Leopoldo Cirne nasceu em 13 de Abril de 1870, na Paraíba do Norte, criando-se, porém, na cidade do Recife. Desencarnou no Rio de Janeiro, na manhã de 31 de Julho de 1941.
Desde cedo nele se revelou acentuado pendor pelos estudos e favorecido por viva inteligência, avançava, com real proveito, em seu curso de humanidades.
Dificuldades financeiras obrigaram-no a abandonar os estudos e a ingressar no comércio, quando contava onze anos de idade. Mal despontava a aurora, até às caladas da noite, estava o empregado no serviço ativo. Só uma pequena parte do domingo podia respirar mais livremente e dispor da sua vontade.
Em pleno desabrochar da sua juventude, já ao lado de Dias da Cruz e de Bezerra de Menezes trabalhava sincera e entusiasticamente a prol do Espiritismo. Tanta confiança granjeou de seus confrades, que estes lhe sufragaram, em1898, o nome para vice-presidente da Federação Espírita Brasileira. Tinha então 28 anos de idade.
Leopoldo Cirne foi espírita tanto no lar como na sociedade, tanto no sofrimento como nos momentos de ventura. Durante toda sua jornada terrena, seja no trato dos interesses materiais, seja no campo das atividades espiritualistas, ninguém logrou vê-lo irritado, mal humorado, impaciente. Jamais imprimiu à sua voz uma tonalidade ríspida. Era carinhoso, afável no falar. Quantas criaturas, ao ouvi-lo, modificavam seu modo errado de ver e sentir as coisas.
Leopoldo Cirne substituiu Dr. Bezerra de Menezes, após seu desencarne, na suprema direção da Casa de Ismael. Foi presidente da Federação Espírita Brasileira durante o período de 1900 a 1914. E a sua atuação nesse alto posto foi tão marcante que , por cerca de catorze anos, o exerceu com verdadeiro amor evangélico e dentro daquele espírito de sincera humildade de que o Cristo nos deu edificante exemplo.
À sua perseverante força de vontade e de confiança na misericórdia do Alto, deve a Federação Espírita Brasileira a sua sede na Avenida Passos, inaugurada no dia 10 de Dezembro de 1911.
Leopoldo Cirne sempre voltado para a literatura espiritualista. Seu amor e interesse pela cultura eram tão grandes, que a ele se deve o apoio que a Federação sempre prestou à causa do Esperanto, desde 1909.
Tendo, a serviço da inteligência e do coração, cujos dotes se consorciavam admiravelmente, o dom, precioso para um expositor de doutrina, de uma palavra fácil, corrente, eloqüente por vezes e sempre clara e tocante, ele se afirmou, presidindo a Federação, exímio pregador e instrutor notável, a cuja penetração mental nenhum embaraço insuperável oferecia qualquer ponto da matéria que versava, por mais obscuro e intrincado que fosse.
Leopoldo Cirne foi marido exemplar, de extremo carinho para com a sua companheira e esposa muito querida, D. Marietta Cirne.
Afastando-se da Federação, ele também abandonou, quase inteiramente, as atividades de pregador da Doutrina Espírita e de jornalista a seu serviço, para se consagrar a outras, sempre, porém, dentro do campo dessa doutrina. Passou a escrever obras doutrinárias de grande porte.
Consagrou-se no campo da literatura filosófico-religiosa como um dos grandes pensadores do movimento espírita do País, sendo mesmo cognominado o Léon Denis brasileiro.
Conhecia profundamente a Bíblia e as melhores obras de religião, filosofia, arte e literatura em geral lhe eram familiares. Traduziu vários livros para o nosso idioma.
Até o fim de sua vida, Leopoldo Cirne, apoiou, mesmo em pronunciamentos públicos, a obra da Federação Espírita Brasileira como organização diretiva de caráter nacional.
Desencarnou no Rio de Janeiro, na manhã de 31 de Julho de 1941.
Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira