetchine, datada de Flavigny, ele escreveu: “Vistes girar e ouvistes falar das mesas? _ Desdenhei vê-las girar, como uma coisa muito simples, mas ouvi e fiz falar.
Elas me disseram coisas muito admiráveis sobre o passado e o presente. Por mais extraordinário que isto seja, é para um cristão que acredita nos Espíritos um fenômeno muito vulgar e muito pobre. Em todos os tempos houve modos mais ou menos bizarros para se comunicar com os Espíritos; apenas outrora se fazia mistério desses processos, como se fazia mistério da química; a justiça por meio de execuções terríveis, enterrava essas estranhas práticas na sombra.
Hoje, graças à liberdade dos cultos e à publicidade universal, o que era um segredo tornou-se uma fórmula popular. Talvez, também, por essa divulgação Deus queira proporcionar o desenvolvimento das forças espirituais ao desenvolvimento das forças materiais, para que o homem não esqueça, em presença das maravilhas da mecânica, que há dois mundos incluídos um no outro: o mundo dos corpos e o mundo dos espíritos.”
O missivista era Jean-Baptiste-Henri Lacordaire, nascido em 12 de maio de 1802, numa cidade francesa perto de Dijon.
A despeito de seus pais serem religiosos fervorosos, o jovem Lacordaire permaneceu ateu até que uma profunda experiência religiosa o levou a abraçar a carreira de advogado, na Teologia.
Completando os estudos no Seminário, na qualidade de professor pôde constatar o relativo descaso dos seus estudantes pela religião. No intuito de despertar a afeição pública para a Igreja, como colaborador do jornal L’Avenir, passou a lutar pela liberdade daquela da assistência e proteção do Estado.
Vigário da famosa Catedral de Notre-Dame, em Paris, a força da sua oratória atraía milhares de leigos para o culto.
Em 1839 entrou para a Ordem Dominicana na França, trabalhando pela sua restauração, desde que a Revolução Francesa a tinha largamente subvertido.
Discípulo de Lamennais, preocupou-se em afirmar que a união da liberdade e do Cristianismo seria a única possibilidade de salvação do futuro. Cristianismo, por poder dar à liberdade a sua real dimensão e a liberdade, por poder dar ao Cristianismo os meios de influência necessários para isto. Insistia que o Estado devia cercear seu controle sobre a educação, a imprensa, e trabalho de maneira a permitir ao Cristianismo florescer efetivamente dentro dessas áreas.
Foi Membro da Academia Francesa e o Codificador inseriu artigo a seu respeito na Revista Espírita de fevereiro de 1867, seis anos após a sua desencarnação, que se deu em 21 de novembro de 1861. Nele, reproduz extrato da correspondência que inicia o presente artigo, comentando: “Sua opinião sobre a existência e a manifestação dos Espíritos é categórica. Ora, como ele é tido, geralmente, por todo o mundo, como uma das altas inteligências do século, parece difícil colocá-lo entre os loucos, depois de o haver aplaudido como homem de grande senso e progresso. Pode, pois, ter-se senso comum e crer nos Espíritos.”
Em sessão realizada na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas em 18 de janeiro daquele ano, o médium “escrevente habitual” Morin, descreveu a presença do espírito do padre Lacordaire, como “um Espírito de grande reputação terrena, elevado na escala intelectual dos mundos (…) Espírita antes do Espiritismo (…)” e concluiu:
“Ele pede uma coisa, não por orgulho, por um interesse pessoal qualquer, mas no interesse de todos e para o bem da doutrina: a inserção na Revista do que escreveu há treze anos. Diz que se pede tal inserção é por dois motivos: o primeiro porque mostrareis ao mundo, como dizeis, que se pode não ser tolo e crer nos Espíritos. O segundo é que a publicação dessa primeira citação fará descobrir em seus escritos outras passagens que serão assinaladas, como concordes com os princípios do Espiritismo.”
Mas ele mesmo, Lacordaire, retornou de Além-Túmulo, para emprestar à obra da Codificação a sua inestimável e talentosa contribuição.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo encontramos 3 mensagens, ditadas no Havre e Constantina, todas datadas do ano de 1863, discorrendo sobre “O bem e mal sofrer” – cap. V, item 18; “O orgulho e a humildade” – cap. VII, item 11 e “Desprendimento dos bens terrenos” – cap. XVI, item 14.

João Maria Vianney (Cura D’Ars)

João Maria Vianney (Cura D’Ars)

João Maria Vianney nasceu em 8 de maio de 1786 em Dardilly, aldeia a dez quilômetros ao norte de Lyon. Foi o quarto filho do casal Mateus e Maria Vianney, que tiveram 7 filhos.
Desde os quatro anos, ele gostava de freqüentar a Igreja. Quando isso se tornou impossível, pelas perseguições que o Estado desencadeou, ele fazia suas orações habituais, todas as tardes, na casa dos pais.
Quando foi aberta uma escola, Vianney, adolescente a freqüentou durante dois invernos, porque ele trabalhava no campo sempre que o tempo permitia. Foi então que aprendeu a ler, escrever, contar e falar francês, pois em sua casa se falava um dialeto regional.
Foi na escola que se tornou amigo do padre Fournier, e aos poucos foi crescendo nele o desejo de se tornar sacerdote. Foi necessário muita insistência, pois o pai, de forma alguma, desejava dispensar braços fortes de que a terra necessitava.
Aos 20 anos ele seguiu para Écully, na casa de seu tio Humberto. Sabia ler, mas escrevia e falava francês muito mal. Além de aprimorar a língua pátria, precisou aprender latim, pois na época os estudos para o sacerdócio eram feitos em latim, bem assim toda a celebração litúrgica.
Em 28 de maio de 1811, com 25 anos de idade, na catedral Saint-Jean tornou-se clérigo de diocese. Por ter fama de ignorante perante os superiores, foi-lhe confiada a paróquia de Ars-en _Dombes, ou talvez porque lhe conhecessem a grandeza de alma.Em Ars, não havia pobres, só miseráveis.
João Maria Vianney chegou a Ars em uma sexta-feira, 13 de fevereiro de 1818. Veio em uma carroça trazendo alguns móveis e utensílios domésticos, alguns quadros piedosos e seu maior tesouro: sua biblioteca de cerca de trezentos volumes.
Conta-se que encontrou um pequeno pastor a quem pediu que lhe indicasse o caminho. A conversa foi difícil, pois o menino não falava francês e o dialeto de Ars diferia do de Écully. Mas acabaram por se compreenderem.
A tradição narra que o novo pároco teria dito ao garoto: “Tu me mostraste o caminho de Ars: eu te mostrarei o caminho do céu.”Um pequeno monumento de bronze à entrada da aldeia lembra esse encontro.
Ele mesmo preparava suas refeições. Apenas dois pratos: umas vezes, batatas, que punha para secar ao ar livre. Outras vezes, “mata-fomes”, grandes bolos de farinha de trigo escura. Um pouco de pão e água. Era o suficiente. Comia pouco.Quando lhe davam pão branco, trocava pelo escuro e distribuía o primeiro aos pobres.
Dizia: “Tenho um bom físico. Depois de comer não importa o quê e de dormir duas horas, estou pronto para recomeçar.”
O que mais ele valorizava era a caridade e a gentileza. Grandes somas ele dispendia auxiliando os seus paroquianos. Dinheiro que vinha da pequena herança de seu pai, que lhe enviara seu irmão Francisco e de doações de pessoas abastadas, a quem ele sensibilizava pela palavra e dedicação.
Por volta de 1830, era muito grande o afluxo de pessoas que se dirigia a Ars. Os peregrinos não tinham outro objetivo senão ver o pároco e, acima de tudo, poder confessar-se com ele. Para conseguir, esperavam horas…às vezes, a noite inteira.
Esse pároco que dormia o mínimo para atender a todos, madrugada a dentro. Que vivia em extrema pobreza e austeridade, vendendo móveis , roupas e calçados seus para dar a outrem.
Comovia-se com a dor alheia. Quando se punha a ouvir os penitentes que o buscavam, mais de uma vez derramava lágrimas como se estivesse chorando por si próprio. Dizia: “Eu choro o que vocês não choram.”
Tanto trabalho, pouca alimentação e repouso, foram cansando o velho Cura. Ele desejava deixar a paróquia para um pouco de descanso. Mas os homens e mulheres da aldeia fizeram tal coro ao seu redor, que ele resolveu permanecer.
Ele, que em sua juventude, fora ágil, agora andava arrastando os pés. Nos dias de inverno, sentia muito frio.
Em 1859, numa quinta feira do mês de agosto, dia 4, às duas da madrugada, ele desencarnou tranqüilamente.
Dois dias antes, já bastante debilitado fora visto a chorar. Perguntaram-lhe se estava muito cansado.
“Oh, não”, respondeu. “Choro pensando na grande bondade de Nosso Senhor em vir visitar-nos nos últimos momentos.”
João Maria Vianney comparece na Codificação com uma mensagem em O Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu capítulo VIII, item 20, intitulada “Bem-aventurados os que têm fechados os olhos”, onde demonstra a humildade de que se revestia, o conceito que tinha das dores sobre a face da Terra e o profundo amor ao Senhor da Vida.

Fonte: Joulin, Marc. João Maria Vianney, o cura d’Ars. PAULINAS, 1990; Kardec, Allan.
O evangelho segundo o espiritismo. FEB, 1987.

João Evangelista

João Evangelista

Da família Zebedeu, ou Zabdias, de um “pescador bem-sucedido e empresário de vários barcos” (4), foram escolhidos por Jesus dois apóstolos: Tiago Maior e João. A cidade era a pequena Betsaida.
Segundo Ernest Renan, “eles estavam imbuídos de energia e paixão. Jesus os havia apelidado, com graça, de `filhos do trovão’, por causa do zelo excessivo com que, muitas vezes, teriam feito uso do raio se dele pudessem dispor.” (4)
João era adolescente, portanto idealista. Com Tiago, seu irmão, e Pedro forma um comitê íntimo que se faz presente em momentos muito especiais, durante a trajetória terrena de Jesus.
Os irmãos conheciam as pregações do Batista e foi no Tiberíades, no dia em que a primavera bordava rendados pela praia, que o Rabi os convidou a participar das alegrias da Boa-Nova, transformando-se em “pescadores de homens”. (4)
Humberto de Campos, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, os descreve como “de temperamento apaixonado. Profundamente generosos, tinham carinhosas e simples, ardentes e sinceras as almas.” (3)
Magnetizados pelo olhar enérgico e carinhoso de Jesus, aderem ao sublime convite. No idealismo quente da sua juventude, João falava de seus planos de renovar o mundo, de pregar o Evangelho às nações. Sentia-se forte e bem disposto.
Mais tarde, ao derramar a cornucópia da sua saudade no seu Evangelho, ele falaria dos tantos momentos de êxtase e aprendizado com Jesus.
Ao descrever o encontro do Mestre com Nicodemus, demonstra, com certeza, ter sido testemunha ocular. Uma testemunha que talvez estivesse à porta, como quem se encontra à espreita, velando pela eventual proximidade de alguém que pudesse surpreender o esclarecedor colóquio entre o Rabi Galileu e o doutor da lei.
Quando narra o episódio das Bodas de Caná, João parece reviver o adolescente, maravilhado ante um Rabi pleno de sabedoria, que abençoa a união esponsalícia com a água lustral da Sua presença e a doçura do Seu amor.
Com Jesus, ele adentra “a casa de Jairo, o chefe da sinagoga, cuja filha se encontrava nas malhas da agonia…” (1) Há pouco, surpreendera o olhar agradecido de Verônica, a hemorroíssa, curada ao tocar o manto do Mestre.
E quando agosto “derrama sua taça de luz e calor sobre a terra” (1), ele acompanha o Rabi na íngreme subida de 562 metros até o cume do Tabor. Após as 4 horas de marcha, ele dorme junto a Pedro e Tiago. A canícula, o cansaço os vence.
Na madrugada que avança, vozes vibram no ar. A visão sublime de Jesus, com as vestes brilhantes, dialogando com Moisés e Elias, o faria mais tarde, evocando a cena inesquecível, iniciar a sua narrativa evangélica, escrevendo: “Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens, a luz resplandecente nas trevas e as trevas não a compreenderam.” (1)
O seu Evangelho foi especialmente dirigido aos cristãos que já conheciam a Mensagem. É o Evangelho espiritual, no dizer do espírito Amélia Rodrigues.
João, jovem, assiste com Maria, os instantes de agonia e morte do seu Mestre e Senhor, a cuja dedicação Jesus entrega sua mãe: “Filho, eis aí a tua mãe!” E desencumbiu-se da missão, oferecendo-lhe “o refúgio amoroso de sua proteção”.(3)
João foi com Pedro à Samaria, depois da ascensão de Jesus, e mais tarde voltou a Jerusalém, trabalhando na Casa do Caminho. Mereceu a prisão com Pedro e, libertado, prosseguiu nas atividades.
Após se instalar em Éfeso, busca Maria e a abriga em sua casa, doada por membro da família real de Adiabene. “No alto da pequena colina, distante dos homens e no altar imponente da Natureza, se reuniriam ambos para cultivar a lembrança permanente de Jesus. Estabeleceriam um pouso e refúgio aos desamparados, ensinariam as verdades do Evangelho a todos os espíritos de boa vontade e, como mãe e filho, iniciariam uma
nova era de amor, na comunidade universal.” (3)
Perseguido por Domiciano, foi enviado para Roma, sendo depois exilado na ilha de Patmos, onde teve ocasião de escrever o Apocalipse. Depois da morte de Domiciano, voltou para Éfeso e aí morreu quase centenário.
É o único dos apóstolos a desencarnar de forma natural. A ele são atribuídas também 3 epístolas: a primeira dirigida aos fiéis da Ásia menor e que, segundo alguns, parece ter sido escrita como prefácio ao quarto Evangelho; a segunda à senhora Electa e seus filhos, qualificando-o alguma Igreja na Ásia menor e a terceira, a Gaio, um rico cristão. É uma carta íntima e repleta de gratidão.
No ocaso do século XII, João retorna ao cenário do mundo, na figura de Francesco Bernardone, para se tornar “o pobre de Assis”.
“Francisco, ao largo da sua trajetória corporal, tudo de si investiu para que o modelo crístico fosse a sua referência, na sede que demonstrava de segui-lo, de imitá-lo.
Trabalhou, sofreu, chorou muito, sem que tivesse imposto a ninguém qualquer dor, qualquer sofrimento. Ao contrário, ocultava suas lágrimas pessoais, quando se tratava de atender a terceiros. Ele conhecia e convivia com o Espírito do Cristo, mas entendia que o semelhante deveria ver o Cristo por meio das suas ações amorosas.” (2)
Como o cantador de Deus, escreveu os doces versos que o espírito Camilo denomina A carta magna da Paz, que inicia com o “Senhor, faze-me um instrumento da tua paz… Daí, desdobram-se rogativas corajosas e estelares, desvelando a pujança das acrisoladas virtudes do Pobrezinho, virtudes que marcariam sua existência até os momentos finais da sua vida terrena.” (2)
É este mesmo João/Francisco/Amor que assina em primeiro lugar os “Prolegômenos” de O livro dos espíritos. O instrumento de Deus atende, outra vez, ao chamado do Pastor e vem oferecer ao mundo o Consolador.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. VIII, item 18, recorda a doçura do encontro de Jesus com as crianças em que o Príncipe da Paz se detém a atendê-las. Nas suas linhas podemos reconhecer o autor do 4º Evangelho e especialmente quando assim se expressa, referindo-se ao Mestre: “Ele foi o facho que ilumina as trevas, a claridade material que toca a despertar.(…)”

