Anália Emília Franco nasceu em Resende-RJ, a 1º de fevereiro de 1856, falecendo na capital de São Paulo aos 20 de janeiro de 1919.
Quando tinha cinco anos, seus pais, Antônio Maria Franco e Teresa Franco, mudaram-se para São Paulo. Com doze anos, já auxiliava sua mãe no magistério, com ela colaborando em diversos colégios, nas cidades de Guaratinguetá, Jacareí e no arraial Minas.
Mais tarde, ingressou na Escola Normal Secundária, de São Paulo, diplomando-se professora. Dedicou-se, desde então, de corpo e alma, ao magistério público, logo se destacando pelo seu alto tino pedagógico e pelo extremado carinho para com os alunos. Não havia prazer maior, para ela, que ensinar. Alguns anos depois, fundava na cidade de São Carlos um colégio, internado e externato, de ensino primário e secundário, denominando-o “Santa Cecília”. Esteve também em Taubaté, onde se iniciou no jornalismo.
Em 17 de Novembro de 1901, Anália Franco inaugurava, com estatutos então aprovados em Assembléia Geral, a Associação Feminina Beneficente e Instrutiva do Estado de São Paulo.
Destinada, de início, a amparar, instruir e educar as crianças pobres e indigentes da capital paulista, sem qualquer distinção de crença ou raça, essa Associação Feminina teve em sua presidência, de 1901 a 1919, a grande benfeitora Anália Franco, que, reagindo contra o indiferentismo do meio, tomou a si, com a fé e a energia de um apóstolo, a sagrada tarefa de erradicar o analfabetismo e combater a miséria e a ignorância que flagelam as ínfimas camadas sociais.
Ao que tudo indica, a essa época Anália Franco já era espírita, mas extremamente liberal e tolerante, tanto assim que a sua obra jamais imprimiu caráter nitidamente espírita, mesmo porque, conforme ela própria explicava, recebendo a Associação crianças de todas as crenças religiosas, bastava o ensino das verdades fundamentais das religiões em geral, como a existência de Deus, a imortalidade da alma e o ensino da mais pura moral, para despertar no coração delas a atividade espiritual no sentido do amor a Deus e ao próximo.
Seis anos depois de fundada, essa Instituição já mantinha e orientava 22 escolas maternais e 2 noturnas, só na capital paulista, enquanto cinco escolas maternais funcionavam no interior do Estado. Afora isso, estava em pleno funcionamento um Liceu Noturno na cidade de São Paulo, com uma freqüência de mais de 100 alunas, e outro em Santos.
As professoras de todas essas casas de ensino, geralmente normalistas, trabalhavam gratuitamente na benemérita cruzada dirigida por Anália Franco.
Concretizando um sonho de muitos anos, Anália Franco criava, afinal, em meados de 1903, um Asilo-Creche, o primeiro de outros futuros, espalhados por diversas cidades. Nessa nova organização, eram amparadas as viúvas, as mães abandonadas e seus filhos, os órfãos em geral. Com o correr do tempo, Anália ali montaria oficinas de tipografia, de costura, de flores artificiais, de chapéus, bem como daria aulas de música, de escrituração mercantil, etc.
Merecendo-lhe carinho todo especial a educação do povo, em diversas ocasiões conclamou as senhoras brasileiras a se unirem a esse movimento de redenção da ignorância e da miséria. Seu apelo, ouvido por muitas distintas damas da sociedade brasileira, permitiu-lhe multiplicar o número de escolas, asilos e creches.
Pelo espaço de quinze anos, Anália dirigiu a revista “A Voz Maternal”, por ela mesma fundada em 1903.
Inúmeras vezes ela atravessou períodos aflitivos, pela insuficiência de recursos, para suprir as necessidades de tantas instituições.
A fé e a dedicação de Anália não esmoreceram jamais. O trabalho era a essência mesma de sua vida. Estava sempre a idealizar novos planos em benefício da criatura humana. Outros empreendimentos vieram juntar-se aos que, havia anos, produziam apreciáveis frutos.
Cresceu a Biblioteca Escolar da Associação, abriu-se uma Escola Noturna para analfabetos adultos. No Asilo-Creche foram instalados novos e diferentes cursos.
Em 1906, devido a grandes dificuldades financeiras, Anália abriu o “Bazar da Caridade”, para a venda ao público dos trabalhos manufaturados no Asilo.
Um pouco mais tarde, após passar essa fase de dificuldades, Anália adquiriu, a baixo preço, em prestações, uma fazenda situada no bairro da Mooca, na cidade de São Paulo, e ali instalou a Colônia regeneradora D. Romualdo. Esta Colônia abrigou, a princípio, mulheres arrependidas, nelas se incutindo as virtudes que enobrecem e o amor ao trabalho, preparando-as para vencerem dignamente na vida. Dessa casa benfazeja saíram centenas de criaturas regeneradas, e ali se organizou excelente Grupo Dramático Musical e uma Orquestra.
Quando irrompeu a Primeira Guerra Mundial, o Brasil imediatamente sentiu-lhe os reflexos em sua vida econômica. Nessa ocasião, com a grave responsabilidade da manutenção de centenas de crianças, e com o espírito angustiado ante a idéia de que a fome viesse bater às portas das casas de recolhimento dos seus protegidos, Anália Franco não se deixou abater e, apesar dos seus 58 anos de idade, lançou mão de todos os meios para que o pão não faltasse à sua grande família espiritual.
Organizou festas, insistiu junto a velhas amizades, bateu a todas as portas e, por algum tempo, conseguiu remediar a situação. Mas esses recursos chegaram ao fim, e a bolsa do povo estava esgotada. Não fosse Anália Franco um espírito forte, iria entregar as chaves de suas escolas e asilos ao Governo, para que este providenciasse a alimentação das crianças. Ela, porém, não procedeu assim. Em tal emergência, fez o seguinte: acompanhada do corpo docente do Asilo-Creche, do seu esposo Francisco Antônio Bastos, da Banda Feminina e do Grupo Dramático, Anália foi, numa ronda de caridade, percorrer várias cidades de São Paulo e vilarejos remotos, objetivando angariar donativos para suprir as prementes necessidades da Associação. Encontrando, em todas as localidades, carinhosa acolhida por parte das autoridades e do povo em geral, Anália Franco, pôde amealhar alguns recursos para minorar a situação.
O mundo convulsionado pela guerra iria passar por outra desgraça próxima. Mortífera pandemia de gripe surgiu na Europa e em pouco tempo atingia o Brasil com o nome de gripe espanhola. Caíram doentes todas as asiladas. Sem possibilidades para melhor atender às suas doentinhas, ela se confia a Deus e põe-se a trata-las com passes, água fluidificada e algum chá caseiro. Com a ajuda do Alto, conseguiu salvar todas elas, à exceção de quatro ou cinco meninas que haviam sido entregues aos seus cuidados já bastante debilitadas.
As noites passadas em claro, junto aos filhos de sua grande família, os angustiantes problemas que pesavam sobre sua alma, tudo isso concorreu para enfraquecer-lhe as forças orgânicas, levando-a a desencarnar na capital de São Paulo, aos 20 de Janeiro de 1919.
Paciente, carinhosa, humilde, dedicadíssima ao bem do próximo, assim era Anália Franco. Não teve filhos, mas foi uma grande MÃE.
Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira