Camilo Rodrigues Chaves destacou-se como figura marcante no Espiritismo e na vida política de Minas Gerais.
Detentor de vasta cultura humanística, falava corretamente as línguas italiana, francesa e espanhola, conhecendo também o latim clássico e o grego antigo. Sua sensibilidade artística permitia-lhe executar ao piano, com admirável perfeição, obras de consagrados mestres da música universal. Foi ainda orador, poeta, escritor, jornalista, comerciante, fazendeiro e advogado.
Filho de João Evangelista Rodrigues Chaves e Maria Matilde do Amaral Chaves, era natural do povoado de Campo Belo do Prata, hoje cidade de Campina Verde, Minas Gerais, onde nasceu no dia 28 de julho de 1884. De seu casamento com Damartina Teixeira Chaves nasceram-lhe os filhos Hélio Chaves, Camilo Chaves Júnior e Fábio Teixeira Rodrigues Chaves, dos quais apenas este último permanece reencarnado.
Aos nove anos de idade, seus pais consentiram que o Bispo de Goiás, Dom Eduardo Duarte Silva, o levasse para Roma, onde seguiria a carreira eclesiástica, ingressando no Colégio Pio Latino-Americano.
Formou-se na Universidade Gregoriana do Vaticano, diplomando-se Doutor em Teologia, Filosofia, Ciências Naturais e Matemática. Antes de receber a Ordem Eclesiástica, resolveu retornar ao Brasil por sentir que não tinha vocação para o sacerdócio.
A desencarnação do querido e bondoso Dr. Camilo Rodrigues Chaves, às 23:30 horas do dia 03 de Fevereiro de 1955, com a avançada idade de 70 anos, causou profunda e indescritível saudade à família espírita de Minas Gerais e do Brasil.
Sua ilustre, trabalhosa, honesta e proveitosa vida pública, nos elevados postos de senador, deputado, parlamentar, político e diretor da Loteria de Minas, era quase inteiramente desconhecida pelo maioria da família espírita. Também, poucos confrades têm conhecimento de suas atividades iniciais de vaqueiro, boiadeiro, comerciante e fazendeiro. Por seus gestos, atos e palavras, suas excelentes virtudes morais, espirituais e intelectuais o faziam realmente amado e respeitado por quem dele se acercasse.
No meio espírita, a existência do Presidente da União Espírita Brasileira foi a de um verdadeiro apóstolo do bem e da verdade. Ele sentia no âmago do coração e exemplificava, a todo instante, as belas e eternas lições evangélicas. Seu coração, sempre florido dos mais puros sentimentos, não conhecia o espinho da calúnia e nem o veneno do ódio. Não guardava mágoas e ressentimentos. Não só esquecia, como pedia que esquecessem as restrições que, por vezes, sofreu de confrades imprevidentes. Graças à fortaleza moral que se refletia em sua personalidade inconfundível, esses próprios confrades respeitavam a sua mansa e austera ação direcional.
Do inesquecível líder espírita se pode, certamente, afirmar que tinha o coração acima do cérebro e o cérebro dentro do coração. Sabia negar sem ferir, agir sem causar atritos, aconselhar sem ostentação, servir com humildade e perdoar sem ofender.
Vivendo ardorosamente as lições da Boa Nova, o querido diretor de O Espírita Mineiro dava o máximo de si mesmo, diariamente pregando e exemplificando, no exercício da caridade cristã junto aos encarnados e desencarnados. E ninguém jamais o viu em queixas, lástimas ou azedume, graças à elevação de seu espírito e à nobreza de seu caráter.
O maior Presidente que já teve a União Espírita Mineira. Eleito pela primeira vez, presidente, em 1946, vinha sendo reeleito pelo Conselho Deliberativo, quer em virtude dos reconhecidos méritos que lhe exortavam a figura de varão eminente, quer em face de sua profunda sabedoria.
Nos últimos anos, vinha ele dedicando sua existência à Doutrina e aos estudos. Locomovendo-se com dificuldade, em conseqüência de consolidação defeituosa de fratura na bacia ilíaca esquerda, ele se amparava numa bengala e, manquejante, diariamente comparecia à sede da União, com chuva ou sem chuva, noite boa ou fria.
Durante sua direção, a Casa Máter de Minas mereceu integral reforma interna e foram inauguradas a Assistência Dentária e a Farmácia Homeopática, serviços inteiramente gratuitos para milhares de necessitados.
Uma das preocupações predominantes do saudoso confrade dizia respeito à educação intelectual e espiritual da juventude.
Além dos cargos mencionados, era o Dr. Camilo Chaves, presidente de honra do Centro Espírita Amor e Caridade, um dos fundadores da Sopa dos Pobres, conselheiro, sócio e irmão benemérito de várias Sociedades Espíritas e leigas.
Era sobrinho trineto do alferes José Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes, pró-mártir da independência.
Eis o homem bom, cuja elevada personalidade deixou marcos imperecíveis em quase todos os setores da laboriosa oficina humana: no campo, no comércio, na cátedra, no jornalismo, na política, nas letras, na ciência e na religião.
Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira