Mês: dezembro 2021

Emmanuel

Emmanuel

Emmanuel, exatamente assim, com dois “m” se encontra grafado o nome do espírito, no original francês “L’évangile selon le spiritisme”, em mensagem datada de Paris, em 1861 e inserida no cap. XI, item 11 da citada obra, intitulada “O egoísmo”.
O nome ficou mais conhecido, entre os espíritas brasileiros, pela psicografia do médium mineiro Francisco Cândido Xavier. Segundo ele, foi no ano de 1931 que, pela primeira vez, numa das reuniões habituais do Centro Espírita, se fez presente o bondoso espírito Emmanuel.
Descreve Chico: “Via-lhe os traços fisionômicos de homem idoso, sentindo minha alma envolvida na suavidade de sua presença, mas o que mais me impressionava era que a generosa entidade se fazia visível para mim, dentro de reflexos luminosos que tinham a forma de uma cruz.”
Convidado a se identificar, apresentou alguns traços de suas vidas anteriores, dizendo-se ter sido senador romano, descendente da orgulhosa “gens Cornelia” e, também sacerdote, tendo vivido inclusive no Brasil.
De 24 de outubro de 1938 a 9 de fevereiro de 1939, Emmanuel transmitiu ao médium mineiro as suas impressões, dando-nos a conhecer o orgulhoso patrício romano Públio Lentulus Cornelius, em vida pregressa Públio Lentulus Sura, e que culminou no romance extraordinário : Há dois mil anos.
Públio é o homem orgulhoso, mas também nobre. Roma é o seu mundo e por ele batalha. Não admite a corrupção, mostrando, desde então, o seu caráter íntegro. Intransigente, sofre durante anos, a suspeita de ter sido traído pela esposa a quem ama. Para ela, nos anos da mocidade, compusera os mais belos versos: “Alma gêmea da minhalma/ Flor de luz da minha vida/ Sublime estrela caída/ Das belezas da amplidão…” e, mais adiante: “És meu tesouro infinito/ Juro-te eterna aliança/ Porque eu sou tua esperança/ Como és todo o meu amor!”
Tem a oportunidade de se encontrar pessoalmente com Jesus, mas entre a opção de ser servo de Jesus ou servo do mundo, escolhe a segunda.
Não é por outro motivo que escreve, ao início da citada obra mediúnica: “Para mim essas recordações têm sido muito suaves, mas também muito amargas. Suaves pela rememoração das lembranças amigas, mas profundamente dolorosas, considerando o meu coração empedernido, que não soube aproveitar o minuto radioso que soara no relógio da minha vida de Espírita, há dois mil anos.”
Desencarnou em Pompéia, no ano de 79, vítima das lavas do vulcão Vesúvio, cego e já voltado aos princípios de Jesus.
Cincoenta anos depois, no ano de 131, ei-lo já de retorno ao palco do mundo. Nascido em Éfeso, de origem judia, foi escravizado por ilustres romanos que o conduziram ao antigo país de seus ascendentes. Nos seus 45 anos presumíveis, Nestório mostra no porte israelita, um orgulho silencioso e inconformado. Apartado do filho, que também fora escravizado, tornaria a encontrá-lo durante uma pregação nas catacumbas onde ele, Nestório, tinha a responsabilidade da palavra. Cristão desde os dias da infância, é preso e, após um período no cárcere, por manter-se fiel a Jesus, é condenado à morte.
Junto com o filho, Ciro, e mais uma vintena de cristãos, num fim de tarde, foi conduzido ao centro da arena do famoso circo romano, situado entre as colinas do Célio e do Aventino, na capital do Império. Atado a um poste por grossas cordas presas por elos de bronze, esquelético, munido somente de uma tanga que lhe cobria a cintura, até os rins, teve o corpo varado por flechas envenenadas. Com os demais, ante o martírio, canta, dirigindo os olhos para o Céu e, no mundo espiritual, é recebido pelo seu amor, Lívia.
Pelo ano 217, peregrina na Terra outra vez. Moço, podemos encontrá-lo nas vestes de Quinto Varro, patrício romano, apaixonado cultor dos ideais de liberdade.
Afervorado a Jesus, sente confranger-lhe a alma a ignorância e a miséria com que as classes privilegiadas de Roma mantinham a multidão.
O pensamento do Cristo, ele sente, paira acima da Terra e, por mais lute a aristocracia romana, Varro não ignora que um mundo novo se formava sobre as ruínas do velho.
Vítima de uma conspiração para matá-lo, durante uma viagem marítima, toma a identidade de um velho pregador de Lyon, de nome Corvino. Transforma-se em Irmão Corvino, o moço e se torna jardineiro. Condenado à decapitação, tem sua execução sustada após o terceiro golpe, sendo-lhe concedida a morte lenta, no cárcere.
Onze anos após, renasce e toma o nome de Quinto Celso. Desde a meninice, iniciado na arte da leitura, revela-se um prodígio de memória e discernimento.
Francamente cristão, sofreu o martírio no circo, amarrado a um poste untado com substância resinosa ao qual é ateado fogo. Era um adolescente de mais ou menos 14 anos.
Sua derradeira reencarnação se deu a 18 de outubro de 1517 em Sanfins, Entre-Douro-e-Minho, em Portugal, com o nome de Manoel da Nóbrega, ao tempo do reinado de D. Manoel I, o Venturoso.
Inteligência privilegiada, ingressou na Universidade de Salamanca, Espanha, aos 17 anos. Aos 21, está na faculdade de Cânones da Universidade, onde freqüenta as aulas de direito canônico e de filosofia, recebendo a láurea doutoral em 14 de junho de 1541.
Vindo ao Brasil, foi ele quem estudou e escolheu o local para a fundação da cidade de São Paulo, a 25 de janeiro de 1554. A data escolhida, tida como o dia da Conversão do apóstolo Paulo, pretende-se seja uma homenagem do universitário Manoel da Nóbrega ao universitário Paulo de Tarso .
O historiador paulista Tito Lívio Ferreira, encerra sua obra “Nóbrega e Anchieta em São Paulo de Piratininga” descrevendo: “Padre Manoel da Nóbrega fundara o Colégio do Rio de Janeiro. Dirige-o com o entusiasmo de sempre. Aos 16 de outubro de 1570, visita amigos e principais moradores. Despede-se de todos, porque está, informa, de partida para a sua Pátria. Os amigos estranham-lhe os gestos. Perguntam-lhe para onde vai. Ele aponta para o Céu.
No dia seguinte, já não se levanta. Recebe a Extrema Unção. Na manhã de 18 de outubro de 1570, no próprio dia de seu aniversário, quando completava 53 anos, com 21 anos ininterruptos de serviços ao Brasil, cujos alicerces construiu, morre o fundador de São Paulo.
E as últimas palavras de Manoel da Nóbrega são: ` Eu vos dou graças, meu Deus, Fortaleza minha, Refúgio meu, que marcastes de antemão este dia para a minha morte, e me destes a perseverança na minha religião até esta hora.’
E morreu sem saber que havia sido nomeado, pela segunda vez, Provincial da Companhia de Jesus no Brasil: a terra de sua vida, paixão e morte.”
A título de curiosidade, encontramos registros que o deputado Freitas Nobre, já desencarnado na atualidade, declarou, em programa televisivo da TV Tupi de São Paulo), na noite de 27 para 28 de julho de 1971, que ao escrever um livro sobre Anchieta, teve a oportunidade de encontrar e fotografar uma assinatura de Manuel da Nóbrega, como E. Manuel.
Assim, o E inicial do nome do mentor de Francisco Cândido Xavier se deveria à abreviatura de Ermano, o que, segundo ele, autorizaria a que o nome fosse grafado Emanuel, um “m” somente e pronunciado com acentuação oxítona.

Fontes de consulta:
Ave Cristo – Francisco Cândido Xavier/Emmanuel
50 anos depois – Francisco Cândido Xavier/Emmanuel
Entrevistas – Francisco Cândido Xavier/Emmanuel
Há dois mil anos – Francisco Cândido Xavier/Emmanuel
L’evangile selon le Spiritisme – Allan Kardec
Revista Presença Espírita – jan/fev 1991- Curiosidades

Emanuel Von Swedenborg

Emanuel Von Swedenborg

Arthur Conan Doyle a ele se referiu como a maior e mais alta inteligência humana. Em verdade, Emanuel von Swedenborg, nascido em Estocolmo a 29 de janeiro de 1688, filho de um bispo da Igreja luterana sueca, viveu na austera atmosfera evangélica alguns anos de sua vida. Foi profundo estudioso da Bíblia.
Estudou em Upsala e visitou a Alemanha, a França, a Holanda e a Inglaterra, a fim de ampliar seus extensos conhecimentos de matemática, mecânica, astronomia, geologia, mineralogia.
Aos 22 anos publicou um volume de versos latinos e aos 28 foi nomeado assessor de minas do governo sueco. Versátil, tanto quanto Leonardo da Vinci, criou engenhos mecânicos para transportar barcos por terra, analisou a economia da moeda corrente, a produção e o custo do álcool , a aplicação do sistema decimal, a relação entre importações e exportações e a economia nacional.
Próximo aos 30 anos, voltou-se para a paleontologia, a geologia, o estudo dos fósseis e chegou a desenvolver uma avançada teoria sobre a expansão nebular, para explicar a origem do sistema solar. Dedicou-se também aos estudos da Medicina e da Fisiologia. Era hábil em latim, grego, inglês, além de sua língua pátria e chegou a estudar hebraico, a fim de empreender uma reinterpretação do Velho e do Novo Testamento.
A primeira parte de sua vida foi notadamente voltada para o intelecto. Contudo, embora ainda menino tivesse visões, foi em abril de 1744 que se iniciou uma nova etapa, a da investigação em busca de conhecimentos sobre a alma humana relacionada com Deus e o universo numa estrutura da idéia cristã.
Conforme suas palavras, “…o mundo dos Espíritos, do céu e do inferno, abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de todas as condições. Desde então diariamente o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e Espíritos”.
Considerado como um dos precursores das idéias espíritas, em suas obras “Céu e Inferno”, “A nova Jerusalém” e “Arcana Caelestia” descreveu o processo da morte e o mundo do além, detalhando sua estrutura. Falou de casas onde viviam famílias, templos onde praticavam o culto, auditórios onde se reuniam para fins sociais. Descreveu várias esferas, representando os graus de luminosidade e de felicidade dos espíritos. Afirmou não existirem anjos e demônios, mas simplesmente seres humanos, saídos da carne e em estado retardatário, ou altamente desenvolvidos. Descartou a possibilidade da existência de penas eternas.
A afirmação de contatos com os espíritos e suas experiências psíquicas, inclusive de dupla vista, atraíram amigos e lhe conquistaram adversários. Suas visões à distância foram detalhadamente investigadas, como a ocorrida no dia 19 de julho de 1759, na cidade de Göteborg, a 480 km. da capital sueca. Naquela tarde, Swedenborg jantou com a família de William Castell, juntamente com mais umas 15 pessoas e descreveu, pálido e alarmado, o incêndio que irrompera às 3 horas daquela tarde e foi dominado às 8 horas da noite, a uma distância de três portas de sua própria casa. Este dia era um sábado e somente na terça-feira, uma mensagem real confirmou os fatos, inclusive o detalhe de ter sido dominado às 8 horas da noite.
Esse homem notável, enérgico quando rapaz e amável na velhice, era bondoso e sereno. Prático, trabalhador, era de estatura alta, delgado, de olhos azuis, apresentando-se sempre impecável com sua peruca até os ombros, roupas escuras, calções curtos, fivelas nos sapatos e bengala.
Desencarnando em 29 de março de 1772, em Londres, cidade onde viveu muitos anos e onde se deu a eclosão da sua mediunidade, apresentar-se-ia 72 anos mais tarde, numa tarde de março de 1844, a um jovem de nome Andrew Jackson Davis, como um de seus mentores, junto ao espírito Galeno, passando a assessorá-lo em sua jornada mediúnica.
Na Codificação, seu nome figura em Prolegômenos, atestando a sua participação efetiva, como membro da equipe do Espírito de Verdade, contribuindo para a instalação da Terceira Revelação junto aos homens. Relação de suas obras:

1734 – Opera Philosophica et Mineralia
1740/41 – Oeconomia Regni Animalis
1744 – Regnum Animale
1749-58 – Arcana Coelestia
1758 – De Equo Albo in Apocalypsi
1758 – De Nova Hierosolyma
1758 – De Coelo et Inferno
1769 – Apocalypsis Revelata
1769 – Summaria Expositio Doctrinae Novae Ecclesia
1771 – Vera Christiana Religio

Fontes de consulta:
1. História do espiritismo/Arthur Conan Doyle- cap. I e III
2. Eles conheceram o desconhecido/Martin Ebon – cap. I
3. Enciclopédia Mirador Internacional – vol. 19

Dominique François Jean Arago

Dominique François Jean Arago

Sua mensagem se encontra inserida no item 8, do capítulo XVIII, da quinta obra da Codificação, sob o item Sinais dos tempos.
Nele se reconhece o físico e astrônomo que foi Dominique François Jean Arago, também matemático. De família de profundas convicções republicanas, seu nascimento data de 26 de fevereiro de 1786, em Estagel, França, perto de Perpignan, tendo ali dado início aos seus estudos. Tal mente brilhante logo se transferiria para a Escola Politécnica de Paris.
Aos 19 anos, foi nomeado Secretário do Observatório de Paris (construído em 1667, pelo arquiteto Claude Perrault, e que é considerado o mais antigo Observatório em atividade, no mundo) e mais tarde seu Diretor. Aos 23 anos, era Professor de Geometria Analítica na Escola Politécnica de Paris e até a idade de 44 anos dedicou-se exclusivamente à Ciência.
Com Biot (Jean-Baptiste, físico e astrônomo francês, nascido em Paris), completou a medida de um arco do meridiano terrestre. Confirmou, de forma experimental, a teoria ondulatória da luz. Descobriu (1820) os fenômenos relativos ao magnetismo rotatório, demonstrando a relação entre as auroras boreais e as variações magnéticas.
Descobriu, junto com Fresnel (Augustin-Jean, físico e engenheiro francês, nascido em Broglie), a polarização cromática da luz, a polarização rotatória e as leis sobre a interferência da luz polarizada.
Suas obras completas, em 13 volumes, foram publicadas após a sua morte, no período de 1854 a 1862. É considerado um grande encorajador dos jovens para a Ciência, tendo sido defensor da reforma do ensino, da liberdade de imprensa e das ciências aplicadas.
Consta que, no ano de 1825, ele foi ganhador da Medalha de Copley (Monsieur Geoffrey Copley) da Sociedade Real de Londres, considerada a recompensa maior ofertada por aquela Sociedade à descoberta ou trabalho científico de grande importância ou contribuição para a Ciência.
Casou-se aos 25 anos e foi pai por três vezes.
Politicamente, foi ativo pela causa republicana, desempenhando cargos políticos no governo. Já em 1830, foi eleito deputado pelo Departamento dos Pirineus Orientais e mais tarde por Paris.
Foi Ministro da Marinha e depois Ministro da Guerra, no Governo temporário que tomou o poder após a Revolução de 1848, tendo apresentado inúmeras reformas. Na qualidade de Ministro, promulgou o decreto de abolição da escravatura nas colônias francesas.
A França lhe dedicou um selo, nominando-o como físico e político. Desencarnado em 2 de outubro de 1853, em Paris, tem seu corpo depositado no Cemitério de Père Lachaise, na capital francesa.
Quem batalhou pela Ciência e pela melhor ordem social, bem se revela nas letras que o Codificador inseriu em A Gênese: “A efervescência que por vezes se manifesta em toda uma população, entre os homens de uma mesma raça, não é coisa fortuita, nem resultado de um capricho; tem sua causa nas leis da Natureza. Essa efervescência, inconsciente a princípio, não passando de vago desejo, de aspiração indefinida por alguma coisa melhor, de certa necessidade de mudança, traduz-se por uma surda agitação, depois por atos que levam às revoluções sociais, que, acreditai-o, também têm sua periodicidade, como as revoluções físicas, pois que tudo se encadeia.”
Na Espiritualidade, com a visão mais abrangente, ainda conclui: “Quando se vos diz que a Humanidade chegou a um período de transformação e que a Terra tem que se elevar na hierarquia dos mundos, nada de místico vejais nessas palavras; vede, ao contrário, a execução de uma das grandes leis fatais do Universo, contra as quais se quebra toda a má-vontade humana.”

Fontes de consulta:
1. Enciclopédia Mirador Internacional. vol. 3.
2. http://www.astrogea.org/asteroides/varis/arago/index_c.html
3. http://es.geocities.com/fisicas/cientificos/fisicos/arago.htm
4. http://www-history.mcs.st-andrews.ac.uk/history/Mathematicians/Arago.html

Delphine de Girardin

Delphine de Girardin

Nasceu Delphine Gay em Aix-La-Chapelle em 26 de janeiro de 1804, o mesmo ano do Codificador e desencarnou na capital francesa em 29 de junho de 1855.
Foi poetisa que freqüentou os salões de Mme Récamier. Casou-se com Émile de Girardin, jornalista e político francês, passando então a ser conhecida como sra. Émile de Girardin.
Ela mesma se tornou jornalista, após o casamento em 1831, escrevendo no jornal La Presse no período de 1836 a 1848, sob o pseudônimo de visconde de Launay, interessantes crônicas da sociedade do tempo de Luís Filipe. Essas crônicas ficaram conhecidas como cartas parisienses.
Publicou também romances, tragédias e comédias. Era, positivamente, grande médium inspirada.
Personalidade muito conhecida no meio poético, freqüentando os salões literários onde se reuniam as celebridades do momento, muito natural que ela tomasse contato com as mesas girantes.
Desde o primeiro contato com as mesas ela se convenceu da veracidade das manifestações. Teve oportunidade de se encontrar com o professor Rivail pessoalmente. Possivelmente, em alguma das reuniões que ele freqüentava, nas suas pesquisas em torno dos fenômenos que assombravam Paris.
Amiga pessoal de Victor Hugo, os acontecimentos políticos do ano de 1851 e o exílio de seus amigos a marcaram de forma cruel.
Fiel à amizade ela decidiu levar conforto moral aos pobres proscritos. Lançou-se ao mar e em 6 de setembro de 1853 desembarcou em Jersey, uma pequena ilha de 116 quilômetros quadrados.
O cansaço a tomava por inteiro. A viagem foi excessivamente fatigante. Diga-se de passagem: ela já se encontrava doente. O câncer a devorava.
Dinâmica, contudo, ela não se deixava abater em demasia. Um pouco triste e melancólica, mas igualmente feliz por rever seus amigos, ela reencontrou Victor Hugo e a família.
À hora do jantar, narrou as notícias de Paris, no intuito de trazer um pouco da pátria para os exilados. Com entusiasmo se referiu às mesas girantes. Na pequena ilha de Jersey algumas tentativas tinham sido feitas, sem sucesso.
Delphine, sem aguardar a sobremesa, saiu em busca de uma mesa pequena, redonda. As sessões foram longas cansativas. Parecem não ter tido sucesso nos primeiros cinco dias.
Victor Hugo, cético, aderiu às reuniões somente para não desgostar a amiga. Finalmente, no domingo, 11 de setembro, a concentração, o silêncio foram recompensados. Uma comunicação aconteceu. Uma comunicação que mudaria os rumos da vida do grande poeta francês. Quem se comunicou, através da mesa foi nada mais, nada menos que sua filha Leopoldine. Sua amada filha, morta durante a lua-de-mel, afogada em um lago, num passeio de barco com o marido.

Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” o espírito de Delphine de Girardin
assina a mensagem “A desgraça real” no capítulo V (Bem-aventurados os Aflitos), item 24

Blaise Pascal

Blaise Pascal

Certo dia, um menino de 10 anos bateu com uma colher num prato e escutou atentamente o som, que continuou a vibrar por algum tempo, parando, no entanto, quando o pequeno pôs a mão sobre o prato.
Com certeza, em muitos lugares do mundo, outros tantos garotos terão feito o mesmo e observado o fenômeno. Mas, só um gênio como Blaise Pascal resolveu investigar o mistério e escreveu um tratado sobre o som: “Traité des sons”.
Nascido aos 19 de junho de 1623, em Clermont Ferrand (Auvergne), cedo demonstrou a sua genialidade. Certo dia, o pai o encontrou a riscar, com um pedaço de giz, “rodas e barras” no soalho do seu quarto. Rodas e barras eram na verdade os círculos e as linhas retas da Geometria, traduzidos na linguagem infantil.
Logo mais provaria que a soma dos ângulos de um triângulo perfaz dois retos, resolvendo num passatempo, o 32º teorema de Euclides, cujo nome ignorava.
Na adolescência, aos 16 anos, escreveu um Tratado sobre as secções dos cones “Traité des sections coniques”, um problema de alta Geometria, que assombrou o mundo profissional da época. O próprio Descartes, ao lê-lo, se recusou a acreditar tivesse sido escrito por um jovem dessa idade.
Dois anos mais tarde, construiu o jovem matemático uma máquina de contar, com o principal objetivo de aliviar seu pai dos complicados cálculos que necessitava fazer na sua lida com as finanças do Município.
Numa época em que não estavam aperfeiçoadas as tábuas logarítmicas, este engenho prestou grandes serviços aos que se ocupavam com a aritmética e mereceu numerosas reproduções.
Oportunamente, Pascal presenteou com uma dessas máquinas ao célebre Condé e a Rainha Cristina da Suécia, quando ela esteve na França. Mais tarde, entre seus 23 e 25 anos, interessou-se pelos estudos da Física, escrevendo sobre o “espaço vazio”: “Nouvelles experiences touchant le vide”.
Foi também nesta época que o pai de Blaise sofreu um acidente e, por permanecer longo período na cama, teve a lhe servir de enfermeiros dois fervorosos discípulos de Cornélio Jansênio que, ao se despedirem, deixando Etienne Pascal curado, deixaram toda a família Pascal profundamente impressionada com o ideal religioso.
Em outubro de 1654, estando Blaise Pascal a passear de carruagem por uma ponte, assustaram-se os cavalos, tendo dois deles se precipitado da ponte, após rompidos os arreios. Os outros, com a carruagem ficaram suspensos sobre o abismo, salvando a vida do cientista. Dizem alguns de seus biógrafos que este fato lhe teria produzido um violento abalo, fazendo-o se dedicar às questões religiosas.
Contudo, depois de sua morte foi encontrado, cosido no forro de sua vestimenta, um bilhete datado de 23 a 24 de novembro de 1654, em que ele relata uma espécie de êxtase que teria experimentado, e demonstra um desejo ardente de se consagrar às coisas espirituais.
Escrevendo suas “Cartas Provinciais”, Pascal apresenta a verdadeira Igreja do Cristo não circunscrita a uma determinada organização eclesiástica, menos ainda a determinados homens de um certo período, representando casualmente a Igreja, mesmo porque, falíveis os homens, insegura seria a fé. Em 1657, suas “Cartas”, dezoito ao todo, foram relacionadas no Index, da Igreja. São consideradas um dos maiores monumentos da literatura francesa e o atestado de uma grande sinceridade cristã.
A respeito, pronunciou-se Pascal: “Roma condenou as minhas Cartas; mas o que nelas condenei está condenado no céu _ apelo para o teu tribunal, Senhor Jesus!”
Relata que pediu a Deus 10 anos de saúde para poder escrever sua apologia do Cristianismo, que o mundo viria a conhecer com o nome de “Pensées”, contudo, confessa, Deus lhe deu quatro anos de enfermidade.
Nessa Apologia, ele apresenta Cristo não como o “Senhor morto” de tantos cristãos, mas o Cristo vivo, sempre-vivo, aquele Cristo que segue com os homens, todos os dias.
Amar era para ele a melhor forma de crer, a “razão do coração que a razão ignora”. Deus é, antes de tudo o Sumo Bem, o alvo do amor, e ele afirmava não poder crer senão num Deus que pudesse amar sinceramente. A mensagem para a humanidade de sua época, para os melhores homens do século, foi uma mensagem de vasta, profunda e panorâmica espiritualidade cristã. Uma espiritualidade que brilha em todas as páginas do Evangelho, a espiritualidade do Cristo.
Tal espiritualidade transcende das suas mensagens, inseridas pelo Codificador em O Evangelho Segundo o Espiritismo: a primeira, datada de 1860, recebida em Genebra, que alude à verdadeira propriedade e a segunda, do ano 1862, de Sens, da qual destacamos especialmente: “(…) Se os homens se amassem com mútuo amor, mais bem praticada seria a caridade;(…) ” e , logo adiante, “(…) esforçai-vos por não atentar nos que vos olham com desdém e deixai a Deus o encargo de fazer toda a justiça, a Deus que todos os dias separa, no seu reino, o joio do trigo.”
Não menos oportunas as observações em sua mensagem “Sobre os médiuns” (O livro dos médiuns, cap. XXXI, item XIII) de excelente atualidade para os dias que estamos vivendo, onde a mediunidde tem sido levada, muita vez, à conta de exclusiva projeção pessoal e destaque social: “Que, dentre vós, o médium que não se sinta com forças para perseverar no ensino espírita, se abstenha; porquanto, não fazendo proveitosa a luz que ilumina, será menos escusável do que outro qualquer e terá que expiar a sua cegueira.”
Sua morte se deu a 19 de agosto de 1662, aos 39 anos, em Paris, sendo que os dois últimos anos de sua vida foram de intenso sofrimento. A enfermidade que o tomou lhe furtou qualquer possibilidade de esforços físicos e intelectuais.

