Categoria: Grandes Vultos do Espiritismo

Zilda Gama

Zilda Gama

Zilda Gama foi uma das mais celebradas médiuns do Brasil.
Nasceu em 11 de Março de 1878, em Três Ilhas, Município de Juiz de Fora – MG, e desencarnou em 10 de Janeiro de 1969, no Rio de Janeiro – RJ.
Zilda Gama viveu quase 91 anos, tornando-se paradigma para todos os que encaram a mediunidade como sacerdócio lídimo e autêntico.
Incontestavelmente, os grandes medianeiros que têm servido de ponte entre os mundos material e espiritual, no trabalho meritório de descortinar novos horizontes para a conturbada humanidade terrena, foram missionários, podendo-se mesmo afiançar que na constelação dos médiuns que brilharam na Terra, prodigalizando aos homens novos conhecimentos e preparando o terreno para a implantação da verdade, Zilda Gama brilhou de modo fulgurante, cabendo-lhe uma posição das mais proeminentes.
Ainda jovem, com apenas 24 anos, ficou órfã dos pais, tendo que assumir a direção da casa, cuidando de cinco irmãos menores e posteriormente de outros cinco sobrinhos órfãos.
Foi professora e diretora de escola, sendo agraciada em concursos promovidos pela Secretaria de Educação de Minas Gerais.
Em 1931, quando no Brasil houve intenso movimento em prol dos direitos femininos, Zilda Gama foi autora da tese sobre o voto feminino, no Congresso. Essa tese foi aprovada oficialmente.
Escreveu contos e poesias para vários jornais, destacando-se o “Jornal do Brasil”, a “Gazeta de Notícias” e a “Revista da Semana”, todos da antiga capital federal.
Ainda jovem, Zilda Gama começou a perceber a presença dos Espíritos. Recebeu mediunicamente mensagens de seu pai e de sua irmã, já desencarnados, que a aconselhavam e a consolavam nos momentos de provações difíceis pelos quais estava passando.
Em 1912 recebeu interessante mensagem assinada por Allan Kardec. Após essa manifestação, o Codificador propiciou-lhe outros ensinamentos, os quais foram impressos no livro “Diário dos Invisíveis”, publicado em 1929.
Em 1916 os Benfeitores informaram-lhe que passaria a psicografar uma novela, fato que a deixou bastante perplexa. O Espírito Victor Hugo passou, então a escrever por seu intermédio. Dentro de pouco tempo, a primeira obra “Na Sombra e na Luz” estava completa. Posteriormente, sob a tutela do mesmo Espírito, vieram os livros “Do Calvário ao Infinito”, “Redenção”, “Dor Suprema” e “Almas Crucificadas”, todas publicadas pela FEB.
Os livros mediúnicos de Zilda Gama fizeram época na literatura espírita, além de terem o mérito de suavizar muitas dores e estancar muitas lágrimas. Foi a pioneira, no Brasil, a receber tão vasta literatura do mundo espiritual.
Outras publicações foram produzidas pela sua mediunidade: “Solar de Apolo”, “Na Seara Bendita”, “Na Cruzada do Mestre” e “Elegias Douradas”.
Didata por excelência, organizou os seguintes livros: “O Livro das Crianças”, “Os Garotinhos”, “O Manual das Professoras” e “O Pensamento”.
Não obstante as grandes lutas morais que teve que sustentar, Zilda Gama se constituiu na orientadora de muitas criaturas.
Em 1959, após sofrer derrame cerebral, viveu numa cadeira de rodas, assistida pelo sobrinho Mário Ângelo de Pinho, que lhe fazia companhia.
Zilda Gama, alma de escol, dedicou toda sua longa existência ao propósito de difundir no Brasil a Consoladora Doutrina dos Espíritos.

Livro: Personagens do Espiritismo
Autor: Antonio de Souza Lucena e Paulo Godoy
Editora: Edições FEESP

Yvonne do Amaral Pereira

Yvonne do Amaral Pereira

Yvonne do Amaral Pereira nasceu na antiga Vila de Santa Tereza de Valença, hoje Rio das Flores, sul do estado do Rio de Janeiro, às 6 horas da manhã. O pai, um pequeno negociante, Manoel José Pereira Filho e a mãe Elizabeth do Amaral Pereira. Teve 5 irmãos mais moços e um mais velho, filho do primeiro casamento da mãe.
Aos 29 dias de nascida, depois de um acesso de tosse, sobreveio uma sufocação que a deixou como morta (catalepsia ou morte aparente). O fenômeno foi fruto dos muitos complexos que carregava no espírito, já que, na última existência terrestre, morrera afogada por suicídio. Durante 6 horas permaneceu nesse estado. O médico e o farmacêutico atestaram morte por sufocação. O velório foi preparado. A suposta defunta foi vestida com grinalda e vestido branco e azul. O caixãozinho branco foi encomendado. A mãe se retirou a um aposento, onde fez uma sincera e fervorosa prece a Maria de Nazaré, pedindo para que a situação fosse definida, pois, não acreditava que a filha estivesse morta. Instantes depois, a criança acorda aos prantos. Todos os preparativos foram desfeitos. O funeral foi cancelado e a vida seguiu seu curso normal.
O pai, generoso de coração, desinteressado dos bens materiais, entrou em falência por três vezes, pois favorecia os fregueses em prejuízo próprio. Mais tarde, tornou-se funcionário público, cargo que ocupou até sua desencarnação, em 1935. O lar sempre foi pobre o modesto, conheceu dificuldades inerentes ao seu estado social, o que, segundo ela, a beneficiou muito, pois bem cedo alheou-se das vaidades mundanas e compreendeu as necessidades do próximo. O exemplo de conduta dos pais teve influência capital no futuro comportamento da médium. Era comum albergar na casa pessoas necessitadas e mendigos.
Aos 4 anos já se comunicava audio-visualmente com os espíritos, aos quais considerava pessoas normais encarnadas. Duas entidades eram particularmente caras: O espírito Charles, a quem considerava pai terreno real, devido a lembranças vivas de uma encarnação passada, em que este espírito fora seu pai carnal. Charles, o espírito elevado, foi seu orientador durante toda a sua vida e atividade mediúnica. O espírito Roberto de Canalejas, que foi médico espanhol em meados do século XIX era a outra entidade pela qual nutria um profundo afeto e com a qual tinha ligações espirituais de longa data e dívidas a saldar. Mais tarde, na vida adulta, manteria contatos mediúnicos regulares com outras entidades não menos evoluídas, como o Dr. Bezerra de Menezes, Camilo Castelo Branco, Frederic Chopin e outras.
Aos 8 anos repetiu-se o fenômeno de catalepsia, associado a desprendimento parcial. Aconteceu à noite e a visão que teve, a marcou pelo resto da vida. Em espírito, foi parar ante uma imagem do “Senhor dos Passos”, na igreja que freqüentava. Pedia socorro, pois sofria muito. A imagem, então, cobrando vida, lhe dirigiu as seguintes palavras: “Vem comigo minha filha, será o único recurso que terás para suportar os sofrimentos que te esperam”, aceitou a mão que lhe era estendida, subiu os degraus e não lembra de mais nada. De fato, Yvonne Pereira foi uma criança infeliz. Vivia acossada por uma imensa saudade do ambiente familiar que tivera na sua última encarnação na Espanha e que lembrava cm extraordinária clareza. Considerava seus familiares, principalmente seu pai e irmãos, como estranhos. A casa, a cidade onde morava, eram totalmente estranhas. Para ela, o pai verdadeiro era o espírito Charles e a casa, a da Espanha. Esses sentimentos desencontrados e o afloramento das faculdades mediúnicas, faziam com que tivesse comportamento considerado anormal por seus familiares. Por esse motivo, até os dez anos, passou a maior parte do tempo na casa da avó paterna.
O seu lar era espírita. Aos 8 anos teve o primeiro contato com um livro espírita. Aos 12, o pai deu-lhe de presente “O Evangelho segundo o Espiritismo” e o “Livro dos Espíritos”, que a acompanharam pelo resto da vida, sendo a sua leitura repetida, um bálsamo nas horas difíceis. Aos 13 anos começou a freqüentar as sessões práticas de Espiritismo, que muito a encantavam, pois via os espíritos comunicantes. Teve como instrução escolar o curso primário. Não pode, por motivos econômicos, fazer outros cursos, o que representou uma grande provação para ela, pois amava o estudo e a leitura. Desde cedo teve que trabalhar para o seu próprio sustento, e o fez com a costura, bordado, rendas, flores, etc… A educação patriarcal que recebeu, fez com que vivesse afastada do mundo. Isto, por um lado, favoreceu o desenvolvimento e recolhimento mediúnico, mas por outro, a tornou excessivamente tímida e triste.
Como já vimos, a mediunidade apresentou-se nos primeiros dias de vida terrena, através do fenômeno de catalepsia, vindo a ser este, um fenômeno comum na sua vida a partir dos 16 anos. A maior parte das reportagens de além-túmulo, dos romances, das crônicas e contos relatados por Yvonne Pereira, foram coletados no mundo espiritual através deste processo, na hora do sono reparador. A sua mediunidade, porém, foi diversificada. Foi médium psicógrafo e receitista (Homeopatia) assistida por entidades de grande elevação, como Bezerra de Menezes, Charles, Roberto de Canalejas, Bittencourt Sampaio. Praticou a mediunidade de incorporação e passista. Possuía mediunidade de efeitos físicos, chegando a realizar algumas sessões de materialização, mas nunca sentiu atração por esta modalidade mediúnica. Os trabalhos, no campo da mediunidade, que mais gostava de fazer eram os de desdobramento, incorporação e receituário. Como foi dito, através do desdobramento noturno que Yvonne Pereira navegava através do mundo espiritual, amparada por seus orientadores, coletando as crônicas, contos e romances com os quais hoje nos deleitamos. Como médium psicofônico, pode entrar em contato com obsessores, obsidiados, e suicidas, aos quais, devotava um carinho especial, sendo que muitos deles tornaram-se espíritos amigos. No receituário homeopático trabalhou em diversos centros espíritas de várias cidades em que morou durante os 54 anos de atividade. Foi uma médium independente, que não se submetia aos entraves burocráticos que alguns centros exercem sobre seus trabalhadores, seguia sempre a “Igreja do Alto” e com ela exercia a caridade a qualquer hora e a qualquer dia em que fosse procurada pelos sofredores.
Foi uma esperantista convicta e trabalhou arduamente na sua propaganda e difusão, através de correspondência que mantinha com outros esperantistas, tanto no Brasil, quanto no exterior. Desde muito pequena cultivou o estudo e a boa leitura. Aos 16 anos já tinha lido obras dos grandes autores como Goethe, Bernardo Guimarães, José de Alencar, Alexandre Herculano, Arthur Conan Doyle e outros. Escreveu muitos artigos publicados em jornais populares. Todos foram perdidos.
A obra mediúnica de Yvonne Pereira consta de 20 livros.
Yvonne do Amaral Pereira
Nasceu no Rio de Janeiro em 24-12-1906
Desencarnou no Rio de Janeiro em 19-03-1984

