Nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1829, filho de Francisco Luís Saião.
Encarnou em meio muito pobre e só a custa de muitos sacrifícios materiais conseguiu formar-se em Direito, na Academia de São Paulo, atual Faculdade de Direito de São Paulo.
Teve a vida de um estudante pobre, que nem livros teve para estudar, e que é obrigado a comer e a pagar a moradia à sua custa. Usava roupas e calçados, ora um tanto apertados, ora mais largos, dos seus companheiros de república, que, generosos e bons, tinham-no em geral em alta consideração. Nem uma vela para estudar, nem um vintém no bolso. Enquanto os colegas se divertiam nos teatros, bailes e serenatas, ele estudava à luz do lampião da república, ou pedia ao sono reparador o descanso de que necessitava o seu corpo depauperado de forças nas lutas do dia.
Vencendo todas as dificuldades, formou-se em Direito, jamais se deixou ficar na retaguarda e retornando ao Rio de Janeiro fez-se notável advogado.
Trabalhador incansável e extremamente econômico, conseguiu fazer fortuna, poupando e guardando as parcas economias que lhe sobravam das suas restritas necessidades materiais.
Talento modesto, aliado ao desejo de bem servir ao Senhor, jamais se deixou atingir pelo orgulho e pela vaidade, ou pelas sugestões do fausto e da orgia. Seu vestuário sempre foi sério , simples e decente, sua alimentação sólida, parca e sóbria.
Corria o ano de 1878, cheio de aflições e amarguras, preparava-se para, logo depois do dia fatal, mudar-se para a Europa com seu filho, então de treze anos de idade, em busca de resignação. Os sofrimentos de sua mulher, que, mais ou menos, datavam de seis anos, haviam-se agravado ao ponto de seu médico assistente afirmar-lhe que o termo fatal se aproximava. Abateu-se o seu pobre espírito, passando noites inteiras a velar à cabeceira da mulher a quem idolatrava, cheio de apreensões.
No dia 11 de setembro daquele mesmo ano, em que, exausto de forças, procurava respirar o ar da manhã na Praça da Constituição, encontrou-se com o Sr. Cândido de Mendonça, empregado no Foro, que, penalizado de o ver chorando, aconselhou-lhe que procurasse um seu colega, que, na travessa do Ouvidor, oferecia remédios homeopáticos para as moléstias consideradas incuráveis, com resultados espantosos.
Agradecendo-lhe, respondeu que não podia submeter sua mulher ao tratamento de homem distinto, é verdade, porém estranho completamente à ciência médica, quando ele tinha os recursos que podia oferecer às notabilidades médicas que já a tinham desenganado.
O Sr. Cândido de Mendonça, como um enviado da Providência, insistiu com um interesse que o surpreendeu, dizendo afinal que, se nos casos desesperadores e desenganados pelos homens da ciência, era desculpável darmos remédios de um sertanejo ignorante, quanto mais tratando-se de um homem conhecido, notável e já afamado por curar em casos idênticos.
Pois bem, no dia seguinte, às onze horas da manhã, compareceu à travessa do Ouvidor, onde encontrou um seu colega e mais alguns que o ajudavam, havendo grande número de pessoas, umas recebendo remédios, outras à espera de sua vez, todos alegres e contentes, referindo-se aos milagres das aplicações que fazia com caridade evangélica o homem assaz conhecido, por ser um literato distinto, titulado com carta de Bacharel em Direito, tendo já ocupado os cargos de Presidente de Província, Deputado à Assembléia Geral, porém completa e absolutamente estranho à ciência médica. Este homem era Bittencourt Sampaio.
Ao chegar sua vez, Saião disse que ia procurar remédios para sua mulher. Responderam-lhe que só se davam remédios aos pobres, e a esses mesmos quando desenganados por moléstias julgadas incuráveis. Insistiu, pedindo que lhe ajudassem por caridade, porque sua mulher estava desenganada, certificando-lhes que essa era sua última esperança, e sem que lhe perguntassem sobre a doença de que sofria sua mulher, pedindo-lhe só o seu nome, ele viu deitar em dois vidros, cheios de água, algumas gotas de tintura homeopática, que lhe foram entregues para dar à enferma.
Ainda se revoltou, à princípio, pelo fato de não se querer averiguar dos sofrimentos e nem ao menos indagarem dos diagnósticos dos médicos, mas era com efeito a sua última esperança e Saião foi portador desse presente do Céu, que, ao ser administrado à enferma, deu-lhe logo alívios extraordinários e, depois de alguns anos de aplicação emanadas da mesma fonte, obteve como resultado a vida e a saúde.
Diante de fato tão extraordinário e tão real, tomou o firme propósito de só formar juízo depois de estudo sério e refletido. É assim que tratou de estudar com os livros do Mestre, e com muitos outros, a Revelação da Revelação sobre os quatro Evangelhos, recebida dos Espíritos e coordenada por Roustaing.
Em 1878, mais ou menos, se fez espírita.
Teve então de travar luta titânica contra as suas tendências católico-romanas, não compatíveis com os Evangelhos de Jesus, que acabava de abraçar, e, sobretudo, contra os preconceitos sociais-religiosos, que naqueles tempos pareciam insuperáveis.
Tratou igualmente da verificação prática, trabalhando regularmente, durante dois anos, com médiuns que reuniu em uma sala para isto especialmente construída em sua residência.
Foi finalmente neste grupo que tirou a prova cabal e satisfatória de todos os fatos tidos como sobrenaturais para quem ignora as causas e a verdade.
Tomou para seu companheiro e mestre o seu colega Bittencourt Sampaio, que aqui na Terra tão bem soube orienta-lo e, no espaço, depois que para lá foi, melhor soube encaminha-lo com seus conselhos diários e ampara-lo com a sua ascendência moral. Feita a aliança espiritual entre os dois servos do Senhor, tiveram que lutar heroicamente contra as traiçoeiras ciladas que lhes armavam a todo instante os espíritos das trevas, com o intuito de separa-los
A luta foi encarniçada e tantos foram os estratagemas de que usaram os inimigos do espaço, para romper o laço que ligava esses dois espíritos aqui na Terra, que narra-los é impossível. Mais de uma vez teve Saião de pôr em prova a sua humildade, para evitar que se quebrasse um só dos elos da cadeia que o prendia ao seu mestre e amigo.
Constituído esse escritório como templo de caridade, em que Bittencourt dava remédios aos pobres desenganados pelos médicos, tornou-se ele o médico de sua família, com tal êxito que as moléstias, as mais insignificantes como as mais complicadas, foram sendo combatidas com o mesmo esplêndido resultado, o que foi presenciado até por alguns médicos, seus amigos íntimos.
Saião, inspirados pelos Maiores da Espiritualidade, funda um Grupo destinado ao estudo e à prática dos evangelhos, denominado grupo Ismael, desde que se incorporou à Federação Espírita Brasileira, cuja primeira reunião data de 15 de julho de 1880, em seu escritório. Dessa primeira sessão participaram, além de Saião, como diretor dos trabalhos, os seguintes médiuns, todos de grande fé e de elevada moral: Frederico Júnior, João Gonçalves, Manuel Antônio dos Santos, Bittencourt Sampaio e sua esposa Isabel Sampaio. Vários espíritos Superiores se fizeram ouvir nesta memorável noite, entre eles o glorioso Ismael. Inúmeras instruções foram fornecidas posteriormente pelos Guias, sendo que na segunda sessão o espírito de Frei José dos Mártires comunica estar encarregado de auxiliar o irmão Saião em seus trabalhos.
Estava assim consolidada no Brasil a célula máter do Anjo Ismael, onde milhares e milhares de espíritos têm encontrado a estrada da salvação. Nesse grupo, Ismael estabeleceu a torre de defesa de toda a Federação Espírita Brasileira.
Saião, mais tarde, em 1893, reuniu os trabalhos processados em cinqüenta e nove sessões, repletos de belíssimas e instrutivas comunicações dadas por Espíritos de grande luz, e deu publicidade a um livro de 400 páginas, intitulado: Trabalhos Espíritas de um pequeno grupo de crentes humildes. Em janeiro de 1897, Saião publica mais um livro: Estudo dos Evangelhos em espírito e verdade, obra que em 1902 saiu em segunda edição refundida e aumentada, agora com novo título, que até hoje conserva: Elucidações Evangélicas á luz da Doutrina Espírita.
Seu lar, nos tempos ignominiosos da escravidão, era o céu dos desgraçados que tinham pedido a prova de ser escravos. Nele se acolhiam, para de escravizados ficarem livres, pois eram tratados pelo senhor como irmãos e amigos e se constituíram membros de sua família.
A sua bolsa sempre esteve aberta à verdadeira necessidade. Jamais irmão algum que lhe pediu pão, ou lhe solicitou abrigo, passou fome ou se viu privado de teto. Bastava saber onde estava a miséria, para que Saião corresse pressuroso a ampara-la.
Seus atos de caridade são inúmeros.
Ele pressentiu o termo da sua jornada sobre a Terra poucos dias antes da sua partida para as regiões espirituais.
Estava o grande trabalhador da causa espiritista com setenta e quatro anos de peregrinação terrestre, quando repentina enfermidade, de alguns dias apenas, o convocou a pátria espiritual, para a vida imortal. Durante a enfermidade que o acometeu, se acusava grandes sofrimentos, não se queixava jamais, ao contrário, dizia sempre que se fizesse a vontade de Deus. O seu desprendimento foi calmo e mesmo sem contrações. Desencarnou como um justo, balbuciando uma Ave Maria.
Sua vida de espírita foi um exemplo de modéstia, humildade, abnegação e sobretudo de fé cristã. Portou-se verdadeiramente como servo do Senhor, aproveitando todas as ocasiões para aconselhar e esclarecer tanto a encarnados como a desencarnados.
Era ele uma voz ponderada e firme na pregação dos princípios evangélicos, e devemos frisar que sob este aspecto o espiritismo no Brasil muito lhe deve.
Se a sua vida foi um exemplo perene, digno de ser por nós imitado, a sua desencarnação não o é menos.
No Além, seu luminoso espírito continua, como ardoroso apóstolo do Evangelho, a edificar filhos transviados da Verdade, tão só com o amor que espontaneamente se lhe irradia do coração.
Assim vivem e assim desencarnam os verdadeiros discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira