O Espiritismo nada ensina contrário ao ensinamento do Cristo, mas o desenvolve, completa e explica, em termos claros para todos, o que foi dito sob forma alegórica.
Surgimento da doutrina dos Espíritos
“Os Espíritos anunciam que os tempos marcados pela providência para uma manifestação universal estão chegados e que, sendo os ministros de Deus e os agentes da sua vontade, cabe-lhes a missão de instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova era para a regeneração da Humanidade”.
Allan Kardec – “O Livro dos Espíritos”
O Consolador Prometido
Poucas horas antes de ser entregue aos judeus, por ocasião da última ceia, profere Jesus as seguintes palavras: “Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito da Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece. Mas vós o conhecereis, porque ele ficará convosco e estará em vós. – Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”. (João XIV: 15 a 17; 26)
Com essas palavras, Jesus se refere a um outro consolador, o Espírito de Verdade, que deveria vir mais tarde, ensinar todas as coisas, ficando claro que, em sua época, ele não havia dito tudo.
Se, portanto, esse consolador vem fazer lembrar o que o Cristo disse, é que o seu ensino foi esquecido ou mal compreendido.
Assim, retirando o véu dos “mistérios” que cobria os ensinamentos das escrituras realiza o Espiritismo o que Jesus disse do consolador prometido: permite ao homem ter acesso às grandes verdades espirituais, dá-lhe o entendimento de onde vem para onde vai e porque está na Terra, restitui-lhe a lembrança dos verdadeiros princípios da lei de Deus, e oferece-lhe consolação através da fé e da esperança.
A revelação divina através de Moisés, Cristo e o Espiritismo
Jesus dizia não ter vindo para destruir a lei de Deus, mas sim cumpri-la. Isto quer dizer, veio desenvolvê-la, dar-lhe o seu verdadeiro sentido e apropriá-la ao grau de adiantamento dos homens.
Por isso, encontramos nessa lei o princípio dos deveres para com Deus e para com o próximo, que constitui a base de sua doutrina. Quanto às leis de Moisés propriamente ditas, ele, pelo contrário, as modificou profundamente, no fundo e na forma. Combateu constantemente o abuso das práticas exteriores e as falsas interpretações e não podia fazê-las passar por uma reforma mais radical do que reduzindo-as a estas palavras: “Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo”, e ao acrescentar: “Esta é toda a lei e os profetas”.
Dessa forma, a lei do Antigo Testamento estava personificada em Moisés. A do Novo Testamento personifica-se em Cristo.
O Espiritismo é a terceira revelação da lei de Deus. Mas não está personificado em ninguém (nem mesmo em Allan Kardec, que foi apenas o seu codificador), porque esta revelação é produto do ensinamento dado, não por um homem, mas pelos Espíritos, que são as vozes do céu, em todas as partes da terra e por inúmerável multidão de intermediários (médiuns).
O Espiritismo nada ensina contrário ao ensinamento do Cristo, mas o desenvolve, completa e explica, em termos claros para todos, o que foi dito sob forma alegórica.
Ciência e Religião
Explica Allan Kardec que a Ciência e a Religião, que não se entendiam, encontram agora o seu laço de ligação, através do conhecimento das leis que regem o mundo espiritual e suas relações com o mundo corporal.
“Uma vez constatadas pela experiência essas relações, uma nova luz se fez: a fé se dirigiu à razão, esta nada encontrou de ilógico na fé, e o materialismo foi vencido”.
Obviamente, há os que ainda ficam retardatários, até que sejam arrastados pelo movimento geral, uma vez que é toda uma revolução moral que se realiza neste momento, sob a ação dos Espíritos. Tudo isso é conseqüência da lei do progresso, que é uma das leis de Deus.
Aspectos históricos do Espiritismo
Nos séculos XVI e XVII a Reforma Protestante atenua a predominância da Igreja Católica, favorecendo uma atmosfera propícia à fermentação de ideais libertadores. É justamente neste período que começam as primeiras manifestações de Espíritos, como a chamar a atenção do homem e prepará-lo para a chegada do Consolador, que nasceria em meados do século XIX.
Os espíritas tomaram o ano de 1848, com o fenômeno de Hydesville, como o marco do surgimento do Moderno Espiritualismo. Em 18/04/1857, com a primeira edição de O Livro dos Espíritos, codificado por Allan Kardec, nascia, oficialmente o Espiritismo.
Mas antes dessa data, algumas pessoas se destacaram pela sua capacidade de produzir fenômenos espiríticos. Estudaremos algumas dessas personalidades.
Emmanuel Swedenborg – Extraordinário vidente suéco. Educado entre a nobreza de seu país, era católico e profundo estudioso da Bíbilia. Longe de ser um místico visionário, perdido na subjetividade de suas visões, era grande autoridade em Física e Astronomia, autor de importantes trabalhos sobre as marés e determinação das latitudes. Zoologista, anatomista, financista e político, era engenheiro de minas, com grande conhecimento em metalurgia.
Seu potencial mediúnico desabrochou em abril de 1744, em Londres, onde desenvolveu seu trabalho por vinte e sete anos e esteve em contato constante com o mundo dos Espíritos.
Suas obras são descrições de suas extraordinárias experiências com o mundo espiritual. Assim ele descreve sua primeira visão: “Na mesma noite o mundo dos espíritos, do céu e do inferno, abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de todas as condições. Desde então diariamente o Senhor me abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e Espíritos”
Numa clara antecipação aos ensinos sobre a atmosfera fluídica que a Doutrina Espírita nos traz, afirmava que uma densa nuvem havia se formado em redor da Terra, em razão do baixo teor psíquico da humanidade e que de tempos em tempos havia um julgamento e uma limpeza, assim como a trovoada aclara a atmosfera material.
Deixou ensinos importantes, porém, com trechos empolados e difíceis. Sua principais obras são: “O Céu e o Inferno”, “A Nova Jerusalém” e “Arcana Celestia”.
(Estudos correlatos no site: “Breve História do Moderno Espiritualismo”)
Pastor Edward Irving – Nascido na Escócia, sua experiência com manifestações mediúnicas em sua pequena igreja, entre 1830 e 1833, apresentam interessante prenúncio da eclosão psíquica que seria encadeada uma década mais tarde.
Irving, homem modesto, conservador e por vezes excêntrico, pertencia a classe de trabalhadores braçais, tendo recebido sua educação na escola da Igreja Escocesa.
Posteriormente torna-se um pastor eloqüente e consciencioso, servidor dos mais necessitados de sua comunidade de Regent Square.
Profundamente interessado pelas profecias bíblicas, por volta de 1830 toma conhecimento de que ao oeste da Escócia o esquecido “dom das línguas” estava voltando como patrimônio da humanidade.
Um emissário é enviado ao local. Verifica, então, pessoas de boas reputação falando estranhas línguas, realizando manifestações acompanhadas por milagres de curas e outros sinais.
Tudo acontecia sem fraudes, sob o influxo de uma estranha força, levando aquela gente de retorno aos tempos apostólicos.
Esses estranhos fenômenos logo também irromperam na igreja de Irving. Em julho de 1831 corria boato de que certos membros da congregação estavam sendo tomados de maneira estranha em suas próprias residências e que discretas manifestações ocorriam na sacristia e outros recintos.
O pastor, perplexo, não pode impedir a ocorrência acentuada desses fenômenos. Rapidamente sua igreja é palco de um pequeno pentecostes onde gritos e ruídos supranormais, possessões, mas também curas e profecias ocorrem, atraindo multidão, desagradando conservadores e gerando comentários desfavoráveis nos jornais.
Como os limites do sistema religioso da igreja escocesa eram muito estreitos e as manifestações ocorriam em momentos inoportunos, sem nenhum controle, os “oradores” sensitivos começaram a achar seus próprios discursos diabólicos e heréticos. O que diziam não se acomodavam às suas próprias convicções espirituais. Entraram pelo frágil terreno das profecias e se viam envergonhados quando elas não se cumpriam.
Seja como for, no fenômeno das vozes da igreja do pastor Edward Irving, verificam-se inequívocos sinais de verdadeira força psíquica atuante, filtrada e distorcida pela estreiteza teológica e sectária dos médiuns envolvidos.
Andrew Jackson Davis – nascido em Nova Iorque, em 1826, Davis era um jovem sem cultura e filho de família pobre. Seus poderes psíquicos começam a se desenvolver ao final de sua infância.
Auxiliado por um magnetizador, projetava-se pelo mundo espiritual, dele trazendo surpreendentes informações. Dotado de grande clarividência, seu magnetizador dela se utilizava para diagnóstico de doenças.
Manifestou o desejo de escrever um livro, aos dezenove anos de idade, e o fez, em estado de transe mediúnico, sempre submetido por um magnetizador.
Embora jovem e ignorante, as palavras proferidas pelo médium denotavam um teor de elevado conhecimento e sabedoria, sendo anotadas num caderno por um secretário.
Assim iniciava um trabalho que prolongaria por muitos anos e daria origem a inúmeros livros, todos reunidos com o nome de “Filosofia Harmônica”. Particularmente nesta fase de sua vida, Davis dizia estar sob a influência direta de uma entidade que, posteriormente, identificou-se como sendo Swedenborg.
Aos vinte anos, não mais necessitando do magnetizador para entrar em transe, suas faculdades alcançavam pleno desenvolvimento, passando a ter notáveis experiências de clarividência.
Teve precisas visões do mundo espiritual, do fenômeno da morte e realizou profecias importantes como o aparecimento do automóvel, da máquina de escrever e do advento do próprio Espiritismo.
Foi um grande preparador da revelação espírita. Na memorável noite de 1848, quando em Hydesville, na residência da família Fox estabelecia-se o primeiro e ostensivo episódio mediúnico que marcaria o início do espiritismo, Davis registrou em uma de suas notas: “Esta madrugada um sopro quente passou pela minha face e ouvi uma voz, suave e forte, dizer: -‘Irmão, um bom trabalho foi começado – olha! Surgiu uma demonstração viva'”.
Hydesville – o marco inicial do moderno espiritualismo
Em 1848, no vilarejo de Hydesville, América do Norte, estado de Nova Iorque, na residência de uma família chamada Fox, fenômenos inusitados dariam início ao surto de uma grande invasão psíquica organizada que se propagaria por toda a Terra.
Esses fenômenos consistiam em batidas e estranhos ruídos na madeira das paredes da casa, cujas origens pareciam ser provenientes de uma inteligência oculta, desejando se comunicar.
As irmãs Kate e Margaret Fox, duas meninas de 11 e 14 anos, eram as médiuns causadoras do fenômeno que passou a chamar atenção dos moradores vizinhos.
Isso tudo causava transtornos e muito medo na família. A sra. Fox, em apenas uma semana, ficou com seus cabelos embranquecidos.
Através dos ruídos na madeira, as próprias meninas convencionaram um código pelo qual se estabelecia uma comunicação com a inteligência invisível. Uma batida na madeira significava “sim”, duas, significavam “não”, além de outros sinais que simbolizavam letras ou palavras.
Dessa forma, interrogadas sobre sua natureza, através das batidas, a própria inteligência invisível se apresenta como sendo o Espírito de um homem que vivera no mundo, naquela mesma casa, cinco anos antes, mas que fora assassinado.
Com essa revelação, algumas pessoas escavaram o local e encontraram cabelos e ossos humanos. Cinqüenta anos mais tarde, pesquisas revelaram toda a autenticidade dos fatos narrados pelo Espírito e que este se chamava Charles Rosna, tendo sido assassinado e enterrado exatamente como revelara anteriormente, através das batidas.
Esses fatos atraíram a atenção do mundo todo e por muito tempo as irmãs Fox foram submetidas a demonstrações públicas, pesquisas desconfortáveis, ao assédio e à cobiça de empresários, o que resultou tornarem-se alvo de muitas polêmicas.
>Foram envolvidas por influências perniciosas e, por desconhecerem as leis que regem a mediunidade, sofreram muitos desenganos, terminando seus dias de forma triste e obscura.
Mas as sementes estavam lançadas e já o mundo começava a viver a grande explosão de fenomenologia psíquica.
A notável mediunidade de Daniel Dunglas Home
Proveniente de uma pequena aldeia da Escócia, um outro fenômeno mediúnico começou a despertar a atenção das massas.
Quase concomitante às irmãs Fox, Daniel Dunglas Home tornava-se conhecido mundialmente em função de suas extraordinárias faculdades paranormais, chamando a atenção de sábios e estudiosos de todas as partes do mundo.
Suas prodigiosas faculdades de vidência, levitação, efeitos físicos, desdobramento, proporcionaram fantásticas demonstrações, muitas dessas testemunhadas por pessoas sérias e de grande credibilidade.
Considerado o mais surpreendente médium do mundo, Home jamais se envolveu com dinheiro, dando sempre testemunho de grande fé em Deus e atribuindo a responsabilidade dos fenômenos que produzia aos Espíritos.
Allan Kardec não o conheceu, embora fosse seu contemporâneo, mas faz comentários sobre ele em sua obra, pois suas demonstrações fenomênicas eram provas autênticas da imortalidade da alma.
O fenômeno das “mesas girantes” nos salões da América e da Europa
Em 1850, milhares de americanos -alguns ilustres e renomados- acreditavam nos fenômenos e os praticavam, levando-os a evoluir para a forma de mesas girantes.
Espalhando rapidamente pela Europa, essa nova febre, também chamada “mesa falante”, tomou conta dos salões nobres da época.
Reunidas ao redor de mesinhas de três pés, as pessoas faziam perguntas e os Espíritos respondiam com pancadas. Esses fenômenos ocorriam desde os palácios às choupanas e, por quatro anos consecutivos, causaram grande sensação.
Essas práticas fenomênicas alcançaram os salões de Paris onde morava o insigne educador francês, Hyppolite Léon Denizard Rivail.
Allan Kardec, o Codificador
O Professor Rivail é convidado a presenciar os fenômenos, mas de início não se interessou, acreditando tudo ser apenas mais uma diversão social. No entanto, pela insistência de amigos, compareceu a uma dessas reuniões e logo percebeu haver nessas manifestações uma causa inteligente.
Assim, passa a investigar e a notar que os comunicantes não eram iguais e cada qual, ao se comunicar, explicava, ao seu modo e grau de adiantamento moral e intelectual, aspectos do mundo invisível.
Dando prosseguimento em seus estudos, revisou cinqüenta cadernos de escritos mediúnicos, que já haviam sido obtidos por duas médiuns de doze e quatorze anos.
Passou então a formular perguntas aos Espíritos, catalogar e a comparar respostas. Entrou em contato com outros médiuns e, por fim, chegou a conclusões e revelações fundamentais que reuniu em um livro denominado “O Livro dos Espíritos”, que veio a apresentar ao público no dia 18 de abril de 1857.
Em 1861, dando continuidade a suas pesquisas, lançou “O Livro dos Médiuns”, em 1864, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, em 1865 “O Céu e o Inferno” e em 1868 “A Gênese”, formando o Pentateuco Espírita.
Allan Kardec é chamado O Codificador do Espiritismo em razão de haver organizado os ensinos revelados pelos Espíritos, formando assim uma coleção de leis (um código).
O Codificador ainda escreveu as seguintes obras: “O que é o Espiritismo”, “Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita”, “O Principiante Espírita”, além de editar a “Revista Espírita” até por ocasião de sua morte, em 1869. De sua lavra ainda consta “Obras Póstumas”, composto por textos inéditos.
O codificador, para distinguir sua obra espírita dos livros que editara anteriormente, adotou o pseudônimo de Allan Kardec, nome que, conforme revelação feita, tivera em encarnação anterior, ainda em solo francês, ao tempo dos druidas.
Fonte: Cent. Est. Esp. Paulo Apóstolo de Mirassol – SP – Brasil