Fonte: ROHDEN, Humberto. Pascal, São Paulo, 1956.
Enciclopédia Mirador Internacional, vol 16, verbete: Pascal.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro, 1987

Bento de Núrsia

Bento de Núrsia

Os dias eram assustadores. Os chamados bárbaros, povos do Norte, estão chegando às portas de Roma. Em Núrsia (Itália Central), cada viajante que chega com notícias é recebido com alvoroço. O povo se comprime para ouvir as novas, cada vez mais alarmantes.
Corre o ano de 480. Sob esse clima é que nasce o menino Bento, filho de uma das mais ricas famílias do lugar. Seu nascimento passa quase desapercebido, ante a inquietação que vive o povoado.
Seu pai tem grandes planos para ele. Em pleno ocaso da civilização romana, em plena juventude, Bento é encaminhado a Roma, para o estudo de Humanidades. O pai almeja-o funcionário com carreira brilhante. Estuda gramática, retórica, que abre caminho ao cursus honorum que proporciona poder, honra e boas relações aos jovens de sangue romano e regular fortuna.
Bento se cansa com rapidez desse ambiente, onde os romanos desprezam os que consideram “bárbaros”. Aos 18 anos, observando a declarada guerra entre duas facções religiosas pelo trono papal, desilude-se do estudo, da ciência e busca um refúgio para se isolar, desejando servir a Deus.
Penetra no vale de Subíaco e, encontrando um monge de nome Romano, toma de um simples hábito de frade e adentra uma caverna, aberta na rocha. Durante três anos, alimentado pelo pão que lhe oferta Romano, através de um cesto que baixava com uma corda, vive Bento isolado.
Até que um dia, enfrentando os penhascos, um sacerdote encontrou Bento. Compartilham a refeição, conversam longamente. Após sua partida, Bento se põe a pensar: ele havia descoberto uma nova forma de viver a religião, sem suprimir os prazeres serenos da amizade.
Cogita assim, fundar uma comunidade religiosa. Enquanto amadurece a idéia, monges o buscam e pedem-lhe para ser seu Abade, próximo de Vicovaro. Eles viviam como anacoretas, isto é, cada qual por conta própria, reunindo-se somente para rezar e comer e desejam ser orientados por Bento, que conta, então, 30 anos de idade.
Ele somente aceita, depois de muita insistência. Logo, por estabelecer regras rígidas de disciplina, eles atentariam contra sua vida. Sem rancor, rogando a Deus para que os abençoe, ele retorna a Subíaco, onde orienta os que ali se reuniam na construção de doze mosteiros espalhados por vales e colinas.
Subíaco se transforma em um centro para aprendizado e espiritualidade. Um frade de nome Florêncio, invejoso da tarefa que desenvolve Bento e suas comunidades, tenta minar-lhe o trabalho, difamando-o. Não o conseguindo, envia-lhe um pão envenenado, “em nome da paz e da caridade.”
Salvando-se do novo atentado à sua vida, Bento resolve abandonar a região. Com cerca de 50 anos, decide aplicar os frutos da sua experiência. Em Monte Cassino, funda uma comunidade onde se alia à penitência, o trabalho, a oração e a alegria.
Alguns monges o seguem e ele organiza o mosteiro. Um lugar aprazível, cuja construção se baseia fundamentalmente na velha casa de campo romana. Tudo nela deve revelar o ideal monástico: satisfazer às exigências da oração e da vida comum; dar hospitalidade aos refugiados; dispor de locais para as tarefas indispensáveis.
As regras são rígidas. Os monges se levantam às duas da madrugada. As primeiras horas são para a oração e o ofício da aurora. Depois, uma hora de leitura e meditação. A horta, o campo, as demais atividades no mosteiro lhes tomarão oito horas. Depois da ceia da noite, um pouco mais de oração e vigilância, antes de se recolherem aos leitos.
Monte Cassino foi uma revolução em termos de comunidade religiosa, dando início ao monasterismo ocidental.
Numa época em que as facilidades concedidas pelos imperadores, a convivência com o poder e as conversões em massa, por vezes superficiais, traziam o afrouxamento da religiosidade, o afastamento do mundo parecia ser uma condição mais favorável para se chegar à prática religiosa.
Os últimos dias de Bento são repletos de pressentimentos. Prediz a própria morte. Também vaticinou que o Mosteiro de Monte Cassino seria destruído, o que ocorreu 30 anos depois, durante uma invasão lombarda.
Seis dias antes da sua morte, Bento mandou que fosse aberta a sepultura, ao lado do túmulo de sua irmã, Escolástica (considerada Santa pela Igreja Católica), por quem tinha grande apreço. No dia 21 de março de 547, acometido de febres, enquanto orava no altar, expirou.
Em O Livro dos Médiuns, cap. XXXI, item V, assinando-se São Bento, escreve: “ É bela e santa a vossa Doutrina. (…) A estrada que vos está aberta é grande e majestosa. Feliz daquele que chegar ao porto.(…)”
No ano de 1964, a 24 de outubro, o Papa Paulo VI o proclamou Patrono principal da Europa, por ter sido “mensageiro de paz, operador da unidade, mestre de civilização e, sobretudo, exemplo de fé e iniciador da vida monástica no Ocidente.”
Na arte litúrgica ele é mostrado como um monge carregando uma cópia da sua Regra ou lendo um livro.

Livro:Grandes Espíritas do Brasil
Autor: Zêus Wantuil
Editora: Federação Espírita Brasileira

Benjamin Franklin

Benjamin Franklin

Ele foi chamado por Mirabeau, o líder revolucionário francês, como o filósofo que mais fez para estender os direitos do homem sobre toda a Terra.
Foi impressor e autor, filósofo e homem de estado, cientista e inventor. Em suma, foi um dos homens mais importantes que o continente americano produziu. De caráter simples, tinha uma personalidade agradável e um senso de humor delicioso.
Quando jovem, tinha um físico de atleta, algo que não podemos verificar pois os retratos conhecidos já o apresentam quando homem de estado. Seu olhar era sereno , afetuoso, destacando-se seus grandes olhos cinzentos e uma boca grande, com expressão de bom humor, no rosto amplo.
Benjamin Franklin nasceu em Bóston, em 1706, como o 15º filho entre 17, de um pobre fabricante de velas. Freqüentou a escola pouco mais de um ano, pois cedo o pai o pôs a trabalhar. Quase tudo o que sabia aprendeu à custa de esforço próprio, por si mesmo: ciência, filosofia, línguas. Falava o latim, francês, alemão, espanhol e italiano.
Aos 12 anos, já era aprendiz na oficina do irmão, que era impressor. Aos 17, escrevia artigos anonimamente e os colocava, à noite, por baixo da porta para que fossem publicados pelo irmão.Nesse mesmo ano, foi a Nova York e começou a trabalhar numa editora. Depois, estabeleceu _ se por conta própria. Fundou um jornal e uma revista.
Aos 42 anos, já conseguira juntar uma pequena fortuna. A partir daí, dedicou outros 40 anos de sua vida a serviço da pátria. Foi designado para missões diplomáticas , por duas vezes, na Inglaterra e uma na França.
Como político, foi o primeiro a pensar nos Estados Unidos como uma única nação e inventou um sistema de governos estaduais unidos sob uma única autoridade, 20 anos antes da guerra da Independência Americana.
Como cientista e inventor, foi o primeiro a identificar os pólos negativo e positivo da eletricidade. A ele devemos as palavras e os conceitos de bateria, carga elétrica, condensador e condutor. Inventou o pára-raios, uma mão mecânica para levantar objetos situados em lugares altos e o tamborete de cozinha que se transforma em escada.
Aos 78 anos de idade, inventou a bênção dos óculos bifocais. Como músico, tocava harpa, violão e violino e escreveu sobre os problemas da composição musical.
Foi o primeiro a estudar os efeitos da água sobre o casco de um navio durante a navegação, convertendo-se no pai da hidrodinâmica. Também, foi o primeiro a descobrir que o tecido escuro retém o calor. Os europeus levaram cem anos para seguir seu conselho e levar roupa branca para os trópicos.
Organizou a Sociedade Filosófica Americana , a primeira associação científica dos Estados Unidos. Criou a primeira corporação de polícia profissional e o primeiro serviço de bombeiros voluntários. Também deu impulso à Sociedade Abolicionista e, na qualidade de diretor-geral dos Correios, melhorou o serviço nacional e internacional, com a Inglaterra.
Foi, possivelmente, o escritor mais popular no mundo de língua inglesa, com sua Autobiografia, Édito do Rei da Prússia, Regras pelas quais um grande Império pode se tornar pequeno, O almanaque do pobre Richard e um livro sobre os fenômenos elétricos, que foi traduzido para vários idiomas.
Ele pregava a alegria do trabalho e praticava o que pregava. Tinha um cuidado especial com as descobertas de outros, insistindo para que a autoria fosse sempre atribuída aos autores corretos. Em muitas ocasiões, retirava seus trabalhos se outro pesquisador tivesse descoberto alguma coisa parecida com eles.
Acreditava que podia se melhorar o próprio caráter se a criatura se impusesse uma disciplina firme. “É uma arte que tem de ser estudada, como a pintura e a música”, dizia.
Quando jovem, fez uma lista das qualidades dignas de se admirar e se propôs a persegui-las: ia ser moderado no comer, evitaria a tagarelice, seria sistemático nos negócios, terminaria qualquer tarefa que começasse, seria sincero, trataria os outros com justiça, suportaria as injustiças com paciência, evitaria as extravagâncias, não deixaria que as pequenas coisas o afetassem.
Organizou um pequeno livro para si, separando uma página para cada virtude, a fim de dedicar uma semana de atenção a cada uma delas, de forma seqüencial.
Ao desencarnar, no ano de 1790, aos 84 anos, foi encontrado o epitáfio que ele mesmo escrevera, para si, nos dias da mocidade: “O corpo de Benjamin Franklin, impressor, como a capa de um livro velho ao qual tivessem arrancado as páginas e tirado as letras e o ouro, jaz aqui, comida para os vermes. Mas o trabalho não terá sido totalmente perdido; porque, segundo ele crê, aparecerá mais uma vez, numa edição nova e mais perfeita, corrigida e aumentada por seu Autor.”
Para ele, dois anos antes, escrevera George Washington: “Se os desejos unidos de um povo livre, apoiado pelas preces fervorosas de todos os amigos da ciência e da humanidade, pudessem aliviar o corpo das dores e enfermidades, logo ficaria bom. Se ser venerado por sua benevolência, admirado por seu talento, estimado por seu patriotismo, amado por sua filantropia puder satisfazer a mente humana, terá o agradável consolo de saber que não viveu em vão. O senhor será recordado com respeito, veneração e afeto por este seu sincero amigo e mais obediente e seguro servidor.”
Benjamin Franklin, entre outros espíritos, assina “Prolegômenos” em “O livro dos espíritos”, demonstrando fazer parte daqueles que se fizeram presentes ao trabalho extraordinário da Codificação da Doutrina Espírita.

Fonte: Grandes Vidas, Grandes Obras
(Seleções do Reader’s Digest), 1968

Afonso Liguori

Afonso Liguori

Afonso Maria Antônio João Cosme Damião Miguel Gaspar de Liguori nasceu na casa de fazenda do seu pai em Marinella, perto de Nápoles, numa terça-feira, 27 de setembro de 1696.
Era de família antiga e nobre. Seu pai, Dom José de Liguori foi um oficial naval e Capitão Real de Galés. Sua mãe era descendente de espanhóis.
Era o mais velho de sete crianças e a esperança da sua casa. Brilhante e rápido, fez grandes progressos em todos os tipos de aprendizado. Seu pai o fazia praticar cravo três horas por dia, e na idade de treze anos ele tocava com perfeição de mestre.
Cavalgava e praticava esgrima como recreação. Afirmava não poder se tornar um atirador devido a sua péssima pontaria.
Na sua mocidade tornou-se um aficcionado em ópera. Quando subiam as cortinas, ele tirava os óculos para não ver os atores distintamente e assim melhor se extasiar com a música.
Afonso não foi educado em escolas mas sim por tutores, sob o olhar vigilante do seu pai. Aos 16 anos, em 21 de janeiro de 1713 formou-se em Direito, embora o normal fosse graduar-se com 20 anos de idade. Diziam que ele era tão pequeno na época que a toga o engolia, arrancando risos da platéia. Logo após a sua formatura estudou para os exames da Ordem dos Advogados, e aos 19 anos já praticava a sua profissão na Corte.
Em 8 anos de carreira como advogado, afirma-se que ele jamais perdeu uma causa. Contudo, em 1723, Afonso foi um dos advogados numa ação judicial entre um nobre napolitano e o Grão Duque de Toscana, cuja propriedade valia 500.000 ducados. Após proferir um brilhante discurso de abertura, sentou-se confiante na vitória. Mas, um documento, por ele lido e relido, mas entendido em forma diversa da que foi apresentada pelo seu oponente, no Tribunal, fez com que ele perdesse a causa.
Durante 3 dias ele recusou qualquer tipo de alimento. Depois da tempestade passada, começou a pensar que a humilhação da derrota tinha sido enviada a ele por Deus, para quebrar o seu orgulho e afastá-lo do mundo. Estava seguro que algum sacrifício era necessário, embora não soubesse exatamente qual seria.
Desgostoso, apesar da consternação do pai, resolveu abandonar a carreira de advogado. Para se manter ocupado, passou a visitar doentes em hospitais de incuráveis.
Em agosto de 1723, exatamente durante uma dessas visitas ao Hospital de Incuráveis, subitamente se viu rodeado por uma luz misteriosa e uma voz interior lhe disse: “Deixa o mundo. Dá-me de ti mesmo.” Tendo se repetido o fato mais uma vez, Afonso tomou a solene resolução de entrar para o corpo eclesiástico.
Como padre, continuou a trabalhar em um Hospital de Incuráveis, assistiu os condenados à forca, foi amigo dos marginalizados, considerados uma chaga da sociedade em Nápoles.
Numa cidade de cerca de 500 mil habitantes e 15 mil sacerdotes, Afonso se destacou como um homem extraordinário que realizou o seu trabalho em situações difíceis e ingratas. Eram em torno de 40 mil os “desclassificados” em Nápoles e ele passou a realizar “capelas noturnas”. Eram reuniões do povo nas ruas e nas praças para o ensino do Evangelho, oração e encontro fraterno.
No púlpito, tinha um estilo inteligente, simples e sincero que enchia os corações com amor e misericórdia. No confessionário, preocupava-se muito mais em atender as criaturas, do que em punir os “criminosos”.
Apesar de tudo, se mantinha inquieto. Trazia a intuição de que algo mais deveria ser feito. Foi após um encontro com o povo pobre das montanhas, pastores de ovelhas e cabras, que ele decidiu: iria trabalhar entre os pobres mais pobres.
Junto a um grupo de companheiros, fundou em 09 de novembro de 1732, em Scala, nas proximidades de Nápoles a Congregação Redentorista. Era a sua resposta ao considerado “terceiro mundo”, constituído de pobres e abandonados, pois os missionários redentoristas deviam viver no meio dos abandonados, na época, especialmente aqueles das zonas rurais.
Escritor, escreveu 113 obras teológicas, ascéticas, místicas e pastorais que chegaram a atingir 60 edições. Também deixou escritas 1.700 cartas. Para compor a sua obra principal, a Teologia Moral, leu 800 autores, anotando em fichas.
Com um anseio de saber, buscava nas livrarias de Nápoles as mais recentes obras de seu tempo, de forma constante. Homem versátil, foi também poeta, músico e pintor. Como gramático, escreveu regras gramaticais com o objetivo exclusivo de alfabetizar um irmão na Congregação. Trabalhador incansável, serviu como pedreiro na construção da primeira casa de retidos da Congregação.
Com tanto trabalho e dedicação, teve ainda que enfrentar uma insidiosa enfermidade, que fez da sua vida um martírio. Por oito vezes, esteve à morte. Um ataque de febre reumática, no período de maio de 1768 a junho de 1769, terminou por deixá-lo paralisado até o fim dos seus dias. Pelo resto da sua vida física, ele teve que tomar seus alimentos através de tubos.
Mesmo com toda esta problemática, ele somente poderia retornar para sua pequena cela em Noccera, em julho de 1775, dispensado então dos serviços pelo Papa. Foram mais 12 anos de grandes aflições e sofrimentos físicos e morais. Estes últimos, por questiúnculas que envolveram a Congregação e que afetaram muito a Afonso.
Aos 91 anos de idade, em 1º de agosto de 1787, ele desencarnou. Reconhecendo seus grandes méritos, a Igreja o resolveu elevar à categoria de “Santo”, concedendo-lhe a canonização 49 anos após a sua morte. Em O livro dos Médiuns (pt. 2, cap. VII, item 119), o Codificador refere-se a essa canonização antes do tempo prescrito, por ter sido visto Afonso, durante sua vida terrena, em dois lugares diversos, ao mesmo tempo: em sua cela de sacerdote e assistindo o Papa, em processo de desencarnação, no Vaticano, o que passou por milagre.
Na mesma obra, o próprio Afonso, indagado por Kardec, responde às questões de números 1 a 4, a respeito da bi-corporiedade.
Em 1871, o Papa Pio IX lhe conferiu o título de “Doutor da Igreja” e, em 1950, Pio XII o proclamou “Patrono dos Confessores e Professores de Teologia Moral”.


Fonte: Harold Castle
Transcribed by Paul T. Crowley
The Catholic Encyclopedia, Volume I

Vocabulário Espírita

Vocabulário Espírita

AGÊNERE. (do grego, a, privativo, e géiné, geinomai, engendrar; que não foi engendrado). Variedade de aparição tangível; estado de certos Espíritos que podem revestir, momentaneamente, as formas de uma pessoa viva, ao ponto de fazer completa ilusão.
 

BATEDOR. Qualidade de certos Espíritos. Os Espíritos batedores são os que revelam sua presença por meio de pancadas e de ruídos de diversas naturezas.

ERRATICIDADE. Estado dos Espíritos errantes, quer dizer, não encarnados, durante os intervalos de suas existências corporais.

ESPÍRITA. O que tem relação com o espiritismo: partidário do espiritismo; aquele que crê nas manifestações dos Espíritos. Um bom, um mau espírita; a doutrina espírita.

ESPIRITISMO. Doutrina fundada sobre a crença da existência dos Espíritos e de suas manifestações.

ESPÍRITO. No sentido especial da doutrina espírita, os Espíritos são os seres inteligentes da criação, que povoam o universo fora do mundo material, e que constituem o mundo invisível.Não são seres de uma criação particular, mas as almas daqueles que viveram sobre a terra ou em outras esferas, e que deixaram o seu envoltório material.

ESPIRITUALISMO. Diz-se no sentido oposto ao do materialismo (academia); crença na existência da alma espiritual e imaterial. O espiritualismo é a base de todas as religiões.

ESPIRITUALISTA. O que tem relação com o espiritualismo; partidário do espiritualismo. Quem creia que tudo em nós não é matéria, é espiritualista, o que não implica, de nenhum modo na crença nas manifestações dos Espíritos. Todo espírita é necessariamente espiritualista; mas pode-se ser espiritualista sem ser espírita; o materialista não é nem um, nem outro. Diz-se: a filosofia espiritualista. – Uma obra escrita com as ideias espiritualistas – As manifestações espíritas são produzidas pela ação dos Espíritos sobre a matéria. – A moral espírita decorre do ensinamento dado pelos Espíritos. – Há espiritualistas que ridicularizam as crenças espíritas.
Nesses exemplos, a substituição da palavra espiritualista pela palavra espírita, produziria uma confusão evidente.

ESTEREOTITO. (do grego, stéréos, sólido). Qualidade das aparições tangíveis.

MEDIANÍMICO. Qualidade do poder dos médiuns. Faculdade medianímica.

MEDIANIMIDADE. Faculdade dos médiuns. Sinônimo de mediunidade. Essas duas palavras, a miúdo, são empregadas indiferentemente; querendo fazer uma distinção, poder-se-ia dizer que mediunidade tem um sentido mais geral, medianimidade, um sentido mais restrito. Há o dom da mediunidade. A medianimidade mecânica.

MÉDIUM. (do latim, médium, meio, intermediário). Pessoa podendo servir de intermediária entre os Espíritos e os homens.

MEDIUNATO. Missão providencial dos médiuns. Esse nome foi criado pelos Espíritos.

MEDIUNIDADE. (ver medianimidade).

PERISPÍRITO. (do grego, péri, ao redor). Envoltório semimaterial do Espírito. Nos encarnados, serve de laço ou intermediário entre o Espírito e a matéria; nos Espíritos errantes, constitui o corpo fluídico do Espírito.

PNEUMATOFONIA. (do grego, pneuma, ar, e de phoné, som ou voz). Voz dos Espíritos: comunicação oral dos Espíritos sem o concurso da voz humana.

PSICÓGRAFO. (do grego, psuké, borboleta, alma, e graphó, escrevo). O que usa a psicografia; médium escrevente.

PSICOGRAFIA. Escrita dos Espíritos pela mão do médium.

PSICOFONIA. Comunicação dos Espíritos pela voz de um médium falante.

REENCARNAÇÃO. Retorno do Espírito à vida corporal, pluralidade das existências.

SEMATOLOGIA. (do grego, semá, sinal, e logos, discurso). Linguagem dos sinais. Comunicação dos Espíritos pelo movimento dos corpos inertes.

TIPTOLOGIA. Linguagem por pancadas; modo de comunicação dos Espíritos. Tiptologia alfabética.

TIPTÓLOGO. (do grego, tuptó, eu bato). Variedade dos médiuns aptos à tiptologia. Médium tiptólogo.

Extraído de “O Livro dos Médiuns” (Allan Kardec) tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa.
Araras, SP, IDE, 26° edição, 1992 texto retirado da página da AMPARE

O Espiritismo é uma Ciência Positiva

O Espiritismo é uma Ciência Positiva

Senhores e caros irmãos espíritas.

Apraz-me vos dar este título porque, posto eu não tenha a vantagem de conhecer todas as pessoas presentes a esta reunião, quero crer que aqui estamos em família e todos em comunhão de pensamentos e de sentimentos. Admitindo, mesmo, que nem todos os assistentes fossem simpáticos à nossas ideias, não os confundira menos no sentimento fraterno que deve animar os verdadeiros Espíritas para com todos os homens, sem distinção de opinião.
Contudo, é aos nossos irmãos em crença que me dirijo mais especialmente, para lhes exprimir a satisfação, que experimento, de me achar entre eles, e de lhes oferecer, em nome da Sociedade de Paris, a saudação de fraternidade espírita.

Eu já havia tido a prova que o Espiritismo conta nesta cidade numerosos adeptos sérios, devotados e esclarecidos, perfeitamente imbuídos do objetivo moral e filosófico da doutrina; sabia que aqui encontraria corações simpáticos, e isto foi motivo determinante para que eu correspondesse ao insistente e grato convite que me foi feito por vários dentre vós, para uma curta visita este ano. A acolhida, tão amável e cordial, que recebi, permitirá que leve de minha estada aqui a mais agradável lembrança.
Certo eu teria o direito de orgulhar-me com o acolhimento, que me é feito, nos diversos centros que visito, se não soubesse que esses testemunhos se dirigem muito menos ao homem do que à doutrina, da qual sou humilde representante, e devem ser considerados como uma profissão de fé, uma adesão aos nossos princípios. É assim que os encaro, no que pessoalmente me concerne.
Aliás, se as viagens que, de tempos em tempos, faço aos centros espíritas só devessem ter como resultado uma satisfação pessoal, eu as consideraria inúteis e as cancelaria. Mas, além de contribuírem para apertar os laços de fraternidade entre os adeptos, também tem a vantagem de me fornecer assuntos de observação e de estudo, jamais perdidos para a doutrina. Independentemente dos fatos, que podem servir ao progresso da ciência, aí recolho os materiais da história futura do Espiritismo, os documentos autênticos sobre o movimento da ideia espírita, os elementos mais ou menos favoráveis ou contrários, que ela encontra, conforme as localidades, a força ou a fraqueza e as manobras de seus adversários, os meios de combater estes últimos, o zelo e o devotamento de seus verdadeiros defensores.
Entre estes últimos devem colocar-se na primeira linha todos os que militam pela causa com coragem, perseverança abnegação e desinteresse, sem segunda intenção pessoal, que buscam o triunfo da doutrina pela doutrina, e não pela satisfação de seu amor-próprio; aqueles que, enfim, por seu exemplo, provam que a moral espírita não é palavra vã, e se esforçam por justificar essa notável afirmação de um incrédulo: “Com uma tal doutrina, não se pode ser Espírita sem ser homem de bem.”
Não há centro espírita onde eu não tenha encontrado um número mais ou menos grande desses pioneiros da obra, de desbravadores terrenos, de lutadores infatigáveis que sustentados por uma fé sincera e esclarecida, pela consciência de cumprir um dever, não desanimem ante nenhuma dificuldade, encarando seu devotamento como uma dívida de reconhecimento pelos benefícios morais recebidos do Espiritismo. É justo que os nomes daqueles de que se honra a doutrina fiquem perdidos para os nossos descendentes e que um dia não possam ser inscritos no panteão espírita?
Infelizmente ao lado destes por vezes se acham os meninos terríveis da causa, os impacientes que, não calculando o alcance de suas palavras e de seus atos, podem comprometê-la; os que, por um zelo irrefletido, por ideias intempestivas e prematuras, sem o querer fornecem as armas aos nossos adversários. Depois vêm aqueles que, só considerando o Espiritismo pela superfície, sem serem tocados no coração, por seu próprio exemplo dão uma falsa ideia de seus resultados e de suas tendências morais.
Sem contradita, eis o maior escolho que encontram os sinceros propagadores da doutrina, pois muitas vezes vêm a obra, que penosamente esboçaram, desfeita por aqueles próprios que os deveriam secundar. É um fato constante que o Espiritismo é mais entravado pelos que o compreendem mal do que pelos que não o compreendem absolutamente e, mesmo, por seus inimigos declarados. E é de notar que os que o compreendem mal geralmente têm a pretensão de o compreender melhor que os outros; não é raro ver noviços que, ao cabo de alguns meses, querem ultrapassar os que têm por si a experiência adquirida em estudos sérios. Tal pretensão, que delata o orgulho, é uma prova evidente da ignorância dos verdadeiros princípios da doutrina.
Que os Espíritas sinceros, entretanto, não desanimem: é um resultado do momento de transição que vivemos. As ideias novas não podem estabelecer-se de repente e sem estorvo; como lhes é preciso varrer as ideias antigas, forçosamente encontram adversários que as combatem e as repelem; depois, as criaturas que as tomam pelo avesso, que as exageram ou as querem acomodar a seus gostos ou a suas opiniões pessoais. Mas chega o momento em que, conhecidos os verdadeiros princípios e compreendidos pela maioria, as ideias contraditórias caem por si mesmas. Já vedes o que aconteceu com todos os sistemas isolados, surgidos na origem do Espiritismo: todos caíram ante a observação mais rigorosa dos fatos, ou só encontram ainda uns poucos desses partidários tenazes que, em tudo, trepam-se em suas primeiras ideias, sem dar um passo à frente. A unidade se fez na crença espírita com muito mais rapidez do que era dado esperar. É que, em todos os pontos, os Espíritos vieram confirmar os princípios verdadeiros; de sorte que hoje há entre os adeptos do mundo inteiro uma opinião predominante que, se ainda não conta com a unanimidade absoluta, é, incontestavelmente, a imensa maioria. De onde se segue que aquele que quer marchar ao arrepio desta opinião, encontrando pouco ou nenhum eco, se condena ao isolamento. Aí está a experiência para o demonstrar.

Para remediar o inconveniente que acabo de assinalar, isto é, para prevenir as consequências da ignorância e das falsas interpretações, é preciso cuidar da divulgação das ideias justas, em formar adeptos esclarecidos, cujo número crescente neutralizará a influência das ideias erradas.
Minhas visitas aos centros espíritas, naturalmente, têm por objetivo principal ajudar os irmãos em crença em suas tarefas. Assim, as aproveito para lhes dar instruções que possam necessitar, como desenvolvimento teórico ou aplicação prática da doutrina, tanto quanto me é possível fazê-lo. O fim dessas visitas é sério e exclusivamente no interesse da doutrina; assim, não busco ovações, que nem são do meu gosto, nem do meu caráter. Minha maior satisfação é encontrar-me com amigos sinceros, devotados, com os quais a gente se pode entreter sem constrangimento e se esclarecer mutuamente, por uma discussão amistosa, em que cada um leva o contributo de suas próprias observações.
Nessas excursões não vou pregar aos incrédulos; jamais convoco o público para o catequizar. Numa palavra, não vou fazer propaganda; só apareço em reuniões de adeptos, nas quais meus conselhos são desejados e podem ser úteis; eu os dou de boa vontade aos que julgam deles necessitar; abstenho-me com os que se julgam bastante esclarecidos para os dispensar. Só me dirijo aos homens de boa vontade.
Se nessas reuniões, excepcionalmente, se insinuam pessoas apenas atraídas pela curiosidade, ficarão desapontadas, pois aí nada encontrarão que as pudesse satisfazer; e se estivessem animadas de um sentimento hostil ou de denegrimento, o caráter eminentemente sério, sincero e moral da assembleia e dos assuntos aí tratados tiraria qualquer pretexto plausível para a sua malevolência. Tais são os pensamentos que exprimo nas diversas reuniões a que devo assistir, a fim de que se não equivoquem quanto às minhas intenções.
Disse de começo que eu não era senão o representante da doutrina. Algumas explicações sobre o seu verdadeiro caráter naturalmente chamarão a vossa atenção para um ponto essencial que, até agora, não foi considerado suficientemente. Certo que, vendo o rápido progresso desta doutrina, haveria mais glória em dizer-me seu criador; meu amor-próprio aí encontraria seu crédito; mas não devo fazer minha parte maior do que ela é; longe de o lamentar, eu me felicito, porque, então, a doutrina não passaria de uma concepção individual, que poderia ser mais ou menos justa, mais ou menos engenhosa, mas que, por isso mesmo, perderia sua autoridade. Poderia ter partidários, talvez fazer escola, como muitas outras, mas certamente não teria, em poucos anos, adquirido o caráter de universalidade que a distingue.
Eis um fato capital, senhores, que deve ser proclamado bem alto. Não: o Espiritismo não é uma concepção individual, um produto da imaginação; não é uma teoria, um sistema inventado para a necessidade de uma causa. Tem sua fonte nos fatos da natureza mesma, em fatos positivos, que se produzem aos nossos olhos e a cada instante, mas cuja origem não se suspeitava. É, pois, resultado da observação, numa palavra, uma ciência: a ciência das relações entre os mundos visível e invisível; ciência ainda imperfeita, mas que diariamente se completa por novos estudos e que, tende certeza, tomará posição ao lado das ciências positivas. Digo positivas, porque toda ciência que repousa sobre fatos é uma ciência positiva, e não puramente especulativa.
O Espiritismo nada inventou, porque não se inventa o que está na natureza. Newton não inventou a lei da gravitação: esta lei universal existia antes dele; cada um a aplicava e lhe sentia os efeitos, posto não a conhecessem.
Por sua vez, o Espiritismo vem mostrar uma nova lei, uma nova força da natureza: a que reside na ação do Espírito sobre a material, lei tão universal quanto a da gravitação e da eletricidade, contudo ainda desconhecida e negada por certas pessoas, como o foram todas as outras leis no momento de sua descoberta. É que os homens geralmente sentem dificuldade em renunciar às suas ideias preconcebidas e, por amor-próprio, custa-lhes concordar que estavam enganados, ou que outros tenham podido encontrar o que eles próprios não encontraram.
Mas como, em definitivo, esta lei repousa sobre fatos e contra os fatos não há negação que possa prevalecer, terão que render-se à evidência, como os mais recalcitrantes tiveram que o fazer quanto ao movimento da terra, à formação do globo e aos efeitos do vapor. Por mais que taxem os fenômenos de ridículos, não podem impedir a existência daquilo que é.
Assim, o Espiritismo procurou a explicação dos fenômenos de uma certa ordem e que, em todas as épocas, se produziram de maneira espontânea. Mas o que, sobretudo, o favoreceu nessas pesquisas, é que lhe foi dado o poder de os produzir e os provocar, até um certo ponto. Encontrou nos médiuns instrumentos adequados a tal efeito, como o físico encontrou na pilha e na máquina elétrica os meios de reproduzir os efeitos do raio. Compreende-se que isto é uma comparação e não uma analogia.
Há aqui uma consideração de alta importância: é que, em suas pesquisas, ele não procedeu por via de hipóteses, como o acusam; não supôs a existência do mundo espiritual, para explicar os fenômenos que tinha sob as vistas; procedeu pela via da análise e da observação; dos fatos remontou à causa e o elemento espiritual se apresentou como força ativa; só o proclamou depois de o haver constatado.

Como força e como lei da natureza, a ação do elemento espiritual abre, assim, novos horizontes à ciência, dando-lhe a chave de uma porção de problemas incompreendidos. Mas se a descoberta de leis puramente materiais produziu no mundo revoluções materiais, a do elemento espiritual nele prepara uma revolução moral, porque muda totalmente o curso das ideias e das crenças mais arraigadas; mostra a vida sob um outro aspecto; mata a superstição e o fanatismo; desenvolve o pensamento e o homem, em vez de se arrastar na matéria, de circunscrever sua vida entre o nascimento e a morte, eleva-se ao infinito; sabe de onde vem e para onde vai; vê um objetivo para o seu trabalho, para os seus esforços, uma razão de ser para o bem; sabe que nada do que aqui adquire em saber e moralidade lhe é perdido, e que o seu progresso continua indefinidamente no além-túmulo; sabe que há sempre um futuro para si, sejam quais forem a insuficiência e a brevidade da presente existência, ao passo que a ideia materialista, circunscrevendo a vida à existência atual, dá-lhe como perspectiva o nada, que nem mesmo tem por compensação a duração, que ninguém pode aumentar à sua vontade, desde que podemos cair amanhã, em uma hora, e então o fruto de nossos labores, de nossas vigílias, dos conhecimentos adquiridos estarão para nós perdidos para sempre, muitas vezes sem termos tido tempo de os desfrutar.
Repito, demonstrando o Espiritismo, não por hipótese, mas por fatos, a existência do mundo invisível e o futuro que nos aguarda, muda completamente o curso das ideias; dá ao homem a força moral, a coragem e a resignação, porque não mais trabalha apenas pelo presente, mas pelo futuro; sabe que se não gozar hoje, gozará amanhã. Demonstrando a ação do elemento espiritual sobre o mundo material, alarga o domínio da ciência e, por isto mesmo, abre uma nova via ao progresso material. Então terá o homem uma base sólida para o estabelecimento da ordem moral na terra; compreenderá melhor a solidariedade que existe entre os seres deste mundo, desde que esta se perpetua indefinidamente; a fraternidade deixa de ser palavra vã; ele mata o egoísmo, em vez de ser morto por ele e, muito naturalmente, imbuído destas ideias, o homem a elas conformará as suas leis e suas instituições sociais.
O Espiritismo conduz inevitavelmente a essa reforma. Assim, pela força das coisas, realizar-se-á a revolução moral que deve transformar a humanidade e mudar a face do mundo; e isto muito simplesmente pelo conhecimento de uma nova lei da natureza, que dá um outro curso às ideias, uma significação a esta vida, um objetivo às aspirações do futuro, e faz encarar as coisas de outro ponto de vista.
Se os detratores do Espiritismo – falo dos que militam pelo progresso social, dos escritores que pregam a emancipação dos povos, a liberdade, a fraternidade e a reforma dos abusos – conhecessem as verdadeiras tendências do Espiritismo, seu alcance e seus inevitáveis resultados, em vez de o atacar, como o fazem, de lançar incessantemente obstáculos no seu caminho, nele vissem a mais poderosa alavanca para chegar à destruição dos abusos que combatem; em vez de lhe serem hostis, o aclamariam como um socorro providencial. Infelizmente, na sua maioria, creem mais em si do que na Providência. Mas a alavanca age sem eles e apesar deles, e a força irresistível do Espiritismo será tanto melhor constatada quanto mais tiver que combater. Um dia deles dirão – o que não será para sua glória – o que eles próprios dizem dos que combateram o movimento da terra e dos que negaram a força do vapor. Todas as negações, todas as perseguições não impediram que estas leis naturais seguissem o seu curso, como todos os sarcasmos da incredulidade não impedirão a ação do elemento espiritual, que é, também, uma lei da natureza.
Considerado desta maneira, o Espiritismo perde o caráter de misticismo, que lhe censuram os detratores ou, pelo menos, os que não o conhecem. Não é mais a ciência do maravilhoso e do sobrenatural ressuscitada, é o domínio da natureza, enriquecido por uma lei nova e fecunda, uma prova a mais do poder e da sabedoria do Criador; são, enfim, os limites recuados do conhecimento humano.
Tal é, em resumo, senhores, o ponto de vista sob o qual se deve encarar o Espiritismo. Nesta circunstância, qual foi o meu papel? Não é nem o de inventor, nem o de criador. Vi, observei, estudei os fatos com cuidado e perseverança; coordenei-os e lhes deduzi as consequências: eis toda a parte que me cabe. Aquilo que fiz outro poderia ter feito em meu lugar. Em tudo isto fui apenas um instrumento dos pontos de vista da Providência, e dou graças a Deus e aos bons Espíritos por terem querido servir-se de mim. É uma tarefa que aceitei com alegria, e da qual me esforcei por me tornar digno, pedindo a Deus me desse as forças necessárias para a realizar segundo a sua santa vontade. A tarefa, entretanto, é pesada, mais pesada do que podem supô-la; e se tem para mim algum mérito, é que tenho a consciência de não haver recuado ante nenhum obstáculo e nenhum sacrifício; será a obra da minha vida até meu último dia, pois ante um objetivo tão importante, todos os interesses materiais e pessoais se apagam, como pontos diante do infinito.
Termino esta curta exposição, senhores, dirigindo sinceras felicitações aos nossos irmãos da Bélgica, presentes ou ausentes, cujo zelo, devotamento e perseverança contribuíram para a implantação do Espiritismo neste país. As sementes que foram plantadas nos grandes centros de população, como Bruxelas, Antuérpia, etc., tenho certeza, não terão sido lançadas em solo árido.

(da Revista Espírita, Novembro de 1864, tradução de Julio de Abreu Filho,
volume 11 das obras completas de Allan Kardec publicada pela EDICEL, páginas 319-326)

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