Fonte: 1. Franco, Divaldo P. As primícias do reino, Sabedoria, 1967, cap. 12, 15 e 22.
2. Teixeira, J. Raul. A carta magna da paz,Fráter, 2002.
3. Xavier, Francisco Cândido. Boa nova, FEB, 1963, cap. 4 e 30.
4. Renan, Ernest. Vida de Jesus, Martin Claret, 1995, cap. 9.
5. Reader’s Digest. Depois de Jesus. O triunfo do cristianismo, 1999,cap. 1, 2, 3

Joana d’Arc

Joana d’Arc

A França era um país curvado ao poderio inglês. Não era propriamente um país como hoje é conhecido. Constituía-se de vários feudos.
E foi numa aldeia ignorada até então que, em 1412 nasceu uma criança que se tornaria célebre e célebre faria Domremy.
Filha de pobres lavradores, aprendeu a fiar a lã junto com sua mãe e guardava o rebanho de ovelhas. Teve três irmãos e uma irmã. Não aprendeu a ler, nem a escrever, pois cedo o trabalho lhe absorveu as horas.
A aldeia era bastante afastada e os rumores da guerra demoravam a chegar. Finalmente, um dia, Joana d’Arc tomou contato com os horrores da guerra, quando as tropas inglesas se aproximaram e toda a família precisou fugir e se esconder.
Aos 12 anos começou a ter visões. Era um dia de verão, ao meio-dia. Joana orava no jardim próximo à sua casa, quando escutou uma voz que lhe dizia para ter confiança no Senhor. A figura que ela divisou, identificou como sendo a do arcanjo São Miguel. As duas mensageiras espirituais que o acompanhavam , como Catarina e Margarida, santas conforme a Igreja que ela freqüentava.
Eles lhe falam da situação do país e lhe revelam a missão. Ela deve ir em socorro do Delfim e coroá-lo rei de França.
Durante 4 anos, ela hesitou e a história de suas visões começou a se espalhar. Ao alvorecer de um dia de inverno, ela se levanta. Está decidida. Prepara uma ligeira bagagem, um embrulhozinho, um bastão de viagem, murmura adeus aos seus pais e parte. Nunca mais aquela aldeia da Lorena a verá.
Igreja, de conviver com homens nos campos de batalha, de manejar a espada.
O objetivo era provar que Joana era uma enviada do demônio. Consequentemente, se desmoralizaria o rei Carlos VII. Afinal, que espécie de rei era aquele que se deixara enganar por uma bruxa ?
Durante 6 meses ela é submetida a uma verdadeira tortura moral. Os interrogatórios são longos , cansativos. Finalmente, a execução se dá na praça central de Roeun, no dia 30 de maio de 1431.
Seu cabelo foi raspado e, por temerem a reação do povo, 120 homens armados a escoltam até o local. Ela é atada a um poste e a fogueira é acesa.
Quando as chamas a envolvem e lhe mordem as carnes, ela exclama: “Sim, minhas vozes eram de Deus! Minhas vozes não me enganaram.”
Era a prova inequívoca da mediunidade que lhe guiara a trajetória terrena.
No capítulo XXXI de O livro dos médiuns, vindo a lume no ano de 1861, quando o Codificador reúne Dissertações Espíritas, confere à de Joana D’Arc o número 12, onde ela se dirige aos médiuns, em especial, concitando-os ao exercício do mediunato.
Recomenda-lhes, ainda, que confiem em seu anjo guardião e que lutem contra o escolho da mediunidade que é o orgulho.
Conselhos que ela, em sua vida terrena, na qualidade de médium, muito bem seguira.

Fonte: Joana D’Arc, médium – Léon Denis.
Grandes personagens da História Universal, vol. 2.

Jean-Jacques Rousseau

Jean-Jacques Rousseau

Seu nome é lembrado toda vez que ocorrem estudos biográficos do Codificador. Jean Henri Pestalozzi, o educador atento e homem íntegro, assimilou o pensamento de Rousseau, a partir do contato que teve com a sua obra capital: Émile ou de l’Éducation. E foi por intermédio de Yverdun e de Pestalozzi que Rivail abeberou-se na doutrina da natureza de Rousseau.
Esse homem estranho, que tem seu nome estreitamento ligado à área pedagógica, foi romancista, memorialista, teórico social e político e um ideólogo.
Nascido em Genebra, na Suíça, a 28 de junho de 1712, até os seus 38 anos, era conhecido apenas como músico. Órfão de mãe ao nascer, com apenas 10 anos de idade foi entregue aos cuidados de um pastor, em Bossey, retornando a sua cidade natal dois anos depois e ali, foi aprendiz de gravador.
Peregrinando entre a Suíça e a França, tornou-se professor de música em Lausanne e Chambéry, e aos 19 anos, deslumbrou-se com a capital parisiense. Conseguindo quem o amparasse, na qualidade de protetores, entre os quais Mme. de Warens, da cidade de Chambéry, chegou a acompanhar o embaixador da França a Veneza, na qualidade de secretário.
Dedicado à música, teve recusado seu projeto de uma nova notação musical, apresentado na Academia de Ciências, em Paris. O sucesso musical seria alcançado em 1750, quando foi premiado, pela Academia de Dijon, o seu ensaio, Discurso sobre as ciências e as artes. A partir daí, suas novas produções teatrais e musicais são melhor acolhidas. No Discurso premiado, Rousseau responde à pergunta proposta pela Academia de Dijon, em concurso: se o progresso das ciências e das letras concorreu para corromper ou depurar os costumes, onde afirma a primeira alternativa. Foi um contestador da sociedade tal como era organizada.
Quatro anos depois, no seu Discurso sobre a desigualdade entre os homens, afirmaria que a desigualdade e a injustiça eram os frutos de uma hierarquia mal constituída, que a organização social não corresponde à verdadeira natureza humana, corrompendo-a e sufocando o seu potencial.
No campo da música Rousseau escreveu a ópera-balé As musas galantes e a ópera cômica, O adivinho da aldeia.
Foi amigo dos enciclopedistas, entre os quais Diderot e Grimm, com os quais romperia mais tarde, tornando-se objeto de hostilidades tanto do governo como dos seus ex-amigos enciclopedistas, chegando a ter sua prisão decretada, o que o fez refugiar-se na Suíça, depois na Inglaterra.
Rousseau foi a mais profunda influência sobre o pré-romantismo, encontrando-se os traços dessa influência no romantismo francês de Chateaubriand, Lamartine e Victor Hugo, bem assim inspirou personagens de Goethe, de Foscolo, bem como personagens de Byron. Seu romance de amor, A nova Heloísa, publicado em 1761 teve um sucesso extraordinário. Ao mesmo tempo romance filosófico, exalta a pureza em luta contra uma ordem social corrompida e injusta. Descreve um amor irrealizado. Possivelmente o retrato do que ele mesmo viveu.
No ano seguinte, surgiram suas obras mais discutidas: Do contrato social e Emílio ou da Educação. Na primeira, Rousseau apresenta o Estado ideal como resultante de um acordo comum entre os seus membros. Para esse acordo, faz-se necessário se estabeleçam obrigações. Para se tornarem cidadãos, os indivíduos devem ceder algumas de suas prerrogativas. A vontade geral, que é a da coletividade, é a que deve prevalecer. É um Estado que garante os direitos dos cidadãos.
Em Emílio, em forma romanesca, Rousseau imagina a educação de um jovem. É o processo da formação do indivíduo, que deveria ser ensinado a ver com “os próprios olhos”. Afirmava ali, o pedagogo francês: “… a educação do homem começa no seu nascimento; antes de falar, antes de escutar, ele já se instrui. A experiência precede as lições; no momento em que ele conhece a sua ama de leite, ele já adquiriu muito.”
Se considerarmos a idéia da pré-existência da alma e o Espírito reencarnante presente no processo gestatório, desde a fecundação, o pensamento de Rousseau ganha maior significado. Para ele, a educação é um processo espontâneo, natural, particularizando a necessidade do contato com a natureza. Mais do que conhecer, o ser necessita ser capaz de discernir.
A respeito de Deus, na última parte da obra, resume Rousseau: “Esse Ser que quer e que pode, esse Ser, ativo por si mesmo, esse Ser, enfim qualquer que seja, que move o universo e ordena todas as coisas, eu o chamo Deus. Acrescento a esse nome as idéias reunidas de inteligência, de poder, de vontade, e a de bondade, que é uma conseqüência necessária; apesar disto não conheço melhor o Ser que assim classifico; ele se furta, tanto aos meus sentidos como ao meu entendimento; quanto mais penso nele, mais me confundo; sei com muita certeza que ele existe, e que existe por si mesmo; sei que minha existência é subordinada à sua, e que todas as coisas que conheço se encontram absolutamente no mesmo caso. Percebo Deus por toda parte em suas obras; sinto-o em mim, vejo-o à minha volta; mas tão logo quero contemplá-lo em si mesmo, tão logo quero procurar onde está, o que é, qual a sua substância, ele me escapa, e meu espírito perturbado não percebe mais nada.”
A sua obra mais delicada e de emoção mais tranqüila, denomina-se Devaneios de um passeante solitário. Referir-se-ia porventura, o escritor à sua breve passagem pela Terra? Exatamente à transitoriedade da encarnação? Ao escrevê-lo já se encontra enfermo, mas ainda sensível à beleza natural da vida. Queixa-se da incompreensão de todos, afirma-se amigo da Humanidade desprezado pelos homens e dá uma imagem idílica da natureza. É seu testamento final. O dia 2 de julho de 1778 assinala o término da sua jornada terrena na personalidade de Jean-Jacques Rousseau. Contava 66 anos de idade.
Na Doutrina Espírita, que surgiria na Terra, quase 80 anos depois, Rousseau teria saciada sua fome e sede de justiça, igualdade e conhecimento. Eis como ele se expressa em mensagem inserida em O Livro dos Médiuns, pelo Codificador: “Penso que o Espiritismo é um estudo todo filosófico das causas secretas dos movimentos interiores da alma, até agora nada ou pouco definidos.
Explica, mais do que desvenda, horizontes novos.
A reencarnação e as provas, sofridas antes de atingir o Espírito a meta suprema, não são revelações, porém uma confirmação importante. Tocam-me ao vivo as verdades que por esse meio são postas em foco. Digo intencionalmente _ meio _ porquanto, a meu ver, o Espiritismo é uma alavanca que afasta as barreiras da cegueira.
Ressuscitando o espiritualismo, o Espiritismo restituirá à sociedade o surto, que a uns dará a dignidade interior, a outros a resignação, a todos a necessidade de se elevarem para o Ente supremo, olvidado e desconhecido pelas suas ingratas criaturas.”

Fonte: Kardec, Allan. O livro dos médiuns. FEB, 1986. pt. 2, cap. XXXI, item 3.
Rivail, Hippolyte Léon Denizard. COMENIUS, 1998.
Enciclopédia Mirador Internacional, vol. 18.
Moreil, André. Vida e obra de Allan Kardec. EDICEL, 1986.
Incontri, Dora. Pestalozzi, educação e ética. SCIPIONE, 1996.

Jean Baptiste Massillon

Jean Baptiste Massillon

Sacerdote católico, nasceu em Hyères a 24 de junho de 1663.
Inicialmente foi encaminhado para a área do direito, revelando-se, contudo, sua vocação para o sacerdócio. Ordenou-se padre e como excelente orador, ensinou retórica em colégios do sul da França.
Foi em 1691 que se tornou famoso, após proceder a oração fúnebre do arcebispo de Vienne e dois anos depois do arcebispo de Lyon.
Foi para um mosteiro, objetivando ali viver. Mas, em 1696 foi chamado a Paris para dirigir o Seminário de Saint Magloire.
Foi pregador do Advento na corte em 1699 e das Quaresmas de 1701 e 1704, consolidando ainda mais sua fama de orador.
Em 1709 ele profere a oração fúnebre do príncipe de Conti, em 1711 a do Grande Delfim. Em 1714, a de Luís XIV.
Nomeado bispo de Clermont, em Auvergne, três anos depois, haveria de proferir célebres sermões perante Luís XV. Posteriormente, tais sermões seriam reunidos para compor a obra Pequena Quaresma.
Em 1719 a Academia Francesa o recebe. Daí, até o dia da sua morte, em Beauregard a 18 de setembro de 1742 ele não mais sairia de sua diocese.
Representante clássico do moralismo, seus sermões foram muito apreciados por Voltaire e outros iluministas, como modelos de estilo e pela ausência de religiosidade dogmática.
Em O Livro dos Médiuns, 2ª parte, cap. XXXI, item XXV , o Codificador inseriu uma comunicação de Massillon, assinalando-a como de caráter instrutivo e verdadeiramente sério.

Fonte: Enciclopédia Mirador Internacional vol. 10;
O Livro dos Médiuns, 2ª parte, cap. XXXI, item XXV.

Henri Heine

Henri Heine

Seu nome em alemão era Heinrich Heine. Assina a mensagem inserida em O Evangelho segundo o espiritismo, no item 3 do capítulo XX, intitulada “Os últimos serão os primeiros”.
Nasceu em Düsseldorf em 13 de dezembro de 1797, de família judaica. Seu destino era o comércio e por isso foi encaminhado pelo pai a um tio banqueiro em Hamburgo. Logo verificou-se que ele não tinha dom para a atividade e o tio o remeteu a Bonn, a fim de estudar direito. Mas o jovem Harry como era chamado então, interessou-se pelos assuntos literários e abraçou os cursos de literatura.
Berlim foi seu ambiente mais propício, permitindo-lhe freqüentar os salões literários e seguir a filosofia política de Hegel. Poeta e jornalista, ficou famoso pelos poemas e livros de viagens. Desgostoso pelo clima anti-semita do país, emigrou para Paris no ano de 1831.
Ali se tornaria correspondente de grandes jornais alemães. Foi um dos mais inquietos e polêmicos jornalistas de seu tempo. Para o Jornal Geral de Augsburgo descrevia quadros da vida francesa, sendo seus temas constantes o parlamento, a imprensa, o mundo artístico, o teatro e a música.
Sua influência foi enorme dentro e fora da Alemanha. Na segunda metade do século XIX todos os poetas alemães pareciam heinianos.
Sua poesia é de um lirismo melancólico de início. Seus poemas sentimentais são cheios de infelicidade e lamentações amorosas. Alguns poemas de amor conquistaram fama universal, sendo depois musicados por Schubert , Schumann e muitos outros compositores.
Escreveu poemas dedicados ao mar, em versos livres. E por fim, a poesia política, tangendo versos que retratavam situações da época como Os Tecelões, poema inspirado pela greve dos tecelões esfomeados da Silésia.
Como prosador é considerado um dos mais ágeis da literatura de língua alemã, em qualquer tempo. Suas obras mais ambiciosas são A escola romântica e Sobre a história da religião e da filosofia na Alemanha. Nesse último, Heine parece querer completar o livro de Mme de Stäel sobre a Alemanha, tentando mostrar aos franceses o pensamento estético e filosófico do seu país. Nele está estampada a profecia de um despertar revolucionário da consciência alemã e, sobretudo, a crença do poeta na importância universal do pensamento de Hegel.
Sofreu dificuldades financeiras, enfrentou conflitos políticos e a doença acabou por vitimá-lo. Sofreu uma paralisia que o conduziu à morte em 17 de fevereiro de 1856, em Paris.
A mensagem que se encontra em O Evangelho segundo o espiritismo é datada de 1863, também em Paris.

Galileu Galilei

Galileu Galilei

“Pelas belas noites estreladas e sem luar, toda gente há contemplado essa faixa esbranquiçada que atravessa o céu de uma extremidade a outra e que os antigos cognominaram de Via-Láctea, por motivo da sua aparência leitosa.(…)
É desta forma poética que inicia o item 32 de o capítulo VI de A Gênese que, conforme nota de rodapé assinala que foi “textualmente extraído de uma série de comunicações ditadas à Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e 1863, sob o título _ Estudos uranográficos, e assinadas GALILEU” , servindo como médium Camille Flammarion.
Reencontramos no capítulo aludido o mesmo entusiasmo do Galileu estudioso que um dia tomou do telescópio que construíra e que encurtava trinta e três vezes a distância do objeto, a quem ele chamou “Velho Descobridor”, e virando-o para o céu, viu saltar- lhe aos olhos o maior dos espetáculos acessíveis à vista dos homens: o panorama extraordinário do Infinito, com suas estradas iluminadas por inumeráveis sóis. Naquela noite memorável, Galileu extasiado verificou que o que parecia simplesmente, a olho nu, um véu nebuloso, era uma faixa de estrelas, com inúmeras outras espiando, curiosas, por entre elas. Nascia, então, a Astronomia moderna.
Foi aos 17 anos que Galileu Galilei, nascido a 18 de fevereiro de 1564, em Pisa, na Itália, teve sua atenção desperta para o lampadário da abóbada da Catedral de sua cidade natal. Alguém o puxara para um lado a fim de acendê-lo e tendo-o largado, o lampadário oscilou em silêncio sobre a cabeça dos fiéis, descrevendo arcos que aos poucos foram se tornando mais curtos.
Galileu esqueceu de orar, esqueceu dos propósitos que o haviam conduzido à Igreja e com espírito de observação, mediu o tempo de cada oscilação pelo seu próprio pulso.
Sua família chegou a perder a paciência com o rapazote, tantas foram as experiências que ele fez a partir de então com pêndulos, suspendendo-os nas traves do teto e nos ramos das árvores. O resultado foi a invenção de um pêndulo que se podia sincronizar com o pulso humano e que os médicos passaram a adotar para medir as pulsações dos doentes.
Por insistência do pai, foi estudar Medicina na Universidade de Pisa, depois de ter fracassado como ajudante na loja da família. Foi também seu pai que, amante da música, o ensinou a tocar alaúde e órgão. Galileu chegou a ganhar notoriedade como pintor.
Estudando sozinho, descobriu Arquimedes, o maior de todos os matemáticos e filósofos gregos, e a partir daí, inventou uma balança hidrostática. Teve a coragem de refutar Aristóteles provando não só que os corpos, independente de seu peso, caem com uma velocidade que se vai acelerando, como também que a aceleração da queda é uniforme.
Deu à Física um conceito novo, o da inércia , ou seja, a tendência que têm os corpos a ficar em repouso, ou, quando em movimento, a continuar se deslocando em linha reta, na mesma velocidade, a não ser que uma força externa exerça sobre eles alguma ação.
Aos 24 anos era professor de Matemática na Universidade de Pisa, cargo que perdeu por defender suas idéias. Sofreu perseguições, diminuíram-lhe o salário e ele acabou por se demitir.
Em 1592 a República de Veneza o convidou a ensinar na Universidade de Pádua. Durante 18 anos, com um ordenado que podia ser considerado bom, e num ambiente de liberdade intelectual, Galileu inventou uma régua para cálculos, um transferidor, desenhou fortificações e máquinas para o cerco das cidades e pontes.
Eram tantos os seus alunos que ele era obrigado a ensinar ao ar livre. Finalmente, a Inquisição estendeu o seu ignorante braço e proibiu Galileu de ensinar as suas teorias, porque os movimentos celestiais revelados pelas lentes do seu telescópio e sua inteligência eram contrários às Escrituras.
Durante 16 anos ele se submeteu. Então, decidiu dar à luz os seus Diálogos sobre os Sistemas Principais, um debate entre as teorias de Ptolomeu e de Copérnico.
O Papa Urbano VIII viu sua própria caricatura em um dos personagens e Galileu recebeu ordem de suspender a venda do livro, que , contudo, já se espalhara por toda a Europa.
Aos 70 anos, sofrendo de hérnia dupla e palpitações cardíacas, Galileu compareceu frente à banca examinadora de cardeais, em Roma. Ameaçaram-no das maiores torturas e, ao fim de 4 meses, ele foi obrigado a se ajoelhar e ler em voz alta, a refutação das idéias de Copérnico.
Seu livro foi incluído no Índex e ele, condenado à prisão perpétua. Graças à intercessão do Duque de Toscana, saiu da masmorra onde estava apodrecendo e ficou detido até sua morte, oito anos depois, em sua casa, sempre espionado.
Mesmo assim, sábios do Mundo inteiro iam à sua casa em massa. Com a luz dos olhos diminuindo e com risco de sua própria vida, o grande gênio se permitiu escrever e entregar, para publicação em países onde reinasse a liberdade de pensamento, fragmentos do livro Diálogos sobre duas novas ciências, obra que o torna o fundador da Física experimental.
No ano em que nascia Isaac Newton, 1642, Galileu expirou, cego e prisioneiro. Os penetrantes olhos azuis daquela águia acorrentada fechavam-se para o mundo físico, a fim de que seus olhos espirituais pudessem perscrutar com total liberdade a majestade das leis naturais, liberto das superstições da sua época.
Com certeza, por isso contribui tão maravilhosamente na quinta obra da Codificação, encerrando o capítulo discorrendo a respeito da diversidade dos mundos, apresentando-os como “… pedrarias variegadas de um imenso mosaico, as diversificadas flores de admirável parque.”
Parque onde ele dizia ele, Deus se revela a cada instante e que as criaturas humanas poderemos enxergar através da luneta da ciência, que “não pode deixar de progredir.”

Fonte: Grandes vidas, grandes obras (Seleções do Reader’s Digest), 1968.
KARDEC, Allan. A gênese. Rio de Janeiro, 1986.

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