Mês: janeiro 2022

Sócrates

Sócrates

Seu nome em grego é Sokrátes. Sua cidade natal foi Atenas, no ano de 469 a.C., tendo nascido filho de um escultor, de nome Sofronisco e de uma parteira, Tenarete.
Fisicamente, era considerado feio, com seu nariz achatado, olhos esbugalhados, uma calva enorme, rosto pequeno, estômago saliente e uma longa barba crespa.
Casou-se com Xantipa e teve três filhos mas dizem que trabalhava apenas o necessário para que a família não viesse a perecer à fome.
Tendo sido proclamado pelo oráculo de Delfos, como o mais sábio dos homens, Sócrates passou a se incumbir de converter os seus concidadãos à sabedoria e à virtude. Considerava-se protegido por um “daimon”, gênio, demônio, espírito, cuja voz, afirmava, desde a infância, o aconselhava a se afastar do mal.
Não tinha propriamente uma escola, mas um círculo de familiares, discípulos com os quais se encontrava, de preferência, no ginásio do Liceu. Em verdade, onde quer que se encontrasse, na casa de amigos, no ginásio, na praça pública, interrogava os seus interlocutores a respeito das coisas que, por hipótese, deveriam saber, fossem eles um adolescente, um escravo, um futuro político, um militar, uma cortesã ou sofistas.
Desta forma, conclui que eles não sabem o que julgam saber e, o que é mais grave, não sabem que não sabem. Por sua vez, ele, Sócrates, não sabe mas sabe que não sabe.
Era considerado um homem corajoso e de muita resistência física. Todos se recordavam de como ele, sozinho, enfrentara a histeria coletiva que se seguira à batalha naval de Arginusas, quando dez generais foram condenados à morte por não terem salvo soldados que estavam a se afogar.
Ele ensinava que a boa conduta era aquela controlada pelo espírito e que as virtudes consistiam na predominância da razão sobre os sentimentos. Introduziu a idéia de definir os termos, pois, “antes de se começar a falar, era preciso saber sobre o que é que se estava falando.”
Para Sócrates, a virtude supõe o conhecimento racional do bem. Para fazer o bem, basta, portanto, conhecê-lo. Todos os homens procuram a felicidade, quer dizer, o bem, e o vício não passa de ignorância, pois ninguém pode fazer o mal voluntariamente.
Foi denunciado como subversivo, por não acreditar nos deuses da cidade, e também corruptor da mocidade. Não se sabe exatamente o que os seus acusadores pretendiam dizer, mas o certo é que os moços o amavam e o seguiam. O convite a pensar por si mesmos atraía os jovens e talvez fosse isso que temessem pais e políticos. Ocorreu também que um dos seus discípulos, de nome Alcibíades, durante a guerra com Esparta tinha se passado para o lado do inimigo. Embora a culpa não fosse de Sócrates, pois a decisão fora pessoal, Atenas buscava culpados.
Foi julgado por um tribunal popular de 501 cidadãos e condenado à morte. Poderia ter recorrido da sentença e, com certeza, receber uma pena mais branda. Entretanto, racional como era, afirmou aos discípulos que o visitaram na prisão:
“Uma das coisas em que acredito é no reinado da lei. Bom cidadão, como eu tantas vezes vos tenho dito, é aquele que obedece às leis de sua cidade. As leis de Atenas condenaram-me à morte, e a inferência lógica é que, como bom cidadão, eu deva morrer.”
É Platão quem descreve a morte do seu mestre, no diálogo Fédon. Sócrates passou esta noite a discutir filosofia com seus jovens amigos. O tema, “Haverá uma outra vida depois da morte?”
Embora fosse morrer em poucas horas, discutiu sem paixão sobre as probabilidades de uma vida futura, ouvindo mesmo as objeções dos discípulos que eram contrários à sua própria opinião.
Quando o carcereiro lhe apresentou a taça de veneno, em tom calmo e prático, Sócrates lhe disse:
“Agora, você que entende dessas coisas, diga-me o que fazer.”
“Beba a cicuta, depois levante-se e passeie até sentir as pernas pesadas, respondeu o carcereiro. Então, deite-se, e o torpor subirá para o coração.”
Sócrates a tudo obedeceu. Como os amigos chorassem e soluçassem muito, ele os censurou. Seu último pensamento foi de uma pequena dívida que havia esquecido. Afastou a coberta que lhe haviam colocado sobre o rosto e pediu:
“Crito, devo um galo a Esculápio…Providencie para que a dívida seja paga.”
Fechou os olhos e cobriu novamente o rosto. Quando Crito tornou a lhe indagar se tinha outras recomendações a fazer, ele não mais respondeu. Havia penetrado o mundo dos espíritos. Era o ano 399 a .C.
Sócrates nada escreveu e sua doutrina somente nos chegou pelos escritos de seu discípulo Platão. Ambos, mestre e discípulo, são considerados precursores da idéia cristã e do espiritismo, tendo o Codificador dedicado as páginas da introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo para esse detalhamento.
O nome de Sócrates se encontra especialmente em Prolegômenos de O livro dos Espíritos, logo após o de O Espírito da Verdade, seguido de Platão. Ainda encontramos seus comentários aos itens 197 e 198 de O livro dos Médiuns, no capítulo que trata dos médiuns especiais, demonstrando que o trabalhador verdadeiro não cessa suas atividades, embora a morte do corpo fisico e de que, afinal, somos verdadeiramente uma só e única família universal: espíritos e homens , envidando esforços para o atingimento da Perfeição.

Fonte: Enciclopédia Mirador Internacional, vol. 19;
Grandes vidas, grandes obras, Seleções do Reader’s Digest, 1968

Santo Agostinho

Santo Agostinho

Agostinho nasceu a 13 de novembro de 354, em Tagaste, pequena cidade da atual Argélia. Na cidade natal transcorreram sua infância e juventude, um ambiente limitado de um povoado perdido entre montanhas.
Talhado para a oratória, ele lê e decora trechos de poetas e prosadores latinos. Aprende elementos de música, física e matemática.
Em Cartago fez seus estudos superiores e ali também entrou em contato com a alegria e esplendor das cerimônias em honras aos deuses protetores do Império.
Embora seja descrito como um jovem ponderado, dedicado aos livros, ele confessa que “amar e ser amado era uma coisa deliciosa”. Ele passou a viver com uma mulher a quem foi fiel, tendo se tornado pai em 373, com apenas 19 anos. Seu filho, de nome Adeodato, morreria aos 17 anos.
Desejava se destacar na eloqüência, confessa, por orgulho. Desejava ser o melhor. Um livro de Cícero o alerta que “a verdadeira felicidade reside na busca da sabedoria.”
Retorna à sua cidade natal e se dedica ao ensino, por treze anos, depois ensina em Cartago e Roma. Dedicou-se ao estudo das Escrituras, contudo, achou seu estilo tão simples que se desiludiu e o abandonou.
Em Milão parecia ser um homem feliz: pago pelo Estado, personagem quase oficial (ocupava a cátedra da eloqüência), respeitado como professor. No entanto, ele se mostra inquieto. Busca a verdadeira alegria e não a encontra.
Afeiçoou-se ao maniqueísmo, doutrina do profeta persa Mani. Após 12 anos, insatisfeito com as respostas que a doutrina não lhe dava, recomeça a ler os Evangelhos e assistir os sermões do bispo Ambrósio, que o recebeu como um pai.
Uma canção infantil, na voz cristalina de uma criança que insiste “Toma, lê”, faz com que ele procure o livro a respeito de São Paulo e retorne em definitivo ao cristianismo.
Sua vida daquele momento em diante seria meditar, escrever livros, discursar. Em 391, é chamado a Hipona, um grande centro comercial de cerca de 30.000 habitantes. Cinco anos depois seria sagrado bispo auxiliar de Hipona.
Grande era a luta, à época contra as chamadas heresias. Agostinho, sempre orador oficial, nos sínodos e concílios em Cartago nunca esquece que “mais valioso que a palavra é o amor fraterno… Os olhos dos doentes queimam, por isso são tratados com delicadeza… Os médicos são delicados até com os doentes mais intolerantes: suportam o insulto, dão o remédio, não revidam as ofensas.”
As palavras que mais aparecem em seus escritos são amor e caridade. Por vezes, desenvolvendo uma idéia interrompe seu raciocínio para deixar escapar gritos de amor a Deus: “Ó Senhor, amo-Te. Tu estremeceste meu coração com a palavra e fizeste nascer o amor por Ti. Tarde Te amei, ó Beleza tão amiga e tão nova, tarde Te amei… Tocaste-me, e ardo de desejo de alcançar a Tua paz.”
Duas vezes por semana falava na Igreja da Paz. Certa vez, discorrendo a respeito de São João se entusiasmou de tal forma que pregou durante cinco dias consecutivos, sempre aplaudido.
Mas, dizia: “Vossos louvores são folhas de árvores; gostaria de ver os frutos.” Tal era a admiração que tinham por Agostinho, que chegaram a acreditar que ele fosse capaz de produzir curas e lhe levavam doentes.
“Se eu tivesse poder para curar”, dizia, “curaria a mim mesmo”.
A doença que o tomou durou poucos dias. Percebendo que se avizinhava a morte, pediu que o deixassem a sós, para orar.
Morreu na noite de 28 para 29 de agosto de 430, aos 76 anos. Não deixou testamento, mesmo porque não tinha bens.
Os pintores medievais o retratam com o livro na mão e o coração em chamas. O livro simboliza a ciência, o coração inflamado, o amor. Sabedoria e amor foram os seus dons inseparáveis.
Interessante anotar que embora seja sempre retratado com muita pompa e luxo, mesmo como bispo ele se recusava a usar o anel e a mitra.
Esse espírito foi convidado a participar da equipe do Espírito da Verdade e suas ponderações podem ser encontradas em vários momentos da Obra Kardeciana, entre eles em O livro dos espíritos (prolegômenos, resposta às questões 495, 919 e 1009), O evangelho segundo o espiritismo (cap. III, itens 13 e 19; cap. V, item 19; cap. XII, itens 12 e 15; cap. XIV, item 9; cap. XXVII, item 23), O livro dos médius (cap. XXXI, dissertações de número 1 e XVI – Acerca do espiritismo / Sobre as sociedades espíritas).

Fonte: Grandes personagens da História Universal, vol. 1 (Abril Cultural);
O livro dos espíritos;
O evangelho segundo o espiritismo;
O livro dos médiuns.

Sanson

Sanson

Sanson, ex-membro da Sociedade Espírita de Paris _ eis a forma como o espírito se identifica, assinando a mensagem Perda de pessoas amadas. _ Mortes prematuras (O evangelho segundo o espiritismo, cap. V, item 21), bem assim a que se encontra inserida no cap. XI, item 10 da mesma obra, e que disserta a respeito de A lei de amor, ambas datadas do ano 1863.
Sanson era membro da Sociedade Espírita de Paris e desencarnou no dia 21 de abril de 1862, “após mais de um ano de sofrimentos cruéis”, conforme nos informa o Codificador na Revista Espírita do mês de maio do mesmo ano. Quase dois anos antes, o sr. Sanson dirigira a Kardec, na qualidade de Presidente da dita Sociedade, uma carta onde solicitava que, após a sua morte, fosse evocado e o mais imediatamente possível. Isto fazia, reafirmando um desejo que expressara “há cerca de um ano”. O seu era o propósito de, através “dessa espécie de autópsia espiritual” servir no além-túmulo, “dando-lhe os meios de estudar fase por fase, nessas evocações, as diversas circunstâncias que se seguem ao que o vulgo chama a morte”.
Recomendando-se às preces dos companheiros da Sociedade Espírita de Paris, discorre ainda, na mesma missiva, sobre sua preocupação com respeito à escolha e oportuno momento de sua próxima reencarnação.
Allan Kardec compareceu, com alguns membros da Sociedade ao local onde se encontrava o corpo do sr. Sanson e ali, uma hora antes do enterro, deu-se a sua primeira comunicação, onde demonstrou plena ciência de sua situação, afirmando que após 8 horas de sua morte, recobrara a lucidez das suas idéias. O médium que serviu de intermediário foi o sr. Leymarie, que jamais tinha visto o sr. Sanson e desconhecia o seu caráter, os seus hábitos e muito menos sabia se ele tinha filhos, o que na mensagem é mencionado, provando a sua autenticidade, onde o espírito “se revela pelo seu lápis”.
À beira do túmulo, Allan Kardec discursa, apresentando o sr. Sanson como um homem de bem em toda a extensão do vocábulo. Diz ainda que ele era dotado de uma inteligência incomum, desenvolvida por uma instrução variada e profunda. Simples nos seus modos de vida, aplicava a sua atividade intelectual em pesquisas e invenções muito engenhosas que, no entanto, não lhe trouxeram resultados.
“Era um desses homens que jamais se aborrecem, porque sempre estão pensando em algo de sério. Conquanto sua posição o tivesse privado daquilo que faz a doçura da vida, seu bom humor jamais se alterava.”
A crença espírita o ajudou a suportar os “longos e cruéis padecimentos com uma paciência e uma resignação muito cristãs. Não há um só dentre nós”, prossegue o Codificador, “que o tendo visto em seu leito de dor não se tenha edificado com a sua calma e a sua inalterável serenidade. Desde muito tempo ele previa o seu fim; mas, longe de se apavorar, o esperava como a hora da libertação. Ah! é que a fé espírita dá, nesses momentos supremos, uma força da qual só se dá conta quem a possui. E o sr. Sanson a possuía em grau supremo.”
Nos dias 25 de abril e a 2 de maio do mesmo ano de 1862, outras duas palestras ocorrem, em que, ainda servindo como médium o sr. Leymarie, o espírito Sanson responde as questões mais delicadas da situação do espírito após a morte física, dizendo-se “muito feliz por me tornar útil aos meus antigos colegas e ao seu digno presidente”.
Nas observações do mestre lionês, as palestras propiciam “um elevado ensino na descrição que ele faz do próprio instante da transição” e salienta “que nem todos os Espíritos seriam aptos a descrever esse fenômeno com tanta lucidez quanto ele. O sr. Sanson viu na sua morte o seu próprio renascimento, circunstância pouco comum e que devia à elevação de seu Espírito.”

Fonte: Kardec, Allan. O evangelho segundo o espiritismo, FEB, 1987.
Kardec, Allan. Revista espírita, EDICEL. Maio e Junho de 1862.

Samuel Hahnemann

Samuel Hahnemann

Christian Friedrich Samuel Hahnemann nasceu em 10 de abril de 1755, em Meissen, na Saxônia. Seus pais lhe deram o nome de Christian, seguidor de Cristo; Friedrich, protegido do rei; Samuel, Deus me escutou, em sinal de reconhecimento a Deus.
Seu pai era pintor de porcelana e ele mesmo foi preparado para seguir a carreira paterna. Desta forma, aprendeu na Escola várias línguas estrangeiras: inglês, francês, espanhol, latim, árabe, grego, hebreu e caldeu, além da língua nacional. O objetivo era poder, no futuro, comercializar em outros países a porcelana.
Mas, o seu destino seria outro. Foi estudar Medicina em Leipzig e Viena. Por ser pobre, sustentava-se fazendo traduções, e assim entrando em contato com obras sobre doutrinas existenciais.
Em 1812, era docente da Universidade de Leipzig. Contudo, na carreira médica se mostrava inquieto por não conseguir bons resultados na cura dos enfermos que tratava. Seus amigos diziam que ele sonhava, que tudo que almejava era utopia. “O homem é limitado mesmo, limitados também seus conhecimentos.”
Finalmente, aos 36 anos, após a morte de um amigo que cuidava clinicamente, resolve abandonar a medicina. Adentra o seu consultório e avisa a seus pacientes que não mais os atenderá. Se os não pode curar, de que vale a sua ciência! E despede a todos.
Está profundamente desanimado. Para sobreviver e sustentar a família, trabalha em traduções, mais especialmente na área da química e da farmacologia.
Fazendo a tradução de uma obra de um médico escocês William Cullen, no ano de 1790, surpreende-se com a descrição das propriedades do quinino. Chama-lhe a atenção, em especial, o fato de que a intoxicação pelo quinino tinha sintomas
semelhantes aos da enfermidade natural da febre intermitente.
Ele próprio passou a ingerir doses de quinino, comprovando que os resultados eram semelhantes à febre combatida por aquele produto.
Repetiu a experiência com outras drogas, como o mercúrio, a beladona, a digital, sempre no homem sadio, concluindo por elaborar a doutrina homeopática, resumida na expressão : “similia similibus curantur”, ou seja, sintomas semelhantes são curados por remédios semelhantes.
Já no ano de 1796, suas observações foram divulgadas. Observações que passariam a compor sua mais importante obra: O Organon, publicado em 1810, onde explica seu sistema e cria a Homeopatia. Depois, publicaria Ciência Médica Pura e Teoria e tratamento homeopático das doenças crônicas.
Nos princípios homeopáticos estabelece-se que toda substância que, em dose ponderável, é capaz de provocar no indivíduo são um quadro sintomático, também tem capacidade de o fazer desaparecer, com administração em pequenas doses. Também que a preparação dos medicamentos requer diluições infinitesimais, pois que elas teriam a capacidade de desenvolver as virtudes medicinais dinâmicas das substâncias grosseiras.
Desde os primeiros momentos, Hahnemann sofreu acirrada campanha contrária ao que expunha, em especial dos farmacêuticos, pelo que muito padeceu.
Somente em 1835, já com seus 80 anos, viúvo, foi procurado por uma jovem que o buscou em sua cidade como último recurso médico e foi por ele curada. Eles se consorciam e ela o leva para Paris, onde finalmente obtém geral reconhecimento.
Foi em Paris que ele desencarnou a 2 de julho do ano de 1843, 14 anos antes de vir a lume O livro dos Espíritos e nascer, portanto, a Doutrina Espírita.
Compondo a equipe espiritual responsável pela Codificação, deu seu contributo particularmente em O evangelho segundo o espiritismo, cap. IX, Bem-aventurados os que são brandos e pacíficos, onde assina a mensagem do item 10, tratando das virtudes e dos vícios que são inerentes ao Espírito. A mensagem foi dada em Paris, no ano de 1863.
À guisa de curiosidade somente, no mesmo ano, a 13 de março, na Sociedade Espírita de Paris, tendo como médium a sra. Costel, Hahnemann dissertou a respeito do estado da ciência à época, em resposta a um médico homeopata estrangeiro, presente à sessão. Dita dissertação se encontra no volume sexto da Revista Espírita.

Fonte: 1.Enciclopédia Mirador Internacional, vol 11, verbetes: Hahnemann e
Homeopatia; 2.Internet, verbete Hahnemann.

Platão

Platão

É pelos frutos que se conhece a árvore. Toda ação deve ser qualificada pelo que produz: qualificá-la de má, quando dela provenha mal; de boa, quando dê origem ao bem.”
Estas palavras bem podem soar, para quem já leu o Evangelho, como palavras textuais do Senhor Jesus.
Contudo, foram anotadas e dadas ao mundo séculos antes de Jesus, por Platão, filósofo grego, discípulo de Sócrates. Seu nascimento data do ano 428 ou 427 a C, na cidade de Atenas, na Grécia.
Pertencente à alta aristocracia, em torno dos seus 20 anos, conheceu e tornou-se amigo do filósofo Sócrates, a quem acompanhou até os seus últimos dias e de quem anotou os ensinos, graças ao que nos chegaram aos dias atuais.
Empreendeu viagem ao Egito e à Itália meridional. Na Sicília freqüentou a corte de um tirano de Siracusa de nome Dionísio. Desejando influir na política da cidade, terminou por se incompatibilizar com Dionísio, que o mandou vender como escravo, na ilha de Egina, que se achava em guerra com Atenas.
Resgatado, retornou para sua cidade natal onde, em torno dos seus quarenta anos, fundou a Academia, na qual ensinou até o final dos seus dias terrenos.
Fácil de se entender porque ele e Sócrates são considerados precursores da idéia cristã e do Espiritismo, bastando se leiam alguns dos seus escritos. A obra kardequiana O evangelho segundo o Espiritismo apresenta pequenos trechos que se referem ao conceito dos dois filósofos gregos a respeito da alma, seu progresso, a reencarnação, o mundo espiritual e seus habitantes, bem assim a respeito das mais excelsas virtudes, exatamente traçando um paralelo entre aquelas idéias, as do Cristo e, por conseqüência, os princípios fundamentais do Espiritismo.
Considerado um dos filósofos mais influentes de todos os tempos, pois que seu pensamento dominou a filosofia cristã antiga e medieval, seus escritos nos legaram o pensamento socrático, bem assim os relatos comoventes dos últimos dias de seu mestre. Criador pessoal ainda do diálogo filosófico, espécie de drama de idéias.
Sua obra O Banquete é considerada uma das maiores da literatura antiga. Como poeta, seu estilo é o ponto mais alto da prosa grega e o demonstra nos seus poemas em prosa do mito da Caverna, da Atlântida e de Eros.
Escreveu ele “O amor está por toda parte em a Natureza, que nos convida ao exercício da nossa inteligência; até no movimento dos astros o encontramos. É o amor que orna a Natureza de seus ricos tapetes; ele se enfeita e fixa morada onde se lhe deparem flores e perfumes. É ainda o amor que dá paz aos homens, calma ao mar, silêncio aos ventos e sono à dor.”
As obras de Platão discorrem sobre a mentira, a natureza do homem, a piedade, o dever, o belo, a sabedoria, a justiça, a coragem, a amizade, a virtude. No livro VII da República, ele apresenta o célebre mito da caverna: acorrentados no interior de um cárcere subterrâneo e de costas voltadas para a entrada por onde penetra a luz, os que estão ali presos somente podem ver dos homens, dos animais e de tudo o mais que se encontre no exterior da caverna, as sombras que se projetam no fundo dela.
Um homem que consegue se libertar, ofusca-se com a luz do sol no exterior e descobre que tudo o que vira até então era a irrealidade. Ali estava o mundo real. No entanto, se retornar ao interior e desejar transmitir aos demais, ainda prisioneiros, o que viu, sente que corre o risco de ser maltratado e até morto. Esta, segundo Platão, é exatamente a missão do filósofo.
Tendo desencarnado, pleno de lucidez e força criadora, aos 80 anos de idade, da espiritualidade, unindo-se a tantos outros espíritos de envergadura intelecto-moral, Platão continua na sua missão, revelando as nuances do mundo espiritual, o mundo do sol ofuscante, o mundo real, verdadeiro.
Seu nome é citado em Prolegômenos de O livro dos espíritos, bem assim assina um dos trechos da resposta à questão 1009 da mesma obra, onde falando a respeito da inexistência das penas eternas bem recorda as exortações de Sócrates, quando ao seu tempo, apresentou a alma migrando através de múltiplas existências, em seguida a mais ou menos longos períodos de erraticidade.
E conclui: “Humanidade! não mergulhes mais os teus tristes olhares nas profundezas da Terra, procurando aí os castigos. Chora, espera, expia e refugia-te na idéia de um Deus intrinsecamente bom, absolutamente poderoso, essencialmente justo.”

Fonte: l.KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Rio de Janeiro, 1974. perg. 009.
2.KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo, Rio de Janeiro, 1987. introdução.
3. Enciclopédia Mirador Internacional, vol 16, verbete: Platão.

Paulo (O Apóstolo)

Paulo (O Apóstolo)

Foi em Tarso, na Cilícia, um importante centro mercantil e intelectual do mundo romano que nasceu entre os anos 5 e 10 da Era Cristã, uma criança que, no momento da circuncisão recebeu o nome de Saulo. Seus pais, embora judeus, gozavam dos privilégios da cidadania romana. Privilégios que podiam ser conseguidos pelos habitantes das províncias de duas formas: como recompensa por serviços prestados ou pelo desembolso de vultuosa quantia.
Nos primeiros anos, ele freqüentou a Sinagoga onde aprendeu nos textos sagrados até a aritmética. Um escravo o acompanhava todos os dias, carregando-lhe a pasta com os utensílios escolares. Sentado ao chão, com as pernas cruzadas, o menino Saulo ensaiou as primeiras letras, gravando-as com um estilete de ferro sobre uma tabuinha coberta com uma camada de cera. Como a tradição prescrevia ensinar um trabalho útil às crianças, Saulo aprendeu a tecer pano de barraca, usando uma fazenda áspera e durável, entremeado com pelos de cabra.
Adolescente ainda seguiu para Jerusalém, onde se tornou discípulo do grande Gamaliel, no Templo de Salomão, preparando-se para ser um devoto rabino. Ele mesmo na Epístola aos Gálatas afirma: “… e me avantajava no judaísmo sobre muitos da minha idade e linhagem , pelo extremo zelo às tradições de meus pais.”
Ardoroso defensor de Moisés, Saulo desencadeou séria perseguição aos homens do Caminho. E considerou seu primeiro grande triunfo contra o Nazareno a lapidação do jovem Estêvão. Emmanuel descreve na obra “Paulo e Estêvão”, em detalhes, toda sua dor e vergonha, ao se dar conta que Estêvão não era outro senão o irmão da sua
amada noiva Abigail, que viria a morrer 8 meses depois.
É, no entanto, a caminho de Damasco, na Síria, levando cartas que lhe autorizavam a prender outros tantos seguidores de Jesus, que Saulo foi surpreendido, em pleno meio-dia, pela luz imensa daquele a quem perseguia.
“Saulo, Saulo, por que me persegues? “, diz-lhe a voz. Nas entrelinhas, pode-se ler: “Por que, Saulo, se és o vaso escolhido para levar a minha palavra a todas as gentes?”
Tendo vislumbrado a luz, ele se ergue da areia, onde tombara, sem visão. Seguindo a orientação dada pelo Mestre, entrou na cidade e aguardou. Ananias, em nome de Jesus, o vem retirar da sua noite de sombras.
Começou para Saulo a jornada de trabalho e o calvário das dores. Após o exílio de 3 anos, no deserto de Dan, ele retornou para pregar a Boa Nova. Aquele Jesus a quem tanto perseguira na pessoa dos seus seguidores, tornou-se seu Senhor. Quando empreendeu a viagem a Damasco ele era o orgulhoso Saulo, cujo nome significa aquele a quem se pede, solicita algo, orgulhoso. Ao se erguer, após a queda do cavalo e a visão extraordinária do Cristo, ele se ergueu transformado. Era o escravo. “Que queres que eu faça, Senhor?”, é o que roga. Por isso mesmo, haveria de trocar seu nome para Paulo, posteriormente, que significa modesto, pequeno, humilde.
Pode-se dividir o seu apostolado em três grandes viagens. Na primeira, partindo de Antioquia com Barnabé e Marcos, foi à ilha de Chipre, depois à Panfília e à Pisídia. Deixou núcleos implantados em Perge, Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra e Derme, retornando a Jerusalém.
Na segunda grande viagem, em companhia de Silas e Timóteo, atravessou a pé toda a Ásia menor, e , com Lucas chegou até a Macedônia. As pequenas igrejas foram se formando em Filipes, Tessalônica, Beréia. Ele chegou até a Grécia. Na primavera de 53, saiu de Corinto, voltou a Jerusalém e Antioquia.
Na terceira viagem percorreu a Frígia e a Galácia. Permaneceu dois anos em Éfeso, depois regressou à Macedônia e Corinto. Retornando a Jerusalém foi preso, remetido a Cesaréia e, apelando para César, chegou a Roma, depois de um naufrágio na ilha de Malta. Estima-se que ele tenha percorrido em sua longa marcha nada menos de 20.000 km a pé, ou seja, metade do comprimento da linha do Equador.
Sob a inspiração de Jesus, tendo a servir de intermediário o próprio Estêvão, na espiritualidade, Paulo escreveu as epístolas, cartas cheias de ternura aos companheiros das comunidades nascentes, também carregadas de orientações: duas aos Tessalonicenses , em Corinto, em 52-54; 1ª aos Coríntios , de Éfeso, em 57; 2ª aos Coríntios, de Filipos, em 57; aos Gálatas e aos Romanos, de Corinto, em 57; aos Filipenses, aos Efésios, aos Colossenses e a Filémon, de Roma, em 62; aos Hebreus, em 63 ou 64, da Itália; 1ª a Timóteo, em 64 ou 65, a Tito em 64 ou 65, e a 2ª a Timóteo, em 66, de Roma.
Mais de uma vez foi apedrejado, açoitado, maltratado. Padeceu fome, frio, privações. Por amor a Jesus, ele tudo aceitou e afirmou portar no corpo “as marcas do Cristo”.
Decapitado, fora dos muros de Roma, no ano de 67, por ordem do Imperador Nero, ele adentrou a espiritualidade. Quando a Terceira Revelação se apresentou na Terra, ei-lo participando da equipe do Espírito de Verdade, deixando seus palavras em O Evangelho segundo o espiritismo, nos capítulos X, item 15 (sobre o perdão, em Lyon, em 1861) e capítulo XV, item 10 (Fora da caridade não há salvação, em Paris, em 1860). Igualmente, respondendo a questão de número 1009 de O livro dos espíritos, a respeito da eternidade das penas, junto a dissertações de Santo Agostinho, Lamennais e Platão.

Fonte: 1.Paulo e Estêvão, romance de Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido
Xavier
2.Grandes personagens da história universal, vol. 1.
3.Bíblia Sagrada (O novo testamento – Epístolas)

Luís IX

Luís IX

“O bem reinará na Terra quando, entre os Espíritos que a vêm habitar, os bons predominarem, porque, então, farão que aí reinem o amor e a justiça, fonte do em e da felicidade.(…)”
Assim inicia a resposta à última questão de O Livro dos Espíritos e que, à semelhança de várias outras, são atribuídas ao espírito São Luís. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, ele responde a questões que se encontram no cap. IV, itens 24 e 25; cap. V, itens 28 a 31; cap. X, itens 19 a 21; cap. XIII, item 20; cap. XVI, item 15, bem assim derrama a sua sabedoria em vários itens de O Livro dos Médiuns, lecionando conceitos acerca do “: Laboratório do Mundo Invisível” e “Das manifestações físicas espontâneas”.
São Luís foi canonizado pela Igreja Católica, no ano de 1297, pelo papa Bonifácio VIII. Adquiriu renome como soberano imparcial. Filho de Branca de Castela, foi coroado rei de França, em Reims, em novembro de 1226, com apenas 12 anos de idade. Durante 10 anos, até seu casamento com Margarida de Provença, foi sua mãe que exerceu a Regência, embora somente em 1242 ele tenha assumido pessoalmente o poder, tomando o nome de Luís IX.
Sob a orientação de sua mãe, tornou-se um soberano piedoso e altruísta. Seus súditos o admiravam pela sua imparcialidade e algumas gravuras o mostram ministrando justiça sob um carvalho, numa floresta perto de Paris, recordando exatamente a qualidade que o caracterizava.
Aumentou, durante o seu reinado, o poder real à custa dos nobres , que, mesmo assim o respeitavam pela sua justiça. Ele organizou um sistema de controle para evitar abusos administrativos e, desta forma, fortalecer o poder central.
Instituiu assembléias judiciárias que, posteriormente viriam dar origem aos parlamentos.
Católico fervoroso, ele fez construir, em 1245/1248, a Sainte Chapelle, em Paris e organizou a sétima Cruzada contra o Egito, sendo capturado pelos muçulmanos em 1250.
Resgatado, após o pagamento de elevado resgate, ele passou os 4 anos seguintes na Síria, fortificando as posições ditas cristãs.
De volta a França, estabeleceu algumas medidas como a proibição do duelo judiciário, proibição do jogo e a instituição de penalidades para a blasfêmia.
É de sua iniciativa a construção da Sorbonne, que tantas personalidades ilustres formaria para a Humanidade, bem assim construiu o Hospício dos Quinze-Vingts.
Em 1270, empreendeu nova Cruzada. Ao desembarcar em Cartago, seu exército e ele próprio são vitimados pela peste.
Chamado de o “bom rei Luís” , referência que lhe faz , inclusive o Espírito perturbador da rua des Noyers (O Livro dos Médiuns, item 95), foi considerado um soberano ideal, admirado mesmo por seus inimigos pela sua integridade.
Nada menos que cinco mensagens se permitiu inserir o Codificador no cap. XXXI de O Livro dos Médiuns, da autoria de Luís IX, que assina São Luís e exorta os espíritas nos seguintes termos: “(…) Quanto mais modestos fordes, tanto mais conseguireis tornar-vos apreciados. Nenhum móvel pessoal vos faça agir e encontrareis nas vossas consciências uma força de atração que só o bem proporciona.
Por ordem de Deus, os Espíritos trabalham pelo progresso de todos, sem exceção. Fazei o mesmo, vós outros, espíritas.” (item VI)

Fonte: Enciclopédia Mirador Internacional, vol. 13, verbete: Luís IX.
Enciclopédia Delta Universal, vol. 9, verbete: Luís IX.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos, Rio de Janeiro, 1974.
KARDEC, Allan. O livro dos médiuns, Rio de Janeiro, 1986.
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo, Rio de Janeiro, 1987.
Fontes: Grandes vidas, grandes obras (Seleções do Reader’s Digest) , 1968.
KARDEC, Allan. A gênese. Rio de Janeiro, 1986.

Lázaro

Lázaro

Lázaro é a forma grega da abreviação hebraica lãzãr _ Eleazar – “Deus ajuda”.
É apresentado como irmão de Marta e Maria, residentes todos em Betânia, distante cerca de uma hora de Jerusalém. Era uma aldeia singela, cercada “por imensos campos de cevada, pequenos bosques de olivedos e figueiras”(1), no caminho de Jerusalém para Jericó.
A aldeia era um contraste à aspereza da Judéia, pelo verdor de que se revestia. Os declives eram cheios de folhagens, as casas brancas mostravam seus alpendres floridos e flores miúdas enfeitavam o tapete de relva verdejante.
Lázaro, como suas irmãs, amava Jesus e o dizia abertamente. Jesus era como um membro da família e recebido sempre com alegria. Quando o Mestre se encontra nas proximidades, é ali, na casinha risonha e franca que é recebido à porta pelo amigo, com efusivo abraço e o ósculo no rosto.
Em Betânia teve Jesus uma segunda família, no ninho de afeições que lhe oferecem os amigos. O amigo dedicado, Lázaro, lá estava. Era o único lugar onde o Galileu podia gozar algumas horas de sossego, de intimidade familiar _ era como se estivesse em casa. Lázaro é o grande e devotado amigo de Jesus.
É em Betânia, quando o Rabi narra ao amigo os últimos acontecimentos e explana sobre o futuro, enquanto a noite avança, que se deu o célebre episódio em que Jesus enfatiza a escolha da melhor parte, conforme narra Lucas no seu Evangelho, cap. 10:38-42.
Quando Lázaro adoeceu, no mês de shebat (fevereiro), Jesus se encontrava pregando na Peréia e as irmãs lhe remeteram um mensageiro. Foram dois dias de marcha e o recado foi breve: “Senhor, eis que está enfermo aquele que amas.”
O profeta de Nazaré o sossega, despedindo-o com a certeza de que aquela enfermidade não levaria à morte, antes era para a glória de Deus. Passados dois dias, Jesus empreende a jornada de retorno à Betânia, portanto, ao chegar ao seu destino Lázaro estava com 4 dias de sepultura, pois morrera na mesma data em que o mensageiro de Marta e Maria transmitira a Jesus o recado.
Por ser uma família distinta e estimada, havia muitas visitas na chácara de Betânia, quando a notícia da presença de Jesus O precede. Marta vai ao Seu encontro e na encruzilhada, à beira da povoação, avistando-O, fala-lhe: “Senhor, se estiveras aqui não teria morrido meu irmão.” Parece uma queixa e um velado pedido, que se reveste de leve esperança.
Não longe dali ficava o sepulcro de Lázaro, num rochedo da encosta. O acesso se dava por estreita escada rústica e uma escura galeria subterrânea, com um bloco de pedra, em forma de mó, tapando a boca do sepulcro.
Jesus pede a Marta que chame sua irmã e, acompanhado ainda por todos os judeus que estavam na casa àquela hora e seguiram Maria, o Mestre se dirige ao local onde o corpo do amigo estava encerrado.
Narra o evangelista que Jesus chorou. Embora os judeus tenham comentado que aquela era a demonstração do quanto o Rabi amava Lázaro, as Suas lágrimas sentidas e sinceras se deviam à constatação da ignorância de que os homens ainda eram portadores e conseqüentemente, muitas seriam as dores que os avassalariam por largo tempo empós.
Ao comando de Jesus, Marta manda abrir o túmulo. Um hálito pestífero se espalha pela vizinhança. Envolto em largas faixas embalsamadas de essências raras, o rosto coberto com um sudário, lá está o cadáver.
Ora o Mestre ao Pai e depois brada com voz vibrante: “Lázaro, vem para fora.”
Alguma coisa branca se move no fundo escuro da catacumba. Aproxima-se. Os contornos parecem mais nítidos. Caminha lentamente e, enrolado da cabeça aos pés nas faixas do embalsamamento, Lázaro responde a Jesus: “Eis-me aqui, Senhor!”
E quando a noite se fez, Lázaro é novamente o bom hospedeiro, andando, sorrindo, comendo do pão que todos comiam. Era o motivo de todas as alegrias. Ao mesmo tempo um motivo de terror.
Para aquela gente, ele se tornou um enigma. Quais seriam suas recordações daqueles 4 dias em que estivera no Vale da Morte? Mas ninguém ousava lhe perguntar as aventuras da misteriosa viagem.
Pelo desconhecimento da letargia, nas semanas que se seguiram, quase que não se falava de outra coisa em Jerusalém e arredores. Jesus nem tocara no cadáver. Apenas ordenara e Lázaro agora estava no meio deles, em perfeita saúde. Muitos o procuravam e ele se tornou alvo de curiosidade geral. Depois de verem a Lázaro, os curiosos iam ter com Jesus, contemplando com um misto de admiração e medo aquele homem de Nazaré, que dava ordens à própria morte, e a morte lhe obedecia.
Quando, uma semana antes de Sua morte na cruz, Jesus retorna a Betânia, narram João, Marcos e Mateus que a localidade fervilhava de peregrinos, por causa das celebrações da Páscoa judaica que se avizinhava.
Jesus foi convidado a jantar em casa de um tal Simão, chamado leproso. Talvez um daqueles que Ele curara em algum momento da Sua jornada de luz pela Terra.
Lázaro foi convidado, naturalmente, para tomar lugar à mesa do festim. Personagem tão distinto não poderia faltar. Entretanto, desde que o Amigo Celeste o trouxera de retorno à vida física, despertando-o do sono letárgico, Lázaro não é mais o mesmo. Tudo ao seu redor, a paisagem risonha, a casa confortável, a delícia da vida, tudo se tornou uma coisa sem importância.
Lázaro entendera a mensagem de Jesus. Os homens o temem porque percebem que o sangue palpita nas suas veias, seu corpo é quente, seus olhos brilham, seus lábios sorriem. Ele retornou “do outro lado”, mas dentro dele a vida canta “como esplende na paisagem colorida e na asa dos pássaros.” (3)
Em Lázaro há uma intensa alegria pois reconhece a verdade nas palavras de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim viverá, ainda que tenha morrido; e quem em vida crê em mim não morrerá eternamente.”
E o amigo de Betânia se dispõe a trabalhar com Jesus, no cortejo de espíritos da equipe do Espírito de Verdade. As suas páginas, A afabilidade e a doçura, Obediência e resignação, A lei de amor, O dever se encontram em O evangelho segundo o espiritismo, no capítulo IX, itens 6 e 8, capítulo XI, item 8 e no de número XVII, item 7, ditadas todas no período de 1861 a 1863 em Paris.
Bem se revela Lázaro como aquele que muito amou a Jesus, elegendo-O à condição de amigo e seguindo-O, na qualidade de Guia e Modelo, quando afirma: “O amor resume a doutrina de Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento por excelência…”
“…A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres; extingue as misérias sociais…Quando Jesus pronunciou a divina palavra _ amor, os povos sobressaltaram-se e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.” (O evangelho segundo o espiritismo, cap. XI, item 8)

Fonte: 1.Franco, Divaldo P. As primícias do reino, Sabedoria, 1967. cap. 16.
2.Teixeira, J. Raul. Quem é o Cristo, Fráter, 1997. cap. 11.
3.Salgado, Plínio. Vida de Jesus, Voz do Oeste, 1978. cap. LVII e LVIII.
4.Van Den Born, A.Dicionário enciclopédico da bíblia, Vozes, 1985.

Lacordaire

Lacordaire

Em junho de 1853, quando as mesas girantes e falantes agitavam os salões da Europa, depois de terem assombrado a América, em missiva a Mme. Swetchine, datada de Flavigny, ele escreveu: “Vistes girar e ouvistes falar das mesas? _ Desdenhei vê-las girar, como uma coisa muito simples, mas ouvi e fiz falar.
Elas me disseram coisas muito admiráveis sobre o passado e o presente. Por mais extraordinário que isto seja, é para um cristão que acredita nos Espíritos um fenômeno muito vulgar e muito pobre. Em todos os tempos houve modos mais ou menos bizarros para se comunicar com os Espíritos; apenas outrora se fazia mistério desses processos, como se fazia mistério da química; a justiça por meio de execuções terríveis, enterrava essas estranhas práticas na sombra.
Hoje, graças à liberdade dos cultos e à publicidade universal, o que era um segredo tornou-se uma fórmula popular. Talvez, também, por essa divulgação Deus queira proporcionar o desenvolvimento das forças espirituais ao desenvolvimento das forças materiais, para que o homem não esqueça, em presença das maravilhas da mecânica, que há dois mundos incluídos um no outro: o mundo dos corpos e o mundo dos espíritos.”
O missivista era Jean-Baptiste-Henri Lacordaire, nascido em 12 de maio de 1802, numa cidade francesa perto de Dijon.
A despeito de seus pais serem religiosos fervorosos, o jovem Lacordaire permaneceu ateu até que uma profunda experiência religiosa o levou a abraçar a carreira de advogado, na Teologia.
Completando os estudos no Seminário, na qualidade de professor pôde constatar o relativo descaso dos seus estudantes pela religião. No intuito de despertar a afeição pública para a Igreja, como colaborador do jornal L’Avenir, passou a lutar pela liberdade daquela da assistência e proteção do Estado.
Vigário da famosa Catedral de Notre-Dame, em Paris, a força da sua oratória atraía milhares de leigos para o culto.
Em 1839 entrou para a Ordem Dominicana na França, trabalhando pela sua restauração, desde que a Revolução Francesa a tinha largamente subvertido.
Discípulo de Lamennais, preocupou-se em afirmar que a união da liberdade e do Cristianismo seria a única possibilidade de salvação do futuro. Cristianismo, por poder dar à liberdade a sua real dimensão e a liberdade, por poder dar ao Cristianismo os meios de influência necessários para isto. Insistia que o Estado devia cercear seu controle sobre a educação, a imprensa, e trabalho de maneira a permitir ao Cristianismo florescer efetivamente dentro dessas áreas.
Foi Membro da Academia Francesa e o Codificador inseriu artigo a seu respeito na Revista Espírita de fevereiro de 1867, seis anos após a sua desencarnação, que se deu em 21 de novembro de 1861. Nele, reproduz extrato da correspondência que inicia o presente artigo, comentando: “Sua opinião sobre a existência e a manifestação dos Espíritos é categórica. Ora, como ele é tido, geralmente, por todo o mundo, como uma das altas inteligências do século, parece difícil colocá-lo entre os loucos, depois de o haver aplaudido como homem de grande senso e progresso. Pode, pois, ter-se senso comum e crer nos Espíritos.”
Em sessão realizada na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas em 18 de janeiro daquele ano, o médium “escrevente habitual” Morin, descreveu a presença do espírito do padre Lacordaire, como “um Espírito de grande reputação terrena, elevado na escala intelectual dos mundos (…) Espírita antes do Espiritismo (…)” e concluiu:
“Ele pede uma coisa, não por orgulho, por um interesse pessoal qualquer, mas no interesse de todos e para o bem da doutrina: a inserção na Revista do que escreveu há treze anos. Diz que se pede tal inserção é por dois motivos: o primeiro porque mostrareis ao mundo, como dizeis, que se pode não ser tolo e crer nos Espíritos. O segundo é que a publicação dessa primeira citação fará descobrir em seus escritos outras passagens que serão assinaladas, como concordes com os princípios do Espiritismo.”
Mas ele mesmo, Lacordaire, retornou de Além-Túmulo, para emprestar à obra da Codificação a sua inestimável e talentosa contribuição.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo encontramos 3 mensagens, ditadas no Havre e Constantina, todas datadas do ano de 1863, discorrendo sobre “O bem e mal sofrer” – cap. V, item 18; “O orgulho e a humildade” – cap. VII, item 11 e “Desprendimento dos bens terrenos” – cap. XVI, item 14.

João Maria Vianney (Cura D’Ars)

João Maria Vianney (Cura D’Ars)

João Maria Vianney nasceu em 8 de maio de 1786 em Dardilly, aldeia a dez quilômetros ao norte de Lyon. Foi o quarto filho do casal Mateus e Maria Vianney, que tiveram 7 filhos.
Desde os quatro anos, ele gostava de freqüentar a Igreja. Quando isso se tornou impossível, pelas perseguições que o Estado desencadeou, ele fazia suas orações habituais, todas as tardes, na casa dos pais.
Quando foi aberta uma escola, Vianney, adolescente a freqüentou durante dois invernos, porque ele trabalhava no campo sempre que o tempo permitia. Foi então que aprendeu a ler, escrever, contar e falar francês, pois em sua casa se falava um dialeto regional.
Foi na escola que se tornou amigo do padre Fournier, e aos poucos foi crescendo nele o desejo de se tornar sacerdote. Foi necessário muita insistência, pois o pai, de forma alguma, desejava dispensar braços fortes de que a terra necessitava.
Aos 20 anos ele seguiu para Écully, na casa de seu tio Humberto. Sabia ler, mas escrevia e falava francês muito mal. Além de aprimorar a língua pátria, precisou aprender latim, pois na época os estudos para o sacerdócio eram feitos em latim, bem assim toda a celebração litúrgica.
Em 28 de maio de 1811, com 25 anos de idade, na catedral Saint-Jean tornou-se clérigo de diocese. Por ter fama de ignorante perante os superiores, foi-lhe confiada a paróquia de Ars-en _Dombes, ou talvez porque lhe conhecessem a grandeza de alma.Em Ars, não havia pobres, só miseráveis.
João Maria Vianney chegou a Ars em uma sexta-feira, 13 de fevereiro de 1818. Veio em uma carroça trazendo alguns móveis e utensílios domésticos, alguns quadros piedosos e seu maior tesouro: sua biblioteca de cerca de trezentos volumes.
Conta-se que encontrou um pequeno pastor a quem pediu que lhe indicasse o caminho. A conversa foi difícil, pois o menino não falava francês e o dialeto de Ars diferia do de Écully. Mas acabaram por se compreenderem.
A tradição narra que o novo pároco teria dito ao garoto: “Tu me mostraste o caminho de Ars: eu te mostrarei o caminho do céu.”Um pequeno monumento de bronze à entrada da aldeia lembra esse encontro.
Ele mesmo preparava suas refeições. Apenas dois pratos: umas vezes, batatas, que punha para secar ao ar livre. Outras vezes, “mata-fomes”, grandes bolos de farinha de trigo escura. Um pouco de pão e água. Era o suficiente. Comia pouco.Quando lhe davam pão branco, trocava pelo escuro e distribuía o primeiro aos pobres.
Dizia: “Tenho um bom físico. Depois de comer não importa o quê e de dormir duas horas, estou pronto para recomeçar.”
O que mais ele valorizava era a caridade e a gentileza. Grandes somas ele dispendia auxiliando os seus paroquianos. Dinheiro que vinha da pequena herança de seu pai, que lhe enviara seu irmão Francisco e de doações de pessoas abastadas, a quem ele sensibilizava pela palavra e dedicação.
Por volta de 1830, era muito grande o afluxo de pessoas que se dirigia a Ars. Os peregrinos não tinham outro objetivo senão ver o pároco e, acima de tudo, poder confessar-se com ele. Para conseguir, esperavam horas…às vezes, a noite inteira.
Esse pároco que dormia o mínimo para atender a todos, madrugada a dentro. Que vivia em extrema pobreza e austeridade, vendendo móveis , roupas e calçados seus para dar a outrem.
Comovia-se com a dor alheia. Quando se punha a ouvir os penitentes que o buscavam, mais de uma vez derramava lágrimas como se estivesse chorando por si próprio. Dizia: “Eu choro o que vocês não choram.”
Tanto trabalho, pouca alimentação e repouso, foram cansando o velho Cura. Ele desejava deixar a paróquia para um pouco de descanso. Mas os homens e mulheres da aldeia fizeram tal coro ao seu redor, que ele resolveu permanecer.
Ele, que em sua juventude, fora ágil, agora andava arrastando os pés. Nos dias de inverno, sentia muito frio.
Em 1859, numa quinta feira do mês de agosto, dia 4, às duas da madrugada, ele desencarnou tranqüilamente.
Dois dias antes, já bastante debilitado fora visto a chorar. Perguntaram-lhe se estava muito cansado.
“Oh, não”, respondeu. “Choro pensando na grande bondade de Nosso Senhor em vir visitar-nos nos últimos momentos.”
João Maria Vianney comparece na Codificação com uma mensagem em O Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu capítulo VIII, item 20, intitulada “Bem-aventurados os que têm fechados os olhos”, onde demonstra a humildade de que se revestia, o conceito que tinha das dores sobre a face da Terra e o profundo amor ao Senhor da Vida.

Fonte: Joulin, Marc. João Maria Vianney, o cura d’Ars. PAULINAS, 1990; Kardec, Allan.
O evangelho segundo o espiritismo. FEB, 1987.

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