Fonte: Jornal Macaé Espírita – Nº 289/290 – Janeiro e Fevereiro de 2000
Biografia compilada por Rocky Antonio Valencia Oyola

YVONNE DO AMARAL PEREIRA – 20 ANOS NA PÁTRIA ESPIRITUAL

Nos primeiros dias de março do ano de 1984, Yvonne afirmara que não valeria a pena o trabalho de colocação de um marcapasso. Contudo, submeteu-se à cirurgia de emergência, à qual não resistiu, desencarnando.
Retornou assim, ao Mundo Espiritual, uma das mais respeitáveis médiuns do Movimento Espírita Brasileiro, Yvonne do Amaral Pereira, às 22 horas do dia 9 de março daquele ano, após um longo período de atividades na causa espírita.
Nascida na antiga Vila de Santa Tereza de Valença, atual Rio das Flores, no Sul fluminense, no dia 24 de dezembro de 1900, familiarmente, atendia pelo nome afetivo de Tuti.
Aos 5 anos de idade, não somente via, mas conversava com os espíritos. Aos 12 anos, colocaram-lhe nas mãos a obra “O evangelho segundo o espiritismo”, que ela passaria a ler diariamente.
Aos 13 anos, escrevia com desenvoltura e estudava sozinha, alcançando as horas da madrugada. Sua vida é uma epopéia de renúncias. Desejava estudar piano e chegou a dedilhar o teclado. Mas, a pobreza de seus pais lhe impediu o acesso aos estudos que a pudessem habilitar à prática musical.
Desejava tornar-se professora, mas por dificuldades econômicas, também não lhe foi possível freqüentar o Curso Normal, que almejava. Lia autores nacionais e internacionais, como Bernardo Guimarães, José de Alencar, Goethe e Conan Doyle, ilustrando-se de contínuo.
Os trabalhos em prosa e verso que escreveu, sob a tutela espiritual de Roberto de Canalejas (espírito), desde os 12 anos, foram publicados na imprensa mineira, paulista e fluminense, em jornais diversos. Posteriormente, a Revista Reformador da Federação Espírita Brasileira igualmente os publicou.
Mais tarde, em período compreendido entre 1963 e 1982, Yvonne adotou o pseudônimo de Frederico Francisco e publicou notáveis escritos na mesma Revista.
Yvonne, além de médium psicofônica, psicógrafa, gozava das faculdades mediúnicas de desdobramento, materialização, de curas. Nas localidades onde viveu, sempre deu a sua contribuição nos Centros Espíritas, como bibliotecária, secretária, vice-presidente, evangelizadora, palestrante.
Durante 44 anos, subiu à tribuna espírita, em cinco das seis cidades em que residiu.
Deixou-nos 12 incomparáveis obras mediúnicas, da autoria dos espíritos Bezerra de Menezes, Léon Tolstoi, Camilo Castelo Branco, Charles, a saber: a trilogia de romances – Nas voragens do pecado, O cavaleiro de Numiers, O drama da Bretanha, onde são retratadas as lutas redentoras de diversos personagens, sendo Yvone mesma uma delas;
Amor e Ódio – romance que narra a vida de um ex-discípulo de Kardec, Gaston de Saint-Pierre e que dele recebeu O livro dos espíritos, na época em que surgiu essa obra;
Sublimação – histórias comoventes, onde o enfoque maior é o suicídio, com todas as suas implicações morais e suas conseqüências dolorosas;
Ressurreição e Vida – contos variados que se desenrolam na Rússia dos Czares, em aldeias da Itália e na Espiritualidade, com evocações inclusive da Galiléia dos tempos apostólicos;
A tragédia de Santa Maria – romance de fatos ocorridos no Brasil, em uma fazenda de cana-de açúcar, ao sul do Estado do Rio de Janeiro, no século XIX. Dos fatos narrados, Bezerra de Menezes, ainda encarnado, participa;
Nas telas do infinito – que comporta duas histórias, tendo como cenário a Europa e o nosso país;
Dramas da obsessão – obra que esclarece sobre a realidade dos fatos relacionados com a obsessão, em duas histórias, uma delas com participação da própria médium, na tarefa de orientação aos espíritos obsessores;
Devassando o invisível e Recordações da mediunidade – relatos das experiências mediúnicas de Yvonne, sob o amparo dos espíritos Charles e Bezerra.
Memórias de um suicida – obra prima da literatura mediúnica no Brasil. Com suas 568 páginas, é um libelo contra o tresloucado ato do suicídio. Narra desde as tragédias que se desenvolvem no Vale dos Suicidas ao amparo maternal de Maria de Nazaré, no Hospital que traz seu nome, na Espiritualidade, tanto quanto a tarefa anônima da desobsessão nos centros espíritas.
No ano de 1979, nos meses de setembro a dezembro, a Revista Reformador publicou substancioso texto de Yvonne, onde ela narra algumas de suas experiências reencarnatórias, que culminam na encarnação que findou no Brasil, no ano de 1984.
A Societo Lorenz, no ano 2000, sintetizou em um livreto os quatro artigos, que chegaram a ocupar as páginas do Mundo Espírita, e o publicou com o título Um caso de reencarnação – Eu e Roberto de Canalejas.
Vinte anos se passaram. Não podemos dizer: vinte anos sem Yvonne, pois que a valorosa médium deixou as paragens terrenas para prosseguir em outra dimensão a tarefa em tão boa hora iniciada.

Jornal Mundo Espírita/FEP/março/2004

Vinícius

Vinícius

Pedro de Camargo nasceu em Piracicaba, Estado de São Paulo, no dia 7 de Maio de 1878. Foram seus pais Antônio Bento de Camargo e Sebastiana do Amaral Camargo.
Cedo perdeu o pai, e cedo começou a ganhar a vida. Entrou para o comércio. Trabalhava com seus irmãos mais velhos.
Jovem ainda e influenciado por um amigo, resolveu estabelecer-se dando início ao seu próprio negócio. Não chegou a ser rico, porém nunca lhe faltou nada, nem à sua família. Amparou muita gente, e jamais alguém lhe bateu à porta que não fosse atendido e bem socorrido.
Bem jovem, já abraçava com entusiasmo a religião espírita, nela tendo encontrado, afinal, explicações racionais que em vão buscara nas demais doutrinas religiosas.
Casou-se em primeiras núpcias com D. Elisa Runcle, de quem enviuvou muito cedo. Desse consórcio tiveram uma filha. Em segundas núpcias casou-se com D. Messiota de Campos Pereira, falecida em 26 de Novembro de 1952. Desse casamento teve cinco filhos.
Viveu em Piracicaba até o ano de 1937, ali tendo dirigido a “Igreja Espírita Fora da Caridade Não Há Salvação”. Transferindo-se para a cidade de São Paulo, em 1938, nessa capital permaneceu até a data de sua desencarnação.
Foi grande orador, emocionando a quantos tinham a ventura de ouvi-lo. Conselheiro da Federação Espírita do Estado de São Paulo, ali introduziu as suas apreciadíssimas Tertúlias Evangélicas, realizadas todos os domingos, pela manhã, com o comparecimento de grande assistência.
Perene admirador da Casa de Ismael, sempre lhe consagrou inteiro apoio. Chegou a ser presidente da União Federativa Espírita Paulista, e durante mais de uma década foi diretor gerente de “O Semeador”, órgão da Federação Espírita do Estado de São Paulo, fundado em 1944.
Pedro Camargo, mais conhecido por Vinícius, pseudônimo que ele adotou e usou por mais de cinqüenta anos de trabalho contínuo e perseverante na Doutrina, foi, não há dúvida, o maior educador e evangelizador espírita dos nossos tempos.
Havia alguns anos que os achaques naturais de uma idade avançada impediam-no de maiores atividades, daí porque sua colaboração escrita e falada quase desapareceu.
À 20 horas do dia 11 de Outubro de 1966, o Espírito de Vinícius passava para a Pátria Espiritual.
Tal foi a existência de Vinícius, toda ela dedicada à causa da educação e do soerguimento moral das criaturas humanas. Daí porque, dias depois de atravessar as aduanas do Além, ele pôde transmitir bela e confortadora mensagem aos seus amigos e companheiros da Casa de Ismael, participando-lhes a sua feliz ressurreição nos planos da Vida Maior.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Ubaldo Maia

Ubaldo Maia

Ubaldo Ramalhete Maia, nasceu em Santa Leopoldina, Estado do Espírito Santo, em 18 de Agosto de 1882.
Bacharelando-se pela Escola Livre de Direito do Rio de Janeiro, hoje Faculdade Nacional de Direito, Ubaldo desenvolveu intensíssima atividade. Em seu Estado natal ele foi: Procurador Geral, Promotor Público, Deputado Estadual, Presidente da Assembléia Legislativa, Secretário Geral de Governo, Secretário de Educação, Consultor Jurídico do Estado, Secretário de Interior e Justiça, fundador do Instituto dos Advogados, Fundador da Associação de Imprensa e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo.
Em todos os cargos que ocupou e nas diferentes funções que desempenhou, o Dr. Ubaldo Maia foi sempre uma figura querida pela sua finura e lhaneza de espírito, admirado e acatado pelos seus dotes intelectuais e morais e pela inteireza de caráter.
Na Diretoria da Federação Espírita Brasileira, Casa que ele sempre defendeu e honrou em quaisquer circunstâncias, exerceu os cargos de 1º Secretário e Vice-Presidente, desempenhando-os com elevado descortino e esclarecida inteligência.
Foi ardoroso propagandista da Terceira Revelação, e em suja vida privada deu sempre os mais exuberantes testemunhos de haver assimilado as verdades evangélicas. Colocou sempre em primeira plano o seu ideal espírita, ainda mesmo que com essa atitude franca lhe adviessem prejuízos em sua vida pública e particular.
Com seu espírito conciliador e ponderado, tudo solucionava de maneira cristã no seio da Doutrina.
Era humilde e de fino trato social, a par de profundo conhecedor do Evangelho. Sua palavra, tanto na tribuna da Federação, em sessões públicas, como nas reuniões de estudo do Grupo Ismael, era por todos ouvida com real agrado e proveito.
Em virtude de seu estado de saúde não lhe permitir uma cooperação mais direta e eficiente como era de seu desejo, foi, ainda assim, eleito pela Assembléia Deliberativa, realizada em 1949, membro do Conselho Fiscal da Federação Espírita Brasileira.
Participava com assiduidade das sessões do Grupo Ismael, cabendo-lhe por vezes a presidência dos trabalhos.
Representou o estado do Espírito Santo no Conselho Federativo Nacional, órgão unificador do movimento espírita no território brasileiro, sendo-lhe ali admirada a criteriosa ponderação e nobreza espiritual no trato das mais delicadas questões.
Muitos foram os Centros e Sociedades espíritas do Rio de Janeiro que lhe ouviram a palavra serena em belas conferências doutrinárias.
A passagem do Dr. Ubaldo Ramalhete Maia pela Federação Espírita Brasileira se caracterizou pela lealdade, pela firmeza de convicções, pela sua grande cultura evangélica e pelo amor ao trabalho.
Desencarnou em 19 de Junho de 1950, no Rio de Janeiro.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Teles de Menezes

Teles de Menezes

Luís Olímpio Teles de Menezes, filho do Oficial do Exército Fernando Luís Teles de Menezes e de D. Francisca Umbelina de Figueiredo Menezes, nasceu na cidade de Salvador, Bahia, aos 26 de Julho de 1825.
Bem cedo ainda, resolveu seguir a carreira militar, inscrevendo-se no curso de Artilharia. Pouco tempo depois, entretanto, deu novo rumo ao seu espírito empreendedor, dedicando-se ao magistério particular e às letras. Por vários anos foi professor de instrução primária e de latim. Interessando-se pela estenografia, estudou-a sem mestre, e desde logo se revelou hábil nessa arte, sendo então convidado para exercer a profissão, muito rara naqueles tempos, na Assembléia Legislativa da Bahia, a cujo serviço permaneceu cerca de trinta anos. Autodidata por excelência, acumulou muitos e variados conhecimentos, que lhe granjearam o respeito e a consideração de inúmeras pessoas altamente colocadas na sociedade de Salvador.
Em Setembro de 1849, distinto grupo de associados, entre os quais se destacava Teles de Menezes, fundou “A Época Literária”, jornal de caráter científico, literário e histórico, com dissertações sobre belas-artes. Apesar dos esforços e do ardor juvenil de Teles de Menezes, a empresa, tão bem principiada, malogrou ante a incompreensão quase que geral do público e dos críticos invejosos.
Em 3 de Maio de 1856 é solenemente instalado em Salvador o Instituto Histórico da Bahia. Teles de Menezes é proposto, em 1857, para sócio efetivo, o mesmo acontecendo com outros homens de alto nível cultural. De Julho de 1861 a Maio de 1865, Teles ocupou o cargo de tesoureiro no referido Instituto. A seguir, e durante dois anos, foi eleito para a Comissão de Fundos e Orçamento.
Objetivando espalhar pelo Brasil afora as sementes da Terceira Revelação, o Alto, que a tudo preside, escolhera como ponto de irradiação a dadivosa Bahia, onde foram lançados os alicerces da Nação cristã que hoje somos e da Pátria do Evangelho que haveremos de ser. E é, então, na cidade de Salvador que Luís Olímpio Teles de Menezes organiza uma sociedade nos moldes desejáveis, regida por estatutos que facultavam o ingresso de quaisquer estudiosos e instituíam o trabalho assistencial nos meios espíritas.
Fundou-se assim, a 17 de Setembro de 1865, o Grupo Familiar do Espiritismo, o primeiro e legítimo agrupamento de espíritas no Brasil, destinado igualmente a orientar a propaganda e a incentivar a criação de outras semelhantes pelo resto do País. Às 23:30 horas desse mesmo dia, os membros do Grupo recém fundado recebiam, assinada por “Anjo de Deus”, a primeira página psicografada de que se tem notícia na Bahia.
Em razão de todo esse conjunto de sucessos pioneiros, é que a Bahia é tida como o berço do Espiritismo em terras brasileiras.
Na presidência do Grupo Familiar do Espiritismo, Teles de Menezes distinguiu-se pelo seu ânimo forte, pela sua cultura e elevação de sentimentos, suportando com destemor e firmeza o espírito zombeteiro dos incrédulos e materialistas, bem como o ambiente hostil da religião dominante. É exemplo expressivo das chacotas, lançadas contra ele e o Espiritismo, os versos e as curtas e burlescas composições teatrais que a “Bahia Ilustrada” publicava desde o ano de sua fundação, em 1867.
Se Teles de Menezes conservou seu espírito acima dos sarcasmos, motejos e diatribes vindos de fora, o mesmo não aconteceu quando o demônio da vaidade, da inveja e da intriga se insinuou entre alguns confrades, amargurando-lhe profundamente a alma sensível. Varão cheio de fé e inquebrantável dedicação aos labores construtivos na Seara Espírita, Teles não largava as mãos do arado. Vez por outra, como que a prevenir os seus sucessores do caminho áspero a ser trilhado, dizia dos sacrifícios sem conta que ele e os irmãos de ideal vinham arrostando no desempenho da árdua missão que o Alto lhes cometera, “árdua e até espinhosa, sim, mas irradiante de bem fundadas esperanças”, assegurava ele entre resignado e confiante.
Foi o Grupo Familiar do Espiritismo, composto de poucos, muito poucos homens, mas de firme convicção, de inabalável crença e animados da melhor vontade, o primeiro núcleo espírita regularmente constituído com a decidida e heróica tarefa de abrir caminho, entre a gente brasileira, às novas verdades trazidas ao mundo pelos emissários do Senhor.
Por quase um decênio o Grupo desempenhou, com louros e louvores, sua missão na Bahia, até que lhe viesse continuar a obra a Associação Espirítica Brasileira.
Com largos e benéficos reflexos em várias outras Províncias do Império, o Grupo de Teles de Menezes representará sempre o marco inicial do movimento espírita em nossas terras.
Teles de Menezes foi o primeiro presidente da Associação Espirítica Brasileira e, pouco depois, ganhou o título de presidente honorário
Diligente paladino dos ideais espiritistas, Teles de Menezes jamais, porém, se excedeu, conservando sempre uma linguagem nobre e serena nos seus arrazoados doutrinários. Era sócio de muitas associações espíritas da Europa e mantinha permanentes contatos epistolares com distintos confrades daqui e do exterior.
Cumprida sua missão dentro do Espiritismo em Salvador, Teles rumou para o Rio de Janeiro, onde fixou residência, passando, pouco depois, por volta de 1879, a fazer parte da distinta e culta corporação taquigráfica do Senado do Império.
Além dos vários trabalhos que publicou, deixou inéditos, ao desencarnar, grande número de outros. A sua contribuição, em toda parte, foi natural e despretensiosa, despida de razões que incluíssem vaidade ou inveja, movendo-o unicamente o desejo sincero de trabalhar pelo bem e pela felicidade do próximo e de nossa Pátria.
Teles de Menezes só pôde trabalhar no Senado até mais ou menos 1892. a idade e uma nefrite crônica afastaram-no do serviço que lhe dava o pão material. O dirigente da seção taquigráfica daquela Casa legislativa, em reconhecimento à dedicação do ex-taquígrafo, garantiu-lhe espontaneamente, num gesto de altruísmo, uma pensão que ajudava em algo o velho casal Menezes, constituído por ele e pela segunda esposa, a Sra. Elisa Pereira de Figueiredo Menezes.
Pouco tempo de vida terrena restava a Teles e este pouco ele o passou sob longos e dolorosos padecimentos causados pela nefrite, e que somente tiveram fim às 22 horas e 40 minutos do dia 16 de Março de 1893. Neste dia e nesta hora desatava ele o Espírito às claridades do Além mundo, onde afinal iria receber o prêmio aos seus laboriosos esforços.
Desencarnou em pobreza extrema, sendo o seu enterro feito a expensas de dois colegas taquígrafos, que lhe prestaram os melhores serviços de amizade.
O nome e os feitos dessa figura apostolar de pioneiro, exemplo de tenacidade e fortaleza, conservar-se-ão indeléveis nos Anais da História do Espiritismo no Brasil.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Paiva Júnior

Paiva Júnior

João Luís de Paiva Júnior nasceu no Rio de Janeiro, em 9 de Abril de 1870, tendo por pais João Luís de Paiva e Maria Delfina da Conceição Paiva. Seu pai foi excelente ator, tendo trabalhado ao lado de ilustres artistas da época.
Na primeira mocidade Paiva Júnior foi caixeiro, impressor e até ourives. O seu grande sonho, porém, era a Marinha de Guerra, e para ela entrou ainda bem jovem. Durante 52 anos e dez meses desempenhou dignamente suas funções da Intendência, reformando-se no posto de Almirante.
Em 1905, sofrimentos físicos e espirituais fizeram-no aceitar o convite de um colega, que com ele insistia para comparecer ao Centro Espírita Santo Agostinho. Ali foi o então Tenente Paiva, e dali saiu ele transformado, para o Espiritismo. Entusiasmou-se com as revelações contidas nas obras de Allan Kardec, e ei-lo, anos depois, presidente daquele Centro aonde fora pela primeira vez.
Em 27 de Fevereiro de 1913, ingressava na Assistência aos Necessitados da Federação Espírita Brasileira, onde, através de sua mediunidade receitista, passou a ter contato mais direto com os menos favorecidos da sorte. Suas palavras, proferidas sempre sem afetação, com natural e sincera vibração evangélica, tinham o dom de reanimar almas abatidas, reconfortar enfermos.
Em 1923, viu-se eleito para o cargo de Diretor da Assistência aos Necessitados, cargo que desempenhou por vinte e seis anos consecutivos, e só quem conhece o que seja o trabalho desse Departamento da Federação é que pode calcular quanto amor existia em seu coração.
Conhecido de todos por Comandante Paiva, seu nome tornou-se um símbolo de paz e de misericórdia para os necessitados. Embora tivesse ele de exercer os encargos atinentes ao seu posto de oficial superior de nossa Marinha de Guerra, jamais deixou de passar horas a fio, diariamente, durante vários lustros, em seu gabinete de trabalho na Federação Espírita Brasileira. Sua palavra era fluente e sempre modulada ao ritmo do evangelho. Recebia o maltrapilho com o mesmo carinho e atenção que tributava aos que, bem vestidos ou detentores de ótimas posições sociais, o procuravam na esperança de um alívio para os seus padecimentos.
Em Setembro de 1925, certo médico, interessado no descrédito das curas espíritas, teceu, junto ao Inspetor da Fiscalização da Medicina, uma história caluniosa, sendo Paiva Júnior processado como incurso no exercício ilegal da Medicina. Após examinar os autos, o saudoso Dr. Bento de Faria, mais tarde Ministro do Supremo Tribunal Federal, emitiu parecer, em que requeria o arquivamento do inquérito sobre o caso, por não encontrar justa causa para a denúncia. À vista desse parecer o processo foi arquivado.
Paiva Júnior tinha o hábito de ouvir os pobres um a um e em particular, tarefa que ele desempenhava com uma paciência verdadeiramente cristã, e a levava tão a sério que, nessas horas de contato com a gente humilde do povo, a ninguém mais atendia, mesmo de elevada posição social.
Podendo viver uma vida despreocupada, Paiva Júnior empregou todo o seu tempo disponível na prática da caridade, e o fez, é bom frisar, com alma e coração, sem pensar em qualquer recompensa futura, convicto de que cumpria um dever de irmão para com outro irmão em Cristo.
Aos 18 de Março de 1949 desaparecia do plano físico, no Rio de Janeiro, um verdadeiro servo da caridade. Coração de ouro sob um véu de aparente severidade.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Madame Rivail (Srª Allan Kardec)

Madame Rivail (Srª Allan Kardec)

Madame Rivail (Sra. Allan Kardec) nasceu em Thiais, cidade do menor e mais populoso Departamento francês – o Sena, aos 2 do Frimário do ano IV, segundo o Calendário Republicano então vigente na França, e que corresponde a 23 de Novembro de 1795.
Filha de Julien-Louis Boudet, proprietário e antigo tabelião, homem portanto bem colocado na vida, e de Julie-Louise Seigneat de Lacombe, recebeu, na pia batismal o nome de Amélie-Gabrielle Boudet.
A menina Amélie, filha única, aliando desde cedo grande vivacidade e forte interesse pelos estudos, não foi um problema para os pais, que, a par de fina educação moral, lhe proporcionaram apurados dotes intelectuais.
Após cursar o colégio primário, estabeleceu-se em Paris com a família, ingressando numa Escola Normal, de onde saiu diplomada em professora de 1a. classe.
Revela-nos o Dr. Canuto de Abreu que a senhorinha Amélie também foi professora de Letras e Belas Artes, trazendo de encarnações passadas a tendência inata, por assim dizer, para a poesia e o desenho. Culta e inteligente, chegou a dar à luz três obras, assim nomeadas: “Contos Primaveris”, 1825; “Noções de Desenho”, 1826; “O Essencial em Belas Artes”, 1828.
Vivendo em Paris, no mundo das letras e do ensino, quis o Destino que um dia a Srta. Amélie Boudet deparasse com o Professor Hippolyte Denizard Rivail.
De estatura baixa, mas bem proporcionada, de olhos pardos e serenos, gentil e graciosa, vivaz nos gestos e na palavra, denunciando inteligência admirável, Amélie Boudet, aliando ainda a todos esses predicados um sorriso terno e bondoso, logo se fez notar pelo circunspecto Prof. Rivail, em quem reconheceu, de imediato, um homem verdadeiramente superior, culto, polido e reto.
Em 6 de Fevereiro de 1832, firmava-se o contrato de casamento. Amélie Boudet, tinha nove anos mais que o Prof. Rivail, mas tal era a sua jovialidade física e espiritual, que a olhos vistos aparentava a mesma idade do marido. Jamais essa diferença constituiu entrave à felicidade de ambos.
Pouco tempo depois de concluir seus estudos com Pestalozzi, no famoso castelo suíço de Zahringen (Yverdun), o Prof. Rivail fundara em Paris um Instituto Técnico, com orientação baseada nos métodos pestalozzianos. Madame Rivail associou-se ao esposo na afanosa tarefa educacional que ele vinha desempenhando no referido Instituto havia mais de um lustro.
Grandemente louvável era essa iniciativa humana e patriótica do Prof. Rivail, pois, não obstante as leis sucessivas decretadas após a Revolução Francesa em prol do ensino, a instrução pública vivia descurada do Governo, tanto que só em 1833, pela lei Guizot, é que oficial e definitivamente ficaria estabelecido o ensino primário na França.
Em 1835, o casal sofreu doloroso revés. Aquele estabelecimento de ensino foi obrigado a cerrar suas portas e a entrar em liquidação. Possuindo, porém, esposa altamente compreensiva, resignada e corajosa, fácil lhe foi sobrepor-se a esses infaustos acontecimentos. Amparando-se mutuamente, ambos se lançaram a maiores trabalhos. Durante o dia, enquanto Rivail se encarregava da contabilidade de casas comerciais, sua esposa colaborava de alguma forma na preparação dos cursos gratuitos que haviam organizado na própria residência, e que funcionaram de 1835 a 1840.
À noite, novamente juntos, não se davam a descanso justo e merecido, mas improdutivo. O problema da instrução às crianças e aos jovens tornara-se para Prof. Rivail, como o fora para seu mestre Pestalozzi, sempre digno da maior atenção. Por isso, até mesmo as horas da noite ele as dividia para diferentes misteres relacionados com aquele problema, recebendo em todos a cooperação talentosa e espontânea de sua esposa. Além de escrever novas obras de ensino, que, aliás, tiveram grande aceitação, o Prof. Rivail realizava traduções de obras clássicas, preparava para os cursos de Lévi-Alvarès, freqüentados por toda a juventude parisiense do bairro de São Germano, e se dedicava ainda, em dias certos da semana, juntamente com sua esposa, a professorar as matérias estatuídas para os já referidos cursos gratuitos.
“Aquele que encontrar uma mulher boa, encontrará o bem e achará gozo no Senhor” – disse Salomão. Amélie Boudet era dessas mulheres boas, nobres e puras, e que, despojadas das vaidades mundanas, descobrem no matrimônio missões nobilitantes a serem desempenhadas.
Nos cursos públicos de Matemáticas e Astronomia que o Prof. Rivail bi-semanalmente lecionou, de 1843 a 1848, e aos quais assistiram não só alunos, que também professores, no “Liceu Polimático” que fundou e dirigiu até 1850, não faltou em tempo algum o auxilio eficiente e constante de sua dedicada consorte.
Todas essas realizações e outras mais, a bem do povo, se originaram das palestras costumeiras entre os dois cônjuges, mas, como salientou a Condessa de Ségur, deve-se principalmente à mulher, as inspirações que os homens concretizam. No que toca à Madame Rivail, acreditamos que em muitas ocasiões, além de conselheira, foi ela a inspiradora de vários projetos que o marido pôs em execução. Aliás, é o que nos confirma o Sr. P. J. Leymarie ( que com ambos privara ) ao declarar que Kardec tinha em grande consideração as opiniões de sua esposa.
Graças principalmente às obras pedagógicas do professor Rivail, adotadas pela própria Universidade de França, e que tiveram sucessivas edições, ele e senhora alcançaram uma posição financeira satisfatória.
O nome Denizard Rivail tornou-se conhecido nos meios cultos e além do mais bastante respeitado. Estava aberto para ele o caminho da riqueza e da glória, no terreno da Pedagogia. Sobrar-lhe-ia, agora, mais tempo para dedicar-se à esposa, que na sua humildade e elevação de espírito jamais reclamara coisa alguma.
A ambos, porém, estava reservada uma missão, grandiosa pela sua importância universal, mas plena de exaustivos trabalhos e dolorosos espinhos.
O primeiro toque de chamada verificou-se em 1854, quando o Prof. Rivail foi atraído para os curiosos fenômenos das “mesas girantes”, então em voga no Mundo todo. Outros convites do Além se seguiram, e vemos, em meados de 1855, na casa da Família Baudin, o Prof. Rivail iniciar os seus primeiros estudos sérios sobre os citados fenômenos, entrevendo, ali, a chave do problema que durante milênios viveu na obscuridade.
Acompanhando o esposo nessas investigações, era de se ver a alegria emotiva com que ela tomava conhecimento dos fatos que descerravam para a Humanidade novos horizontes de felicidade. Após observações e experiências inúmeras, o professor Rivail pôs mãos à maravilhosa obra da Codificação, e é ainda de sua cara consorte, então com 60 anos, que ele recebe todo o apoio moral nesse cometimento. Tornou-se ela verdadeira secretária do esposo, secundando-o nos novos e bem mais árduos trabalhos que agora lhe tomavam todo o tempo, estimulando-o, incentivando-o no cumprimento de sua missão.
Sem dúvida, os espíritas, muito devemos a Amélie Boudet e estamos de acordo com o que acertadamente escreveu Samuel Smiles: os supremos atos da mulher geralmente permanecem ignorados, não saem à luz da admiração do mundo, porque são feitos na vida privada, longe dos olhos do público, pelo único amor do bem.
O nome de Madame Rivail enfileira-se assim, com muita justiça, entre os de inúmeras mulheres que a História registrou como dedicadas e fiéis colaboradoras dos seus esposos, sem as quais talvez eles não levassem a termo as suas missões. Tais foram, por exemplo, as valorosas esposas de Lavoisier, de Buckland, de Flaxman, de Huber, de Sir William Hamilton, de Stuart Mill, de Faraday, de Tom Hood, de Sir Napier, de Pestalozzi, de Lutero, e de tantos outros homens de gênio. A todas essas Grandes Mulheres, além daquelas muito esquecidas pela História, a Humanidade é devedora eterna!
Lançado O Livro dos Espíritos, da lavra de Allan Kardec, pseudônimo que tomou o Prof. Rivail, este, meses depois, a 1o. de Janeiro de 1858, com o apoio tão somente de sua esposa, deu a lume o primeiro número da “Revue Spirite”, periódico que alcançou mais de um século de existência grandemente benéfica ao Espiritismo.
Havia cerca de seis meses que na residência do casal Rivail, então situada à Rua dos Mártires n. 8, se efetuavam sessões bastante concorridas, exigindo da parte de Madame Rivail uma série de cuidados e atenções, que por vezes a deixavam extenuada. O local chegou a se tornar apertado para o elevado número de pessoas que ali compareciam, de sorte que em Abril de 1858 Allan Kardec fundava, fora do seu lar, a “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas”. Mais uma obra de grave responsabilidade!
Tomar tais iniciativas naquela recuada época, em que o despotismo clerical ainda constituía uma força, não era tarefa para muitos. Havia necessidade de larga dose de devotamento, firmeza de vistas e verdadeiro espírito de sacrifício.
Ao casal Rivail é que coube, apesar de todos os escolhos e perigos que se lhe deparariam em a nova estrada, empreender, com a assistência e proteção do Alto, a maior revolução de idéias de que se teve notícia nos meados do século XIX.
Allan Kardec foi alvo do ódio, da injúria, da calúnia, da inveja, do ciúme e do despeito de inimigos gratuitos, que a todo custo queriam conservar a luz sob o alqueire.
Intrigas, traições, insultos, ingratidões, tudo de mal cercou o ilustre reformador, mas em todos os momentos de provas e dificuldades sempre encontrou, no terno afeto de sua nobre esposa, amparo e consolação, confirmando-se essas palavras de Simalen: “A mulher é a estrela de bonança nos temporais da vida.”
Com vasta correspondência epistolar, proveniente da França e de vários outros países, não fosse a ajuda de sua esposa nesse setor, sem dúvida não sobraria tempo para Allan Kardec se dedicar ao preparo dos livros da Codificação e de sua revista.
Uma série de viagens ( em 1860, 1861, 1862, 1864, etc, ) realizou Kardec, percorrendo mais de vinte cidades francesas, além de várias outras da Suíça e da Bélgica, em todas semeando as idéias espíritas. Sua veneranda consorte, sempre que suas forças lhe permitiam, acompanhou-o em muitas dessas viagens, cujas despesas, cumpre informar, corriam por conta do próprio casal. Parafraseando o escritor Carlyle, poder-se-ia dizer que Madame Allan Kardec, pelo espaço de quase quarenta anos, foi a companheira amante e fiel do seu marido, e com seus atos e suas palavras sempre o ajudou em tudo quanto ele empreendeu de digno e de bom.
Aos 31 de Março de 1869, com 65 anos de idade, desencarnava, subitamente, Allan Kardec, quando ultimava os preparativos para a mudança de residência. Foi uma perda irreparável para o mundo espiritista, lançando em consternação a todos quantos o amaram. Madame Allan Kardec, quer partilhara com admirável resignação as desilusões e os infortúnios do esposo, agora, com os cabelos nevados pelos seus 74 anos de existência e a alma sublimada pelos ensinos dos Espíritos do Senhor, suportaria qualquer realidade mais dura. Ante a partida do querido companheiro para a Espiritualidade, portou-se como verdadeira espírita, cheia de fé e estoicismo, conquanto, como é natural, abalada no profundo do ser.
No cemitério de Montmartre, onde, com simplicidade, aos 2 de Abril se realizou o sepultamento dos despojos do mestre, comparecia uma multidão de mais de mil pessoas. Discursaram diversos oradores, discípulos dedicados de Kardec, e por último o Sr. E. Muller, que logo no princípio do seu elogio fúnebre ao querido extinto assim se expressou: “Falo em nome de sua viúva, da qual lhe foi companheira fiel e ditosa durante trinta e sete anos de felicidade sem nuvens nem desgostos, daquela que lhe compartiu as crenças e os trabalhos, as vicissitudes e as alegrias, e que se orgulhava da pureza dos costumes, da honestidade absoluta e do desinteresse sublime do esposo; hoje, sozinha, é ela quem nos dá a todos o exemplo de coragem, de tolerância, do perdão das injúrias e do dever escrupulosamente cumprido.”
Madame Allan Kardec recebeu da França e do estrangeiro, numerosas e efusivas manifestações de simpatia e encorajamento, o que lhe trouxe novas forças para o prosseguimento da obra do seu amado esposo.
Desejando os espiritistas franceses perpetuar num monumento o seu testemunho de profundo reconhecimento à memória do inesquecível mestre, consultaram nesse sentido a viúva, que, sensibilizada com aqueles desejos humanos mas sinceros, anuiu, encarregando desde logo uma comissão para tomar as necessárias providências. Obedecendo a um desenho do Sr. Sebille, foi então levantado no cemitério do Père-Lachaise um dólmen, constituído de três pedras de granito puro, em posição vertical, sobre as quais se colocou uma quarta pedra, tabular, ligeiramente inclinada, e pesando seis toneladas. No interior deste dólmen, sobre uma coluna também de pedra, fixou-se um busto, em bronze, de Kardec.
Esta nova morada dos despojos mortais do Codificador foi inaugurada em 31 de Março de 1870 , e nessa ocasião o Sr. Levent, vice-presidente da “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas”, discursou, a pedido de Madame Allan Kardec, em nome dela e dos amigos.
Cerca de dois meses após o decesso do excelso missionário de Lyon, sua esposa, no desejo louvável de contribuir para a realização dos plano futuros que ele tivera em mente, e de cujas obras, revista e Livraria passou a ser a única proprietária legal, houve por bem, no interesse da Doutrina, conceder todos os anos certa verba para uma “Caixa Geral do Espiritismo”, cujos fundos seriam aplicados na aquisição de propriedades, a fim de que pudessem ser remediadas quaisquer eventualidades futuras.
Outras sábias decisões foram por ela tomadas no sentido de salvaguardar a propaganda do Espiritismo, sendo, por isso, bastante apreciado pelos espíritas de todo o Mundo o seu nobre desinteresse e devotamento.
Apesar de sua avançada idade, Madame Allan Kardec demonstrava um espírito de trabalho fora do comum, fazendo questão de tudo gerir pessoalmente, cuidando de assuntos diversos, que demandariam várias cabeças. Além de comparecer à reuniões, para as quais era convidada, todos os anos presidia à belíssima sessão em que se comemorava o Dia dos Mortos, e na qual, após vários oradores mostrarem o que em verdade significa a morte à luz do Espiritismo, expressivas comunicações de Espíritos Superiores eram recebidas por diversos médiuns.
Se Madame Allan Kardec – conforme se lê em Revue Spirite de 1869 – se entregasse ao seu interesse pessoal, deixando que as coisas andassem por si mesmas e sem preocupação de sua parte, ela facilmente poderia assegurar tranqüilidade e repouso à sua velhice. Mas, colocando-se num ponto de vista superior, e guiada, além disso, pela certeza de que Allan Kardec com ela contava para prosseguir, no rumo já traçado, a obra moralizadora que lhe foi objeto de toda a solicitude durante os últimos anos de vida, Madame Allan Kardec não hesitou um só instante. Profundamente convencida da verdade dos ensinos espíritas, ela buscou garantir a vitalidade do Espiritismo no futuro, e, conforme ela mesma o disse, melhor não saberia aplicar o tempo que ainda lhe restava na Terra, antes de reunir-se ao esposo.
Esforçando-se por concretizar os planos expostos por Allan Kardec em “Revue Spirite” de 1868, ela conseguiu, depois de cuidadosos estudos feitos conjuntamente com alguns dos velhos discípulos de Kardec, fundar a “Sociedade Anônima do Espiritismo”.
Destinada à vulgarização do Espiritismo por todos os meios permitidos pelas leis, a referida sociedade tinha, contudo, como fito principal, a continuação da “Revue Spirite”, a publicação das obras de Kardec e bem assim de todos os livros que tratassem do Espiritismo.
Graças, pois, à visão, ao empenho, ao devotamento sem limites de Madame Allan Kardec, o Espiritismo cresceu a passos de gigante, não só na França, que também no Mundo todo.
Estafantes eram os afazeres dessa admirável mulher, cuja idade já lhe exigia repouso físico e sossego de espírito. Bem cedo, entretanto, os Céus a socorreram. O Sr. P. G. Leymarie, um dos mais fervorosos discípulos de Kardec desde 1858, médium, homem honesto e trabalhador incansável, assumiu em 1871 a gerência da Revue Spirite e da Livraria, e logo depois, com a renúncia dos companheiros de administração da sociedade anônima, sozinho tomou sob os ombros os pesados encargos da direção. Daí por diante, foi ele o braço direito de Madame Allan Kardec, sempre acatando com respeito as instruções emanadas da venerável anciã, permitindo que ela terminasse seus dias em paz e confiante no progresso contínuo do Espiritismo.
Parecendo muito comercial, aos olhos de alguns espíritas puritanos, o título dado à Sociedade, Madame Allan Kardec, que também nunca simpatizara com esse título, mas que o aceitara por causa de certas conveniências, resolveu, na assembléia geral de 18 de Outubro de 1873, dar-lhe novo nome: “Sociedade para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec”, satisfazendo com isso a gregos e troianos.
Muito ainda fez essa extraordinária mulher a prol do Espiritismo e de todos quantos lhe pediam um conselho ou uma palavra de consolo, até que em 21 de Janeiro de 1883, às 5 horas da madrugada, docemente, com rara lucidez der espírito, com aquele mesmo gracioso e meigo sorriso que sempre lhe brincava nos lábios, desatou-se dos últimos laços que a prendiam à matéria.
A querida velhinha tinha então 87 anos, e nessa idade, contam os que a conheceram, ainda lia sem precisar de óculos e escrevia ao mesmo tempo corretamente e com letra firme.
Aplicando-lhe as expressões de célebre escritor, pode-se dizer, sem nenhum excesso, que “sua existência inteira foi um poema cheio de coragem, perseverança, caridade e sabedoria”.
Compreensível, pois, era a consternação que atingiu a família espírita em todos os quadrantes do globo. De acordo com o seus próprios desejos, o enterro de Madame Allan Kardec foi simples e espiriticamente realizado, saindo o féretro de sua residência, na Avenida e Vila Ségur n. 39, para o Père-Lachaise, a 12 quilômetros de distância.
Grande multidão, composta de pessoas humildes e de destaque, compareceu em 23 de Janeiro às exéquias junto ao dólmen de Kardec, onde os despojos da velhinha foram inumados e onde todos os anos, até à sua desencarnação, ela compareceu às solenidades de 31 de março.
Na coluna que suporta o busto do Codificador foram depois gravados, à esquerda, esses dizeres em letras maiúsculas: AMÈLIE GABRIELLE BOUDET – VEUVE ALLAN KARDEC – 21 NOVEMBRE 1795 – 21 JANVIER 1883.
No ato do sepultamento falaram os Srs. P.G. Leymarie, em nome de todos os espíritas e da “Sociedade para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec”, Charles Fauvety, ilustre escritor e presidente da “Sociedade Científica de Estudos Psicológicos”, e bem assim representantes de outras Instituições e amigos, como Gabriel Delanne, Cot, Carrier, J. Camille Chaigneau, poeta e escritor, Lecoq, Georges Cochet, Louis Vignon, que dedicou delicados versos à querida extinta, o Dr. Josset e a distinta escritora, a Sra. Sofia Rosen-Dufaure, todos fazendo sobressair os reais méritos daquela digna sucessora de Kardec. Por fim, com uma prece feita pelo Sr. Warroquier, os presentes se dispersaram em silêncio.
A nota mais tocante daquelas homenagens póstumas foi dada pelo Sr. Lecoq. Leu ele, para alegria de todos, bela comunicação mediúnica de Antonio de Pádua, recebida em 22 de Janeiro, na qual esse iluminado Espírito descrevia a brilhante recepção com que elevados Amigos do Espaço, juntamente com Allan Kardec, acolheram aquele ser bem aventurado.
No improviso do Sr. P.G. Leymarie, este relembrou, em traços rápidos, algo da vida operosa da veneranda extinta, da sua nobreza d’alma, afirmando, entre outras coisas, que a publicação tanto de O Livro dos Espíritos, quanto da Revue Spirite, se deveu em grande parte à firmeza de ânimo, à insistência, à perseverança de Madame Allan Kardec.
Não deixando herdeiros diretos, pois que não teve filhos, por testamento fez ela sua legatária universal a “Sociedade para Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec”. Embora uma parenta sua, já bem idosa, e os filhos desta intentassem anular essas disposições testamentárias, alegando que ela não estava em perfeito juízo, nada, entretanto, conseguiram, pois as provas em contrário foram esmagadoras.
Em 26 de Janeiro de 1883, o conceituado médium parisiense Sr. E. Cordurié recebia espontaneamente uma mensagem assinada pelo Espírito de Madame Allan Kardec, logo seguida de outra, da autoria de seu esposo. Singelas na forma, belas nos conceitos, tinham ainda um sopro de imortalidade e comprovavam que a vida continua…

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Lírio Ferreira

Lírio Ferreira

Nascido em Recife, a 19 de Maio de 1898, filho de Domingos da Silva Ferreira e Amália de Carvalho Ferreira, contraiu matrimônio aos 19 anos de idade com D. Maria da Glória Acióli Ferreira, tendo deixado dez filhos.
Exerceu durante 44 anos, as funções de caixa da hoje Companhia Brasileira de Linhas Correntes S.A..
Foi em 1918 que Lírio foi pela primeira vez à Federação Espírita Pernambucana, ali levando uma sua empregada obsedada para receber tratamento espiritual. Por cerca de um ano compareceu ele às reuniões públicas. A doente, após ficar curada, esqueceu-se do meio espírita. Lírio, ao contrário, mergulhou cérebro e coração na Doutrina, ampliando seus conhecimentos na leitura de inúmeros livros espíritas.
Tornando-se sócio da FEP, foi logo chamado para auxiliar no Departamento de Assistência aos Necessitados. Foi convidado para participar da Comissão de Contas e após vários anos foi a vice-presidência da FEP. Subiu à presidência da FEP apoiado por todos que já lhe conheciam o caráter, o denodo no trabalho, o coração evangélico e a cultura doutrinária. Sendo sempre reeleito, conduziu a FEP com pulso firme, em perfeita sintonia com as diretrizes febianas.
Lírio Ferreira foi sempre um sincero amigo da Federação Espírita Brasileira, que teve nele um admirador profundo e leal. Dedicava uma consideração sem limites ao presidente da Casa de Ismael, Sr. Wantuil de Freitas, a quem dava ciência de tudo quanto se passava no seu Estado, com ele permutando idéias sobre a solução dos assuntos mais inquietantes e delicados do campo espírita.
A sua constância ao trabalho, a sua integridade moral e a sua fidelidade aos princípios doutrinários foram o escudo contra o qual em vão se arremessaram as setas da malevolência e do despeito.
Ocupou a presidência da FEP por quatorze anos. Onze dias após a sua última reeleição, foi Lírio acometido de enfarte, que o conservou afastado, por algum tempo das atividades junto à FEP. Mas, logo que lhe permitiram as forças físicas, ele continuou a freqüentar a sua querida Casa e até mesmo a presidir-lhe as reuniões.
Sua maior alegria, nos últimos tempos, era dar à FEP, a chamada Casa de Itagiba, uma nova sede, com novos departamentos assistenciais. Apesar das dificuldades financeiras, ele conseguiu, graças à perseverança de seus esforços, levantar as novas construções, deixando-as em fase de acabamento e já com algumas instalações em plena atividade.
Aos 14 de Janeiro de 1965, Lírio da Silva Ferreira, desencarnava na cidade do Recife. Fora um modelo de virtudes e de trabalho construtivo na Seara Espírita Brasileira e, se mais não se projetou, foi por causa de sua extrema modéstia e humildade cristã. Foi sempre um incansável trabalhador, um abnegado servo na vinha do Mestre Jesus.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Leopoldo Cirne

Leopoldo Cirne

Leopoldo Cirne nasceu em 13 de Abril de 1870, na Paraíba do Norte, criando-se, porém, na cidade do Recife. Desencarnou no Rio de Janeiro, na manhã de 31 de Julho de 1941.
Desde cedo nele se revelou acentuado pendor pelos estudos e favorecido por viva inteligência, avançava, com real proveito, em seu curso de humanidades.
Dificuldades financeiras obrigaram-no a abandonar os estudos e a ingressar no comércio, quando contava onze anos de idade. Mal despontava a aurora, até às caladas da noite, estava o empregado no serviço ativo. Só uma pequena parte do domingo podia respirar mais livremente e dispor da sua vontade.
Em pleno desabrochar da sua juventude, já ao lado de Dias da Cruz e de Bezerra de Menezes trabalhava sincera e entusiasticamente a prol do Espiritismo. Tanta confiança granjeou de seus confrades, que estes lhe sufragaram, em1898, o nome para vice-presidente da Federação Espírita Brasileira. Tinha então 28 anos de idade.
Leopoldo Cirne foi espírita tanto no lar como na sociedade, tanto no sofrimento como nos momentos de ventura. Durante toda sua jornada terrena, seja no trato dos interesses materiais, seja no campo das atividades espiritualistas, ninguém logrou vê-lo irritado, mal humorado, impaciente. Jamais imprimiu à sua voz uma tonalidade ríspida. Era carinhoso, afável no falar. Quantas criaturas, ao ouvi-lo, modificavam seu modo errado de ver e sentir as coisas.
Leopoldo Cirne substituiu Dr. Bezerra de Menezes, após seu desencarne, na suprema direção da Casa de Ismael. Foi presidente da Federação Espírita Brasileira durante o período de 1900 a 1914. E a sua atuação nesse alto posto foi tão marcante que , por cerca de catorze anos, o exerceu com verdadeiro amor evangélico e dentro daquele espírito de sincera humildade de que o Cristo nos deu edificante exemplo.
À sua perseverante força de vontade e de confiança na misericórdia do Alto, deve a Federação Espírita Brasileira a sua sede na Avenida Passos, inaugurada no dia 10 de Dezembro de 1911.
Leopoldo Cirne sempre voltado para a literatura espiritualista. Seu amor e interesse pela cultura eram tão grandes, que a ele se deve o apoio que a Federação sempre prestou à causa do Esperanto, desde 1909.
Tendo, a serviço da inteligência e do coração, cujos dotes se consorciavam admiravelmente, o dom, precioso para um expositor de doutrina, de uma palavra fácil, corrente, eloqüente por vezes e sempre clara e tocante, ele se afirmou, presidindo a Federação, exímio pregador e instrutor notável, a cuja penetração mental nenhum embaraço insuperável oferecia qualquer ponto da matéria que versava, por mais obscuro e intrincado que fosse.
Leopoldo Cirne foi marido exemplar, de extremo carinho para com a sua companheira e esposa muito querida, D. Marietta Cirne.
Afastando-se da Federação, ele também abandonou, quase inteiramente, as atividades de pregador da Doutrina Espírita e de jornalista a seu serviço, para se consagrar a outras, sempre, porém, dentro do campo dessa doutrina. Passou a escrever obras doutrinárias de grande porte.
Consagrou-se no campo da literatura filosófico-religiosa como um dos grandes pensadores do movimento espírita do País, sendo mesmo cognominado o Léon Denis brasileiro.
Conhecia profundamente a Bíblia e as melhores obras de religião, filosofia, arte e literatura em geral lhe eram familiares. Traduziu vários livros para o nosso idioma.
Até o fim de sua vida, Leopoldo Cirne, apoiou, mesmo em pronunciamentos públicos, a obra da Federação Espírita Brasileira como organização diretiva de caráter nacional.
Desencarnou no Rio de Janeiro, na manhã de 31 de Julho de 1941.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Leôncio Correia

Leôncio Correia

Leôncio Correia nasceu em Paranaguá, Estado do Paraná, em 1º de Setembro de 1865.
Poeta, jornalista, educador, teatrólogo, conferencista, alma de verdadeiro patriota, Leôncio Correia pôs sempre seu coração ao serviço das nobres causas. Republicano histórico, tendo tomado parte na campanha abolicionista, começou a sua vida pública muito moço, no Paraná, onde se bateu pela implantação da República.
Foi deputado estadual no Paraná, deputado federal, diretor da Instrução Pública do Rio de Janeiro, diretor do Colégio Pedro II, diretor da Imprensa Nacional. Durante muito tempo lecionou História Universal na Escola Normal do Rio de Janeiro, da qual foi, mais tarde, Diretor. Na política, na imprensa e na tribuna, foi sempre um defensor das liberdades públicas. Era formado em Direito, mas não abraçou a advocacia nem a magistratura. Desenvolveu grande atividade literária, sendo sua carreira literária uma das mais fulgurantes e fecundas do Brasil. Era membro da Academia Paranaense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, da Academia Carioca de Letras, da Federação das Academias de Letras, do Instituto Brasileiro de Cultura, e outras instituições literárias. Deixou diversos livros publicados.
Foi pioneiro do Dia da Bandeira, pois em 1907, quando diretor da Instrução Pública, tornou obrigatório, nas escolas primárias, a Festa da Bandeira.
Em 1922 tomou parte no Congresso Espírita realizado no Rio de Janeiro. Pertenceu ao Conselho da Associação Espírita Obreiros do Bem, foi presidente da Liga Espírita do Brasil. No dia 15 de Novembro de 1939, na Associação Brasileira de Imprensa, quando se comemorou o cinqüentenário da República Brasileira, Leôncio Correia ocupou a presidência de honra do 1º Congresso Brasileiro de Jornalistas Espíritas.
Com as luzes de sua cultura e a grandeza de seu coração, prestigiou diversos movimentos espíritas no Rio de Janeiro. Na mencionada Liga Espírita, cujos destinos dirigiu com bondade e elevação espiritual, Leôncio Correia foi o amigo, o conselheiro abalizado, o companheiro dedicado de sempre. Viveu como cidadão impoluto e encerrou o ciclo de sua existência terrena com o espírito tranqüilo e convicto da existência de Deus e da imortalidade da alma.
Leôncio Correia deixou declarações escritas em 25 de Fevereiro de 1948, tendo sido conservadas em envelope fechado até o dia de seu desencarne, dizendo o seguinte:
“ Minhas últimas vontades:
Desejo que o meu enterro seja o mais simples, o mais modesto possível. Aos parentes e pessoas amigas que tencionem enviar coroas para cobrir o meu féretro, peço desistirem desse piedoso intento, fazendo distribuir entre a pobreza as importâncias a tal fim destinadas.
Sobre o pedaço de terra em que tenho de ser enterrado, desejo apenas uma pedra tosca, com os seguintes dizeres: Aqui jaz quem foi Leôncio Correia. A data de meu nascimento e a data de minha morte.
Aos irmãos rogo dirijam preces ao Pai, em intenção do meu espírito.
Não quero que ponham luto por motivo da minha morte. A morte não é o fim, é um princípio, princípio esclarecedor, que explica o porquê da vida. A mesquinha e pretensiosa inteligência materialista, na impossibilidade de aprender esta verdade, dá de ombros com fingida indiferença, sempre que é posto em equação esse transcendente problema.
Desejo que o meu enterro saia da capela do cemitério de São João Batista, possibilitando assim aos meus amigos pobres (se é que os tenho) poderem dizer-me adeus sem o sacrifício com despesas de automóvel.”
Leôncio Correia desencarnou no Rio de Janeiro, no dia 19 de junho de 1950 e além das fronteiras da morte, o poeta continua, vez por outra, a nos deleitar com suas magníficas produções. Uma delas está publicada no “Parnaso de além Túmulo”, obra mediúnica de Chico Xavier.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Theme: Overlay by Kaira Extra Text
Cape Town, South Africa